O professor da Universidade de Querétaro, Gregorio Iglesias, fala sobre as afinidades do zapatismo com o anarquismo.
O professor de psicologia social da Universidade de Querétaro (México) Gregorio Iglesias explicou ontem (7 de julho) que o movimento zapatista evolui cada vez mais para os postulados libertários e ácratas, tanto por suas afinidades na maneira de organizar e entender a sociedade, como em sua relação fraterna com grupos anarquistas mexicanos. Acredita que isso é devido, em parte, a própria cultura indígena, como a influência das ideias de Ricardo Flores Magón em muitas das comunidades rebeldes. Iglesias manteve ontem um fraternal encontro em Oviedo com um grupo de libertários asturianos e simpatizantes do mundo zapatista.
A tertúlia, organizada pelo grupo anarquista Higinio Carrocera, suscitou grande interesse entre os participantes, que fizeram muitas perguntas ao palestrante sobre a situação atual do movimento zapatista, o assassinato de Galeano, a destruição de “La Escuelita” e a VI Conferência da Selva Lacandona.
A convergência do zapatismo com o anarquismo começa em 2005, com um distanciamento deste movimento com as forças políticas institucionalizadas. Ademais, já em 2001 haviam rompido sua interlocução com o Estado. Esse espírito libertário, explicou Gregório, se materializa na VI Declaração da Selva Lacandona que é a que está vigente na atualidade. E apesar de que o subcomandante Marcos nunca fez um chamamento, nem a votar, nem a não votar, a esquerda mexicana o responsabilizou por favorecer o triunfo da direita e de deixar fora do governo, López Obrador, do PRD. Então, os zapatistas deixaram claro que sua via de luta não era eleitoral, mas sim a construção de sua autonomia. “Eles não dizem às pessoas não zapatistas o que tem que fazer, mas pedem em troca que não lhes digam o que tem que fazer”.
Este distanciamento de posturas institucionalistas, se materializa em “a outra campanha” de Marcos, paralela à eleitoral iniciada pelos partidos mexicanos, na qual o subcomandante percorreu todo o país para entrevistar-se com trabalhadores, camponeses, estudantes e moradores, e explicar assim sua luta. Nesses encontros recolheu a sensação de esmagamento e a inquietação dos últimos seis anos das políticas neoliberais contra o povo.
Paralelamente a este distanciamento do zapatismo da via política institucional, os meios de comunicação se distanciam do zapatismo, explica Iglesias, que mencionou um dito zapatista que assinala: “ver impede pensar no que não se vê”, se referindo ao poder hipnótico dos meios de comunicação audiovisual sobre a população. Percebem então que a causa zapatista não cabe nesse mundo dos meios de comunicação, por isso buscam outras maneiras alternativas de comunicação entre eles, superando o âmbito indígena, chegando a todo o mundo.
Nestes últimos anos, explica o professor mexicano, “construímos as coisas como queremos, até pondo novos nomes aos povos e localidades”. Os municípios rebeldes de Chiapas se agrupam em caracóis no âmbito municipal, utilizando tradições aprendidas em lutas indígenas e urbanas. São criadas as juntas de bom governo, integradas por grupo de 8 pessoas que gestionam por mandato do povo, as coisas públicas durante duas semanas e sem cargos remunerados.
Iglesias explicou com detalhe sua experiência na Escuelita Zapatista, na qual foi convidado junto a quase 2.000 pessoas com afinidades com o movimento zapatista ou integrantes dos comitês de apoio de todo o mundo. Ali puderam observar sua maneira de produzir, de organizar-se e de distribuir a riqueza produzida por todos, um sistema social e econômico absolutamente autônomo das instituições estatais e que estão funcionando melhor que o das comunidades que aceitam as ajudas e os planos governamentais. Os cinco caracóis de Chiapas tem conseguido além disso não gerar lixo, pois tudo se recicla, por isso se observa uma grande limpeza nos povoados.
As pessoas destes povoados “gostam muito de dialogar e trocar ideias, pois seus métodos educativos estão fora dos programas estatais”. Tampouco querem receber ajudas do governo, algo que tem suscitado algum atrito entre a população, dividida entre zapatistas e não zapatistas. Sobre esta divisão, Gregorio explicou que, por exemplo, o abuso do álcool entre os moradores não zapatistas, gera situações de violência que entre os zapatistas porém, se tem conseguido eliminar, já que eles praticamente não consomem bebidas alcoólicas.
Esta violência surgiu com o assassinato de um morador zapatista: Galeano, em consequência de um ataque dos não zapatistas que controlam uma mina. Logo veio também a destruição de “la escuelita”. Aqui os meios de comunicação começam a se distanciar do zapatismo, manipulado o relato dos fatos.
Rebeldia zapatista
Após estes fatos, os zapatistas têm que suspender numerosas atividades e criam a revista “Rebeldia Zapatista” elaborada pelas bases e a qual convidam também as pessoas de fora, entre eles “seus irmãos anarquistas” que já haviam participado em “la escuelita”.
No final de 2012 produziu-se um protesto no México que gerou destroços e enfrentamentos entre manifestantes e a polícia. Começam a culpar os anarquistas de serem os causadores do vandalismo. O mesmo ocorreu na marcha de 2013 (outubro) em memória da matança de estudantes. Volta a haver combates com a polícia e novamente colocam a culpa nos anarquistas. Nesses dias, explode um artefato que Manuel López El Tripa, levava em sua mochila para atentar contra o PRI e o gabinete eleitoral. É detido e recebe torturas na prisão. Aparecem alguns anarquistas insurrecionalistas que dizem atuar individualmente, como Mario González, que é detido. Outras duas pessoas, um canadense e um mexicano, são detidos por colocar explosivos em concessionárias de carros e no Ministério do Transporte.
Marcos e os zapatistas se solidarizam com estes detidos e ironizam sobre a propaganda do governo de que todos os males são provocados pelos anarquistas, denunciando a criminalização das lutas sociais. Por isso lhes abrem um espaço na revista, explica Gregorio.
Hoje o zapatismo está em uma fase de “construção de sua autonomia” e nesse processo está utilizando muitas das táticas e finalidades do anarquismo. Gregorio enumera algumas: a tradição do consenso; a horizontalidade na tomada de decisões e “apesar de terem um exército que se comanda militarmente, quer dizer, hierarquicamente, este obedece aos mandatos das bases através das juntas de bom governo, pois que depende do poder civil”.
Outra das convergências com o anarquismo do movimento zapatista é “o não interesse pela via política institucional para conseguir uma quota de poder”. Não lhes interessa tomar o poder, mas sim construir sua autonomia. Como os anarquistas, os zapatistas têm também uma vocação internacionalista já que “sua luta vai além do indigenismo” daí seu conceito de Terceira Guerra Mundial, a que tem empreendido o neoliberalismo contra a humanidade.
Grupo Anarquista Higinio Carrocera
Tradução > Sol de Abril
agência de notícias anarquistas-ana
Suave crepúsculo
Sol emoldurando o ocaso
O pássaro sonha
Tânia Souza
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!
Um puta exemplo! E que se foda o Estado espanhol e do mundo todo!
artes mais que necessári(A)!
Eu queria levar minha banquinha de materiais, esse semestre tudo que tenho é com a temática Edson Passeti - tenho…
Edmir, amente de Lula, acredita que por criticar o molusco automaticamente se apoia bolsonaro. Triste limitação...