[Itália] Vontade de anarquismo

O aniversário, o octogésimo aniversário, da Federação Anarquista Italiana não poderia ter caído em momento melhor do que este.

Nestes dias, um novo protagonismo das massas ocupa o centro do palco político na Itália. Quem estava acostumado a considerar o absenteísmo eleitoral como produto da indiferença e desconfiança certamente ficou surpreso com a resposta que foi dada à iniciativa da Global Sumud Flotilla, primeiro com uma campanha de arrecadação de bens de primeira necessidade que envolveu centenas de milhares de pessoas, depois com as mobilizações, greves, bloqueios e protestos que percorreram a Península de norte a sul. Uma mobilização que não se movimentou em torno de temas tradicionais, sindicais ou parciais, mas em torno do tema da solidariedade para com outras pessoas, perfeitamente desconhecidas, que a mais de dois mil quilômetros de distância estão sendo atingidas, passando fome, massacradas com a cumplicidade do governo italiano.

Uma primeira consideração diz respeito ao nível de consciência das massas, que evidentemente é muito mais alto do que a classe política imaginava, inclusive a de oposição, e revela a profunda desconfiança em relação àqueles que traíram o sentimento das massas em temas fundamentais como a pobreza, a devastação ambiental, a guerra, e em relação àqueles que agitaram esses temas apenas por mais alguns filiados ou alguns votos a mais. Por isso, os ativistas da Flotilla se tornaram um ponto de referência, porque se empenharam de forma generosa, interpretando o sentimento popular.

Uma consideração adicional merece o método de luta, a redescoberta dos bloqueios: impediu-se a atracação de navios que transportavam armas, navios de empresas israelenses, navios que partiam ou se destinavam a Israel. Foram bloqueados portos, estações ferroviárias, aeroportos, rodovias. O recente decreto segurança transformou essas formas de luta em ações insurrecionais e, apesar do decreto segurança, apesar dos proclamas sobre a legalidade, o governo e as forças da repressão se revelaram impotentes diante do movimento de massa e, em muitas ocasiões, a polícia e os carabineiros limitaram-se a tentar colocar ordem no caos do trânsito. Naquelas ocasiões em que tentaram se intrometer, encontraram pão para a sua boca. Após dez dias de mobilizações que abalaram a Itália, o Presidente da República, que havia convidado a Flotilla a mudar de rota, agora se cala; a presidente do conselho fala de “interesses obscuros” referindo-se a quem pede uma atitude mais firme em relação a Israel. Mas o movimento não é Giorgia Meloni, não é o governo que se deixa ditar a política externa pelos interesses da ENI, que obteve de Israel a concessão para explorar os depósitos de gás ao largo de Gaza, e teme, no caso – embora remoto – de que aqueles territórios retornem a um hipotético estado palestino, ser excluído do negócio.

Uma última consideração diz respeito ao fato de que os bloqueios colocaram em questão, além do domínio do governo, o domínio da propriedade privada. Os organismos de base que pararam e forçaram os navios a irem embora colocaram o problema do poder no local de trabalho, da possibilidade, por parte de quem fornece a capacidade de trabalho, de decidir o que e como produzir, lançando as sementes de uma nova organização social. Cabe aos sindicatos fazer germinar essas sementes, acompanhando a luta pelos direitos da classe trabalhadora com o desenvolvimento da consciência de classe portadora da nova sociedade.

Já existem muitos temas, agitados pela Federação Anarquista Italiana em sua longa história, que se reencontram neste movimento: a capacidade política das massas, a solidariedade, a coerência entre meios e fins, a ação direta, a auto-organização. Mas se o anarquismo fosse apenas isso, seria pouco mais do que um sindicalismo ou “movimentismo” libertário.

O que distingue o anarquismo dos outros movimentos políticos não é simplesmente o fato de não querer chegar ao governo, mas a convicção de que a abolição do governo, ou de qualquer forma a luta intransigente contra a instituição e a própria ideia de governo, é a premissa de todo progresso social sério.

O protesto de 4 de outubro colocou o problema do governo; cabe obviamente a nós fazer com que a conscientização do papel central do governo, que começa a surgir, não se traduza apenas no pedido de demissão do governo atual, mas se torne a convicção da inutilidade e do caráter danoso de qualquer governo. Como diz o Programa da Federação Anarquista Italiana: “Nós devemos estar sempre com o povo, e quando não conseguimos fazê-lo exigir muito, tentar que pelo menos comece a exigir alguma coisa: e devemos nos esforçar para que ele aprenda, pouco ou muito que queira, a conquistá-lo por si mesmo, e tenha ódio e desprezo por quem está ou quer ir para o governo”.

Nesse sentido, o movimento atual precisa do anarquismo, de sua crítica da ideologia que justifica a existência do aparato político de classe, do governo, precisamente; precisamos de militantes que saibam indicar ao movimento aqueles atos concretos que, nos momentos altos de luta, possam levar à abolição do governo.

Uma passagem importante é a conscientização de que o anarquismo não é apenas um estilo de vida, mas a teoria revolucionária das classes exploradas. O movimento destas semanas abre perspectivas inesperadas para o desenvolvimento do anarquismo classista e organizador, desde que as realidades anarquistas, indivíduos ou grupos, estejam conscientes de sua responsabilidade perante o movimento de luta, perante a coletividade, e saibam desenvolver uma ação organizadora em contraste com as tendências centralizadoras, autoritárias e eleitoreiras: nesta ação reside em particular o futuro do movimento, porque, da forma como nasceu, não tardará a se extinguir se as “capelinhas” políticas ou sindicais levarem a melhor.

Esta ação será tanto mais eficaz quanto mais soubermos nos libertar das viseiras dogmáticas com as quais muitos olharam para as mobilizações crescentes destes dois anos. Como dizia Malatesta, a Revolução Francesa começou com apelos ao rei, e depois de três anos o rei foi guilhotinado.

Tiziano Antonelli

* Ilustração de MANIKULAE SCRIPTORI

Fonte: https://umanitanova.org/voglia-di-anarchismo/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Cercada de verde
ilha na hera do muro:
uma orquídea branca.

Anibal Beça

Entrevista com Rouvikonas | “Como dizemos na Grécia: ‘somente o povo pode salvar o povo’.”

Durante uma pausa de verão no sul, a Freedom [publicação do Reino Unido] aproveitou a oportunidade para entrevistar o Coletivo Anarquista Rouvikonas, em Atenas.

Blade Runner ~

O coletivo construiu uma reputação por suas ações diretas que vão desde a ocupação de ministérios até a destruição de escritórios de cobradores de dívidas. Formado em 2014, no contexto das lutas gregas contra a austeridade, o grupo descreve seu trabalho como uma tentativa de aproximar os anarquistas da base social mais ampla. Em conversa, seu estilo é tão direto quanto suas ações.

Sobre as origens do coletivo:

“Rouvikonas foi fundado em 2014. Naquele momento, a Grécia havia passado por forte turbulência social e política. Após a morte do jovem anarquista Alexis Grigoropoulos, em 2008, uma insurreição eclodiu e toda uma geração foi radicalizada. Depois, de 2010 a 2014, grande parte da base social foi às ruas para lutar contra as medidas de austeridade. Mas o movimento perdeu força, e a agitação foi canalizada de volta para a política parlamentar e o Estado.

Os companheiros que fundaram o Rouvikonas acreditavam que os anarquistas haviam perdido uma grande e rara oportunidade revolucionária naqueles anos. Não conseguiram oferecer uma alternativa crível ao Estado para o povo da base social. Então começaram a refletir sobre os erros e impasses do movimento anarquista, e sobre como superá-los. Esse é o contexto que levou à criação do Rouvikonas: preencher a lacuna existente entre os anarquistas e a base social.”

Sobre o uso das redes sociais:

“Nossa escolha política é assumir publicamente a responsabilidade por tudo o que fazemos. Cada ação é seguida de um comunicado com material em vídeo e foto, além de um texto explicando o que fizemos e por quê. Isso serve a vários propósitos. Ao documentar nossas ações, impedimos o inimigo de fazer falsas acusações. Podemos demonstrar exatamente o que fizemos, tornando mais difícil para um juiz nos condenar com base em acusações falsas.

Ao mesmo tempo, as imagens em vídeo são uma ferramenta poderosa de comunicação: as pessoas podem ver com seus próprios olhos o que fizemos, e isso pode ser inspirador. Mostramos nossas ações para romper o estado de medo em que a base social é mantida pelo Estado e seus mecanismos de propaganda. O objetivo é quebrar a paralisia e a apatia, e encorajar as pessoas a se juntarem à luta.”

Sobre a repressão estatal:

“Os padrões de repressão mudaram ao longo dos anos, dependendo do governo. (…) Agora há uma investigação em curso tentando nos classificar como uma organização criminosa, utilizando mudanças recentes no código penal. Isso é grave. As penas são mais severas e é mais difícil evitar a prisão pagando multas. Mas continuamos a lutar.

O que realmente os assusta é que continuamos a atrair novas pessoas. Na própria investigação deles, admitem isso: toda vez que identificam participantes após uma ação, veem rostos que não conheciam antes. Pessoas sem histórico em outros grupos ou manifestações, de todas as idades, gêneros e estilos de vida. Não são os ‘suspeitos de sempre’. São pessoas comuns, que nunca haviam sido políticas, ingressando no Rouvikonas e agindo.”

Sobre combate a incêndios e ajuda em desastres:

“Após décadas de cortes estatais no corpo de bombeiros, todos os anos vastas regiões da Grécia são destruídas por incêndios. As pessoas assistem às suas casas queimarem, os bombeiros fazem o que podem, mas com recursos limitados não conseguem fazer muito. Quando protestam, são espancados pela polícia de choque.

Por isso, há três anos criamos um Setor de Bombeiros Voluntários para o combate a incêndios florestais. Hoje temos três veículos e uma equipe bem treinada de voluntários. Durante todo o verão, eles patrulham o interior e intervêm quando incêndios florestais surgem. Nos últimos dois anos, salvaram pessoas, casas e animais selvagens.

A lógica é a da auto-organização: não depender do Estado, mas contar com nossas próprias forças. Como dizemos na Grécia: ‘somente o povo pode salvar o povo’.”

Sobre o antifascismo:

“O Aurora Dourada foi derrotado. Foi derrotado primeiro nas ruas, e depois declarado uma organização criminosa e proscrita. Mas, a essa altura, já havia se tornado inútil para a classe dominante. O antifascismo militante é essencial, mas não é toda a história. Sempre haverá pequenos grupos fascistas, e é preciso mantê-los sob controle nas ruas.

Mas a verdadeira questão é: como impedir que ganhem espaço entre a base social? A razão pela qual ganharam influência foi o vazio político que nós mesmos criamos. Se você está ausente das lutas sociais e políticas, as pessoas buscam outros caminhos. Se não oferece uma alternativa crível aos partidos e ao Estado, as pessoas procuram soluções em outro lugar. Devemos estar na linha de frente da guerra social e de classes todos os dias. Na medida em que tivermos sucesso nisso, as pessoas se voltarão para nós, e ignorarão eles.”

Sobre a solidariedade com a Palestina:

“A Grécia é cúmplice do genocídio junto com Israel. A burguesia grega tem laços históricos e existenciais com a classe dominante israelense. Aqui temos empresas que colaboram com o exército israelense e investidores israelenses comprando propriedades e hotéis. Enquanto existirem esses alvos, haverá maneiras de atingir o Estado sionista e suas políticas genocidas.”

A entrevista completa será publicada na próxima edição da revista anarquista Freedom.

Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/10/05/interview-with-rouvikonas/

Tradução > Contrafatual

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Ação direta: o faço
é mais verdadeiro que
o prometo vazio.

Liberto Herrera

[EUA] Como os anarco-punks da Filadélfia misturaram música, barulho e justiça social nos anos 1990 e 2000

Por Edward Avery-Natale | 22/09/2025

Embora a cidade de Nova York seja comumente considerada o berço do punk rock americano, apenas 160 quilômetros ao sul do famoso clube CBGB, onde os Ramones e outras bandas pioneiras do punk começaram, está a Filadélfia, que mantém uma cena punk vibrante desde pelo menos 1974 e que persiste até hoje.

Sou professor de sociologia no Mercer County Community College, em Nova Jersey, editor principal de um volume intitulado Being and Punk (no prelo) e autor do livro Ethics, Politics, and Anarcho-Punk Identifications: Punk and Anarchy in Philadelphia (2016).

Sou fã de punk rock desde os 15 anos e participei ativamente de cenas punks em Filadélfia e Fargo, Dakota do Norte. Ainda frequento shows punk e participo da cena sempre que posso.

Embora o “nascimento” do punk seja sempre tema de disputa, é justo dizer que, com os Ramones se formando em 1974 e lançando o single “Blitzkrieg Bop” em fevereiro de 1976 nos EUA, e os Sex Pistols realizando seu primeiro show em novembro de 1975 no Reino Unido, o punk tem pelo menos 50 anos.

Diante desse marco, acredito que vale revisitar o auge da cena punk anarquista da Filadélfia nos anos 1990 e 2000, e como sua ideologia e ativismo político, que incentivavam a oposição ao capitalismo, ao governo, à hierarquia e muito mais, ainda exercem influência hoje.

“Não é uma rebelião típica”

Na Filadélfia, especialmente em West Philly, várias ocupações, casas e espaços coletivos sediavam shows, eventos políticos e festas, além de servirem como moradia para punks durante os anos 1990 e 2000. Em alguns casos, a própria ocupação era uma forma de protesto, viver cooperativamente em prédios abandonados era visto como ação política.

Havia o Cabbage Collective, que organizava shows na Igreja Calvary, na 48th com Baltimore Avenue. O Stalag 13, perto da 39th com Lancaster Avenue, foi onde a famosa banda Refused fez um de seus últimos shows, e o Killtime, logo ao lado, foi onde Saves the Day tocou em 1999 antes de se tornar famosa. A First Unitarian Church, uma igreja real no centro da cidade, ainda hoje realiza shows em seu porão.

Esses espaços subterrâneos tornaram-se centrais para a cena punk da Filadélfia, que até então carecia de locais médios para bandas menos conhecidas.

Muitos punks de Philly nessa época misturavam subcultura musical com ativismo social. Como uma anarco-punk, subgênero do punk rock que enfatiza ideais de esquerda, anarquistas e socialistas, me disse em entrevista para o meu livro:

“Minha mãe… disse: ‘Achei que você fosse crescer e sair disso. Eu não entendia, e seu pai e eu ficávamos tipo: “O que estamos fazendo? Ela vai a esses shows! Está bebendo cerveja!” Mas aí víamos: “Ela acorda na manhã seguinte para ajudar a entregar mantimentos a idosos e organizar exibições de filmes feministas!” Não sabemos o que fazer, não sabemos como lidar com isso; não é uma rebelião típica.'”

Essa fala captura a rebelião complexa e ambígua que está no coração do anarco-punk. Por um lado, é uma forma de rebeldia juvenil com os elementos típicos: consumo de álcool e drogas, música alta e roupas, penteados, tatuagens e piercings incomuns.

Mas, ao contrário de outras formas de rebeldia adolescente, os anarco-punks também buscam mudar o mundo por meio de atividades pessoais e políticas. No plano pessoal, como mostrei em meu livro, muitos tornam-se veganos ou vegetarianos e procuram evitar o consumo corporativo.

“Tenho orgulho de tentar não comprar de fábricas exploradoras e de manter meu apoio a corporações no mínimo, embora eu tenha relaxado um pouco com o tempo”, disse outro entrevistado, também vegano. “Você enlouquece se tentar evitar completamente, a menos que vá morar com o [grupo punk britânico] Crass em uma comuna anarquista.”

Amor e raiva na guerra contra a guerra

Os punks ativistas de Philly dessa época espalharam seus ideais anarquistas por meio de palavras e ações.

Bandas como R.A.M.B.O., Mischief Brew, Flag of Democracy, Dissucks, Kill the Man Who Questions, Limp Wrist, Paint it Black, Ink and Dagger, Kid Dynamite, Affirmative Action Jackson, The Great Clearing Off, The Sound of Failure, entre muitas outras, cantavam sobre guerra, capitalismo, racismo e violência policial.

Por exemplo, em seu single de 2006 “War-Coma”, a banda Witch Hunt refletia sobre as guerras no Iraque e no Afeganistão, responsabilizando eleitores, governo e religião:

“24 years old went away to war / High expectations of what the future holds / Wore the uniform with pride a rifle at hand / Bringing democracy to a far away land / Pregnant wife at home awaiting his return / Dependent on faith, will she ever learn? / Ignore the consequences have faith in the Lord / Ignorance is bliss until reality sets in / Never wake up again.”

(24 anos foi para a guerra / Altas expectativas do que o futuro traria / Usava o uniforme com orgulho e um rifle nas mãos / Levando a democracia para uma terra distante / Esposa grávida em casa esperando seu retorno / Dependente da fé, será que um dia vai aprender? / Ignora as consequências, tem fé no Senhor / A ignorância é uma bênção até que a realidade chega / E nunca mais desperta.)

Durante as apresentações, as bandas costumavam comentar o significado das músicas. E nas bancas de mercadorias, vendiam camisetas e discos junto com zines, livros, patches e bottons, quase sempre com imagens ou slogans políticos.

Algumas bandas se tornaram metacríticas da própria cena punk, incentivando o público a reconhecer que o punk é mais do que música.

Na canção “Preaching to the Converted”, o Kill The Man Who Questions ironizava as críticas que as bandas recebiam por serem “pregadoras demais” nos shows:

“Unity” the battle cry / Youth enraged but don’t ask why / They just want it fast and loud, with nothing real to talk about / 18 hours in a dying van / Proud to be your background band.

(‘Unidade’ é o grito de guerra / Juventude enfurecida, mas sem perguntar por quê / Só querem rápido e alto, sem nada real sobre o que falar / 18 horas em uma van morrendo / Orgulhosos de ser sua banda de fundo.)

Em West Philadelphia, punks também trabalhavam na cooperativa de alimentos local e organizavam espaços ativistas, como o antigo A-Space, na Baltimore Avenue, e o LAVA Zone, na Lancaster Avenue, onde grupos como Food Not Bombs e Books Through Bars, entre outros, atuavam. Eu mesmo organizei um encontro da Northeastern Anarchist Network no LAVA em 2010.

Os punks arrecadavam dinheiro para causas sociais e compareciam a protestos locais contra a globalização capitalista e inúmeras outras lutas. Na Convenção Nacional Republicana de 2000, em Filadélfia, punks vestidos de preto e mascarados marcharam pelas ruas junto a uma ampla coalizão de organizações comunitárias.

O punk não morreu na Filadélfia

Desde os primórdios do punk, muitos lamentam que “o punk morreu”.

Na Filadélfia, vi como a cena anarco-punk dos anos 1990 e 2000 mudou, mas também como ela continua influenciando bandas locais e os valores do punk rock em geral.

Muitos ex-integrantes e membros atuais da cena anarco-punk da cidade ainda são ativistas, pessoal e profissionalmente. Entre os que entrevistei entre 2006 e 2012 havia assistentes sociais, organizadores sindicais, professores, educadores e conselheiros escolares e sobre drogas. Para muitos, suas carreiras foram moldadas pela ética anarquista que desenvolveram dentro da cena punk.

E muitos punks locais estiveram presentes no acampamento Occupy Philly e nos protestos em frente à prefeitura em 2011; depois, marcharam nas ruas durante os protestos do Black Lives Matter após o assassinato de George Floyd e de Breonna Taylor em 2020. Também participaram do acampamento de pessoas sem-teto no Benjamin Franklin Parkway, também em 2020. E punks locais que conheço continuam participando de campanhas de base como Decarcerate PA.

O anarquismo e o punk rock abrem caminhos para que jovens desiludidos, em Filadélfia ou em qualquer outro lugar, sonhem com um mundo sem capitalismo, autoridades coercitivas, polícia ou qualquer forma de injustiça.

Nas palavras do R.A.M.B.O., uma das bandas hardcore mais conhecidas da época, que lançou seu mais recente álbum Defy Extinction em 2022:

“If I can dream it, then why should I try for anything else?”

(Se eu posso sonhar com isso, por que deveria tentar qualquer outra coisa?)

Fonte: The Conversation

Tradução > Contrafatual

agência de notícias anarquistas-ana

Quebre o cristal fino.
O estrondo é a sinfonia
da nova ética.

Liberto Herrera

[Internacional] Poesia Contra o Cárcere

Este poemário nasce sem donos. Não manejamos dinheiro, rechaçamos por preço à raiva. Se circular dinheiro, invistam-no em panelas comuns, bibliotecas, fianças, resistência. Quem leva este material se compromete a entregar cada peso sem intermediários nem fundações, mão a mão. Pedimos ao Movimento Anticarcerário Internacional: difundir, recitar, multiplicar sem medo, até quebrar as celas, até que caia o desdém.

Baixe e divulguehttps://periodicoelsolacrata.wordpress.com/wp-content/uploads/2025/07/pclc.pdf

Contra as Gaiolas do Esquecimento

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Entre muros de concreto e sonhos aprisionados,

almas rebeldes tecem versos iluminados.

Cada grade é um verso que o poder forjou,

mas na noite escura, nosso punho se ergueu, lutou.

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As correntes do Estado, frias como a ausência,

prendem corpos, mas não a chama da resistência.

Em cada brecha do sistema, um coração pulsado,

a fúria que constrói o que nunca foi calado.

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Do Chile à Grécia, das ruas até as matas,

a solidariedade é um rugido que não se mata.

Nenhum muro deterá a semente que brota,

a utopia rebelde que em cada peito se nota.

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Rosas negras florescem onde o poder planta dor,

em cada grade quebrada, se unem voz e clamor.

A poesia é uma arma, a palavra, direção,

derruba fortalezas, apaga a divisão.

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Não há cerca que apague a luz dos clamores,

nem guarda que silencie os gritos dos sofredores.

Somos pássaros de névoa, trilhas no proibido,

tecendo redes de fogo contra o mundo corrompido.

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Contra as jaulas do capital, a raiva organizada,

cada verso é um passo rumo à alvorada.

Na pele dos presos, a luta é marcada,

e em nosso canto pulsa a esperança libertada.

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Liberto Herrera

agência de notícias anarquistas-ana

durante o teu sonho
eu brinco com as nuvens
e tu não sabes de nada

Lisa Carducci

[Espanha] XXIII Encontro do Livro Anarquista de Madrid

Nossa XXIII edição será celebrada nos dias 5, 6 e 7 de dezembro na Escola Popular de Prosperidad, “LA PROSPE” (Rua Luis Cabrera, 19).

Continuamos trabalhando nas apresentações de livros, palestras e debates que nos fazem refletir sobre o mundo em que vivemos e a alternativa que propomos a partir do anarquismo.

A atualidade é avassaladora: uma sociedade que pende cada vez mais para a direita, guerras ou os eufemisticamente chamados “conflitos” (mais de 50) e genocídios transmitidos ao vivo na televisão e nas redes sociais, anarquistas detidos em diversos países por erguerem sua voz contra as barbáries cometidas tanto por governos abertamente ditatoriais quanto por democracias.

Nós, libertários e libertárias, sempre encontramos nos livros um espaço para falar sobre o presente, propor alternativas ou recuperar o que já era proposto pelos pais e mães do anarquismo.

São muitas as editoras que continuam difundindo nossas ideias, com autoras e autores de ontem e de hoje, a quem queremos dar voz para compartilhar e transmitir.

Com muita expectativa, nos vemos em dezembro!

Saúde!

encuentrodellibroanarquista.org

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

se andava no jardim
que cheiro de jasmim
tão branca do luar

Camilo Pessanha

[EUA] Intimidades sem fronteiras: Anarquismo negro e internacionalismo

A Feira Radical do Livro de Atlanta apresenta…

Intimidades sem fronteiras: Anarquismo negro e internacionalismo

com Anarcha Semiya e Andrewism

Sábado, 11 de outubro de 2025

13h00 – 14h00

Em nossa era de fascismo crescente, olhamos para fora para encontrar nossas histórias de luta e solidariedade. @anarchasemiyah e @blackanarchistradicals explorarão as lutas dos negros contra a hierarquia e o Estado em contextos históricos e contemporâneos. Viajaremos pelos diversos anarquismos negros em diferentes partes do mundo e veremos como podemos atravessar o tempo e as fronteiras para aprender e lutar uns com os outros.

Quando: Sábado, 11 de outubro de 2025

Onde: Virtual — link para transmissãoHTTPS://TINYURL.COM/ARBF-BORDERLESS-INTIMACIES

agência de notícias anarquistas-ana

A caridade, esmola
que lava a consciência
e mantém a cerca.

Liberto Herrera

[Espanha] Nada é mais desanimador que um renegado satisfeito

30/07/2025

Escrevemos estas linhas, não por prazer, mas por necessidade, para combater a apatia, os discursos e narrativas que pretendem nos enterrar. Após várias décadas militando no movimento anarquista e depois de viver momentos de luta e compromisso muito mais intensos que os atuais, de participar em coordenações nacionais e federações que funcionavam como ponto de encontro, debate, formação e ação, que atuavam como freio à ofensiva do Estado-capital, que davam um sentido às nossas vidas. Depois de ter vivido e construído fortes vínculos entre companheiros, de ter enfrentado a repressão, de experimentar grandes cumplicidades, participar de grandes manifestações e explosões, de algumas revoltas e de algumas barricadas. Levamos as ideias à prática e colocamos a luta no centro de nossas vidas. O momento atual nos parece pouco. Observamos perplexos o nosso presente, como o refluxo e o conformismo nos arrastaram para os braços da autocomplacência e da resignação, como a radicalidade e as ideias revolucionárias desapareceram dando lugar ao reformismo mais inerte. Observamos também a fuga de companheiros para o nada, para outras tendências, em sua maioria autoritárias, ou para os refúgios do capital. Agora que contemplamos as cinzas do que um dia fomos e vemos no que nos tornamos, surgem-nos várias perguntas: o que aconteceu, companheiros? onde estamos? o que foi feito dos nossos sonhos e aspirações? será que não fomos nada mais que uma birra da juventude?

Nos recusamos a acreditar que nossa luta foi um momento de juventude, de fato estamos convencidos de que não é assim. Acreditamos que a vida é luta e que nossas ideias são a resposta para muitos dos problemas que assolam nossas vidas e a sociedade inteira. Também nos recusamos a pensar que este escrito é fruto da nostalgia e que o sentimento que se reflete neste texto é apenas nosso. Sabemos que mais de um e mais de dois saíram dos espaços e da militância com pesar, que a vida e os anos nos foram consumindo e que, sem sermos muito conscientes, a inércia foi nos afastando uns dos outros e nos levando para a individualidade ou para a família-Estado mononuclear. Mas não é momento de lamentar, nem de ser complacente, tampouco de nos flagelar, nem de nos resignar. É momento de dar um fim à inércia, de fazer um exercício de reflexão individual e coletiva, de esclarecer conceitos e lançar alguma luz sobre a sombra. É momento de nos reencontrarmos e voltar a formar essa comunidade de luta que um dia fomos. Nós continuamos querendo dar batalha, mais ainda, nos recusamos a que outros nos enterrem ainda vivos. Continuamos esperando por nós, mantendo alguns pontos de encontro na esperança de ver voltar os que se foram e, sobretudo, outros novos companheiros que virão, porque continuamos tendo os mesmos sonhos, a mesma raiva, talvez mais intensa que antes. Sabemos que ninguém é imprescindível e que todos somos necessários. Além disso, estamos mais convencidos do que nunca de que tínhamos e temos razão em nossas propostas de luta e na mais que necessária e urgente transformação da sociedade e do mundo que habitamos. A realidade nos demonstra cotidianamente que se não compartilharmos a luta, só compartilharemos miséria.

Está claro que as soluções individuais não servem e que só as coletivas, e a luta pela justiça social, a luta pela anarquia, dão sentido à vida. O resto são substitutos, mercadorias, egos, misérias…

Para romper com a comodidade na qual transitamos, queremos formular algumas perguntas: acabamos com a desigualdade? com a exploração? construímos esse mundo que carregamos em nossos corações? que futuro espera os que virão? então por que deixamos de lutar? por que deixamos de apostar em manter a comunidade de luta, reforçá-la e cuidar dela?

Acreditamos que não há desculpa para abandonar a luta e menos ainda para renegar ela. Pode ter havido acertos e erros, pode haver desgastes e cansaços, mas nada disso justifica a inação, ou o deixar de ser solidário, ou o deixar de dar uma mão nos momentos difíceis. Fechar os olhos para si mesmo não adianta, nem vai nos salvar da barbárie. Menos ainda será se colocar no alto de um púlpito de onde se olha por cima das lutas, criticar e desacreditar sem se sujar, adotar a pose do lutador cansado, torpedear processos e esforços de companheiros, buscar a teoria para a inação e espalhar discursos desmotivadores e alienantes que só justificam a própria inação e essa forma miserável de estar no mundo. Essas atitudes sempre tiveram um nome, que não é outro senão o de renegado. Pela saúde de qualquer movimento, é melhor que estejam fora, ou melhor ainda, tentar calá-los de forma rápida, e pública se possível, porque o dano que são capazes de fazer é tão grande quanto possa ser sua boca grande, ou pior ainda, o certo status que ainda conservam dentro do movimento.

Porque só ter passado para o lado dos privilegiados pode justificar tamanha covardia e miséria pessoal. Porque desacreditar a luta e os espaços de luta não pode ser a opção para abandonar a militância. Por mais tentador e humano que seja, é preciso superar; ter “classe” para abandonar os espaços com honestidade. Nesse sentido, acreditamos que a opção mais nobre é se manter na retaguarda, contribuindo e apoiando os companheiros mais decididos. Dar ânimo e não tirá-lo, mesmo estando em um momento de desmotivação pessoal, falta de tempo ou cansaço. Porque somos quem somos e sabemos que é difícil se reinventar e sentir prazer no mundo da mercadoria. Nós nos conhecemos e vemos o vazio em seus rostos. Sabemos que é mais difícil quando se tem princípios e uma base sólida antiautoritária e anticapitalista. Quando se lutou, deixar de fazê-lo faz com que alguém se sinta, no mínimo, como um colaborador do inimigo.

Hoje em dia, motivos não faltam, e agora mais do que nunca, já que a besta Estado-capital avança sem freio em direção à mais absoluta das barbáries. Vocês fazem falta, companheiros, faltam mãos e ideias para subverter a ordem atual e poder golpear a besta, sentimos falta dessa comunidade de luta que um dia fomos, onde os problemas de um eram os de todos, e quando golpeavam um, respondíamos todos.

Após vários anos de refluxo social e diante de uma sociedade passiva que caiu no hedonismo tecnológico e de consumo, que abraça o fascismo e o totalitarismo como forma de resolver os problemas sociais; uma sociedade cada vez mais estupidificada e manipulada, que rasteja em direção ao abismo para onde os poderosos nos levam, o anarquismo e os anarquistas ainda temos muito a dizer e a fazer. Então, por que deixou-se de militar? por que se abraçam os prazeres do capitalismo e seu modo de vida? por que nossas posições teórico-políticas se deslocam para o esquerdismo e o conforto militante? Cada um terá suas próprias respostas, daqui só podemos pedir que se dê espaço à reflexão e que se abram as portas ao encontro. Pretendemos simplesmente esboçar algumas respostas em linhas gerais e fazer um chamado à responsabilidade militante e a se manter na luta, contribuindo com base nas possibilidades de cada um, ajudando a fortalecer o movimento anarquista e revolucionário.

Que a luta desgasta é um fato, que os refluxos sociais e os ciclos políticos existem e que é preciso estar preparado para que eles não nos arrastem para a derrota e o conformismo, uma certeza. Que precisamos de espaços saudáveis onde os personalismos não tenham lugar, onde nos desenvolver e lutar, que sejam impermeáveis à sociedade de consumo, aos refluxos, à desmobilização e à repressão, é algo a ser construído e, uma vez construído, mantido.

Acreditamos que manter a tensão com o poder, manter a rua, os grupos de afinidade, os coletivos, gerar assembleias nos trabalhos e nos bairros, conspirar coletivamente, gerar coordenações em nível nacional que respeitem a autonomia dos coletivos e grupos onde fazer uso da estratégia para conseguir os objetivos que a curto, médio e longo prazo estabelecermos, é necessário para não cair em posições confortáveis que são a antessala do conformismo e da derrota.

Olhando para trás e sendo conscientes de que as derrotas das gerações se sucedem, tentaremos apontar a partir de nossa experiência alguns dos fatores que nos trouxeram até aqui. Vamos enumerá-los sem nos alongar demasiado, já que a finalidade deste escrito não é outra senão provocar um debate no seio dos coletivos, nos militantes e ex-militantes, e também nas organizações do movimento anarquista. Este texto pretende ser um revulsivo contra o derrotismo e a apatia. Uma faísca que incite a pôr-se em marcha, uma rajada de ar fresco que busca fortalecer o movimento em toda a sua amplitude, abrir linhas de debate e autocrítica que nos permitam sair do impasse em que nos encontramos.

Acreditamos que os principais males que afligem o movimento podem ser os seguintes e podem ser enumerados da seguinte maneira, por mais triste que seja reconhecê-lo: falta de estratégia, de projeção política para além da juventude. Excesso de lazer alternativo que não propõe nada mais e que funciona como substituto da luta. Não ter objetivos claros e compartilhados, o individualismo mal compreendido, a falta de formação teórica que impeça a intrusão de tendências que isolam e desmobilizam. A parcialidade das lutas que faz abandonar o horizonte comum e nos sentir fraternos. A falta de projetos duráveis, de espaços maduros de encontro e discussão entre coletivos e organizações. A falta de ação direta, a competição entre tendências que convertem o movimento em um campo de batalha em vez de buscar a fraternidade em torno da ideia entendida em toda a sua amplitude e diversidade. O converter as ferramentas em ideologias e paróquias. As críticas públicas e impiedosas para os companheiros que só reforçam os egos. O corporativismo dos organizados, a incapacidade para controlar os personalismos e os desvios de iluminados que, erigidos líderes, levam a tocha para outros espaços políticos para manter seu status. Os renegados e derrotistas que continuam pululando pelos entornos e que semeiam apatia e desolação.

Estas podem ser umas pinceladas gerais para enumerar alguns dos fatores e vícios internos que, em nosso juízo, existem em nossos espaços militantes. Também sabemos que cada grupo ou organização deve ter sempre presente a autocrítica, estar de olhos abertos, não se acomodar, manter-se despertos para não repetir erros passados e evitar que os desvios teóricos. Afastar a todo custo o isolamento, as rixas pessoais, os vícios, o fastio e a depressão que rondam os espaços militantes os levem à derrota.

Agora apontaremos alguns fatores que costumam não ser levados em conta pelas novas gerações que abraçam críticas destrutivas, estéreis e pouco profundas que culpabilizam as gerações anteriores, esquecendo que o inimigo que enfrentamos é poderoso e impiedoso, e que a luta provoca um desgaste forte nas vidas militantes.

Também outras tendências políticas de recente criação, cheias de trânsfugas, utilizam as derrotas alheias como arma arremessada contra o anarquismo e aquelas gerações de lutadores, ocultando os fatores externos, utilizando e ridicularizando o sofrimento de outros, para dar saída ao novo produto político triunfalista que montaram e assim continuar sendo papas. Derrota-se quem trava a batalha, não quem passeia pela academia ou pela política sem chegar a ser um perigo para o poder. A esses se deixa ser para difuminar as forças e promover a opção inerte. Uma coisa é perder e outra ser um “derrotado”. Para a segunda, é necessário perder as vontades de continuar lutando, coisa que a nós ainda não nos aconteceu. E, no que nos diz respeito, menos ainda daremos a outros a potestade de tirá-las de nós. Leia entre linhas quem deva e quem possa.

Não podemos esquecer que há fatores externos que escapam ao nosso controle e que, em ocasiões, o que podemos fazer apenas é tê-los presentes. Isto é, ser mais espertos, não lhes dar de bandeja ao inimigo e nos prepararmos para sua inevitável entrada em cena. Uma realidade que, mais cedo ou mais tarde, sempre termina por se manifestar se pretendemos ser uma ameaça para o sistema e o poder. Foram apontados os ciclos políticos, os refluxos, personagens daninhos e os vícios nos quais não cair como movimento, agora, inevitavelmente, toca falar de repressão.

Porque é preciso recordar que os inimigos que enfrentamos são poderosos, possuem uma grande quantidade de recursos e estratégias, além de uma transmissão de conhecimentos e uma atualização constante dos mecanismos de repressão. Citaremos alguns exemplos para ilustrar estes mecanismos. Entendemos que a repressão é um entrelaçado complexo que busca acabar com o inimigo político e que tem distintas estratégias e táticas. Desde a criminalização e o descrédito das ideias perante a sociedade, ao controle da dissidência como fase precoce e permanente da repressão, com a qual se busca recopilar e analisar grande quantidade de informação. Para depois, à base de peneiragens e investigações, afinar a repressão e conseguir uma maior efetividade. De um tempo para cá, tornou-se especialmente atual a figura do infiltrado, mas também existe o informante, a montagem, as escutas telefônicas e ambientais, o hackeio de veículos, computadores, dos aparelhos digitais e o acompanhamento dos militantes e a monitorização dos espaços físicos e de luta (locais, moradias de militantes, manifestações…).

Com toda esta informação se prepara a estratégia repressiva e se age. Às vezes bastará com a pressão policial-judicial continuada contra os militantes na forma de multas, outras com algumas detenções, busca e fechamento de locais. Outras vezes alguns companheiros entrarão na prisão por uma longa ou curta temporada, o que inevitavelmente centrará os esforços em combater a repressão e desviará o movimento de seus objetivos, ao mesmo tempo que se utilizará também uma marcação forte ao entorno solidário como forma de aumentar o dano para o movimento. Às vezes, os golpes repressivos são a desculpa para testar um entorno que, para o poder e as forças repressivas, é difuso ou opaco e assim poder mapear bem as relações, os companheiros ou a organização a abater. Às vezes, os golpes repressivos são em cascata e espaçados no tempo, o que gera maior sensação de pânico entre o entorno solidário e a militância, provocando assim uma maior desmobilização. Porque, nunca é demais lembrar, a repressão busca a desmobilização de uma comunidade de luta, movimento ou organização.

Vemos que cada estratégia repressiva é diferente e que, embora todas busquem a desmobilização e eliminação do oponente político, não devemos enfrentar todas da mesma forma. Saber que o inimigo está à espreita não pode fazer outra coisa senão nos manter vigilantes sem cair na paranoia que impeça a ação. Por outra parte, é necessário saber que o risco 0 não existe quando sua intenção é combater o poder. Um primeiro passo deveria ser sempre proteger-se e proteger o resto de companheiros. Estabelecer estratégias e metodologias para agir sem deixar rastros, passar despercebidos quando for preciso, maquiar e difuminar os golpes pode fazer parte da estratégia a seguir, assim como compartilhar, atualizar-se, acumular e prover-se de experiências, metodologias e estratégias para enfrentá-la, torna-se estritamente necessário para os grupos e revolucionários que pretendam levar a luta a sério.

A repressão é efetiva, por isso seguem usando-a contra a dissidência, porque a repressão individualiza, porque o assédio policial e judicial, a prisão e as multas geram medo e destroem vidas. Está em nossas mãos nos prepararmos para enfrentá-la, buscar mecanismos para atenuá-la, combatê-la e socializá-la. Ser solidários para que os companheiros que a sofrem não estejam sozinhos, além de devolver os golpes ao poder e redobrar esforços na denúncia da repressão, assim como na continuação da luta, combater as forças repressivas e sua sociedade cúmplice. Porque a melhor homenagem é continuar a luta e porque contra sua repressão, nossa solidariedade.

Sirvam estas linhas para nos situar, nossa intenção sempre foi a de falar claro para poder desenvolver estratégias e práticas de luta contra a dominação. Consideramos a repressão uma estratégia mais das que dispõe o poder para acabar com seus inimigos, tem outras mais sutis como são a integração, a marginalização, a criminalização. E das quais tampouco é fácil escapar, por isso manter-se desperto, sem triunfalismos, atento e decidido é necessário para enfrentar o poder, suas estratégias e seus capangas.

Nossa intenção não é a de desanimar, mas sim, todo o contrário. Tampouco a de vitimizar os lutadores, mas a de combater por um lado os discursos derrotistas e seus porta-vozes, os quais acreditamos que podem chegar a fazer mais dano que a repressão em si mesma; e por outro, combater o sistema e tratar a repressão como consequência da luta que travamos. Para isso é necessário tê-la presente e nos prepararmos para enfrentá-la sendo conscientes de que o inimigo é poderoso e nós teremos que estar à sua altura para acabar com ele. Porque seguimos acreditando que nosso momento não passou e que se nos esforçarmos virão tempos melhores, que as explosões e o combate estão por vir, porque não queremos que nos peguem dormidos e atomizados. Anarquia ou morte.

Está em nossas mãos nos reencontrarmos, pôr-nos em marcha outra vez, voltar a ser perigosos para o poder, vocês sabem onde nos encontrar.

Alguns velhos anarquistas

P.S.: Enquanto se redige este artigo, estão ocorrendo os fatos de Torre Pacheco (Múrcia). Onde a ultradireita midiática e neonazistas estão se dedicando à caça ao imigrante. Situações como esta unidas à precarização da vida, a destruição do planeta, a deriva autoritária e totalitária dos estados tornam mais necessário do que nunca um movimento anarquista forte e organizado que saiba enfrentar o fascismo, o capitalismo e o estado. Assim mesmo, assistimos há mais de dois anos ao genocídio em Gaza, perpetrado pelo Estado de Israel que está decidido a exterminar a população palestina. Em um contexto tão devastador como este, torna-se urgente a articulação de um movimento libertário que aspire a combater e transformar radicalmente a sociedade. Que aspire à revolução social.

Fonte: https://www.alasbarricadas.org/noticias/node/57676

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Rosto no vidro
uma criança eterna
olha o vazio

Alphonse Piché

[Espanha] Lançamento: “¿Qué es el anarquismo?”, de Miquel Amorós.

Com o título do presente ensaio Miquel Amorós nos interroga, com aparente ingenuidade, sobre o que é o anarquismo. Nas primeiras linhas, simula enfrentar a pergunta: “A resposta, em princípio, é fácil: anarquismo é o que pensam e fazem os anarquistas”. Mas esta apressada definição inicial, formulada sem entusiasmo nem celebrações, é na realidade uma inquietante e realista constatação, segundo a qual anarquismo é “uma espécie de saco cheio de fórmulas díspares etiquetadas como anarquistas”.

O mundo no qual vivemos exige, hoje mais do que nunca, um exame baseado no conhecimento histórico. No entanto, os anarquismos pós-modernos, renegando a verdade e a razão, renegam também a luta de classes e o anticapitalismo. A pós-verdade, a impostura e a incoerência são suas novas e estranhas bandeiras. Como adverte Amorós, “ao renunciar à razão, tal como se costuma fazer agora, as portas ficam abertas a qualquer deriva…”

O livro inclui mais dois textos de Amorós: “Anarquismo hoy” e “Las causas probables del ascenso de la extrema derecha en el mundo capitalista“.

Preço 7,00 €

Editora: LA ROSA NEGRA

Idioma: Castellano

Número de páginas: 60

Data de publicação: 2025

ISBN: 978-84-946886-6-9

larosanegraediciones.es

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A lei é um caco
de vidro—nós pisamos
descalços, e sangramos.

Liberto Herrera

[Espanha] Programação da I Feira do Livro Anarquista e Social de Vigo

Este programa inclui apresentações de livros, debates, oficinas e mesas redondas que abrangem desde o pensamento libertário clássico até novas redes de ativismo internacional, incluindo memória histórica, solidariedade internacional e alternativas coletivas ao capitalismo.

Além das palestras, a feira também quer ser um espaço vivo de convivência e aprendizado coletivo, onde palavras e ações andam de mãos dadas.

Convidamos você a comparecer, participar, debater, conhecer novas propostas e, principalmente, a desfrutar da I Feira do Livro Anarquista e Social de Vigo, que, como já antecipamos, não será a última.

Horário da Feira

Sexta-feira: das 17h30 às 21h30.

Sábado: das 11h00 às 21h00

Domingo: das 11h00 às 19h00

Local: Galerias do Príncipe — Rua do Príncipe, 22 (Vigo)

Organização: CNT-Vigo e Grupo Acción Directa (FAI)

> Confira a programação aquihttps://cntvigo.org/programaiflasv/

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chegado para ver as flores,
sobre elas dormirei
sem sentir o tempo

Buson

O mito do bloco negro. 2 de outubro de 2025 no México

O MITO DO BLOCO NEGRO

Agora que se viu uma resposta violenta dos manifestantes na marcha de 2 de outubro [marcha anual em memória do massacre estudantil de 1968 em Tlatelolco], o mito do Bloco Negro ressurge, tanto para os jornalistas chayoteros [jornalistas que recebem um pagamento em troca de falar bem do governo.] quanto para os ideólogos do governo, interessados em criar um falso inimigo. Vamos por partes:

1. O Bloco Negro não é uma organização clandestina financiada por “interesses obscuros”. Essa ideia circula desde Díaz Ordaz contra os estudantes do CNH quando invadiram a UNAM e o IPN em 1968, encontrando uma feroz resistência, inclusive com armas curtas dentro dos campus da UNAM e do IPN.

2. Esta ideia de “um inimigo estranho” alimenta os discursos do governo, apontando “que não cairão em provocações”, como se o povo estivesse interessado em ser reprimido pelo governo.

3. O que o [partido] MORENA não quer entender é que, ao enganar 35 milhões 849 mil 484 pessoas que votaram neles, não conseguem enganar os outros 65 milhões 405 mil 911 eleitores, que somam um total de 101.255.395 pessoas registradas no cadastro eleitoral. A minoria de quase 36 milhões de pessoas torna possível a submissão de mais de 65 milhões. Mas isso não quer dizer que eles consigam enganar todas as pessoas. Descontando as pessoas que votaram no PRIAN, um total de 16.502.458 votos, que vivem enganadas pela extrema direita, e também cerca de 10 milhões que votaram em outras “opções”. Mas, desses, 39 milhões 633 mil 675 pessoas NÃO votaram. Não participaram da farsa eleitoral. Não há consenso social.

4. Dentro do mito do Bloco Negro, o Governo reconhece cerca de 350 ativistas que enfrentaram 1500 policiais. E localizam 3 homens… Ou a polícia política do governo é muito inepta, ou a Inteligência Militar não lhes passou os seus relatórios…

5. O “inimigo estranho” satanizado como o “Bloco Negro”, na verdade, tem vários componentes: primeiro, estão os anarquistas que reivindicam a ação direta e o confronto com o Estado, também chamados de insurrecionistas, embora aí haja várias correntes diferentes. Em segundo lugar, “a primeira linha”, onde estavam ativistas anarquistas e punks, que, sem serem “insus”, estiveram na luta corpo a corpo contra a polícia e “os granadeiros que já não existem”, mas que ainda batem e machucam manifestantes. Merecem respeito estes manifestantes que arriscam a vida e o corpo, enfrentando o braço repressor do Governo. Em terceiro lugar, há pessoas espontâneas que enfrentaram: um ciclista, um rapaz de skate sem capuz, uma moça com um estilingue de brinquedo, um senhor bêbado que enfrentou os policiais e vários estudantes que se separaram de seus contingentes, sem capuzes, sem vestir preto, que também são observados nos múltiplos vídeos. Simplesmente são pessoas que estão fartas, que têm raiva e que se lançam sem medir precauções, com o rosto descoberto e vestimenta singular…

6. E por último, há 3 tipos de pessoas sobre as quais não se fala, mas que também estão infiltradas: o crime organizado, o narcotráfico e a máfia da Cidade do México (lembrem-se que um soldado, Julio César López Patolzin, se infiltrou nos 43 de Ayotzinapa), e por último, a guerrilha urbana que forja seus quadros na luta de rua, protegidos por eles mesmos e treinados militarmente, por isso nenhum deles caiu.

7. É falso que o “Bloco Negro” seja financiado. Eles fazem isso de graça. Por livre escolha. Em vez disso, a extrema-direita TEM seus próprios corpos paramilitares financiados, sobre os quais não falam na mídia.

8. Também nos vídeos, viu-se um ladrão de joias vulgar sem capuz e sem vestir de preto. “Magicamente” os ladrões conseguiram romper as fileiras dos policiais e, na esquina onde estava repleto de policiais, conseguiram esvaziar lojas inteiras sem problemas. No dia seguinte, a dona de uma joalheria denunciou como vários policiais também roubaram joias, mas isso não foi investigado… (nem o farão)…

9. Surpreende o discurso do governo elogiando seu braço repressor como “heroico” e “polícia da paz”, assim como no romance de 1984, assim como Trump defendendo o ICE e a Migra. A criação discursiva de “um inimigo estranho”: o Bloco Negro, legitima seu pretexto de “cuidar” das pessoas: mais recursos e poder para Omar García Harfuch [Ministro da Segurança], mais dinheiro do orçamento para mais câmeras de vigilância, mais patrulhas para que os policiais comam e vejam seus celulares confortavelmente ali, enquanto o Narco e os extorsionistas saqueiam o país…

10. Também é incrível a imprensa vendida e indigna que chora pelos policiais feridos e não diz nada sobre Ayotzinapa, Acteal, Atenco, Chiapas, Oaxaca, Palestina, e menos ainda sobre o exército enfrentando o EZLN no sudeste. No país de “celebrando o primeiro ano de Sheinbaum [presidente do México]”, os presos políticos continuam, Oaxaca continua comprando armas de Israel, a marinha e o exército continuam traficando gasolina roubada e drogas, as greves mineiras apodrecendo, as granjas suínas envenenando o sudeste, o Narco desaparecendo, sequestrando e escravizando pessoas; enquanto o MORENA celebra seu 7º ano de exercício do poder neoliberalmente.

Braulio Alfaro.  Periódico MoTíN.

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Sem pátria, sem hino,
o chão que pisamos é
o único altar.

Liberto Herrera

Mark Bray está se mudando para a Espanha em meio a ameaças de morte e pedidos para sua expulsão da Universidade Rutgers

Mark Bray, professor de história na Universidade Rutgers em Nova Jersey e autor de Antifa, o manual antifascista, La traducción de la anarquia (A tradução da anarquia), The Anarchist Inquisition. Assassins, Activists, and Martyrs in Spain and France (A Inquisição Anarquista. Assassinos, Ativistas e Mártires na Espanha e na França) está se mudando temporariamente para a Europa enquanto lida com ameaças que se intensificaram depois que um grupo de estudantes afiliado à organização fundada pelo ativista conservador assassinado Charlie Kirk o acusou de ser “um financiador e líder proeminente do movimento antifa no campus”.

“Várias figuras conhecidas da extrema-direita me atacaram no X, o que me levou a receber ameaças de morte. A organização de Charlie Kirk, Turning Point USA, tentou me demitir do meu emprego, e no último fim de semana recebi um e-mail ameaçador com meu endereço residencial. Como resultado, fui forçado a transferir todas as minhas aulas para o modo online e me mudar com minha família para Madri durante o ano. Espero que até lá a situação se acalme. Veremos.”

“Vou queimar sua casa e te matar quando você sair correndo”, dizia uma das ameaças enviadas.

“É melhor você correr, seu vagabundo”, dizia outro e-mail. “NÓS, O POVO, estamos de volta e não aprovamos suas ideias e ensinamentos. Vocês se aproveitam dos fracos, transformando seus cérebros em mingau. Sua organização logo será mingau.”

Bray acredita que está sendo alvo de ataques devido às suas pesquisas anteriores e opiniões que estão “em desuso” com o governo Trump, incluindo seu best-seller de 2017, “Antifa: The Anti-Fascist Handbook”, que analisou a história do antifascismo.

O presidente Trump classificou a Antifa como uma organização terrorista doméstica em 22 de setembro, caracterizando o movimento frouxamente organizado como uma “empresa militarista e anarquista” que busca derrubar o governo dos EUA.

Conteúdos relacionados:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2019/07/18/lancamento-antifa-o-manual-antifascista-de-mark-bray/

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2022/04/21/eua-lancamento-the-anarchist-inquisition-assassins-activists-and-martyrs-in-spain-and-france-de-mark-bray/

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2020/06/08/espanha-mark-bray-nao-ha-nem-de-longe-grupos-antifas-suficientes-para-realizar-o-que-estamos-vendo/

agência de notícias anarquistas-ana

O cogumelo nasce
no tronco podre do Estado—
vida após a morte.

Liberto Herrera

[Áustria] Não se considere um anarquista!

Um esforço contra uma confusão geral.

Não se considere um anarquista só porque um “A” na bola fica bonito como adesivo no seu laptop ou na sua bicicleta.

Não se considere um anarquista só porque a maioria das pessoas que você conhece da assim chamada esquerda radical o faz.

Não se considere um anarquista se você é uma daquelas pessoas que equipara a esquerda radical ao anarquismo sem conhecer a origem de nenhum dos dois.

Não se considere um anarquista só porque é um ativista e sabe jogar o jogo das identidades.

Não se considere um anarquista só porque estava entre outras pessoas vestidas de preto em um protesto ou festa.

Não se considere um anarquista apenas porque os espaços que frequenta e certos códigos que segue sugerem que você é um.

Não se considere um anarquista só porque seus pais ou seu chefe o chamam assim.

Não se considere um anarquista se a legalidade tiver que ser a base de suas ações.

Não se considere um anarquista se mais tarde você se tornar o que inicialmente mais temia: um cidadão de bem.

Não se considere um anarquista se suas opiniões políticas consistem em demandas democráticas liberais (você pode nem perceber isso).

Não se considere um anarquista se acredita no parlamentarismo e alimenta seu grito desesperado por esperança torcendo pelas facções corruptas dos partidos democráticos.

Não se considere um anarquista se trabalha para um partido.

Não se considere um anarquista se você trabalha para o estado.

Não se considere um anarquista se você interpreta erroneamente certas teorias como um convite para privar o anarquismo de suas histórias.

Não se considere um anarquista se você segue seus líderes teóricos aonde quer que eles o levem e imuniza sua narrativa distorcida chamando-a de pluralismo.

Não se considere um anarquista se você equipara o anarquismo a: vale tudo.

Não se considere um anarquista se enfrentar as opressões causadas pelo terror de gênero representar para você uma noção menor de poder.

Não se considere um anarquista se você acredita que em uma guerra – qualquer uma – existe um lado melhor que o outro.

Não se considere um anarquista se você acredita que a única opção é morrer por um desses lados.

Não se considere um anarquista se você acha que durante a chamada paz não há guerra.

Não se considere um anarquista se você acredita mais ou menos abertamente na existência de um estado (nação) como garantidor da segurança.

Não se considere um anarquista se acredita mais ou menos abertamente na existência de um estado (nação) como condição necessária para a libertação.

Não se considere um anarquista se preferir constituir e institucionalizar a responsabilidade em uma política semi-profissional de conscientização em vez de ser responsável coletivamente.

Não se considere um anarquista se qualquer crítica ao trabalho social como outra força policial for para você um utopismo ignorante e inculto.

Não se considere um anarquista se a ideologia do estado de bem-estar social se tornou tão arraigada em você que não consegue mais distinguir a contra-insurgência da revolução.

Não se considere um anarquista se não acredita no potencial da auto-organização.

Não se considere um anarquista se o seu vizinho é o seu inimigo número um.

Não se considere um anarquista se – secretamente – acredita que pode estar seguro sem ser livre.

Não se considere um anarquista se você acha que essas afirmações não contêm verdades.

Lamentavelmente, acreditamos que elas contêm.

Lamentavelmente, acreditamos que a confusão é generalizada.

Lamentavelmente, acreditamos que o termo anarquista é frequentemente utilizado como um mero rótulo.

Felizmente, acreditamos na anarquia.

Viena, 2025

Fonte: https://emrawi.org/?Do-not-call-yourself-an-anarchist-3796

Tradução > transanark / acervo trans-anarquista

agência de notícias anarquistas-ana

Lua de primavera —
Em teus mares e montanhas
o rosto querido.

Guin Ga Eden

[Colômbia] 11ª Feira do Livro Anarquista de Medellín, 15 e 16 de novembro

Nesta 11ª versão da feira anarquista do livro e da publicação, invocamos e convocamos a alquimia que jaz nos caldeirões onde se forja o que sustenta a vida: o alimento. O cuidado das mãos que descascam, amassam, fatiam, esperam, lavam e servem serão as topografias que exploraremos para que essas palavras das quais nos gabamos conhecer, como autonomia e autogestão, nos deem pistas de como rondá-las de maneiras mais apropriadas, dada a situação presente na qual estamos, onde a fome é uma das formas de sofisticação do aparato do Estado em sua versão mais macabra: o genocídio.

Nutrir-se supõe brincar com os elementos que possibilitam o movimento em espiral do orgânico e inorgânico: água, fogo, terra, ar. Recordar nossas composições e sua tendência à decomposição nos põe em contato com o comum que nos chama, a eterna metamorfose que supõe o ato mesmo da cocção, fermentação e compostagem. Misturas às quais recorremos como quem não pode fazer outra coisa, com aquela doce suavidade que impregna o ímpeto do selvagem. Acorrer, atender, sintonizar-se, disso sabe a alma vegetal que nos compõe, o repouso mineral que nos sustenta e o olhar aberto do animal que não duvida, mas que simplesmente: sabe. Nutrir a própria vida supõe costurar comunidade e solidão, que não é senão a outra face da anarquia. Recordar sua tão potente e difícil etimologia: anarkhia, sem origem, sem princípio, sem mando. Temos atendido ao que isso supõe? Talvez seja hora de olhar para nossas mãos e saber o que estas fizeram e o que podem; entre um calo e outro, entre uma linha oblíqua e uma reta, tecem-se histórias de comunidades que migram, se enraízam e desenraízam, se deslocam e fazem ninho. Jaz, pois, a memória entre nossas mãos e seus tão necessários esquecimentos. Então voltar: acorrer, atender e sintonizar-se, sejam os modos pelos quais pensemos que a anarquia seja a única possibilidade de coabitar com tudo quanto existe, sem que a fome seja uma arma de guerra, mas a forma mais elementar do movimento.

Fazemos um chamado para participar deste caldeirão ácrata onde poderão ofertar o que o território de suas mãos lhes sugerir.

Mais infos: https://www.instagram.com/feria.anarquista.del.libro.ylp/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

o sapo, num salto,
cresce ao lume do crepúsculo
buscando a manhã

Zemaria Pinto

[Uruguai] Faleceu da terra Osvaldo Escribano.

Com profundo pesar, comunicamos o falecimento do companheiro Osvaldo Escribano.

Osvaldo Escribano foi parte do movimento anarquista da Argentina e do Uruguai, participando de diversos processos de autogestão.

Fez parte das revoltas estudantis dos anos 60, quando, aos 18 anos, se aproximou do anarquismo através da biblioteca José Ingenieros. Também esteve no movimento cooperativo de produção e no movimento agrário, chegando a ser um dos fundadores da federação de cooperativas de habitação.

Integra a Comunidade do Sul do Uruguai, uma experiência de vida em liberdade, na qual, durante anos, comprometeu suas ideias e seu corpo, até se exilar na Argentina em 1974.

Em sua luta contra o trabalho neoliberal, trabalhou de maneira comunitária ao lado de sua companheira de vida, María Eva Izquierdo. A autogestão e o cooperativismo foram pilares em sua ideia de gestão dos espaços comunitários e anarquistas, contribuindo para diversas iniciativas no Rio da Prata.

Seu retorno ao Uruguai em 2000 não impediu seu impulso criativo, participando da fundação do espaço anarquista “La Solidaria” e do Rincón del Pinar “El Terruño”, onde funciona a biblioteca feminista “Brujas” e o “Arquivo Anarquista”, participando ativamente nos últimos anos do Centro Social Cordón Norte.

Que a terra te seja leve, companheiro.

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Gata miando
procura a cria
para alimentar

Angela Nassim

[Guarujá-SP] Ajude A Biblioteca Carlo Aldegheri!

A Força De Nossa Luta Está Na Solidariedade (A)!

Desde 2012, o Núcleo de Estudos Libertários Carlo Aldegheri (NELCA) mantém a Biblioteca Carlo Aldegheri, um centro de documentação anarquista, na cidade do Guarujá. Em nosso acervo contamos com diversos materiais como livros, jornais, revistas, cartas, zines, fotos, cartazes, panfletos, entre outros documentos, que registram a trajetória do anarquismo em diversas épocas e em diferentes países.

A Biblioteca Carlo Aldegheri também é um local de encontro das pessoas que militam e querem estudar e conhecer mais sobre a ideologia anarquista. É um espaço de estudo teórico e histórico, com o olhar para o presente e para o futuro da nova sociedade que pretendemos construir & que carregamos em nossos corações!

Temos diversos gastos com aluguel, água, luz, produção de material de propaganda gratuito, organização de atividades presenciais, entre outros… Se você simpatiza com o trabalho que desenvolvemos, solicitamos uma contribuição solidária, no valor que você puder, para que possamos viabilizar a continuação das nossas atividades. Se não puder contribuir, você pode colaborar repassando essa mensagem, para pessoas próximas.

Outra forma de colaborar financeiramente com a Biblioteca Carlo Aldegheri, é adquirindo os livros e camisetas que produzimos. Sua contribuição é essencial para fortalecer esse projeto anarquista e nos ajudar a manter esse espaço autogestionário! Desde já agradecemos todo o apoio! A força de nossa luta está na solidariedade libertária!

Pix: nelca@riseup.net

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Sem cercas, o campo
é uma paleta de cores
para o olhar livre.

Liberto Herrera

Flecheira Libertária 827 | “Não há mais gana em mudar radicalmente.”

consciência

As concentrações de pessoas nas cidades estão reduzidas à manifestação de devidas obediências aos superiores. Não há mais gente que se junta para acabar com condutores. Dizem que, no passado, havia um propósito. Mas, hoje em dia, propósito não falta. Só não há disposição para ir além do que está estipulado. É para aderir ou não ao prosseguimento das decisões institucionais que permanecerão. Como se um superior qualquer fosse dono dos lugares, dos palanques e de você. E você mostra, de tempos em tempos, sua devoção. Não há mais gana em mudar radicalmente. Só há assentimento para melhorar as decisões para sua facção política, o seu grupelho, a sua turminha, o seu pessoal sempre intercambiável. Hoje aqui, amanhã ali; é isto ou aquilo. Não tendo mais o que fazer no domingo, quando até o futebol teve o horário adiado para o final da tarde para garantir a sua chamada segurança e o cineminha deixou de ter graça, você deve ir lá no lugar autorizado e postar muuuuuuuito. Sua presença pode bater o recorde e fazer com que a concentração seja mais frequentada do que foi a do oponente. Vida-estatística. Vida-binária. No fundo de cada alma boa há o desejo de pena de morte para os outros.

>> Leia o Flecheira Libertária 827 na íntegra aquihttps://www.nu-sol.org/wp-content/uploads/2025/10/flecheira827.pdf

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Pelos fios do poder,
os pardais tecem ninhos
de desobediência.

Liberto Herrera