[Grécia] Assumindo a responsabilidade – ALF

Na terça-feira, 29 de julho, à meia-noite, atacamos a conhecida empresa de fast food Goody’s, escrevendo frases com tinta spray nas vidraças e paredes da loja localizada no cruzamento das ruas Maria Kalas e Antheon, no leste de Tessalônica.

Inúmeras pesquisas e estudos científicos chegaram mais ou menos à mesma conclusão, de que a junk food oferecida nessas lojas é prejudicial à saúde, além de ser viciante. Durante todos esses anos, essas empresas têm promovido o consumo de carne, ao mesmo tempo em que recentemente incluíram refeições vegetarianas em seus cardápios, já que no capitalismo da inclusão “ninguém se encaixa”, desde que haja lucro. Mas, para nós, o veganismo não é apenas um hábito alimentar, mas uma postura política. Dessa forma, o capital também está maquiando o crime que comete todos os dias, em que, de acordo com uma estatística de 2021, 900.000 vacas, 1,4 milhão de cabras, 1,7 milhão de ovelhas, 3,8 milhões de porcos, 11,8 milhões de patos, 202 milhões de galinhas e centenas de milhões de peixes são abatidos para a produção de carne todos os dias em todo o mundo, com bilhões de animais sendo abatidos anualmente. Estamos falando de um verdadeiro genocídio.

Portanto, pelos motivos explicados acima, essas empresas de fast food e outras estarão em nossa mira na luta pela libertação total dos animais e da terra.

ATAQUEM OS ALVOS, LIBERTEM OS ANIMAIS!

ALF – Célula Anarquista de Ação Direta

Fonte: https://athens.indymedia.org/post/1637266/

agência de notícias anarquistas-ana

Caminho noturno
para o entregador de flores
mas a lua basta!

Kikaku Takarai

[Espanha] Era de se esperar!

Apenas haviam se passado algumas poucas horas desde o último suspiro de Octavio, e já um primeiro foguete estourou no firmamento, anunciando e comentando o triste evento.

A partir daquele momento, dezenas e dezenas de foguetes se seguiram, iluminando o céu como um enorme e colorido espetáculo de fogos de artifício. Isso, de fato, era de se esperar, e ninguém pode se surpreender, pois tão profunda e extensa era a marca que Octavio deixou.

Os textos que relatam o apreço, as lembranças e os sentimentos despertados por Octavio são tantos, tão belos e tão emocionantes que nos parece supérfluo acrescentar mais um agora.

Por isso, em vez de reiterar as conhecidas qualidades de Octavio, e sabendo do enorme valor que ele atribuía ao coletivo, nos pareceu — a Floreal e René Álvarez, a Tomás Ibañez e a Juanito Marcos, ou seja, a alguns dos pouquíssimos companheiros ainda vivos que fomos cúmplices do intenso processo de luta no qual Octavio se envolveu desde 1962 até o final daquela década — que a melhor homenagem que poderíamos prestar a ele consistia em evocar o tecido coletivo que tornou possível a gesta dos anos sessenta e inserir firmemente Octavio entre seus companheiros de luta. Neste momento, queremos envolvê-lo na calorosa rede de cumplicidades, de sustos e alegrias, de sonhos compartilhados, e também de desavenças ocasionais, mas sempre com um grande afeto mútuo.

Aqui, apenas mencionaremos alguns nomes, dentre os militantes mais destacados daqueles anos, limitando-nos àqueles que já faleceram.

E podemos começar por Floreal Ocaña, o outro jovem libertário que, junto com Octavio, deixou o México em 1962 para entrar na clandestinidade, mergulhando de corpo e alma na luta anarquista contra o franquismo e ousando penetrar nas terras da Ditadura.
Seguimos com Salvador Gurucharri, Antonio Ros, Agustín Sánchez, Luis Andrés Edo, Martín Bellido, militantes comprometidos que também não hesitaram em adentrar os domínios do ogro.
Continuamos com Luis Sos, Vicente Martí, Paco Abarca, Enric Melich, José Morato, Monserrat Turtós, Jordi Gonzalbo, Jeaninne Lalet, sem esquecer as vítimas do garrote vil, Joaquín Delgado e Francisco Granados.
Da mesma forma, seria imperdoável não mencionar valiosos veteranos, como Cipriano Mera, José Pascual Palacios, Pedro Moñino e Marcelino Boticario.
E, finalmente, lá estavam também os italianos Franco Leggio, Amedeo Bertolo, Eliane Vincileone, o escocês Stuart Christie e o francês Alain Pecunia.

Certamente, ainda poderíamos ter citado muitos outros nomes, mas acreditamos que estes são suficientes para dar uma ideia da densa trama coletiva na qual Octavio Alberola estava inserido.

Conhecendo o grande valor que Octavio atribuía à solidariedade e ao coletivo, estamos firmemente convencidos de que ele teria gostado muito mais de ser lembrado e evocado como um destacado integrante de uma entusiasta fraternidade de lutadores e lutadoras, do que como uma estrela singular brilhando no firmamento libertário.

Fonte: https://redeslibertarias.com/2025/07/30/era-de-esperar/

Tradução > Liberto

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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/07/30/espanha-em-recordacao-e-homenagem-a-octavio-alberola-companheiro/

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/07/28/italia-octavio-alberola-morreu-seus-96-anos-foram-uma-luta-perene-pela-anarquia/

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/07/24/franca-octavio-alberola-1928-2025-uma-trajetoria-de-vida-libertaria-agitada-e-intensa/

agência de notícias anarquistas-ana

rua de folhas secas
sob os meus passos sem pressa
uma borboleta

Ricardo Akira Kokado

[Reino Unido] Não Queremos Reforma, Queremos Anarquia!: A Arte da Black Lodge Press

Uma revista (ou mega-zine??) colorida de tamanho A4 com 50 páginas que compila 4 anos de cartazes anarquistas queer criados por CJ Reay, que dirige a Black Lodge Press.
 
We Don’t Want Reform We Want Anarchy!: The Art of Black Lodge Press
Editora: Black Lodge Press
ISBN: nope
Páginas: 50
Formato: Panfleto A4 encadernado com grampo, colorido
Autor/Artista: CJ Reay
$17.00
blacklodgepress.bigcartel.com
 
Black Lodge Press é um projeto de impressão em andamento de CJ, cujo trabalho belamente ousado é inspirado na cultura DIY (“faça você mesme”) queer, na história da classe trabalhadora e na política anarquista.
 
Tradução > transanark/acervo trans-anarquista
 
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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/07/17/eua-a-black-lodge-press-e-um-projeto-de-impressao-criado-ha-uma-decada-e-dedicado-as-questoes-anarquistas-queer-e-antifascistas/
 
agência de notícias anarquistas-ana
 
Caminho noturno
para o entregador de flores
mas a lua basta!
 
Kikaku Takarai

[Espanha] Arquivos sem dono: Contribuições para piratear em tempos de streaming e controle digital

O que aconteceu com a pirataria?

Piratear é uma prática, uma ferramenta e uma resposta. Durante anos, foi a única maneira de acessar música, livros, filmes ou programas que, por preço ou disponibilidade, estavam fora do nosso alcance. Piratear foi — e ainda é — uma forma de libertar o acesso à informação. Quem tem o direito de se apropriar da “cultura”? Por que a música, o cinema ou os livros precisam ser monopolizados por empresas pagas, com licenças restritivas ou limitados a “certas regiões” ou classes sociais? Nem tudo o que é pirateado está disponível legalmente. Muitas vezes, nem sequer há como comprá-lo. Está esgotado, censurado, restrito a certas plataformas ou simplesmente esquecido pelas próprias empresas.

Este fanzine romantiza a pirataria como uma forma de roubo, sim, mas também reivindica a arte de compartilhar. Do “faça você mesmo”. Este não é um manual técnico, mas uma ajuda para se mover com certa autonomia, saber buscar, compartilhar e entender quais ferramentas existem para recuperar esse velho gesto de passar para alguém um filme, um disco ou um livro. Para que continue circulando. Piratear é não aceitar que só se possa acessar o que se paga ou o que um algoritmo permite. A pirataria, em seu conceito mais puro, deixa de lado o interesse econômico para se tornar uma instância libertadora das lógicas capitalistas. Uma fuga, um refúgio…

Há algum tempo, piratear era quase parte do cotidiano digital. eMule, Ares, fóruns com mil mirrors no MegaUpload, Rapidshare, trackers privados, álbuns ripados com cuidado, filmes legendados por “fãs” apenas pelo amor de compartilhar, sem qualquer tipo de ganho econômico.

Com o tempo, parece que tudo isso desapareceu. Uma parte importante disso se deve aos serviços de streaming. Spotify, Netflix, YouTube. Por alguns poucos dólares — ou às vezes até de graça com anúncios —, oferecem acesso imediato, ilimitado, limpo, sem aparentes complicações. Para que baixar um filme se ele está na Netflix? Para que procurar um torrent se tudo pode ser ouvido no Spotify? Muita gente parou de piratear não por convicção, mas porque não precisou mais.

Mas essa conveniência tem um custo. Com a morte dos formatos físicos, o que vemos ou ouvimos não nos pertence mais materialmente. Não pode ser guardado, modificado ou compartilhado. Se for removido do catálogo, desaparece. Isso traz problemas de fragmentação, controle, censura e perda de autonomia. Hoje, para ver “tudo”, são necessárias cinco assinaturas diferentes. E isso sem contar os algoritmos que decidem o que recomendam e o que não. Essa conveniência adquirida ao longo dos anos, por contraste, faz a pirataria parecer “inacessível” ou tecnicamente difícil.

Enquanto isso, os espaços para piratear foram diminuindo. Sites fechados, fóruns abandonados, redes P2P com poucos usuários. Alguns morreram, outros se tornaram mais difíceis de encontrar.

Piratear hoje não é tão fácil quanto antes, mas ainda é necessário. Para muitos, ainda é a única forma de acessar cultura, conhecimento ou história. Não é apenas uma prática técnica, mas também uma forma de resistência; de não precisar de permissão para acessar o que deveria estar ao alcance de todos. Piratear é compartilhar e manter vivo o que está sendo esquecido. Estes parágrafos são uma homenagem àqueles que compartilharam e compartilham desinteressadamente. Mas também são um convite para que não deixemos de fazer isso.

O que é piratear?

Para muitos, a pirataria é um gesto político; para outros, é a única opção. Enquanto em algumas regiões o acesso a plataformas digitais é amplo, diverso e legal, em outras nem sequer é possível pagar por elas. Seja por falta de infraestrutura e acesso a bens materiais de conectividade, meios de pagamento compatíveis com empresas internacionais ou preços abusivos quando uma assinatura em dólares ou euros deve ser paga com salários locais em moedas desvalorizadas. Ou simplesmente porque o serviço não é oferecido na região. A pirataria é uma resposta que surge da desigualdade.

A isso se soma a censura: conteúdos bloqueados por decisão estatal, empresarial ou pela combinação de ambas. Em muitos lugares, o que não é pirateado não é conhecido.

A pirataria surge como um acesso paralelo, como uma via informal. É a forma como alguém pode assistir a um filme que não foi lançado em sua área, ler um livro que não foi traduzido ou ouvir um disco que nunca chegou à sua região. É a circulação fora do mapa. Não há horizontalidade sem acesso.

O que não circula, desaparece

Em sua página de “Ajuda”, o Netflix pergunta a si mesmo por que filmes desaparecem de seu catálogo. E responde sem conflito que uma das causas é a “popularidade na região e o custo da licença”. Lembrando-nos — mesmo que indiretamente — que é, acima de tudo, uma empresa lucrativa. De nada adianta ter um catálogo que poucas pessoas queiram ver ou que seja muito caro em relação às assinaturas que consomem esse conteúdo. Então, pode ser removido, suprimido, apagado. Netflix, Mubi e similares não são arquivos: são catálogos projetados para rentabilizar a moda. O capitalismo cultural não arquiva; descarta. O que não rende, o que não monetiza, o que não entra em seu catálogo, é deletado.

A pirataria resgata o que fica fora do catálogo. Preserva o que foi censurado, o artista independente que ninguém colocou no Spotify ou no YouTube. O que desaparece do acesso também desaparece da conversa, dos debates, da memória. É apagado não apenas do catálogo, mas do imaginário e das possibilidades. Um filme legendado por fãs, uma pasta com livros escaneados à mão: isso é arquivo. Um arquivo sujo, incompleto, imperfeito, mas vivo. Porque existe e circula.

Quando pirateamos, também restauramos. Ao recuperar um filme para alguém que nunca o viu, reeditar um livro que não foi reimpresso… mantemos isso vivo.

A propriedade intelectual como ideologia

Todo conhecimento, toda arte, todo saber é fruto da experiência humana compartilhada. Ninguém inventa a partir do nada. O novo é sempre um eco, uma mutação do que nos precede. Toda propriedade intelectual é um roubo intelectual. A propriedade intelectual é uma construção ideológica útil ao capital. Uma ferramenta projetada para proteger interesses empresariais sob o disfarce de “defender os autores”. Mas, na prática, raramente beneficia quem cria. Beneficia quem comercializa. Quem tem o poder legal para explorar, distribuir, bloquear ou destruir uma obra, sem nunca tê-la criado.

Impõe-se escassez artificial a coisas que, por sua natureza, poderiam ser infinitas. Um arquivo não se esgota se for copiado, nem um livro se quebra se for baixado. Mas todo o sistema é organizado como se essas perdas fossem reais e tangíveis.

A propriedade intelectual não “protege” a cultura: a privatiza. A transforma em mercadoria. E, como toda mercadoria, a subordina às regras do mercado. O que não vende, não é editado, e o que não dá lucro, é apagado. É a possibilidade de copiar — e de impedir que outros copiem — que define o poder e a autoridade cultural.

O compartilhamento comunitário

Piratear não é um ato solitário. Por trás de cada torrent, cada legenda embutida ou cada pasta de livros, há uma expressão do “comunitário”. Não uma empresa, nem um algoritmo, nem uma plataforma: pessoas. Indivíduos que dedicam tempo, conhecimento e cuidado para que outros acessem algo que, de outra forma, seria inacessível.

A pirataria também é uma prática de compartilhamento. Dos fóruns antigos aos canais do Telegram ou repositórios colaborativos, o que há em comum é o desejo de colocar em circulação. E, na maioria das vezes, de fazê-lo sem pedir nada em troca. Essa generosidade sem mercado é um dos gestos mais desafiadores que ainda sobrevivem na internet.

Quem compartilha um arquivo está defendendo outra forma de relação digital. Um compromisso com o meio, não apenas com o consumo. Faz parte de um tecido sólido que contradiz o modelo de usuário passivo que as plataformas propõem.

Pirataria hierárquica

Nem tudo o que é baixado é compartilhado, nem tudo o que é compartilhado é feito com um espírito coletivo. Embora a pirataria seja reivindicada como uma prática coletiva, também pode reproduzir lógicas individualistas: competição, exclusão, acumulação sem sentido. É comum encontrar arquivos cheios de livros que ninguém leu, pastas repletas de coisas que só servem para acumular. Como se a pirataria fosse uma versão paralela do consumo ansioso, mas sem pagar.

Há também uma hierarquia silenciosa. Quem sabe ripear, automatizar downloads, modificar scripts ou remover DRM tem, querendo ou não, mais poder do que quem está apenas começando. Às vezes, um link é compartilhado, mas não o caminho para chegar a ele por meios próprios. Espera-se que os outros já saibam. Responde-se com soberba técnica, como se o saber fosse algo que se conquista e não uma construção comum.

Fóruns onde ninguém responde se você não tem reputação, se é “novato”. Sites onde compartilhar é obrigatório, mas explicar não. Em vez de horizontalidade, muitas vezes há competição, ciúmes, códigos fechados. Como se piratear fosse apenas para quem sabe, e os outros tivessem que agradecer em silêncio. Também há espaços fechados, restritivos, cheios de regras e punições, onde se compartilha muito, mas se cuida pouco. Fóruns onde você precisa de um certo “ratio” para continuar baixando. Uma lógica meritocrática disfarçada de comunidade. Um clube onde não se entra para piratear, mas para provar que já se sabe.

A pirataria se torna elitista quando deixa de se preocupar com o acesso real e comum. Quando o conhecimento técnico se torna uma barreira. Quando compartilhar significa apenas “enviar o arquivo”, mas não implica em dedicar tempo para ensinar a escanear, ripear, comprimir, legendar, montar, distribuir. Nesse ponto, piratear se assemelha mais ao ego de quem sabe do que à comunidade que queremos construir.

Nos primeiros tempos da internet, baixar um filme não era apenas para assistir sozinho; era para levá-lo a um centro cultural, projetá-lo em uma praça, passá-lo em um DVD para quem não podia acessá-lo. O mesmo com livros, música, software. O digital permitia que o escasso se tornasse comum. Mas a prática foi mudando. Cada vez mais, piratear se tornou um ato solitário, de acumulação pessoal e consumo isolado. Como um colecionismo digital, mas sem circulação.

Essa lógica individualista transforma a pirataria em um gesto vazio. Baixar por baixar ou acumular por acumular é como construir uma biblioteca e nunca abrir suas portas. A pirataria faz sentido quando é coletivizada, quando se torna um ato de resistência comum. Quando um arquivo não é apenas um objeto de consumo, mas um meio para conectar, aprender em conjunto, projetar em um bairro ou para um círculo de leitura. A verdadeira potência da pirataria não está no download, mas na circulação e nos vínculos que se criam a partir dela. Não se trata apenas de acumular coisas, mas de pensar como compartilhá-las e libertá-las das limitações do mercado.

Todas essas contradições não deslegitimam a pirataria: a complexificam. Acrescentam questionamentos. Queremos piratear para ter mais coisas ou para que mais pessoas tenham acesso? Queremos saber mais para mostrar ou para compartilhar? Compartilhamos ferramentas ou apenas resultados? Nos importamos que alguém aprenda a ripear ou preferimos continuar sendo os que “sabem”? Não há necessariamente respostas únicas. Mas se os arquivos circulam e o saber não, não há liberdade nem horizontalidade. Então, talvez não estejamos pirateando, apenas acumulando. Para aprofundar teoricamente, recomendamos “A pirataria des-comunal: as origens da acumulação capitalista de conhecimentos”.

Piratear é aprender

A pirataria, como toda prática que escapa dos canais legais e comerciais, requer tempo, tentativa, erro e, acima de tudo, vontade. Não se trata apenas de baixar um arquivo, mas de entender como ele funciona, como é compartilhado, como é mantido disponível.

Isso não significa que seja preciso ser “especialista”. Pelo contrário: piratear também é uma forma de alfabetização digital coletiva. Sempre há uma primeira vez para ripear um DVD, usar torrents ou navegar em sites bloqueados. Tudo se aprende. E se aprende fazendo, perguntando, testando, errando, compartilhando o que se sabe.

Este fanzine existe para isso. Para que essa curva de aprendizagem seja menos solitária, menos técnica, menos elitista. Para que o saber pirata não fique trancado em um punhado de fóruns fechados ou em tutoriais dispersos. Para que a autonomia digital não dependa de especialistas ou influencers, mas de redes horizontais que passam ferramentas, experiências, erros e soluções. Por isso também requer vontade, não podemos em poucas páginas compartilhar experiências ou formas completas ou complexas, será necessário também muito interesse.

Para aprender a piratear, não há uma única forma, nem uma ferramenta mágica: há vários caminhos, e cada um traça sua rota. Que este fanzine sirva como bússola… com muito amor e carinho.

Para baixar o fanzine completo: http://pirata.ftp.sh

Pirata

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

jardim sem flor
entre as páginas do livro
a rosa e sua cor

Alice Ruiz

[França] 30 de julho: Cerimônia de despedida de Octavio Alberola em Perpignan

Por Àngel Bosqued
 
Após o falecimento do nosso companheiro Octavio Alberola Suriñach em 23 de julho, a cerimônia de despedida foi realizada na manhã de quarta-feira, dia 30, no Crematório de Perpignan. Enquanto a música “Libre te quiero” e outras canções do gosto de Octavio eram tocadas, as 50 pessoas presentes na cerimônia entravam. Ao mesmo tempo, uma compilação de fotos de sua longa vida foi projetada em um telão. Seu filho Octavio abriu os discursos, seguido por sua neta Zoe.
 
Logo após, um texto coletivo foi lido por pessoas que conviveram com ele na década de 70 – repleta de lutas, sonhos e ativismo – e que mantêm fortes laços pessoais desde então. No ato, foi lida a mensagem da CNT-SO de Perpignan e foram mencionadas as pessoas e/ou organizações da Espanha, Suécia ou México que enviaram algumas palavras sobre Octavio, entre elas as de Memoria Libertaria CGT e do restante da Confederação: “Enviamos nossa mensagem de dignidade e lembrança a Octavio, que sempre permanecerá em nossa memória”.
 
A despedida final foi feita após o canto de “A las barricadas”.
 
memorialibertaria.org
 
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agência de notícias anarquistas-ana
 
Selva de concreto:
as raízes quebram tijolos
para ver a lua.
 
Liberto Herrera

[Itália] Bakunin 1 – O diabo no rádio. Notas banidas

O nome de Bakunin, assim como outros como Proudhon e Kropotkin, está indelevelmente ligado à anarquia e vice-versa.

De origens nobres, desafiou imperadores e burgueses de meia Europa, temperando suas ideias revolucionárias entre prisões e insurreições. A presença de Mikhail Bakunin na Itália na segunda metade do século XIX impulsionou a formação de toda uma geração de militantes revolucionários, incluindo – pela estatura moral e intelectual – Cafiero, Malatesta e Costa.

Filippo Turati, em nota biográfica da primeira edição italiana de “Deus e o Estado” (1893), o descreve assim: “russo cosmopolita, pensador soldado e idealista sedento de ação”.

Sobre as canções: geralmente celebram revoltas, eventos sangrentos e mártires (Bresci e Caserio mais que outros), raramente dedicando espaço a pensadores. Com Bakunin não é diferente – canções dedicadas a ele surgiram principalmente mais de um século após sua morte. Existe uma compilação pelo seu bicentenário, organizada pelo Circolo Carlo Vanza (Suíça): um CD totalmente DIY, em embalagem de papel reciclado vermelho e cinza, com citação de John Cage sobre a necessidade de uma “música anárquica” onde “sons sejam apenas sons e pessoas apenas pessoas”. Entre faixas punk de bandas como Against All Authority e RAdadub, a capa traz apenas a assinatura de Bakunin – edição limitada de 200 cópias. Uma raridade.

Em italiano, existem registros musicais sobre Bakunin e seu contexto revolucionário na Itália:

1. Rankore – Bakunin
2. Enzo Del Re – Cômico
3. Benito Merlino – Carta ao Ministro

1. Rankore – Bakunin

Punk de Turim com influências ska e folk. Sua música homônima celebra o expoente anarquista: “Como fez Bakunin / continuarei a gritar / que Igreja e Estado / devem ser eliminados!”. As letras citam obras como “Deus e o Estado” e “Estado e Anarquia”“O Estado é uma maquinação, um complô, uma ditadura / Um presidente, um czar, um padre: contra a natureza!”. Menção à fundação da Internacional Antiautoritária (1872), contra Marx/Engels, e sua defesa dos camponeses como “detonador social revolucionário”“…não somos bestas de carga / somos seres humanos!”.

2. Enzo Del Re – Cômico

Artista performático de Mola di Bari. Percutia objetos cotidianos (como cadeiras) em protesto contra a cadeira elétrica que executou Sacco e Vanzetti. Seu disco traz “Cômico”“Rir / gosto de rir / enquanto explode / a revolução”, originalmente com refrão “Giap, Ho Chi Minh / 24 horas”. Na versão alternativa de 2011 (pouco antes de morrer), substituiu por: *”Viva Bakunin / com bom humor / Bakunin / 24 horas!”.

3. Benito Merlino – Carta ao Ministro

Cantor-compositor siciliano. Em “Carta ao Ministro” (1976), adapta texto de Andrea Costa (1877) ao ministro do Interior após a repressão ao levante do Matese: “Sigam seu caminho, ministro / nós seguimos o nosso: o internacionalista! / Não é a revolução osso pra seus dentes / com perseguições não chegarão a nada!”. Parafraseia o final icônico: “Se antes tentamos dialogar / com vocês não dá mais: é melhor surrar. / Durmam tranquilos, barões. / Até o dia da revolução!”.

Em.Ri-ot

Fonte: https://umanitanova.org/bakunin-1-il-diavolo-alla-console-note-bandite/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

passos de pássaro
no telhado lá de casa
embalam sonhos

Marland

[Espanha] Querem demolir LA LECHUZA! Nós queremos ela de pé!

SOS CSO LA LECHUZA

Após 12 anos de autogestão do centro social ocupado no bairro de Monte, o plano urbanístico da Prefeitura de Santander, somado aos objetivos da empresa Robera 2000 e da imobiliária Navarra S.L., pretende acabar com esta experiência de resistência às lógicas capitalistas e ao modelo de sociedade de consumo. 12 anos construindo redes de apoio mútuo, soberania popular e alimentar, escolinha e transmissão de saberes, assembleísmo, antiautoritarismo, desobediências e dissidências, ação direta, crítica ao lazer administrado, alternativa habitacional e espaço de encontro e acolhida. 12 anos lutando contra o capitalismo e defendendo o território. Semeando arte combativa e criatividade. Em suma, um viveiro de movimentos sociais envolvido no tecido social da Cantábria.

Embora esta possível demolição iminente responda mais ao mero lucro especulativo da prefeitura e construtoras do que a uma indicação concreta deste espaço, a situação do centro social ocupado La Lechuza NÃO É UM CASO ISOLADO. Ele é afetado por uma ofensiva generalizada contra centros sociais e por uma campanha contra a ocupação que, há mais de uma década, foca na mídia em gerar um imaginário de inimigo baseado em boatos e fakes, o que permitiu a vitimização de rentistas e especuladores, a criminalização da pobreza e da dissidência, além da entrada e naturalização do fascismo, encarnado em empresas de desocupação, assédio à população migrante, etc. Como ápice desta campanha, centenas de despejos vêm ocorrendo nos últimos anos por todo o território, sejam casas, centros sociais ou espaços ocupados dedicados a outras utilidades.

A Cantábria adere cada vez mais e em velocidade vertiginosa a um modelo econômico baseado na especulação do solo e da moradia, turismo voraz e urbanismo predatório, que expulsa seus habitantes e destrói o território, nossa saúde mental, identidade e cultura, para o benefício de uma minoria rica. Os mesmos que geram e financiam guerras e genocídios.

Seus privilégios, nossa miséria! La Lechuza e o bairro onde está inserida representam uma ilha de resistência a este modelo de cidade. Representam quebrar os limites entre o rural e o urbano. O campo dentro da cidade. Permitem a soberania energética e alimentar e colocam a vida no centro.

As demolições já começaram! Além de La Lechuza, há outras casas habitadas que não aceitam a expulsão!

Você, sua vizinha e o vizinho do lado, além de vocês, podem apoiar a assembleia deste centro social ocupado que existe há mais de uma década em uma cidade como Santander, ajudando-nos a divulgar esta campanha em defesa dos centros sociais ocupados. Conheçam ou não o espaço, precisamos do seu apoio, precisamos do apoio de vocês, então não hesitem em torná-lo nosso e divulgar por toda parte.

Defendamos La Lechuza e os centros sociais ocupados!

Vamos barrar a demolição do Bairro La Torre! Existir é Resistir!

E resistir merece alegria!

La Lechu Vive, a luta continua!

Fonte: https://lalechuzacso.wixsite.com/santander/single-post/quieren-demoler-la-lechuza-nosotres-la-queremos-en-pie  

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Nesse café,
até o silêncio
tem sotaque

Pedalante

[Grécia] Aqui afogados, ali bombardeados – os migrantes são os miseráveis da Terra

Em um momento em que bombas estão caindo na Síria, na Líbia, na Palestina e, de forma mais ampla, no norte da África e no Oriente Médio, quando a fome, a miséria, o tráfico de pessoas, o genocídio e a guerra continuam, tudo com o financiamento, o envolvimento militar e o apoio da UE, as pessoas que tentam escapar são rotuladas pelo Estado grego como “invasores”, uma “ameaça híbrida”, um “perigo”.

Esses rótulos servem mais uma vez para endurecer as leis (como a suspensão dos procedimentos de asilo, a prisão de pessoas sem documentos), a escalada da repressão e a construção de novos campos de concentração.

Os migrantes que tentam buscar um futuro melhor dentro da Fortaleza Europa são assassinados no mar pela guarda costeira grega e pela Frontex, seja por meio de empurrões ou afundando deliberadamente seus barcos, como aconteceu ao largo de Pylos. Ao mesmo tempo, a marinha está posicionada em águas internacionais perto da fronteira com a Líbia.

Para aqueles que chegam ao território grego, o que os aguarda são campos de concentração, assassinatos em delegacias de polícia, deportações e torturas, tudo para “mostrar” as políticas antimigratórias do Estado grego.

Ao mesmo tempo, o Estado grego assinou acordos interestaduais para importar trabalhadores migrantes, que são forçados a trabalhar como escravos na agricultura e no turismo, para depois serem enviados de volta aos seus países de origem. Assim, chegamos à conclusão de que os verdadeiros traficantes não estão nos barcos com os destituídos, mas nos escritórios do governo.

Nessa realidade sombria, a retórica racista transborda do pântano da grande mídia, inundando a vida cotidiana com seu veneno em meio ao alto custo de vida, ao empobrecimento, à miséria e à desvalorização de nossos salários e de nossas vidas, todos causados pelos mesmos sistemas responsáveis pelas condições que forçam milhões de pessoas a seguir o caminho do exílio.

Os responsáveis pela pobreza, exploração, opressão, morte e guerra são os Estados e o capital, não os pobres e perseguidos que fogem das terras saqueadas pelo “Ocidente”.

Não temos nada que nos separe dos oprimidos do outro lado das fronteiras. Estamos unidos por um destino compartilhado e, juntos, lado a lado, devemos construir solidariedade, organizar e lutar contra nossos inimigos comuns: nossos exploradores e opressores.

Devemos nos posicionar contra o racismo e o canibalismo social e construir comunidades de resistência para um mundo de liberdade, igualdade e solidariedade, um mundo que não conhece fronteiras.

As fronteiras são cicatrizes no corpo do planeta.

Contra o genocídio cometido pelo Estado israelense, com o apoio da UE e da OTAN. Força para os oprimidos na Palestina.

Solidariedade com todos os migrantes. A solidariedade é a arma do povo. Guerra contra a guerra dos patrões!

Coletivo Anarquista Acte

acte@riseup.net/acte.espivblogs.net

agência de notícias anarquistas-ana

entre os vinte cimos nevados
nada movia a não ser
o olho do pássaro preto

Wallace Stevens

O grupo anarquista Rhythms of Resistance (Ritmos da Resistência), sediado em Tbilisi, divulga declaração sobre presos políticos na Geórgia

Zviad Ratiani, Mate Devidze, Saba Jikia e Mzia Amaglobeli estão entre as 66 pessoas conhecidas por terem sido processadas por participarem dos protestos populares de 2024-2025 na Geórgia.

Pessoas que sofreram violência policial agora estão sendo acusadas de agredir a polícia. O estado continua a perseguir e punir aqueles que resistem ao regime opressor. Os tribunais aplicam sentenças longas, proíbem a presença de jornalistas nas audiências e proíbem filmagens.

A repressão está se tornando rotineira, e o regime está se tornando mais autoritário, acompanhando a tendência global de repressão e mudanças políticas rumo à direita.

Somos solidários a todas as pessoas prejudicadas pelo governo do “Pesadelo da Geórgia” – prisioneiros de consciência, pessoas queer, mineiros de Chiatura, estudantes, jornalistas e todas as pessoas espancadas, atingidas por gás lacrimogêneo ou multadas por se manifestarem.

ძალაუფლება ხალხს!

As informações verídicas sobre os presos políticos na Geórgia e as formas de apoiá-los podem ser encontradas no link na bio.

*Queremos dedicar este vídeo a nossa(o) camarada, que foi proibida(o) de entrar no país por causa de sua posição política. Cara(o) amiga(o), esperamos sinceramente que tenhamos outra chance de estar lado a lado batendo tambores pelos valores que compartilhamos.

>> Vídeohttps://vimeo.com/1101293887?fl=pl&fe=sh

Tradução > LeopⒶrdo/acervo trans-anarquista

agência de notícias anarquistas-ana

Vidraça quebrada –
o reflexo do opressor
se esvai em estilhaços.

Liberto Herrera

[Itália] A Alta Felicidade do Povo No Tav

por Chiara Sasso, para Volere la Luna

Onde se encontra a vida? Ok, partidos altos. E ainda assim foi o pensamento constante ao ter diante dos olhos filas intermináveis de jovens, há semanas expostos ao sol de julho, pernas e braços bronzeados. Vestindo pouco. Na fila para cafés da manhã, banhos, macarrão, sanduíches, iguarias preparadas nos “fogões em luta”. E por que não também polentas, sanduíches e churrascos. Estamos no Vale de Susa, no Festival Alta Felicidade. Filas sem fim, sempre respeitadas. Nenhum empurrão, irritação ou desvio. Viviana, uma mãe, escreve no Facebook: “Filmei a marcha dos jovens No Tav [Não ao Trem de Alta Velocidade] para que ao menos pelas redes sociais se conhecesse a verdade. Não são vândalos, extremistas, terroristas. Pedem a nós adultos que sejamos honestos, que digamos a verdade, que a contemos direito. Eu os vi, os ouvi falar, rir e conviver, e também chorar. E pensei que o acampamento No Tav é uma das melhores experiências de vida comunitária que os jovens podem ter”.

Chegam de toda a Itália e também do exterior, chegam de carro até Susa, de trem, de moto e depois usam os ônibus fretados gratuitos para alcançar o pequeno município montanhês (900 habitantes). Chegam com mochilas, garrafinhas. Chamam-se “barracas de montagem rápida”: são leves, circulares e num instante estão armadas no gramado, uma ao lado da outra formando uma enorme onda de lonas azuis. Uma onda como o grito que ressoa por toda a área de centenas de jovens que entoam: “somos todos antifascistas”.

Município de Venaus, que ficou famoso após os dias de luta e despejo em 8 de dezembro de 2005. No final do ano farão vinte anos, e são trinta anos desde que a oposição à grande obra começou. Os ônibus fretados, de uma viagem à outra, continuam a despejar centenas de jovens; sob sol ou chuva nada os detém. Nove anos atrás, o primeiro Festival Alta Felicidade. Quanto mudamos? Quantos já não estão entre nós? É bastante normal perguntar, e ainda assim essa sensação de desorientação dissolve-se e recarrega-se refletida em seus rostos, em suas perguntas, na disponibilidade para trabalhar lado a lado com os grupos de “veteranos” que garantem as diversas barracas de comida. Cortam frutas em pedaços para sangria sem fugir a rajadas de perguntas de quem se torna por duas horas tia, avó, curioso para conhecer seu futuro. Sob uma grande tenda, os encontros começam na sexta-feira com a voz de Gaza através do livro de Betta Tusset e do padre Nandino Capovilla, presente na Faixa há mais de vinte anos. Enzo Infantino da associação Sabra&Chatila. Segue-se um debate sobre inteligência artificial com Alberto Puliafito e Stefano Barale. Mudança de palco: fala-se de trabalho com a luta das fábricas. Raffaele Cataldi conta sua experiência na Ilva de Taranto e seu livro “Malesangue”.

GKN Dario Salvetti: “Este trabalho não é vida”. Olha-se para frente para inventar um futuro. Lê-se em seu Instagram: “Três cargobikes serão disponibilizadas como transporte fretado de Susa a Venaus. Como todo experimento, não sabemos como será. Sabemos que é justo tentar. Depois tentar de novo. E depois tentar outra vez. Se não para conseguir, ao menos para falhar melhor. Todas as informações em https://insorgiamo.org/cargo-bike/  Encerra a sexta-feira mais um debate sobre a Palestina e uma conexão com Antonio Mazzeo do navio Handala detido por israelenses. Impossível listar todos os eventos do outro palco “autogestionado”. Impossível listar todas as bandas musicais gratuitas que animaram as noites até tarde.

No sábado, a palavra é dos “Tetrabondi” (tetraplégicos e vagabundos), para superar o paternalismo ligado à deficiência. No vale há muitas experiências positivas que interpretam bem o título do debate: “Às vezes a deficiência é o menor dos meus problemas”. Na mesma manhã, a Cooperativa Il Sogno di una Cosa, com um grupo de jovens, contribui organizando a área dos shows. O domingo é aberto por Angelo Tartaglia, Lorini e Roberto Aprile com uma reflexão sobre energia nuclear e as Confluências cada vez mais necessárias. Segue-se um debate lotado: Assembleia Nacional, um apelo para construir um caminho contra a guerra, o rearmamento, o genocídio da Palestina, intitulado “Guerra à guerra”: “um chamado a todos que querem dialogar e convergir para curvar um destino que parece inevitável”. Ilaria Salis e Patrik Zaki encerraram os três dias de debates e música falando de suas experiências. Os jornais não publicaram uma linha sobre tudo o que houve de positivo. É mais fácil voltar a falar de “franjas” violentas do que de jovens que percorreram a manifestação dançando e cantando. Nas redes surgiu o debate sobre o vale pacificado ou não. E quais instrumentos seriam mais justos de usar. Pensando em acertar contas, incendiou-se o presídio No Tav de San Didero. E a história continua.

Anos atrás, um artigo na Carmilla resumira os dias do festival, não diferentes dos que passaram: “Carteiras e mochilas perdidas, imediatamente recuperadas. Brigas por bêbados inconvenientes, zero. Retórica, zero. Mal-estar por substâncias variadas, zero. Partidos e sindicatos, zero. Traficantes de drogas pesadas, zero. Polícia, zero. Estrelas, músicos, autores arrogantes, zero. Eis, talvez sobre isso ainda valha a pena parar para refletir. Nunca se vira tantos artistas, alguns até inesperados, juntos tomarem posição sobre o No Tav”. Nunca se vira gerações tão diversas colaborando juntas dando vida a uma gigantesca “floresta de Sherwood” que luta contra inimigos muito mais cruéis, perigosos, violentos e sórdidos que o “xerife de Nottingham” a serviço de um único deus: o dinheiro. Nas redes o debate é intenso. Quais instrumentos usar para fazer valer suas razões? Enquanto isso, domingo às 22h, da arena de shows Borgata 8 dicembre, fez-se barulho aderindo ao apelo: “Desertemos o silêncio” pensando em Gaza.

Fonte: https://www.notav.info/post/lalta-felicita-del-popolo-no-tav/  

Tradução > Liberto

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agência de notícias anarquistas-ana

está calor
o sapo coaxa
dentro da bromélia

Akemi Yamamoto Amorim

[Grécia] Relato da assembleia antiespecista aberta sobre o protesto no zoológico

Protesto no Parque Zoológico de Ática (Atenas)

No domingo, 29 de junho, foi realizada uma intervenção em frente ao Parque Zoológico de Ática para marcar os três anos desde o assassinato a sangue frio do chimpanzé que ousou escapar de sua jaula.

Ficamos por uma hora e meia do lado de fora do estacionamento, em frente ao parque aquático com toboáguas adjacente, que pertence ao zoológico. Policiais uniformizados e à paisana estavam presentes no estacionamento e nos disseram que aquele era um espaço privado e que não poderíamos atravessá-lo para nos aproximar da entrada.

Distribuímos textos para carros que passavam, para pessoas que se dirigiam ao parque aquático e para clientes do zoológico. Jogamos panfletos e entoamos palavras de ordem. Perto do fim, atravessamos os policiais em uma pequena marcha, ignorando suas tentativas patéticas de nos impedir repetindo suas falas sobre propriedade privada, e fomos direto até a entrada.

Lá, entoamos muitas palavras de ordem em alto e bom som. Lesueur (o proprietário do zoológico) e sua filha se aproximaram da entrada, visivelmente irritados com nossa presença, bem protegidos por seus seguranças e pelos policiais. Permanecemos ali por um tempo e, em seguida, retornamos ao ponto de encontro original, onde a atividade se encerrou.

Luta intransigente até a libertação total, até a destruição da última prisão.

O LUGAR DOS ANIMAIS SELVAGENS É EM SEUS HABITATS NATURAIS E INDOMADOS, NÃO NAS JAULAS DOS ZOOLÓGICOS
DA PALESTINA À ÁTICA, FOGO EM TODAS AS CELAS
A LUTA PELA LIBERTAÇÃO TOTAL É A LUTA PELA ANARQUIA

Assembleia antiespecista aberta
Anoixti_antispisistiki@riseup.net

Tradução > Contrafatual

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agência de notícias anarquistas-ana

A Brisa Que Sopra
É O Melhor Refresco
Neste Dia Quente

Leonardo Natal

[Rio de Janeiro-RJ] Vem aí a FALA – Rio!

1ª Feira Autônoma, Libertária & Autogestionária

13 de Setembro de 2025 | Das 9h às 19h | Entrada Gratuita

Rua Morais e Silva, 94 – Maracanã (SINTTEL-RJ)

Entre os expositores confirmados está a Anarquia Verde, trazendo artesanato autônomo, saberes da terra e uma prática política que une cuidado, ecologia e resistência popular. É mais que banca — é vivência libertária enraizada no cotidiano.

Além da exposição de artesanatos, o coletivo também participará das atividades da feira com uma contribuição importante sobre anarco-queer, fortalecendo o debate entre corpo, território, sexualidade e insurgência.

A feira contará com palestras, rodas de conversa, livros, shows, gastronomia, cervejas artesanais e artesanatos, além de debates sobre meio ambiente, assembleísmo, lutas periféricas, feminismo, anarquismo, socialismo, queer e educação popular.

Uma oportunidade para fortalecer o que é vivo, coletivo e transformador.

Chegue junto e compartilhe esse sopro de liberdade.

>> Mais infoshttps://www.instagram.com/feirafalario/

agência de notícias anarquistas-ana

só o galo cantou
sem inspiração nem moldura —
aqui jazz um haicai

Pedalante

[Espanha] Pelo fim do genocídio em Gaza

Assistimos a cada dia com horror às notícias e imagens do genocídio do povo palestino em Gaza. Um genocídio que dura já 22 meses, só comparável com os piores exemplos da história, como o genocídio armênio ou o holocausto nazi, ambos no contexto de duas guerras mundiais.

Em ambos os casos da história a falta de informação foi condição de possibilidade para garantir a impunidade dos assassinos, enquanto perpetraram a matança.

O caso de Gaza na atualidade se assemelha mais ao cenário do Gueto de Varsóvia, convertido em uma macabra versão dos “Jogos de fome”. Enquanto os governos europeus seguem mantendo relações com Israel sem nenhum rubor.

Desde a invasão de Gaza por Israel em outubro de 2023, assistimos ao maior exemplo de limpeza étnica produzido no século XXI, televisado ao vivo pelas próprias vítimas e que jamais tínhamos visto, enquanto os governos ocidentais ignoraram o clamor popular de multitudinárias mobilizações em todo o mundo, exigindo medidas reais para acabar com esta carniçaria.

É a sociedade civil internacional a que tentou romper o bloqueio a Gaza para exigir a abertura da passagem de Rafah, mas a colaboração do governo do Egito com EUA e Israel o impediram permanentemente.

Do mesmo modo que iniciativas humanitárias como a “Flotilha da liberdade” tentaram romper o bloqueio em muitas ocasiões, sem mais apoios que o das organizações sociais.

Assim, durante a noite do passado 26 de julho, em torno das 23h00, foi abordado por tropas israelenses em águas internacionais o barco Handala, carregado com ajuda humanitária e alimentos infantis, em novo ato de pirataria e de violação de direitos humanos do governo de Netanyahu. Barco no qual viajavam 21 civis de diferentes nacionalidades, entre os quais se encontram os cidadãos espanhóis Sergio Toribio Sánchez e Santiago González Vallejo, ambos sequestrados junto ao resto de suas companheiras e companheiros de viagem, pelo governo de Israel.

Uma vez mais os governos europeus não fizeram nada para evitar este novo assalto à Flotilha da liberdade, nem estão tomando medidas reais para pressionar Israel.

Ainda as informações são escassas, mas pelo que podemos saber, o governo de Israel está tratando os ativistas como se tivessem entrado ilegalmente no país apesar de que foram sequestrados pela força em águas internacionais e levados a Israel contra sua vontade. Vários dos ativistas aceitaram um acordo para serem deportados. No total ao menos cinco deles já foram expulsos de Israel. Dois mais, com dupla nacionalidade estadunidense e israelense, se espera que sejam postos em liberdade em breve.

Por outro lado, ao menos doze deles se negaram a aceitar nenhum acordo voluntário de deportação e seguem encarcerados na prisão de Givon, entre os quais se encontram os dois companheiros espanhóis. Desde aqui lhes enviamos todo nosso apoio a eles e a seus familiares em meio da incerteza das últimas horas desde sua detenção.

Todos estes dados sobre o número de detidos do Handala, podem variar enquanto escrevemos este comunicado. Desde a CGT exigimos a posta em liberdade sem acusações de todas as pessoas detidas. O governo espanhol e o ministro Albares de Exteriores, devem tomar quantas ações diplomáticas sejam necessárias para garantir a segurança dos ativistas espanhóis e sua liberação de forma imediata.

A situação da Palestina não é um fruto de um desastre natural, é o resultado de décadas de política colonial e racista do ocidente sobre o Oriente Médio, junto com o projeto sionista de ocupação de terras palestinas. Uma política de apartheid levada ao extremo em Gaza com o governo de Netanyahu. Uma realidade criminosa que tem responsáveis políticos concretos e colaboradores internacionais necessários.

Por isso exigimos aos governos espanhol e europeu que cortem todo tipo de relações diplomáticas e comerciais com Israel.

O governo de Pedro Sánchez não deixou de comercializar armas com Israel. E agora se propõe enviar ajuda humanitária em paraquedas apesar das numerosas críticas internacionais a respeito e, sobretudo desde a própria população de Gaza que alertou do grave risco desta medida para sua segurança. O autoproclamado governo “mais progressista da história” deve decretar de forma imediata um embargo total de armas e a ruptura de relações com o estado genocida, sem mais ambiguidades.

Dentro de pouco se celebrará o segundo aniversário do começo deste terrível genocídio que aumenta especialmente com mulheres e crianças; Desde a CGT fazemos um chamado a toda nossa militância e afiliação a participar ativamente em todas as iniciativas de solidariedade com o povo palestino.

Desde nossa organização trabalharemos sempre desde a unidade de ação com todas as organizações de solidariedade com a Palestina, em colaboração com a comunidade hispano – palestina no Estado espanhol e junto ao resto de sindicatos de classe e combativos comprometidos com a causa do povo palestino, para levar adiante todas aquelas mobilizações que se proponham neste sentido.

Alto ao genocídio!
Embargo de armas!
Fim da cumplicidade de governos e empresas!
Boicote e ruptura de relações com Israel!
Apoio à resistência do povo palestino!
Desde o rio até o mar, Palestina Liberdade!

Secretariado Permanente do Comitê Confederal da CGT

cgt.es

Tradução > Sol de Abril

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agência de notícias anarquistas-ana

A utopia é fruta
que amadurece nas mãos
 dos que ousam colher.

Liberto Herrera

[Grécia] Manifestação em Ilion pela morte do trabalhador Nikos Grammatikopoulos

Na terça-feira, 22 de julho, uma passeata foi realizada em Ilion pela morte de Nikos Grammatikopoulos, um funcionário do serviço técnico da Prefeitura de Ilion, que morreu no sábado, 28 de junho, enquanto trabalhava por dias em meio a uma onda de calor, nos preparativos para a “Noite Branca” [festa comercial de “promoções”], que aconteceria no mesmo dia.

A marcha, acompanhada por aproximadamente 60 manifestantes, partiu da praça central de Ilion e seguiu em direção à Prefeitura, onde a fachada foi pichada, resultando na mobilização de esquadrões da polícia de choque. A Guarda Pretoriana, enviada para proteger o quartel-general dos perpetradores da morte do trabalhador de 65 anos, seguiu a marcha até seu término na praça central de Ilion.

Apesar da baixa participação, a marcha seguiu com um pulso forte, slogans trabalhistas e antiestatais foram gritados, muitos compartilhando textos e pichando slogans, passando a mensagem de que nenhum “sacrifício” no altar da lucratividade do capital ficará sem resposta.

Saudamos e enviamos nossos abraços fraternais a todos aqueles que participaram da marcha, desafiando o calor e apesar das várias semanas que se passaram desde a morte de Nikos Grammatikopoulos. Nenhuma morte de trabalhador no local de trabalho deve ser deixada à mercê das estatísticas frias, sem respostas, sem mobilização e luta.

Nada ficará sem resposta – Não deixaremos que nada seja esquecido
A Prefeitura de Ilion e uma associação comercial mancharam as mãos com sangue
A “Noite Branca” assassina trabalhadores para o lucro de poucos

INICIATIVA DOS ANARQUISTAS DE ANARGYROS – KAMATEROS

protaanka.espivblogs.net

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agência de notícias anarquistas-ana

A terra sangra
A cana avança
Ganância que engana!

Silvio Feitosa

[França] A indominiação e o homo sapiens atual

Por Octavio Alberola

A razão de ser do anarquismo sempre foi a luta contra todas as formas de dominação e, por isso, os anarquistas pretenderam e pretendem ser os mais indominantes. A indominiação implica a recusa em suportar ou exercer a dominação.

Na realidade, a negatividade e a positividade anarquistas foram e são a contestação mais radical à Ordem autoritária e, por isso, merecem um “elogio ardente”, mesmo que não tenham conseguido “destruir nossa dócil submissão à execrável autoridade do instituído” (Tomás Ibáñez).

De fato, como negar essa docilidade e o caráter retórico de nossa indominiação? Ou seja, a inconsequência de nosso comportamento.

É por isso que, para verificar se nossas práticas indominantes são ou não consequentes com tal pretensão, me pareceu muito pertinente o neologismo “indominiação”; pois, mais do que o Poder e a Autoridade, é a dominação que nos obriga a enfrentar o dilema de suportá-la ou rejeitá-la. Além disso, são essas práticas que nos permitem saber se há coerência entre discurso e prática ou se nossa indominiação hoje é apenas retórica.

Por meio da investigação antropológica, sabemos que a dominação nem sempre existiu nas sociedades humanas e, consequentemente, tampouco a submissão e a resistência; pois é a existência da dominação que dá origem à submissão e à resistência. Ou seja: à possibilidade de responder ao dilema de suportá-la ou rejeitá-la.

Além disso, essa investigação também nos ensina que, nas chamadas “sociedades igualitárias”, era o apoio mútuo que regulava seu funcionamento e que foi a colaboração que evitou nelas a dominação e a divisão entre dominantes e dominados.

Portanto, é a existência da dominação nas sociedades humanas, mais do que a do Poder e da Autoridade, que provoca essa divisão e a dos dominados em submissos e resistentes — mesmo que sua resistência nem sempre tenha sido consequente.

Como não considerar a dominação e a indominiação as mais pertinentes para analisar “nossa dócil submissão à execrável autoridade do instituído”? E como ignorar nessa análise o papel decisivo dos níveis evolutivos da sociedade e do aparato cognitivo das pessoas em cada estágio evolutivo do homo sapiens e sua sociedade?

Sim, como ignorar isso, sabendo que são esses níveis evolutivos que determinam o que a dominação e a indominiação são e, consequentemente, os comportamentos dos contemporâneos em cada estágio evolutivo?

De fato, a indominiação do homo sapiens atual é aquela que o estágio evolutivo de hoje possibilita e, por isso, não pode ser considerado seu estágio evolutivo final, muito menos definitivo para sempre.

Daí que a negatividade e a positividade do anarquismo atual sejam as que o aparato cognitivo atual do homo sapiens torna possíveis. Ou seja, as correspondentes ao estágio evolutivo atual de nossa espécie. E, por isso, sua operacionalidade é a dos padrões culturais e padrões atuais.

Goste ou não, os homo sapiens atuais somos o que a evolução de nosso aparato cognitivo nos permite ser e, por isso, a negatividade e a positividade dos anarquistas atuais são tão inoperantes, contraditórias e inconsequentes. Não apenas por nossa integração ao funcionamento da sociedade capitalista, mas também por nossa “dócil submissão à execrável autoridade do instituído” e por pretender superar essa inoperância e inconsequência com a retórica de nossas práticas indominantes.

Falando claramente, o anarquismo dos anarquistas hoje é o dos anarquistas tal como eles são e não como pretendem ser: pois, gostemos ou não, também os anarquistas somos o que a evolução do aparato cognitivo nos possibilita ser.

Mais claro ainda: quando analisamos o funcionamento do mundo atual, os anarquistas também tendemos a denunciar a “dócil submissão à execrável autoridade do instituído” dos outros e a ignorar a nossa, mesmo que nossa resistência seja apenas retórica.

Reconhecer essa contradição inconsequente é, portanto, necessário para não nos enganarmos e podermos colocar a questão de nossa negatividade e positividade em termos reais e não fictícios; pois colocá-la nesses termos é a única maneira — como para os problemas — de saber se essa inconsequência e essa contradição são superáveis.

Os anarquistas deveríamos ser lúcidos e ter a honestidade e a coragem de reconhecer o que realmente somos: o desejo, ou no máximo uma tentativa frustrada, de ser verdadeiros anarquistas indominantes. Não apenas porque a necessidade de sobreviver na sociedade capitalista nos obriga, como aos demais, a nos submeter à Ordem dominante, mas também por estarmos conscientes da impossibilidade de nosso aparato cognitivo funcionar de outra forma que não a imposta pelo nível evolutivo atual. Um nível ainda insuficiente para tornar mais operacional nosso desejo de indominiação.

Em resumo, além do que possa ser a radicalidade de nossa retórica opositora nesta sociedade (não há outra), nossa existência nela nos torna cúmplices dela. A única maneira de não sê-lo é a construção de uma sociedade alternativa baseada na igualdade e na ecosolidariedade. Mas, também nesse caso, o desejo de indominiação não deve ficar apenas na retórica.

Saber e reconhecer isso é o que mais pode nos ajudar a decidir ser indominantes consequentes e a encontrar a maneira de construir essa sociedade alternativa à capitalista.

Fonte: https://redeslibertarias.com/2025/05/22/la-indominacion-y-el-homo-sapiens-actual/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

haja mio,
da gata errando
em seu eterno cio

João César dos Santos

[Espanha] Em recordação e homenagem a Octavio Alberola, companheiro

O abandono da utopia e do conceito ético da revolução conduziu as ideologias revolucionárias a sua esclerose e ruína.” – Octavio Alberola
 
Converter o anarquismo em uma rotina, um hábito, que só se exterioriza certos dias e em uma intimidade sectária na qual se fala muito de revolução, mas na qual não se faz nada para realizá-la seria negá-lo e reduzi-lo a um simples entretenimento.” – Octavio Alberola
 
A notícia do falecimento de Octavio Alberola no passado dia 23 de julho, me agita o pensamento e me obriga a escrever umas palavras em sua memória.
 
Conhecemos Octavio Alberola através das recordações compartilhadas com companheiros do Sindicato. Alguns haviam sido alunos de José Alberola, seu pai, na escola racionalista de Fraga, nos anos trinta do século XX. Não eram recordações reduzidas ao puramente anedótico da família Alberola Suriñach e do menino Octavio que foi, durante sua estadia em Fraga, que também, foram conversações sobre sua ação militante e intelectual e a leitura do livro Octavio Alberola y Ariane Gransac. El anarquismo español y la acción revolucionaria 1961-1974, além de artigos seus aparecidos na imprensa libertária desses anos. Conversações enriquecedoras, que iam mais além de compartilhar ou não sua maneira de entender A Ideia ou de idolatrar a sua pessoa. No que sim se coincidia, era na de valorizar seu compromisso firme e desinteressado e seu profundo humanismo.
 
Fraga foi um dos lugares de infância onde viveu, graças à arriscada vida de sua família. Seu pai, o mestre racionalista e militante anarquista José Alberola e sua mãe Clara Suriñach, mestra, companheira e colaboradora fiel na árdua tarefa de semear a semente do conhecimento por povoados e cidades da Espanha pobre e obreira. Semeadura que a família Alberola Suriñach levaria consigo por terras do México, onde viverão o exílio forçado pela guerra e o fascismo, e que o ativismo libertário de Octavio prolongaria por diferentes latitudes da América e Europa e sua luta antifranquista na Espanha.
 
Com o final de Octavio Alberola, no Movimento Libertário perdemos não só um companheiro dos mais lúcidos do pensamento anarquista atual, distanciado sempre de posições dogmáticas; também de “possibilismos vários”. Vai-se também uma parte de nossa história, das mais interessantes e frutíferas. Companheiro que permaneceu ativo e atento, pronto a compartilhar, desinteressadamente, dando exemplo de vida e compromisso. Ficamos com o legado escrito e ativismo militante que sem dúvida nos ajudará a enriquecer nosso pensamento e a ação vindoura.
 
Animo desde aqui à leitura de um de seus últimos livros, Revolución o Colapso, Entre el Azar y la Necesidad. E a excelente biografia de Agustín Comotto, El Peso de las Estrellas.
 
Sirva esta carta aberta para mandar abraços fraternos a toda sua família e companheiros mais próximos, desde as mesmas terras que banha o Cinca e que um dia compartilhou Octavio Alberola.
 
Saúde e anarquia
 
J. Carlos Chiné. Pedreiro e anarcossindicalista no meio rural
Fraga, 27 de julho de 2025
baixcincallibertari@gmail.com
 
Tradução > Sol de Abril
 
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agência de notícias anarquistas-ana
 
O olhar do tsuru —
no lago, um só reflexo:
o inverno inteiro
 
Pedalante