[Espanha] Apresentação de Horizontal Madrid, Coordenadora Anarquista

É hora de organizar-se, de que nossas propostas tenham maior visibilidade, fazendo delas uma alternativa viável.

Sábado 26 de abril

Ateneu Libertário La Garra (calle pico Moncayo 22)

Puente de Vallecas L1

Queremos apresentar e divulgar esta coordenadora, fazendo um chamado à organização em grupos e coletivos anarquistas e a nos coordenarmos entre iguais.

Defendemos o anarquismo como a luta contra toda autoridade. Não como pensamento abstrato, mas desde as lutas do dia a dia, mas olhando mais além: para uma transformação radical da sociedade.

Também defendemos o anarquismo como rechaço ao Estado e ao capitalismo. Propomos a ação direta e um espaço de luta próprio.

Para amenizar o evento, contaremos também com a atuação de:

Kortxo y Xapa

Isma hit the town

A revolta está ao nosso alcance!

agência de notícias anarquistas-ana

ipê amarelo
até a calçada
floresce

Ricardo Silvestrin

Chamada para Ação: Primeiro de Maio Global – GLOBAL MAY DAY 2025

Primeiro de Maio! Primeiro de Maio!

Auto-organização contra o autoritarismo, o fascismo e as ditaduras!

A estratégia de mobilizar as pessoas com base na ansiedade econômica e cultural e construir um nacionalismo baseado na identidade para ganhar poder é descrita de várias formas como nacionalismo majoritário, autoritarismo populista ou populismo de direita.

Fonte: What Do Populist Authoritarians Do When They Rule? por Kamal Mitra Chenoy, EPW.in

Os movimentos autoritários e de direita estão ganhando força em todo o mundo e mais governos autoritários estão chegando ao poder. Os desenvolvimentos variam de uma influência crescente de movimentos políticos reacionários (por exemplo, na Alemanha, no Reino Unido, na Dinamarca, em Israel e na França) a regimes cada vez mais autocráticos e oligárquicos (por exemplo, na Argentina, nos EUA, na Hungria, na Áustria, nas Filipinas, na Indonésia, em Hong Kong, na Itália, na Nicarágua, na Rússia, na Índia, na Turquia e em Bangladesh), bem como em Estados totalmente repressivos e autoritários (por exemplo, no Myanmar).

Embora seja necessário analisar os contextos históricos locais para entender completamente os desenvolvimentos autoritários, há pontos em comum importantes. Uma característica comum é a fusão dos interesses do capital organizado com um Estado-nação repressivo. Os primeiros alvos geralmente são as pessoas trans. Depois que Milei assumiu o poder na Argentina, elas foram as primeiras a serem demitidas de empregos no setor público. Desenvolvimentos semelhantes podem ser observados na Itália, com Meloni da Fratelli d’Italia no poder. Aqui as pessoas trans também foram atacadas pelo governo de direita. Eles restringem o acesso a cuidados médicos para a transição de gênero, especialmente para os jovens.

O autoritarismo descreve “ideologias de desigualdade”, como racismo, sexismo, nacionalismo, classismo e chauvinismo. É um fenômeno social, cultural, político e econômico. Olhando para o mundo atual, podemos certamente falar de um despertar do autoritarismo.

Crise após crise atrás de crise. As inseguranças sociais e econômicas criam condições de vida precárias para muitas pessoas. A oferta de ideias autoritárias é uma promessa de segurança: você tem um lugar no mundo e pode direcionar sua frustração contra os mais fracos. Um sistema cada vez mais instável é mantido pelas forças do Estado. Portanto, a disseminação do autoritarismo não é apenas um movimento de cima para baixo, ou seja, uma conspiração das elites, nem um “levante de baixo para cima”.

Para ganhar poder, os políticos reacionários usam a retórica de ser contra o sistema, as preocupações com a segurança pública e as acusações de criminalidade (por exemplo, contra a oposição, a sociedade civil e as minorias sociais) como pretexto para restringir as liberdades, muitas vezes com o apoio de elites arraigadas. Os primeiros anos da industrialização já viram a demonização e a repressão estatal dos pobres, dos indigentes, dos movimentos políticos dos trabalhadores – qualquer pessoa que não fizesse parte de uma força de trabalho assalariada dócil. Quando as lutas sociais ganham espaço democrático, o capital organizado está disposto a sacrificar os direitos humanos para reprimir o trabalho.

As democracias (neo)liberais não são garantia de um futuro livre de autoritarismo. O antiautoritarismo deve ir além da simples “defesa da democracia”.

Para muitos países do chamado Sul global, o liberalismo no Norte global tem significado mais frequentemente tirania do que democracia. Afinal, as democracias liberais modernas foram construídas com base na escravidão, bem como na desumanização e no genocídio dos povos indígenas. Elas prosperaram e continuam a prosperar com a extração brutal de recursos e, atualmente, estão por trás de um regime de fronteira que considera dezenas de milhares de migrantes que morrem tentando atravessar fronteiras militarizadas como essencialmente “descartáveis”. Essa desumanização das pessoas para exercer o poder é parte integrante do modo atual do capitalismo.

Não podemos conquistar um mundo melhor esperando que a pessoa certa seja eleita – ou que a pessoa errada seja expulsa. Temos que nos organizar e lutar. Lutar para transformar a sociedade, para transformar o mundo, organizando-nos em nossos locais de trabalho, escolas e bairros.

Além de combater as tendências autoritárias, nosso objetivo é superar as raízes dos problemas: o sistema salarial e o próprio capitalismo. Lutamos pela construção de um mundo organizado por e para nossa classe, um mundo que funcione em harmonia com a terra.

Vamos nos organizar para moldar o discurso público. Vamos nos organizar para propagar narrativas que se oponham aos desenvolvimentos autoritários e lutar por uma vida melhor para o povo da classe trabalhadora, por uma semana de trabalho de 30 horas (sem redução de salário) e por boas aposentadorias públicas controladas pelos próprios trabalhadores, que permitam uma vida digna. Pela união dos trabalhadores do mundo!

Convocamos a solidariedade global da classe trabalhadora no Primeiro de Maio – e todos os dias!

Libertem todos os antifas!

#globalmayday2025

#1world1struggle

lutafob.org

agência de notícias anarquistas-ana

uma pétala caída
que torna a seu ramo
ah! é uma borboleta

Arakida Moritake

Sobre o Comunitarismo Ácrata 1

É preciso deixar claro que a tática comunitarista ácrata não se trata de uma “instituição”, bem diferente disto, trata-se, bem entendido, mais propriamente de “uma identificação”, de “um modo de atuação” e de “uma cultura”, de forma que perfis e páginas que optem por aderir a esta proposta não estariam aderindo a nenhuma “organização” específica, mas a uma “fraternidade” de aspirações específicas. Isto significa que o caráter original da atuação libertária de indivíduos e/ou grupos aderentes ao projeto (e, claro, seus perfis e páginas inclusos) não precisaria se adequar a nenhuma “legislação exterior”, ocorrendo como consequência à adesão em pauta apenas uma “natural” agregação de novas demandas procedimentais ao seu “fazer” anarquista.

Os entes associativos das redes comunitaristas ácratas, em seus vários níveis (células, tecidos, órgãos, organismos e populações), propondo-se a integrar a melhor tradição libertária, não devem se constituir como espécies de estruturas governamentais daquelas experiências que as integram, mas apenas – seguindo as concepções associativas propostas já desde Proudhon e praticadas durante o período do auge da A.I.T. -, (deverão se constituir como) lócus de união de forças para o atendimento conjunto de demandas de interesse comum e cujos portes excedam as capacidades particulares dos entes integrando as associações, bem como exerceriam também o papel viabilizadores de processos de comunicação, auto reconhecimento, estatística e intercâmbio das experiências comunitaristas ácratas.

Por se tratar de uma tática calcada em uma visão transformacionista do processo de mudança social (em detrimento das visões insurrecionalistas/revolucionárias;reformistas/institucionalizantes;e/ouescapistas/heterotópicas), própria da concepção anarquista ácrata da qual deriva, pode-se dizer que, de certo modo, a proposta comunitarista ácrata é destinada em especial para os grupos sociais de “deserdada/os” das benesses da civilização moderna (pauperizada/os e miseráveis em geral, trabalhadora/es precarizada/os, desempregada/os, grupos humanos específicos historicamente discriminados e/ou sobre explorados..), visto que estes, por se encontrarem em situações críticas de partir para o “tudo ou nada” em suas existências, em princípio, estariam mais disponíveis para arriscar modos  “outros” de vida que ao menos acenem para possibilidades de minorar as agruras pelas quais passam – diferentemente dos grupos bem acomodados pelo acesso ao consumismo. Porém, ante à perspectiva – cada vez mais claramente intuída de forma generalizada por quase todos os grupos sociais   – de um provável processo progressivo de arruinamento do sistema globalizado e da própria civilização (razonamiento fundante da opção pela visão transformacionista no anarquismo ácrata), como também – ante à perspectiva talvez ainda não tão intuída de forma generalizada, mas certamente já receada por um número cada vez maior de pessoas – de configuração das sociedades capitalistas globalizadas como sociedades da precarização universal do trabalho e do consequente rebaixamento sócio econômico imparável das classes médias (alguns dos fenômenos que estão na base do razonamiento acima aludido), é de se esperar que parcelas cada vez maiores das classes médias (baixa e alta), e até mesmo extratos inferiores das classes altas (atenção, aqui não se está fazendo referência ao que classicamente se conceitua como grande burguesia, ou seja, grandes proprietária/os de meios de produção exploradora/es de mão de obra assalariada, mas sim – se faz referência -, p.ex., a setores das altas hierarquias dos funcionalismos públicos auferindo altos salários e em vias de perda de “privilégios” devido à tendência mundialmente dominante à adoção de políticas de “enxugamento” e redução das máquinas burocráticas estatais, a parcelas do médio e até alto empresariado atuando em setores de atividades econômicas em vias de desaparecimento devido às dramáticas transformações da economia globalizada, a categorias das médias e altas hierarquias de empregada/os de empresas privadas atuando em setores de atividades econômicas em vias de desaparecimento..) se tornem cada vez mais sensíveis à possibilidade de aderir a experiências de vida como as propostas no âmbito comunitarista ácrata, o que significa dizer que, deste modo, a proposta comunitarista ácrata assume um caráter potencialmente trans classista. Mas, pela sua “missão” e caráter anti sistêmico, as redes comunitaristas ácratas devem evitar o ingresso em seu âmbito de representantes de determinadas categorias profissionais e sociais que, pelos seus vínculos, compromissos e “cultura” específica de grupo, representam ameaças reais ou potenciais à sua existência. Tais categorias seriam, p.ex., militares e policiais (principalmente de médias e altas patentes – e/ou cargos, no caso de agentes civis), representantes das médias e altas hierarquias de organizações religiosas (especialmente as regressivas), integrantes dos extratos médios e superiores das instituições jurídicas (que são parte do aparelho repressivo do Estado), membros em geral de organizações criminosas (capitalistas fora da lei), militantes de partidos políticos formais ou informais.

Como forma de estimular um processo de reforço permanente de sua identificação, de desenvolvimento permanente de seu modo de atuação e de enriquecimento permanente de sua cultura, propõe-se aos entes das redes comunitaristas ácratas algumas formas de eventos presenciais periódicos de confraternização, de intercâmbio e de interação intra, inter e extra redes, quais sejam: as reuniões, as exposições e os encontros.

Visto que o horizonte mais amplo ansiado pelo projeto do comunitarismo ácrata é a realização de processos alter antropogênicos, ou seja, sua meta mais visionária é constituir-se em um campo de fecundação de outros modos de ser humano (diferentes dos modos hierarquizantes/autoritários), propõe-se assim a adoção, no rol de seus fazeres libertários, de algumas práticas “alter antropogenéticas” (geradoras de novos modos diferenciados de ser humano), as quais podem ser propriamente denominadas como “vivências”. Tais vivências devem abranger um leque variado de formas de atividades que constituem e instituem um campo de imaginário de uma cultura, tais como vivências musicais (produção de composições musicais inspiradas nas visões e experiências das redes comunitaristas ácratas), vivências literárias (produção de composições literárias inspiradas nas visões e experiências das redes comunitaristas ácratas), vivências de cultura corporal (produção de adornos, vestimentas, “estilos” e códigos gestuais inspiradas nas visões e experiências das redes comunitaristas ácratas), vivências alimentares (produção de modos, dietas e estéticas alimentares inspiradas nas visões e experiências das redes comunitaristas ácratas); vivências de jogos (criação e experimentação/fruição de jogos, tanto de mesa quanto corporais, tanto individuais quanto coletivos, inspirados nas visões e experiências das redes comunitaristas ácratas); vivências de cultura de “crescimento interior” “grupindividual” (práticas coletivas de sessões de conversações sobre comportamentos individuais e/ou de grupo onde se procura criar um ambiente acolhedor e não discriminatório, e se praticar uma escuta empática e sem julgamentos, com a finalidade de evidenciar padrões de comportamentos e visões que possam ser ‘problemáticas’ para o crescimento tanto de indivíduos quanto de grupos, no que concerne a seus anseios instituintes de outros modos de ser humano, não hierárquicos/autoritários) etc.

Trecho do “Manifesto Anarquista Ácrata”, de autoria de Vantiê Clínio Carvalho de Oliveira.

(siga nosso perfil de Instagram: @movimento_anarquista_acrata e acompanhe nossas lives pelo canal de YouTube: anarcrata)

*A RECA (Rede Comunitarista Ácrata) está promovendo sua segunda rifa anual para aquisição de tecnologia de autonomização: confira as informações no talão digital abaixo e contribua com esta iniciativa libertária.

Conteúdo relacionado:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/04/07/sobre-o-movimento-anarquista-acrata/

agência de notícias anarquistas-ana

Os banhos agora
Num dia sim, noutro não –
Canto dos insetos.

Konishi Raizan

[Itália] Anarquista Luca Dolce, conhecido como Stecco, condenado a 42 meses (3 anos e 6 meses) de prisão em Trento

Ontem, 21/03/25, ocorreu no tribunal de Trento o julgamento de primeira instância contra nosso amigo e companheiro Stecco, acusado de ter apoiado o amigo e companheiro Juan enquanto ele estava na clandestinidade e de ter falsificado documentos de identidade. Em um julgamento sumário, Stecco foi condenado a 3 anos e 6 meses de prisão, pena ainda mais severa do que a solicitada pela promotoria.

Essa sentença soa muito como um recado: quem ajudar fugitivos ou pessoas em fuga vai pagar caro. A decisão de ontem combina com o impressionante aparato policial e técnico mobilizado para prender Stecco. Sobre isso, os arquivos da operação “Diana” revelam um panorama que pode ser útil aos companheiros para compreender as armas do inimigo.

Houve uma manifestação de solidariedade com Juan e Stecco do lado de fora do tribunal, especialmente contra o uso obrigatório de videoconferência mais uma vez.

Liberdade para Juan e Stecco
Chega de videoconferência, queremos ver nossos companheiros no tribunal!
Com Gaza no coração, contra a guerra e a repressão

anarquistas

Tradução > Contrafatual

Conteúdo relacionado:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2019/03/01/italia-prisoes-e-registros-apos-uma-nova-operacao-repressiva-contra-anarquistas-em-trentino/

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Varria o chão
Até que não dei mais conta —
Estas folhas secas.

Taigi

Como habitat de onças-pintadas do ‘tamanho da Inglaterra’ virou plantação de soja e pasto

Por Luiz Fernando Toledo | 19/04/2025

Em 2022 e 2023, autoridades ambientais identificaram que uma única fazenda criadora de gado desmatou cerca de 1 mil hectares (equivalente a mais de seis vezes o tamanho do Parque do Ibirapuera, em São Paulo), de forma não autorizada, em uma área protegida por lei, no Mato Grosso.

Os documentos que registraram as infrações cometidas pela empresa falam de dano à vegetação, o que gerou multas e embargo à empresa responsável. Mas casos como esse contêm um outro dano pouco contabilizado: o prejuízo à biodiversidade.

A fazenda está localizada na Área de Proteção Ambiental (APA) Meandros do Araguaia, no Mato Grosso, território conhecido da onça pintada, um dos maiores símbolos da biodiversidade brasileira. Um dos objetivos da unidade de conservação é justamente proteger a espécie – conforme consta do decreto de sua criação, de 1998.

Ao menos 477 infrações ambientais foram registradas pelo ICMBio nos últimos dez anos nesta mesma unidade de conservação, cometidas por diferentes infratores e que somam mais de R$ 37 milhões em multas, segundo levantamento feito pela BBC News Brasil nos dados abertos da instituição.

>> Para ler o texto na íntegra, clique aqui:

https://www.bbc.com/portuguese/articles/cqx4g8r5rrzo

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alta madrugada,
vaga-lumes no jardim
brincam de ciranda

Zemaria Pinto

[Itália] Cidadãs e cidadãos do mundo contra a Europa das armas

Como Assembleia Antimilitarista, afirmamos desde 2021 — antes mesmo do início oficial dos principais conflitos e genocídios em curso — que o rearmamento é um componente essencial do atual sistema internacional baseado nos Estados, no capitalismo e na dominação. Em particular, com a guerra na Ucrânia e a retórica dos “mocinhos” e dos “vilões”, tentou-se fazer com que os gastos militares, que já estavam em constante crescimento, fossem vistos como algo virtuoso, e que as produções de morte fossem, ao mesmo tempo, um motor da economia e uma necessidade defensiva. Com essa propaganda, também se tentou apresentar o pacifismo, o antimilitarismo e todas as formas de objeção de consciência como conceitos e práticas ultrapassadas, que a mentira do Inimigo iminente pinta não apenas como utópicas, mas também como prejudiciais.

Essas mentiras surreais, baseadas em informações de inteligência que afirmam prever o momento exato em que os “vilões” nos atacarão, servem para legitimar os programas de rearmamento europeu (ReArmEurope, depois Readiness 2030 etc.). Esses programas representam um salto qualitativo dentro dessa lógica perversa. Um dos pretextos usados para justificar esse gigantesco projeto europeu é a dissuasão, mas essa, junto com a consequente corrida armamentista, nunca levou à paz — e sim à escalada bélica. Por um lado, a União Europeia trai os princípios históricos, com os quais na verdade nunca teve muito compromisso, que viam o federalismo europeu como uma forma de pôr fim às guerras. Por outro lado, uma instituição que sempre impôs rígidos limites orçamentários a todos os gastos sociais (saúde, educação, serviços sociais, previdência, salários públicos…) proclama, com grande uso de retórica, que esses limites podem ser largamente ultrapassados com os 800 bilhões já previstos para o rearmamento — evidentemente, novamente às custas desses mesmos gastos sociais. Em outras palavras, estamos diante de um duplo desastre: social, pelos cortes adicionais no bem-estar e nos direitos; e bélico, porque essa escalada insana, se não for detida a tempo, só pode levar a cenários catastróficos de conflito.

As classes trabalhadoras russas, ucranianas e agora, de modo geral, europeias, têm em comum cada vez mais o fato de serem tanto o caixa eletrônico do rearmamento quanto a carne de canhão do massacre. No caso da Ucrânia, o preço que o “generoso” Ocidente exige para não deixá-la voltar a fazer parte do império russo é transformá-la, na prática, em uma colônia americana, com a cessão de seus recursos minerais — algo que as esquerdas institucionais criticam no governo Trump, mas esquecem de dizer que seus próprios aliados, em Washington como em Bruxelas, inevitavelmente fariam o mesmo, de uma forma ou de outra. Sem contar os interesses das empresas ocidentais na reconstrução pós-conflito de um país “amigo”.

Em todos esses casos, como já denunciamos há tempos, a guerra externa se completa com a guerra interna: marcada por crescente militarização da sociedade, leis autoritárias, criminalização do dissenso e restrições crescentes às liberdades, também por meio da ação da extrema direita.

Como Assembleia Antimilitarista, lançamos um apelo a todas as realidades que se opõem à guerra e apoiam a objeção, aos movimentos, ao sindicalismo de base e combativo, a todas e todos os explorados, para construir uma ampla oposição social e de classe ao militarismo. Convidamos todos esses setores a promoverem iniciativas contra o rearmamento europeu, a desenvolverem conteúdos antimilitaristas nas datas de 25 de abril e 1º de maio, e apontamos o dia 2 de junho como referência para dar continuidade a essa campanha. Continuaremos, enquanto isso, apoiando as iniciativas antimilitaristas em curso nas diversas localidades.

Fazemos também um apelo às realidades antimilitaristas internacionais, para que essa campanha assuma uma dimensão europeia. Se no “Ocidente” por enquanto não somos forçados a desertar dos campos de batalha, devemos começar a desertar com nossas consciências, recusando-nos a ser alistados pela propaganda belicista. Não nos alistamos ao lado deste ou daquele Estado imperialista. Recusamos a retórica patriótica — mesmo quando ela se disfarça com a roupagem do europeísmo — como um instrumento de legitimação dos Estados e de suas pretensões expansionistas, a serviço dos interesses do capitalismo. Em qualquer lugar. Não existem nacionalismos bons. Estamos ao lado de quem, em qualquer canto do planeta, deserta da guerra. Somos derrotistas contra o nosso governo, e solidários com quem luta contra o seu.

Somente uma humanidade internacional poderá lançar as bases de um mundo de iguais e livres, capaz de pôr fim às guerras. Devemos começar novamente no nosso cotidiano, para desmontar a propaganda de guerra em todos os níveis — em todos os lugares de vida, de convivência, de trabalho e de estudo. Nas escolas, essa propaganda é especialmente grave, pois visa o alistamento, apresentando a carreira militar como um caminho positivo para a realização profissional, quando na verdade é apenas a profissionalização de matar e de ser morto. É preciso despertar uma consciência crítica e antimilitarista em toda a sociedade, com grandes iniciativas nas ruas e nos territórios contra instalações bélicas e produções de morte, por uma greve geral contra a guerra, e com apoio concreto a todas as vítimas civis e a todas as pessoas que objetam, desertam e se recusam a lutar — seja qual for a bandeira à qual se recusaram a se submeter.

Queremos um mundo sem fronteiras, sem exércitos, sem opressão, exploração e guerra.

A Assembleia Antimilitarista, reunida em Reggio Emilia em 6 de abril de 2025.

Fonte: https://umanitanova.org/cittadin%c9%99-del-mondo-contro-leuropa-delle-armi/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

surgem, de repente
numa dança entre as árvores
profusão de libélulas

Jeane Carreti

[Chile] 1° de Maio Anarquista | Jornada de Comemoração

Por um maio negro e combativo.

Plaza Bogotá – Bairro Matta Sur

O primeiro de maio para os anarquistas tem um peso e uma relevância que, mais além de sua forte raiz histórica, se atualiza permanentemente em uma luta antiautoritária que sabe entender que a exploração e o poder devem ser enfrentados em todas as suas formas e desde todas as formas possíveis. Comemorar para os anarquistas implica fazer da memória uma arma que nos permite trazer para o presente as lutas ácratas históricas com o fim de intensificar e qualificar as batalhas que nos mobilizam na atualidade.

Com Mauricio Morales na memória por um maio negro e combativo

Morte ao Estado e Viva a Anarquia!!!!

Quinta-feira, 1° de maio desde às 14h00.

– Almoço Vegan  ($ 2000 em solidariedade com Casa Anarquista La Termita)

– Doceria e cafeteria vegana

– Música –Teatro – Poesia

– Atualização da situação dos companheiros encarcerados

– Feira de editoras e propaganda anárquica

PELA DESTRUIÇÃO DO ESTADO, DO PATRIARCADO, DO CAPITAL E TODA AUTORIDADE

PARA A LIBERAÇÃO TOTAL!

agência de notícias anarquistas-ana

Céu azul profundo
nas espumas flutuantes
águas tranquilas…  

Irene Massumi Fuke

[Grécia] Sobre a proibição de concertos em Exarchia

Comunicado da Κενό Δίκτυο

Nos últimos dias, após um concerto de solidariedade [à Palestina], um evento cultural de massa na quadra coberta de basquete do Asteras Exarchia, em Strefi Hill, com a participação de milhares de pessoas, foram desencadeados acontecimentos que não estavam diretamente relacionados à organização, mas foram usados ​​como pretexto de repressão.

Embora os incidentes tenham ocorrido em outros lugares, o local do show foi cercado por forças policiais, dezenas de prisões foram feitas sem que acusações fossem relatas e uma mensagem clara foi enviada: a expressão política e social está na mira.

Um anúncio sem precedentes foi feito pelo Ministro da Ordem Pública, Michalis Chrysochoidis: a proibição policial de shows, ações culturais e políticas em toda a área de Exarchia e Strefi Hill!

Esta decisão foi apresentada como uma medida para “proteger” o “maravilhoso” plano de requalificação da área, mas na realidade constitui um ataque violento ao próprio conceito de espaço público e de livre reunião.

A posição do governo não deixa espaço para interpretações equivocadas.

Exarchia — como todos os outros cantos do centro — está sendo transformada em zonas exclusivamente para turismo e empreendedorismo. O bairro onde antes batia o pulso da cidade agora é tratado como um “filé” para a compra de prédios, a criação de hotéis e apartamentos caros para alugar.

A comercialização não traz apenas aumento de aluguéis e deslocamento de moradores. Também traz silêncio. Silêncio nas praças, nos concertos, nos comícios políticos. A vida cultural está sendo deslocada para servir a interesses comerciais, com o espaço público sendo transformado em um campo de consumo em vez de criação.

Mas bairros não são projetos empresariais. Eles são o seu povo. São estudantes, trabalhadores, famílias, imigrantes, idosos, jovens. São os relacionamentos, as lutas, a solidariedade e o cotidiano. Tudo isso incomoda quem quer uma cidade vitrine, estéril de demandas sociais e resistências culturais.

Nossos bairros não são silenciosos!

A resposta a esse ataque deve ser coletiva, firme e criativa. Os bairros do centro da cidade continuarão vibrantes. Com seus moradores presentes. Com eventos no espaço público, com vozes vibrantes e presenças que se expressarão corajosamente contra a injustiça, que atacarão a exploração e a cultura de dominação.

Nossos bairros não serão entregues à especulação e ao silêncio!

A luta continua…

Fonte: https://www.alerta.gr/archives/37744

Conteúdo relacionado:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/04/17/grecia-video-exarchia-sob-cerco-os-bastidores-do-motim-de-sabado-que-eles-nao-querem-que-voce-entenda/

agência de notícias anarquistas-ana

Algo faz barulho —
Cai sozinho, sem ajuda,
O espantalho.

Bonchô

Lugares de memória dos trabalhadores de Alegrete: o início da União Operária 1º de Maio

por Anderson R. Pereira Corrêa
 
No dia 25 de abril de 2025, a União Operária 1º de Maio, de Alegrete, completará 100 anos

No dia 25 de abril de 2025, a União Operária 1º de Maio, de Alegrete, completará 100 anos. A entidade foi criada com o nome de União Operária e, mais tarde, recebeu o complemento de 1º de Maio, tornando-se, assim, a União Operária 1º de Maio. Em assembleia do dia 16 de abril de 2024, foi mudada a razão social para Associação Cultural, Recreativa e Comunitária União Operária Primeiro de Maio, com o nome fantasia UNIÃO OPERÁRIA 1º DE MAIO. No contexto de sua fundação, há um século, era uma associação de trabalhadores e trabalhadoras com fins de amparo mútuo, de luta e resistência por direitos trabalhistas (sindical). A União Operária possuía um fundo construído pela contribuição dos próprios associados para que fosse usado em momentos em que os trabalhadores precisassem, como faltar ao trabalho por motivos de doença, por exemplo. O pecúlio da entidade servia para amparar os trabalhadores necessitados, prestando socorro mútuo como assistência médica, funerária e educação.

Promovia uma educação sindical e organizava campanhas e lutas, como as manifestações do 1º de Maio em Alegrete. Esta pesquisa tem como inspiração o trabalho de alguns historiadores como Frederico Duarte Bartz, com o projeto Caminhos Operários em Porto Alegre, e Paulo Fontes, com Lugares de Memória dos Trabalhadores. Esses trabalhos são parte da batalha por significação e ressignificação dos territórios como bases materiais e subjetivas das resistências e pertencimentos do cotidiano. A seguir, farei a demonstração dos lugares relacionados ao início da União Operária, que são alguns dos lugares de memória da classe trabalhadora de Alegrete.

>> Para ler o texto na íntegra, clique aqui:

https://sul21.com.br/opiniao/2025/04/lugares-de-memoria-dos-trabalhadores-de-alegrete-o-inicio-da-uniao-operaria-1o-de-maio-por-anderson-r-pereira-correa/

agência de notícias anarquistas-ana

peixes voadores
ao golpe do ouro solar
estala em farpas o vidro do mar

José Juan Tablada

[Belo Horizonte-MG] “Horizontes libertários da Geografia: história e perspectivas”

A Biblioteca Terra Livre e o Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFMG têm o prazer de convidar todas as pessoas para a atividade “Horizontes libertários da Geografia: história e perspectivas”. A atividade busca resgatar as teorias e histórias dos geógrafos anarquistas Élisée Reclus e Piotr Kropotkin além de estabelecer um diálogo sobre a relevância destes para os desafios do fazer científico e políticos na atualidade. A atividade terá a presença de Adriano Skoda (Biblioteca Terra Livre/USP) e mediação do prof. dr. Sérgio Martins (UFMG).

Quando: 24/04/2025, quinta-feira, às 19h.

Onde: Auditório IGC – UFMG.

A entrada é gratuita e a atividade é aberta para toda a comunidade. Divulgue e convide as pessoas interessadas!

agência de notícias anarquistas-ana

ao cair no outono
a folha não sabe
o quanto morre com ela.

Alaor Chaves

[Grécia] Solidariedade internacionalista com o companheiro Salvatore Vespertino Ghespe

Em 15 de fevereiro, o camarada anarquista Salvatore Vespertino (Ghespe), que estava foragido há cerca de dois anos, foi preso em Madri. De acordo com o regime, sua prisão resultou da cooperação entre as autoridades de vários países, incluindo a Grécia.

O companheiro foi transferido para a Itália em 4 de março, inicialmente para a prisão Rebibbia, em Roma, e atualmente está detido na prisão Spoleto, em Spoleto. Nos primeiros dias de sua detenção na Espanha, Ghespe foi submetido a pressões e assédio por parte dos guardas. Em Rebibbia, a correspondência não era entregue a ele; visitas e telefonemas não eram permitidos até pouco antes de sua transferência para a prisão de Spoleto.

Ele foi condenado a 8 anos de prisão sob a acusação de posse, fabricação e transporte de um dispositivo explosivo, lesões corporais graves e danos no contexto da operação Panico em 2017, em Florença. Mais especificamente, ele é acusado de ter colocado um dispositivo explosivo improvisado do lado de fora de uma livraria fascista em Florença no dia de Ano Novo de 2017, que explodiu nas mãos de um agente de pirotecnia que nem sequer seguiu os protocolos de segurança, resultando na perda de um braço e um olho.

O companheiro foi condenado com base na única evidência de um teste de DNA que foi realizado de forma aleatória e não pode ser repetido. Não é a primeira vez que misturas de DNA são usadas como prova para a incriminação de ativistas pelas autoridades, enquanto métodos como o mencionado acima são questionados pela própria ciência. Essas análises são realizadas nos laboratórios dos policiais e da respectiva autoridade policial, com tudo o que isso implica em termos de confiabilidade dos resultados, não dando aos acusados a oportunidade de reexame.

De nossa parte, prestamos solidariedade inegociável ao companheiro que está preso nas celas da democracia. Não importa o quanto o poder mobilize seus vários mecanismos para prender e isolar os companheiros, para neutralizar e suprimir as lutas, para semear o medo, ele nos encontrará contra ele.

À medida que os estados se armam com meios repressivos novos, eles fortalecem os acordos internacionais para a proteção do capital e de sua própria existência. Enquanto eles tentarem eliminar qualquer vestígio de resistência dos indivíduos em luta, devemos mostrar nossa solidariedade internacionalista e não esquecer nenhum prisioneiro.

Desde as repetidas repressões da Itália contra ocupantes e companheiros anarquistas até as contínuas caças às bruxas da Alemanha contra antifascistas e ex-membros de organizações armadas, sempre estaremos ao lado daqueles que lutam e se rebelam.

DA GRÉCIA À ITÁLIA, UMA LUTA MULTIFORME PARA DESTRUIR TODA FORMA DE AUTORIDADE
SOLIDARIEDADE COM O CAMARADA ANARQUISTA GHESPE
FOGO EM TODAS AS CELAS
RUMO À LIBERAÇÃO TOTAL

Tradução > acervo trans-anarquista

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agência de notícias anarquistas-ana

Oh rã pequenina,
oh não se deixe vencer!
Issa está aqui.

Issa

[Espanha] As cartas de despedida do anarquista Jerónimo Riera

As missivas que o militante felguerino da CNT dirigiu à sua família e aos seus companheiros antes de ser fuzilado em 1938, aos 42 anos.

No site da Fosa Común de Oviedo há uma seção onde estão reunidas algumas fotografias e documentos pessoais dos fuzilados que foram enterrados ali. Entre eles, podemos ler seis cartas escritas pelo anarquista felguerino Jerónimo Riera Álvarez, quando estava preso aguardando a execução. De alguma forma, essas cartas chegaram à sua família e, há vinte anos, sua nora Milagros as enviou da França para torná-las públicas. Cinco foram dirigidas à sua família e uma aos seus companheiros da CNT. Todas merecem ser divulgadas, mas, para me ajustar ao espaço desta página, vou me referir a duas: a primeira, na qual ele conta sua prisão antes de se despedir de seus entes queridos, e a última, reafirmando seus ideais libertários apenas três dias antes de sua execução.

Jerónimo Riera foi um operário metalúrgico com uma longa trajetória na CNT e na FAI, envolveu-se nos inúmeros conflitos que ocorreram na Montanha Central no primeiro terço do século XX, e por isso foi preso várias vezes. Casou-se com Patrocinio Vuelta e teve dois filhos, Abelardo e Sara, aos quais deu uma educação baseada no pensamento libertário, ensinando-lhes a igualdade entre os sexos, o amor à natureza e aos hábitos saudáveis e a luta pela revolução social. Esta carta foi a primeira que lhes escreveu da sua cela:

Para minha querida companheira Patrocinio Vuelta e para meus queridos filhos Abelardo Riera e Sara Riera. Querida companheira e queridos filhos: nos meus últimos dias, escrevo estas linhas de lembrança para vocês. Estou preso na prisão de Oviedo, condenado à pena de morte e aguardando ser fuzilado. Nestes momentos amargos para todos, penso em vocês, por serem as pessoas mais queridas, a quem dedico minhas lembranças através da distância que nos separa.

Fui preso no alto-mar, quando, em um barco, tentávamos chegar à França para nos reunirmos com vocês. A fatalidade quis que minhas ilusões fossem quebradas e que a tragédia se abatesse sobre nós. Só desejo que vocês se amem muito e que, na vida, sejam exemplo de honestidade e virtude. Vocês devem enfrentar as consequências da minha falta, lembrando que viemos à vida para cumprir uma função e que eu já a cumpri. Abelardo, você terá que cobrir minha falta, trabalhando para sua mãe e irmã, sendo um filho como foi seu pai, trabalhador e lutador pelo bem-estar da humanidade.

A você, Patro, recomendo que cuide bem dos nossos filhos, educando-os nos meus ideais anarquistas. A você, Sarina, também digo para ser boa com sua mãe e seu irmão. Não quero que fiquem de luto por mim e não se preocupem com o lugar onde repousam meus ossos.

No tempo em que estive preso, fui bem tratado pelos meus irmãos, não me faltando nada. De todos me despeço dizendo que me matam por minhas ideias, mas as ideias não morrem, seguem a marcha progressiva através dos tempos. Para você, Patro, para você, Abelardo, e para você, Sarina, são meus últimos beijos e minhas últimas lembranças. Só desejo que sejam muito felizes e você, Patro, não duvide em se juntar a um homem que possa fazê-la feliz e que faça você esquecer tudo o que sofreu. Recebam muitos beijos deste que muito os amou.

1° de abril de1938. Jerónimo Riera Álvarez.”

Jerónimo também apostou na ação direta após conhecer Buenaventura Durruti em 1919, ano em que este veio trabalhar em La Felguera, filiando-se aqui à CNT – uma história que contaremos algum dia. Durante uma greve, ajudou Durruti a sabotar a linha elétrica da fábrica; no entanto, a polícia os identificou e foram detidos em sua casa. Durruti teve tempo de se esconder debaixo da mesa e, no lugar dele, levaram Jerónimo.

Em maio de 1928, foi preso novamente e conduzido, junto com quatro companheiros, de Astúrias a Madrid, onde foram interrogados por 36 horas no quartel da Guarda Civil da Cidade Lineal, em relação a um possível atentado que se esperava na Exposição de Barcelona, mas que nunca aconteceu. Depois, teve um papel destacado na Revolução de 1934, embora tenha conseguido fugir e se refugiar na França, acolhido pelos círculos anarquistas de Limoges.

Após a anistia de fevereiro de 1936, voltou ao trabalho para continuar organizando seu sindicato e, no início da guerra, criou um comitê encarregado de fabricar armas nos ateliês de La Felguera para as milícias operárias que enfrentavam os golpistas. Em seguida, se incorporou ao exército republicano como sargento.

Como é sabido, no outono de 1937, a comarca cantábrica já estava nas mãos dos rebeldes, e muitos asturianos se mudaram para Barcelona para continuar a luta. A família de Jerónimo partiu do porto de Gijón para o exílio francês, para recomeçar a vida lá. Ele tentou seguir com outros companheiros em um barco de pesca, com o objetivo de passar para a Catalunha e se juntar ao Exército republicano, mas foram detidos no alto-mar e internados no campo de concentração de Camposancos, em Pontevedra.

O felguerino disfarçou sua identidade, mas, como já contei em outras ocasiões, nesse lugar sombrio eram frequentes as denúncias de outros prisioneiros ou até de vizinhos que iam até lá de seus vilarejos em busca de favores. Alguém que o conhecia o identificou dessa forma, e ele foi transferido para Oviedo, onde foi submetido a um julgamento-farsa e condenado à morte. Três dias antes da sua execução, dirigiu este recado aos seus companheiros:

Ao Sindicato Metalúrgico de La Felguera. CNT; a todos os trabalhadores metalúrgicos e ao povo em geral. Companheiros: tendo passado minha vida de lutador ao vosso lado, para vocês são, pois, minhas últimas palavras: Somos muitos os sócios desse sindicato que estamos prestes a ser fuzilados por defender os ideais de emancipação social que propaga a Confederação Nacional do Trabalho. Hoje foi o inesquecível companheiro Higinio Carrocera, amanhã seremos nós, e assim formaremos uma legião de milhares de vítimas escolhidas pelo fascismo para saciar sua sede de morte.

Na história da humanidade, não se conhece nenhum caso que possa ser comparado com o que atualmente estamos presenciando. Não se respeita idade nem sexo, igual se fuzila o venerável companheiro velho, que precisa andar com muletas, quanto à jovem companheira de dezesseis anos, cuja juventude é um chamado à vida. Tudo isso é feito para que o povo trabalhador não possa triunfar na luta contra o fascismo, mas o povo sabe que o triunfo do despotismo fascista é o triunfo do crime e da morte de todas as liberdades populares. O povo de La Felguera, sempre generoso até com seus inimigos, está passando neste momento pelo doloroso processo de ver morrer assassinados aqueles que, em todo momento, souberam defender as melhorias que a classe trabalhadora tem direito a alcançar.

Na guerra civil atual, provocada pelo fascismo, nossa organização colocou de sua parte tudo o que podia: homens, entusiasmo e vontade. Cumprimos como bons antifascistas; os que vamos ser fuzilados não poderemos ver o final da guerra, mas estamos plenamente convencidos de que o triunfo do povo sobre o fascismo será total e os que tiverem a sorte de se salvar poderão se dedicar a reorganizar nosso sindicato, baluarte sempre das inquietações populares.

A descarada intervenção do fascismo internacional na guerra civil espanhola nos mostra que os ideais dos trabalhadores devem ultrapassar as fronteiras e ir para uma ação internacional que possa impor no mundo um regime de justiça social que acabe com os crimes e as injustiças sociais. No cargo que me nomearam, como membro do comitê de fábrica, procurei sempre agir de acordo com as ordens recebidas desse sindicato e com as necessidades da guerra.

Sinto-me orgulhoso por ter desempenhado essa função, se soube interpretar os mandatos de vocês. Só peço, no momento da morte, que os companheiros que ficarem saibam fazer justiça e sigam adiante com nossas ideias emancipadoras. Avante, metalúrgicos de La Felguera.

Avante, companheiros todos, avante, mulheres idealistas.

Todos pela vitória de nossas ideias.

Viva a Confederação Nacional do Trabalho.

Viva o Comunismo Libertário.

Vosso companheiro Jerónimo Riera. Escrito na prisão de Oviedo, no domingo, dia 8 de maio de 1938, às duas da tarde, aos 53 dias de condenado à morte. CNT-FAI.

Jerónimo Riera foi fuzilado aos 42 anos, no dia 11 de maio de 1938, junto com outros 29 companheiros. O mesmo número se repetiu em muitas madrugadas ao longo daquele mês.

Texto de Ernesto Burgos
Ilustração de Alfonso Zapico
Publicado originalmente em LNE


Fonte: https://laxusticia.noblogs.org/las-cartas-de-despedida-del-anarquista-jeronimo-riera/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Soneca da tarde.
Uma brisa companheira
chega sussurrando.

Alberto Murata

[Alemanha] 1º de maio da FAU Colônia

1º de maio é o dia de luta da classe trabalhadora. Neste dia, nós, trabalhadores, tradicionalmente levamos nossa luta por uma vida melhor para as ruas. E comemoramos os sucessos que alcançamos nessa luta e continuamos alcançando hoje.

Como no ano anterior, nós, o Sindicato Geral de Colônia da União dos Trabalhadores Livres [FAU, sua sigla em alemão], convocamos dois eventos neste contexto:

> Na manhã do dia 1º de maio, participaremos da manifestação sindical na margem esquerda do Reno com um bloco próprio. Queremos tornar nosso sindicato visível, fazer com que nossas demandas sejam ouvidas e mostrar que não estamos satisfeitos com a “parceria social” defendida pela liderança da Confederação Sindical Alemã [organização sindical majoritária]. A manifestação começa às 12 horas na Hans-Böckler-Platz. A partir das 11h, nos reuniremos em frente à LC36 (Ludolf-Camphausen-Straße 36), que fica bem ao lado da praça, onde haverá café para todos. Você pode nos encontrar na manifestação com nossos faixas e bandeiras.

> De Heumarkt, o ponto final da manifestação, iremos juntos até a Naturfreundehaus Kalk (Kapellenstraße 9a), na margem direita do Reno. Aqui estamos mais uma vez organizando um festival de bairro junto com outras iniciativas. Queremos criar um espaço para nos reunirmos. Haverá comida para todos, música e estandes de informações. Também será oferecido entretenimento para crianças. O festival do bairro acontecerá a partir das 14h. até cerca das 20h.

Seja na manifestação ou no festival de bairro: estamos ansiosos para ver você e passar o dia 1º de maio com você. Se você quiser saber mais sobre nosso sindicato ou quiser se filiar, venha até nosso estande no festival de bairro e converse conosco.

Mais informações sobre ambos os eventos serão divulgadas nos próximos dias.

Viva o 1º de maio!

koeln.fau.org

agência de notícias anarquistas-ana

velho caminho
sol estende seu tapete de luz
passos de passarinho

Alonso Alvarez

[Grécia] Campanha de apoio financeiro do Centro Social Ovradera

Os centros sociais estão tradicionalmente entre as principais ferramentas de direção social disponíveis ao movimento libertário. Somos inspirados pelos milhares de exemplos de movimentos, desde os ateneus libertários em Barcelona durante a Revolução Espanhola e os centros sociais autogeridos na Itália na década de 1980, até a ZAD na França e as okupas e pontos de encontro anarquistas na Grécia, América Latina e ao redor do mundo.

Na Grécia, a repressão estatal se intensificou nos últimos anos, atingindo o movimento anarquista/libertário por meio de despejos generalizados de okupações e maiores restrições em espaços públicos, como praças e universidades. Isso nos coloca em uma posição cada vez mais difícil. Uma das dificuldades que enfrentamos surgiu da falta de espaços onde pudéssemos abrigar nossas atividades, procedimentos e assembleias, atividades necessárias para a continuidade de nossa luta política. Entretanto, além da necessidade de um local de encontro, acreditamos que os centros sociais são de crucial importância para ampliar a direção social do movimento anarquista/libertário e suas lutas.

Levando tudo isso em consideração, há cerca de 3 anos criamos o Centro Social Ovradera.

Ovradera é um centro social na cidade de Tessalônica, Grécia. Ela opera de forma auto-organizada, coletiva e anti-hierárquica, com seus princípios básicos de solidariedade e camaradagem. Suas instalações abrigam organizações e grupos anarquistas/libertários e feministas, além de uma editora libertária, um projeto de contrainformação e um hack-lab. Ao longo dos anos, também abrigou várias outras iniciativas, como um grupo de estudantes anarquistas, uma assembleia de solidariedade a um preso político e uma assembleia de pais.

Embora o Centro Social Ovradera tenha sido criado há 3,5 anos, ele teve que ser realocado recentemente. O novo espaço nos permite continuar nossas atividades, mas não tem a infraestrutura necessária para torná-lo seguro de qualquer ataque. Com a ascensão da extrema direita na Grécia — como é observado no mundo todo — espaços sociais como o nosso enfrentam uma ameaça cada vez maior. No ano passado, dois espaços sociais na cidade de Tessalônica foram alvos de fascistas. Dado que os grupos sediados em Ovradera estão ativamente envolvidos em ações antifascistas, o risco de um possível ataque aumenta.

Para proteger o espaço, o Centro Social Ovradera precisa arrecadar a quantia de 1.000 euros para cobrir o custo de blindagem do espaço com persianas de segurança. Isso ajudará a garantir que Ovradera continue sendo um espaço seguro e funcional que atue como um centro de resistência, solidariedade e auto-organização.

A SOLIDARIEDADE É A NOSSA ARMA!

Contribua para a campanha de apoio financeiro do Centro Social Ovradera no Firefund clicando aquihttps://www.firefund.net/ovradera

agência de notícias anarquistas-ana

Outono –
uma folha úmida
cobriu o número da casa.

Constantin Abaluta

Live: Caminhos Libertários | Memórias e experiências do movimento anarquista de São Paulo

No próximo dia 27 de abril, domingo, às 20h30, o canal do IEL (Instituto de Estudos Libertários) no youtube transmitirá a live Caminhos Libertários: memórias e experiências do movimento anarquista de São Paulo.


O programa será constituído por um encontro informal de três amigos do anarquismo que participaram dos primeiros anos da reabertura do Centro de Cultura Social de  São Paulo, entre 1985 e 1992. 


Com mediação de Alexandre Samis, o grupo compartilhará suas memórias e impressões sobre o período, destacando algumas atividades do seu grupo de afinidade, o Autogestão, do qual também fazia parte o ex-companheiro Leonardo Morelli.


O canal do IEL pode ser acessado aqui:


https://www.youtube.com/live/FZ_t31NY5fI?si=xEmu5PY9074W-9ep


agência de notícias anarquistas-ana


Um dia de outono –
Caminhando entre as lembranças
Do outono passado.


Edson Kenji Iura

[EUA] Mumia Freedom Tour

Oakland Public Library: Elmhurst Branch, 1427 88th Avenue, Oakland

O Sr. Jamal Ibn Mumia, filho de Mumia Abu-Jamal, apresentará uma palestra intitulada “Os efeitos sobre a família: Uma discussão com Jamal sobre o fato de ter crescido com um pai famoso no corredor da morte“.

Ele também discutirá a carreira literária e radiofônica de Mumia, e a Sra. Rachel Wolkenstein, uma de suas ex-advogadas, fornecerá atualizações jurídicas sobre o caso.

Mumia Abu-Jamal é um jornalista americano, ativista político e autor de best-sellers que cumpre pena de prisão perpétua sem liberdade condicional na State Correctional Institution (SCI) Mahanoy em Frackville, Pensilvânia. Ele foi condenado pelo assassinato em primeiro grau de um policial da Filadélfia em 1982 e sentenciado ao corredor da morte. O caso e o julgamento foram repletos de inconsistências e imprecisões, o que levou muitos a acreditar que Mumia é inocente e que foi alvo de ataques por causa de suas crenças políticas. Devido aos esforços incansáveis de muitos, a sentença de morte de Mumia Abu-Jamal foi comutada em 2011, e ele agora cumpre pena de prisão perpétua sem liberdade condicional. Mas Mumia ainda não está livre, e o trabalho continua!

Enquanto estava na prisão, Mumia escreveu vários livros, como Live on Death Row, seu primeiro livro em 1996, e seu trabalho mais recente, Have Black Lives Ever Mattered 2017.

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agência de notícias anarquistas-ana

Gosto de ficar
Olhando as cores do céu –
Os dias se alongam.

Hisae Enoki