[Itália] Manifestação antimilitarista em La Spezia

Ontem (27/09), em La Spezia, grande sucesso da marcha “Reconvertamos a Seafuture”, contra a feira da indústria militar-naval. Uma manifestação participativa e determinada percorreu as ruas da cidade para gritar bem alto sua oposição às feiras da morte, à indústria de armas, contra todas as guerras e massacres, a começar pelo genocídio em Gaza.

No final do ato, foi montado um acampamento na praça para dar continuidade à mobilização. Foi forte a presença antimilitarista e anarquista, e grande a contribuição das companheiras e companheiros para construir este marco. Nos discursos, foi também anunciado o próximo protesto: a marcha de 29 de novembro em Turim, contra a feira da indústria aeroespacial, promovida pela Assembleia Antimilitarista.

Tradução > Liberto

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Suando com nunca,
Rego as flores no quintal —
Primavera quente!

Sandra Miyatake Sakamoto

Frantisek Kupka, pintor, ilustrador, cartunista e anarquista

Em 23 de setembro de 1871, o pintor, ilustrador, cartunista e anarquista Frantisek Kupka nasceu em Opočno, onde hoje é a República Tcheca. Iniciou sua formação artística na Academia de Belas Artes de Praga, onde estudou pintura e desenho.

Em 1896, fixou residência permanente em Paris… e foi na capital francesa que colaborou com grupos anarquistas e estabeleceu laços de amizade com ativistas libertários, especialmente entre 1900 e 1912.

Mais tarde, ele começaria a criar cartazes para cabarés e a ilustrar publicações satíricas e anarquistas, como Cocora, Children’s Corner, Les Temps Nouveau ou The Butter Plate, onde criticava o dinheiro, o militarismo e as religiões.

Ele também criará a capa do panfleto de Kropotkin “O regime assalariado” (1909), as ilustrações para o último volume da obra de Élysée Reclus “O homem e a terra” e, em 1909, preparará as ilustrações para uma nova edição da obra de Kropotkin “A grande revolução”, que infelizmente foram perdidas.

Além de seu trabalho como ilustrador, a criação artística de Kupka durante esses anos evoluiria dentro do movimento simbolista. A partir de 1906, ele começou a estudar a fundo a teoria da cor, com base nas teorias de Newton e Goethe, o que o levaria à criação de obras com cores intensas aplicadas arbitrariamente, constituindo o primeiro passo para seu afastamento definitivo da arte representacional e se aproximar da abstração.

No final da primeira década do século XX, começou a escrever textos estéticos, como A Criação nas Artes Plásticas, e participou das reuniões dos irmãos Duchamp Villon.

Foi membro de vários grupos de vanguarda, incluindo a Section d’Or e a Abstraction-Création . Ele também era amigo de muitos outros artistas famosos da época, incluindo Kandinsky e Mondrian. O trabalho de Kupka foi altamente inovador, apresentando cores ousadas, formas geométricas e composições dinâmicas. Hoje, Kupka é reconhecido como um dos pioneiros da arte abstrata, e seu trabalho é altamente considerado por sua originalidade e criatividade. Suas pinturas podem ser encontradas nos principais museus e galerias de todo o mundo, incluindo o Centre Pompidou em Paris, o Museu de Arte Moderna de Nova York e o Museu de Belas Artes de Houston.

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silêncio
o passeio das nuvens
e mais nenhum pio

Alonso Alvarez

Terá o anarquismo o mesmo destino que o comunismo, na Indonésia?

A polícia está detendo aqueles rotulados de “anarcos”, enquanto livros são, mais uma vez, coletados como evidência. Estará a Indonésia testemunhando o retorno de velhos hábitos autoritários?

Por Fadiyah Alaidrus | 18/09/2025

Jorgiana Augustine (28), estudante de pós-graduação em Direito que trabalha como assistente jurídica voluntária, participa do Dia do Trabalhador em Jacarta vestindo somente uma camiseta azul, leggings e uma bolsa tipo sling. Jorgiana, também conhecida como Oji, planeja sair com os amigos depois do evento, esperando que a manifestação permaneça pacífica, ao contrário de muitos protestos recentes em Jacarta. A atmosfera festiva, com bandas se apresentando em um palco na frente do prédio da Câmara dos Deputados, parece confirmar o seu otimismo.

Ela não esperava que a sua participação a tornasse suspeita, com a mídia nacional a identificando como uma “intrusa anarquista” no protesto. Essa caracterização surgiu depois que a polícia deu uma entrevista coletiva, fazendo tais alegações.

“O uso do termo ‘intrusa anarquista’ carrega uma conotação negativa, fazendo parecer que a palavra ‘anarquista’ é criminosa, quando na verdade é apenas uma ideologia ou ideia”, diz Oji.

Oji é uma das 14 pessoas presas e acusadas no Dia do Trabalhador; em Jacarta, incluindo três dos seus colegas paramédicos. Nos protestos do Dia do Trabalhador em Bandung e Semarang também foi alegado haver infiltração por algum coletivo anarquista, levando outros a se tornarem suspeitos.

Embora a Indonésia não proíba as pessoas de terem uma ideologia anarquista ao contrário do comunismo ou do marxismo-leninismo, a polícia costuma rotular os manifestantes detidos como parte do movimento anarquista. No entanto, Oji nunca fez parte de nenhum coletivo anarquista.

Oji apresentou queixa ao Conselho de Imprensa sobre a cobertura da mídia que a identifica como “intrusa anarquista”. Embora isso tenha levado um veículo de comunicação a alterar a manchete, muitas publicações mantiveram a sua abordagem original. Oji quer fazer com que a plataforma de mídia entenda que é um problema continuar usando os termos “anarquista” e “intrusa” para identificar manifestantes ou o pessoal de suporte.

Cho Yong Gi (22), paramédico que se tornou suspeito no protesto do Dia do Trabalhador, diz que logo após ser detido pela polícia, foi questionado se era parte do movimento “anarco” ou não. “Foi a segunda pergunta depois de pedir minha identidade”, diz.

Anarquismo na Indonésia

A Instituição Policial da Indonésia publica uma série de vídeos chamada “Resposta da Polícia: Caos, Polícia Persegue Anarquistas” no site oficial. A série afirma que grupos anarcossindicalistas provocaram algumas manifestações e as levaram ao caos, nos últimos anos, citando como exemplos os últimos protestos do Dia do Trabalhador em Jacarta, Bandung e Semarang.

“Grupos anarquistas geralmente têm a característica distinta de invadir protestos, [como] vestir roupas totalmente pretas, distribuir propaganda por meio de panfletos ou grafites, destruir símbolos do Estado ou instalações públicas”, diz a narração da série. O vídeo explica três abordagens policiais ao movimento anarquista: “inteligência, prevenção e repressão proporcional” que, segundo a publicação, ajudam a equilibrar a liberdade de expressão com a ordem pública.

Recentemente, a Instituição Policial e Militar também foi ordenada pelo presidente Prabowo Subianto a tomar medidas firmes contra “ações anarquistas”. Recentemente, a Instituição Policial e Militar também recebeu ordens do presidente Prabowo Subianto para tomar medidas firmes contra “ações anarquistas”.

Quando solicitamos uma entrevista com dois funcionários da Instituição Policial da Indonésia, bem como com seu departamento de relações públicas, nenhum deles respondeu até a publicação deste artigo.

Ferdhi Putra, pesquisador independente e escritor sobre o movimento anarquista na Indonésia, afirma que o movimento anarquista cresceu desde a Reforma de 1998, e agora pode ser encontrado tanto em áreas urbanas quanto rurais em todo o país. No entanto, existe um equívoco sobre o movimento de que “anarquismo é violência, então qualquer pessoa que cometa violência é chamada de anarquista”.

A polícia já havia usado o rótulo “anarco” para descrever manifestantes em Yogyakarta em 2018, com 11 pessoas detidas. Contudo, Ferdhi argumenta que isso se tornou um padrão sistemático depois que o então chefe da Polícia Nacional, Tito Karnavian, declarou que a instituição abordaria o “problema anarcossindicalista” da Indonésia.

A declaração foi feita depois que a polícia regional de Bandung prendeu 619 pessoas que vestiam roupas pretas, depois as despiu publicamente e raspou as cabeças. A luta da instituição policial de Java Ocidental contra a comunidade anarco em Bandung continua até hoje, pois afirmam que “os anarco são inimigos comuns” no site oficial.

Ferdhi diz que o movimento anarquista na Indonésia é muito diversificado. Embora alguns usem o vandalismo como tática, principalmente contra símbolos de autoridade, como delegacias de polícia, nem todo vandalismo vem do movimento anarquista.

Com o padrão atual, Ferdhi argumenta que o movimento anarquista pode ser um novo “comunismo”, no sentido de que a autoridade identifica um inimigo comum com base na ideologia. “Isso é uma repetição. Eles (a autoridade) costumavam ter como alvo os comunistas, depois os terroristas e agora os anarquistas”, diz ele.

O desafio para as autoridades, explica Ferdhi, é que os anarquistas não têm uma organização, estrutura ou líder, ao contrário do comunismo na Indonésia. “As autoridades estão confusas para identificar quem é o responsável pelo movimento”, diz Ferdhi.

Asfinawati, professora de direito e acadêmica da Faculdade de Direito Jentera da Indonésia, argumenta que as autoridades indonésias ainda operam com a mentalidade antissubversiva da era da Nova Ordem do presidente Suharto. Durante esse período, atividades “subversivas” eram proibidas e as autoridades podiam invadir e confiscar materiais impressos, incluindo livros. As leis antissubversivas foram revogadas em 1999, e o direito de apreensão de livros terminou em 2010.

“A polícia ainda adere a conceitos autoritários nas instituições. Essa indicação fica mais ressaltada ainda nos casos de anarquistas”, diz Asfinawati. “Eles não sabem que agora temos liberdade de pensamento. Mesmo sendo anarquista, desde que não cometa crime, não há problema.”

Ela vê a narrativa anarquista como parte de um padrão antigo. “Em 1965, o comunismo era nosso inimigo comum. Sob Susilo Bambang Yudhoyono, eram as minorias religiosas, como ahmadiyah ou xiitas. Depois, veio a comunidade LGBT.”

Andi Achdian, historiador e professor da Universidade Nacional de Jacarta, oferece uma perspectiva diferente, argumentando que o anarquismo não pode ser comparado ao comunismo indonésio porque o comunismo tinha raízes históricas profundas e um poder político significativo por meio de um partido que já foi um dos maiores do mundo.

“Ele (o anarquismo) não tem uma raiz histórica forte”, diz Andi.

Símbolos como alvo

Rio Imanuel Adolf Pattinama (28), rapper, foi preso com amigos após fazer grafites com a frase “sudah krisis, saatnya membakar” (A crise já existe, é hora de queimar). Logo, eles foram presos e rotulados como “anarquistas”.

Durante o interrogatório policial, os policiais perguntaram repetidamente quem liderava o movimento anarquista. Rio e seus amigos foram posteriormente condenados por “notícias falsas, causando deliberadamente agitação entre o povo” e presos em 2020. As provas usadas contra eles incluíam uma camiseta preta com o símbolo do Círculo A e alguns livros, incluindo um livro escrito por Tan Malaka, um herói nacional, intitulado “Ação em Massa”.

“Sempre que há caos, é rotulado como anarquista, mesmo que não haja base legal”, diz Rio. “Os anarquistas se tornaram o novo bode expiatório para substituir o PKI (Partido Comunista da Indonésia).”

Ao contrário do rótulo comunista, que pode levar a grave discriminação social e exclusão, Oji diz que a designação anarquista não criou um estigma social significativo na vida cotidiana. “A verdadeira desvantagem é que isso impede as pessoas de estudar diferentes perspectivas e ideologias”, explica ela.

Oji e três colegas enfrentam acusações ao abrigo de dois artigos do Código Penal, desobediência à autoridade (artigo 216) e aglomeração e recusa deliberada de sair do local após três ordens da autoridade (artigo 218). Por outro lado, Oji está processando a polícia por alegada violência sexual e os seus três colegas estão processando a polícia por alegados abusos durante a sua detenção. Ambos os casos, nos quais são suspeitos e relataram o processo de prisão, ainda estão em andamento.

Apesar dos problemas legais, continuam trabalhando como paramédicos em manifestações durante o jovem governo de Prabowo Subianto. Enquanto isso, a polícia continua prendendo centenas de manifestantes e rotulando-os como grupos anarquistas, como visto nos incidentes recentes de agosto.

Entramos em contato e solicitamos entrevistas com o chefe da Divisão de Relações Públicas da Polícia Nacional da Indonésia, Trunoyudo Wisnu Andiko, em 19 de agosto; com Ade Ary Syam Indradi, o policial que rotulou os casos de Jorgiana Augustine e Cho Yong Gi como “anarquistas”, em 26 de agosto; e com o assessor de imprensa Jihan Isnaini no mesmo dia. Trunoyudo e Ade Ary não responderam. Jihan inicialmente respondeu à minha primeira mensagem, mas parou de responder depois que mencionei o assunto do pedido de entrevista.

Fonte: https://magdalene.co/story/will-anarchism-face-the-same-fate-as-communism-in-indonesia/

Tradução > CF Puig

agência de notícias anarquistas-ana

Soneca da tarde.
Uma brisa companheira
chega sussurrando.

Alberto Murata

[Reino Unido] Dois caminhos diferentes para a paz mundial?

Erich Mühsam e Bertha von Suttner, antimilitarismo anarquista e pacifismo organizado

Bernd Drücke, ZivilCourage ~

A equipe editorial da Civil Courage me pediu para descrever as posições anarquistas e antimilitaristas de Erich Mühsam e demonstrar as diferenças entre pacifismo e antimilitarismo anarquista. Gostaria de responder a essa pergunta com a ajuda de Mühsam e de outra figura histórica: Bertha von Suttner. Ela é um ícone do pacifismo organizado, enquanto a vida e a obra de Mühsam são homenageadas principalmente por anarquistas e antifascistas.

Bertha von Suttner

A pacifista austríaca Bertha von Suttner, nascida em 1843, é homônima da Fundação Bertha von Suttner. Ela foi a primeira mulher a receber o Prêmio Nobel da Paz e foi a mulher a que inspirou Alfred Nobel, o inventor da dinamite, a criar o prêmio. O seu livro, sucesso em 1889, “Lay Down Your Arms” (Abaixar armas), é um romance sobre os horrores da guerra da sua época. Como muitos pacifistas de hoje, apela aos governos, pedindo o desarmamento geral e a resolução pacífica de disputas com base no direito internacional. O livro a tornou uma estrela do movimento pela paz, e inspirou a fundação da “Sociedade Austríaca dos Amigos da Paz”, em 1891. A base social dessa sociedade, que se considerava “apolítica”, era a nobreza liberal. Isso também se aplicava à Sociedade da Paz, fundada em Berlim, em 1892, cuja organização sucessora, a Sociedade Alemã da Paz – Resistência Unida à Guerra (DFG-VK), é hoje a maior organização pacifista da Alemanha.

Erich Mühsam

Erich Mühsam, nascido em 1878, foi inspirado, entre outros, pelos anarquistas russos Peter Kropotkin, Mikhail Bakunin e Leon Tolstoy. Junto com Gustav Landauer, Rudolf Rocker e Ernst Friedrich, ele foi um dos anarquistas alemães mais influentes da sua época. Mühsam era judeu, mas, como ateu, abandonou o judaísmo.

Como escritor, ficou famoso pelos textos satíricos. Os seus poemas, como “Obedecer significa mentir” e “O limpador de lâmpadas”, foram interpretados musicalmente por Konstantin Wecker, Harry Rowohlt, Christoph Holzhöfer, Slime e Dieter Süverkrüp, entre outros.

Na Primeira Guerra Mundial, tentou, sem sucesso, estabelecer uma “Liga Internacional de Opositores à Guerra”. Em 1915, foi condenado a 6 meses de prisão por se recusar a servir no exército. Foi colaborador, entre outros, da revista “Der Sozialist”, publicada pelo anarcopacifista Gustav Landauer, e da “Weltbühne”, editada por Carl von Ossietzky.

Como agitador social revolucionário, desempenhou papel fundamental na proclamação da República Soviética de Munique, em 1919. Por isso, cumpriu 5 anos de prisão. Foi editor da revista mensal anarquista “Fanal”, de 1926 até sua proibição, em 1931, por “desprezar o governo do Reich”.

Em 28 de fevereiro de 1933, o conhecido antifascista foi preso e, após encarceramento e tortura, brutalmente assassinado por homens da SS no campo de concentração de Oranienburg em 10 de julho de 1934.

Mühsam e Suttner

Particularmente interessante do ponto de vista antimilitarista é “Cain”, a revista anarquista “para a humanidade” (subtítulo), que Mühsam publicou entre 1911 e 1919. A publicação foi interrompida na Primeira Guerra Mundial, em razão da censura à imprensa.

Após a morte de Bertha von Suttner, Mühsam publicou um obituário da ganhadora do Prêmio Nobel na edição 4 da “Kain”, em julho de 1914. Ele homenageou a sua postura e enfatizou o objetivo comum, a “paz mundial”. Além disso, abordou as diferenças entre pacifismo e antimilitarismo anarquista: “Não acreditamos na compreensão internacional entre os Estados, pois sabemos que os Estados representam demarcações hostis entre os países”. Mühsam estava convencido de que as populações, e não os governos, eliminariam as guerras. “Os Estados capitalistas têm interesses capitalistas, e os interesses capitalistas nada sabem sobre ideais. (…) Enquanto houver Estados e exércitos, haverá guerras. Assumimos o grito de guerra de Bertha von Suttner, mas não o transmitimos aos governantes e governos e, sim, aos povos e exércitos: Larguem as armas!”

Mühsam lutou por toda a sua vida pela revolução social e por uma sociedade socialista liberal. Como anarquista, via a principal causa da guerra no Estado, no domínio do homem sobre o homem, no sistema de comando e obediência que torna possível o assassinato em massa por ordens superiores.

No Império Alemão, a militarização começava já no jardim de infância. As crianças eram duramente testadas para antissemitismo, com castigos físicos e para uma obediência cega ao estilo prussiano.

Na época de Mühsam, a Sociedade Alemã pela Paz (DFG) era uma organização elitista dominada por aristocratas e patronos da classe alta. Não apoiava desertores e objetores de consciência, defendendo amplamente uma suposta “guerra defensiva”. Assim como o SPD, muitos desses pacifistas burgueses não queriam abolir as forças armadas, apenas democratizá-las. Mühsam ridicularizou os “congressos da paz” que realizavam, no poema “Calendário 1913”, em Brennende Erde (“Terra em Chamas”), Munique, 1920:

Como as coisas no mundo são ruins

Isso é determinado em congressos.

As pessoas bebem, dançam, conversam alegremente,

e tudo continua como está.”  

O rifle quebrado

O rifle quebrado, agora também usado por pacifistas e antimilitaristas não anarquistas, foi um símbolo usado quase exclusivamente por anarquistas antimilitaristas até o fim da Primeira Guerra Mundial. Serviu não só para agitar contra o militarismo, o que foi frequentemente criminalizado pelo Império Alemão, e pela objeção de consciência, a deserção e a sabotagem na produção de armas, mas também como um símbolo de identificação. A partir de janeiro de 1909, os anarquistas holandeses da “Internationale Anti-Militaristische Vereniging” (Associação Antimilitarista Internacional) utilizaram o rifle quebrado no título da revista “De Wapens neder” (Holanda). O jornal anarcocomunista “Der Freie Arbeiter” também o apresentou, em manchete de abril de 1909. Após a Primeira Guerra Mundial, o símbolo do rifle quebrado também apareceu frequentemente nas capas do semanário anarcossindicalista “Der Syndikalist” e em revistas anarquistas juvenis.

WRI

Em 1921, a Internacional de Resistência à Guerra (War Resisters’ International, WRI) foi fundada na Holanda, inicialmente sob o nome “Paco” (palavra em esperanto para ‘paz’). A WRI é uma rede de antimilitaristas, pacifistas e objetores de consciência anarquistas e não anarquistas. Os membros incluem 90 organizações em 40 países, incluindo a Fundação Alemã de Pesquisa (DFG-VK), a IdK e, desde 1972, a revista mensal anarquista não violenta Graswurzelrevolution (“Revolução Popular”).

Apesar de todas as diferenças entre pacifistas e antimilitaristas anarquistas, muitos, hoje, concordam com o rifle quebrado como símbolo e com a Declaração da WRI como máxima para a ação: “A guerra é um crime contra a humanidade. Portanto, estou firmemente determinado a não apoiar nenhuma forma de guerra e a lutar para eliminar todas as causas da guerra”.

Vamos trabalhar juntos para impedir a guinada à direita e a remilitarização e fazer valer o direito humano à objeção de consciência e o direito ao asilo para desertores.

Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/09/07/two-different-paths-to-world-peace/

Tradução > CF Puig

agência de notícias anarquistas-ana

passeio de madrugada
os meus sapatos
empapados de orvalho

Rogério Martins

[Itália] Não confiamos nas amnésias de Nordio! Voltamos às ruas contra a renovação do regime 41 bis para Alfredo Cospito!

Desde maio de 2022, o companheiro anarquista Alfredo Cospito foi transferido para o regime prisional de 41 bis. O cárcere duro que prevê uma socialidade extremamente restrita, a censura permanente sobre a correspondência e diversos impedimentos para o acesso a livros. Refeitórios realizados rigorosamente com familiares autorizados, separados por um vidro à prova de balas. Uma área de passeio projetada para limitar seu olhar com muros altos até o céu e uma rede como teto. Uma pressão constante do Estado sobre o detento, seus familiares, seus advogados. Uma única mensagem para todos aqueles que são forçados a orbitar em torno desse universo: o que acontece no 41 bis não pode ser comunicado. O objetivo é destruir o prisioneiro, torturá-lo a ponto de levá-lo à colaboração. Um dogma intocável que não é questionado nem mesmo diante da morte.

Um regime – visto pelo próprio direito burguês que o criou como uma exceção a si mesmo – cuja renovação deve necessariamente ser endossada pelo Ministro da chamada “Graça e Justiça”, por meio de um decreto motivado que justifique sua prorrogação. Esse trâmite administrativo soaria como uma boa notícia, considerando que o encarregado desse dicastério é Carlo Nordio. Um homem afetado por uma desmemória crônica, presa de amnésias fulgurantes que o levam a repatriar, com voos de Estado, notórios torturadores como o general líbio Almasri, esquecido, subitamente, dos mandados de prisão pendentes contra ele por cortes internacionais.

Infelizmente, a patologia de que sofre o ministro é objetivamente seletiva e ataca apenas quando algum poderoso tem algo a perder. Portanto, para o destino prisional do companheiro Alfredo Cospito, há pouca esperança na doença de Nordio. Afinal, Alfredo não é procurado por crimes de múltiplos homicídios de pessoas em condição de defesa diminuída (detentos nas prisões que o general administrava, presos principalmente por terem tentado clandestinamente fugir dos horrores e da miséria de seus lugares de origem), não é acusado de sevícias e estupros, praticados com maior sadismo em prisioneiros acusados de ateísmo ou homossexualidade, visando à extorsão, não é chefe de bandos de milicianos a soldo do poder e do dinheiro. Sobretudo, não é acusado de ter feito isso e muito mais a serviço do imperialismo italiano, internando e torturando refugiados em nosso nome e combatendo sua parte da guerra civil pelas facções patrocinadas por nosso país e pela Eni [multinacional petrolífera italiana].

Alfredo é, ao contrário, um anarquista que acredita, como acreditam os anarquistas, que um pouco de justiça, diferente daquela comumente chamada de lei, pode realmente ser trazida a este mundo condenado, afetado por lógicas de dominação. Por isso, reivindicou ter baleado as pernas, em uma esplêndida manhã de maio de 2012, de um dos maiores dirigentes da energia nuclear na Itália. Alfredo é um anarquista e, como os anarquistas, como a companheira Anna Beniamino, não se deixa dobrar por um Estado que primeiro os acusa e depois os condena com acusações totalmente desproporcionais, como a de “massacre político”, permanecendo de cabeça erguida e, ainda que submetidos a um processo farsante, reafirmando por meio de declarações espontâneas a verdadeira natureza massacrante do Estado italiano.

Alfredo, portanto, não é um líder e não ocupa cargos de chefia. Os anarquistas não têm chefes nem hierarquias. É apenas um homem coerente em um mundo no qual a coerência assusta.

Por isso Alfredo não usufruirá das amnésias seletivas dos poderosos. Para tirá-lo do 41 bis, é necessária a nossa determinação.

Fonte: https://lanemesi.noblogs.org/post/2025/09/20/non-ci-affidiamo-alle-amnesie-di-nordio-torniamo-in-piazza-contro-il-rinnovo-del-41-bis-ad-alfredo-cospito/  

Tradução > Liberto

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brilha o grampo
ou ela tem no cabelo
um pirilampo?

Carlos Seabra

[Itália] O conceito de liberdade – Confronto entre individualismo burguês e socialismo anarquista

Trecho do opúsculo “As bases morais da anarquia” (1904)


por Pietro Gori

O conceito de liberdade tem se transformado de forma cada vez mais rápida. Assim como não existe no mundo moral o livre-arbítrio, senão como uma ilusão herdada dos nossos sentidos, também não existe, em sentido absoluto, uma autonomia completa do indivíduo na sociedade. O instinto de sociabilidade, desenvolvido aos poucos no ser humano com o avanço da civilização, tornou-se uma necessidade fundamental da espécie em seu desenvolvimento contínuo, e reconhece hoje no princípio da associação a alavanca mais firme e eficaz para impulsionar a humanidade no caminho ascendente de seus melhores destinos — tanto pelos esforços individuais quanto coletivos.

Daí nasce a concepção moderna e sociológica da liberdade, que, mesmo encontrando na mútua dependência das relações entre indivíduos uma leve limitação da independência absoluta de cada um, encontra ao mesmo tempo, na solidariedade social fortalecida e cada vez mais complexa, sua defesa e sua garantia — de modo que, em vez de ser diminuída, a liberdade se sente ampliada.

Se o homem selvagem, no estado antissocial, parece à primeira vista mais livre, é incomparavelmente mais escravo das forças brutas do ambiente que o cerca do que o homem associado, que encontra no apoio de seus semelhantes a salvaguarda de seus direitos.

Mas a associação, no sentido de agrupamento orgânico das várias “moléculas” sociais, ainda não existe. Pois na sociedade atual não há fusão espontânea de elementos homogêneos, mas uma amálgama disforme de princípios e interesses contraditórios.

Ao princípio da egocracia, no campo econômico e político (visto que a exploração e o domínio de classe não são senão consequência disso, pela solidariedade instintiva das duas forças dominadoras: o dinheiro e o poder), está se sobrepondo, no lento e subterrâneo processo de elaboração de uma nova forma e de uma nova alma social, o princípio do apoio mútuo — mais conforme ao desenvolvimento de uma evolução avançada que pareceu interrompida, apenas aparentemente, por essa parêntese sombria e ao mesmo tempo esplêndida que foi o século XIX.

Esplêndida, porque a concorrência desenfreada entre indivíduos e classes, que representou — no plano econômico — um verdadeiro retorno ao individualismo selvagem primitivo, criou os milagres da mecânica, da indústria, da engenharia moderna.


Sombria, porque as obras gigantescas dessa luta, travada a golpes de bilhões contra a natureza resistente, custaram milhões de vidas humanas — nobres existências anônimas, extintas após sofrimentos indizíveis, com músculos drenados de toda força e vitalidade sob o jugo do trabalho assalariado. Assim, pode-se dizer que o colossal edifício da civilização burguesa — que certamente terá um lugar notável na história do progresso material e científico da humanidade — foi construído com esse cimento de vidas operárias, e a grande alma coletiva das classes trabalhadoras pulsa no organismo infinito de toda a produção moderna, como se a força vital daquelas vidas sacrificadas no e pelo trabalho tivesse sido transfundida nas coisas criadas pelo próprio labor.

Dessa nova condição de atividade e de esforços associados — graças aos meios de produção transformados, nos quais reinam soberanas a grande máquina e a grande oficina — ergue-se triunfante o novo princípio jurídico de um direito social sobre o produto gerado pelo trabalho coletivo.

Não se trata mais das lamentações sentimentais dos santos padres da Igreja contra a iniquidade que, pisando a maioria, separa uns dos outros os filhos de Deus — como dizia João Crisóstomo.


Tampouco se trata das declarações “naturianas” dos pré-rafaelitas do socialismo simplista, que reclamavam para cada um sua parte de terra, pão e sal — distribuídos por uma natureza-mãe a todos em comum.
Não são as invectivas ascéticas dos antigos comunistas, diante dos temores milenaristas; nem as declarações filosóficas e abstratas dos enciclopedistas sobre os direitos do homem, ante a aurora vermelha de 1789.


É algo mais — e melhor: a maturação de certos fatos e a evolução completa de certas formas.

Nunca como agora, por força da divisão do trabalho na grande indústria e na fábrica mecanizada, o operário esteve tão estreitamente ligado a outros operários, os ofícios a outros ofícios, as artes entre si — graças à mútua dependência e à cooperação coordenada dos esforços, dos quais se origina um resultado muito superior à simples soma das forças individuais. A associação desses esforços para aumentar a produção foi, pouco a pouco, criando não apenas os laços materiais que hoje unem indissoluvelmente os trabalhadores, mas também laços morais — primeiro imperceptíveis, depois cada vez mais firmes, por serem mais conscientes.

E já que a revolução — agora completa — causada pela mecânica em todas as artes e ofícios, socializando o esforço das mãos operárias antes isoladas, já elaborou o esqueleto de um mundo novo, em que a socialização do esforço, sem o gozo do produto por quem se sacrificou, deve ser completada pela socialização dos frutos desse mesmo produto, declarado de direito e de fato como patrimônio comum de toda a sociedade, então uma correspondente revolução nas consciências e nas forças proletárias completará o lento trabalho dessa transformação dos vínculos econômicos e morais entre os homens, integrando a estrutura social ideal que represente o oásis de descanso onde a humanidade, após milênios de sofrimento e dor, possa recobrar o fôlego da árdua caminhada — e onde os dois instintos fundamentais do ser humano, autopreservação e preservação da espécie, possam enfim encontrar uma forma de se conciliar após longo conflito.

Onde o homem, para conquistar seu bem-estar, não precise — como os poderosos de ontem e de hoje — passar por cima do corpo de seus semelhantes; pois isso não seria liberdade, mas a perpetuação da tirania sob outra forma. À violência dos governos, sucederia a violência do indivíduo — expressões igualmente brutais da autoridade do homem sobre o homem.

A liberdade de cada um só é possível na liberdade de todos, assim como a saúde de cada célula só é possível na saúde do organismo inteiro.

Fonte: https://umanitanova.org/il-concetto-di-liberta-individualismo-borghese-e-socialismo-anarchico-a-confronto/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

um gato perdido
olha pela janela
da casa vazia

Jeanette Stace

[Chile] Indonésia, Nepal, França: A insurreição é uma linguagem comum – Rede de Luta e Propaganda

INDONÉSIA

Em 25 de agosto de 2025, na Indonésia, a raiva explode em múltiplas cidades contra os privilégios obscenos da classe política: subsídios parlamentares excessivos, um aumento de impostos sobre propriedade de até 250%, projetos de austeridade, corrupção e brutalidade policial. Um dos estopins foi a aprovação de um subsídio habitacional mensal para parlamentares de 50 milhões de rúpias, quase dez vezes o salário médio em Jacarta, o que desencadeou a indignação contra os privilégios da classe política.

As mobilizações derivaram em ataques violentos contra a polícia, saques de casas de parlamentares, destruição de edifícios governamentais, o que gerou como resposta uma forte repressão, incluindo ciberataques a páginas de contrainformação e meios alternativos. Em 28 de agosto, confirmou-se a primeira morte (um motociclista atropelado por um blindado policial), agudizando ainda mais o descontentamento.

NEPAL

Em 8 de setembro, desencadearam-se protestos massivos e violentos no Nepal, conhecidos como a “Revolução da Geração Z”. O estopim foi a proibição, por parte do governo, de 26 redes sociais (entre elas Facebook, Instagram, YouTube, WhatsApp, X e Signal), com o objetivo de controlar a organização juvenil e frear a difusão de críticas e convocações que escapavam de seu controle político. No entanto, o governo disfarçou isso como uma medida de “segurança nacional” e “proteção contra a desinformação”. Esta foi a faísca que acendeu um mal-estar mais profundo e acumulado durante anos: a corrupção sistêmica, o nepotismo político, as reformas neoliberais que privatizaram tudo, a precariedade e o aumento do custo de vida.

As mobilizações derivaram em marchas, barricadas, enfrentamentos com a polícia e rapidamente em uma insurreição materializada em ataques a edifícios governamentais, incêndios e assaltos a prisões com fuga de presos, funcionários fugindo em helicópteros ou pelo rio em meio aos distúrbios. A magnitude da violência derrubou o governo e o primeiro-ministro K.P. Sharma Oli renunciou, evidenciando uma profunda crise de legitimidade das classes políticas.

FRANÇA

Em 10 de setembro passado, na França, viveu-se uma grande mobilização convocada pelo movimento “Bloquons Tout” (“Vamos Bloquear Tudo”), em rejeição a um novo orçamento de austeridade para 2026, que corta bilhões de euros do gasto público, reduzindo pensões, gastos em educação e saúde, eliminando também feriados e benefícios trabalhistas. Cortando assim direitos sociais para equilibrar orçamentos e proteger os interesses do mercado. As mobilizações coincidiram com a chegada do novo primeiro-ministro Sébastien Lecornu.

Bloquearam ruas, transportes e fábricas, levantaram barricadas e enfrentaram-se fortemente com a polícia. Esses protestos somam-se a um ciclo mais longo de descontentamento social na França: desde a revolta pela morte de Nahel Merzouk, um jovem de 17 anos morto pela polícia em junho de 2023, até a resistência contra as políticas de corte de gastos públicos.

Os protestos no Nepal, Indonésia e França, embora desencadeados por motivos distintos, são expressões de uma mesma crise global do capitalismo. Todos compartilham a raiva contra governos que se enriquecem às custas das necessidades básicas das pessoas, e a rua como único espaço de resistência capaz de fazer tremer o poder. No Nepal e na Indonésia, a revolta assumiu um caráter insurrecional que inclusive derrubou governos, mostrando que a possibilidade de transformação radical é real e contemporânea. Na França, o protesto é mais recorrente: não derruba o Estado, mas desgasta sua legitimidade e anuncia que novas revoltas voltarão.

Infelizmente, muitas vezes, quando se carece de organização, de coordenações, de projeção e não se constroem alternativas sustentadas, os movimentos se diluem no momento: a rua se apaga, a raiva se dispersa e o sistema não só continua quase intacto, como também aprende com as táticas empregadas pelo protesto para se blindar mediante novas leis e mecanismos de controle que buscam evitar futuros levantes.

A grande incógnita é se essas lutas ficarão em explosões momentâneas ou poderão se converter em lutas capazes de abrir novos horizontes. O certo é que as revoltas se replicam, se contagiam. Desde distintos estrondos sociais nos reconhecemos entre continentes, porque para além de qualquer fronteira sabemos que, enquanto os governos negociarem com nossas vidas, a raiva continuará encontrando caminhos coletivos para irromper nas ruas. Não é preciso entender as línguas quando a insurreição se converte em um idioma comum.

Rede de Luta e Propaganda

Setembro de 2025

Fonte: https://lapeste.org/indonesia-nepal-francia-la-insurreccion-es-un-lenguaje-comun-red-de-lucha-y-propaganda/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

de tantos instantes
para mim lembrança
as flores de cerejeira.

Matsuo Bashô

[França] Tanques da Segunda Guerra Mundial são alvo de pichações na Normandia

Pichações foram descobertas em tanques da Segunda Guerra Mundial na segunda-feira, 22 de setembro de 2025, em Lion-sur-Mer, ao norte de Caen (Calvados).

O incidente foi descoberto na segunda-feira, 22 de setembro de 2025. O tanque Churchill Avre localizado na saída de Lion-sur-Mer (Calvados), em direção a Luc-sur-Mer, na Côte de Nacre (Calvados), foi marcado, provavelmente na noite anterior.

Símbolos anarquistas e pacifistas

O veículo da Segunda Guerra Mundial trazia a inscrição “Nascido para Matar”, bem como o símbolo anarquista e o símbolo de “Paz e Amor”. O tanque localizado em Hermanville-sur-Mer teria sofrido o mesmo destino.

agência de notícias anarquistas-ana

No rosto do opressor,
o reflexo de mil espelhos:
ninguém é só um.

Liberto Herrera

Medo Negro na Ásia: os governos culpam os “anarquistas” pelo descontentamento em massa

Levantes populares nas Filipinas, no Nepal e na Indonésia não precisam de ajuda para não terem líderes

Simoun Magsalin ~

Setembro de 2025 se tornou um mês de Primavera Asiática. Depois da Indonésia, o povo do Nepal se levantou em protestos espontâneos em massa, seguidos por tumultos anticorrupção nas Filipinas. Na esteira dessas revoltas, os governos iniciaram uma “onda de pânico” com o objetivo de perseguir “anarquistas”, independente da real orientação política ou “antipolítica”. Configurado por Trump, Prabowo e muitos outros, o espectro da anarquia causa medo nos corações de todos os governantes.

Embora houve anarquistas realmente participando dos protestos e ações violentas nesses países, continuamos sendo minorias. Não surpreende a ninguém que a grande maioria dos jovens detidos em Manila não tenha essa convicção anarquista. O objetivo do medo negro é simples: suprimir a amok massa (as massas em fúria). Intimidar a nossa classe, quebrar a solidariedade. Não se pode negar, contudo, que o medo desproporcional da invocação da anarquia atinja aos soberanos do mundo. A bandeira negra voa novamente na forma da bandeira pirata de palha do anime *One Piece*.

No Nepal, o repúdio popular à corrupção e decadência das coalizões governamentais maoístas e marxistas-leninistas que se sucederam só poderia significar que a orientação “antipolítica” incluiria a rejeição completa dos partidos comunistas. O Nepal é o país com mais “partidos comunistas” per capita, com partidos marxistas-leninistas e maoístas se alternando regularmente na liderança do governo. Anarquistas e comunistas não partidários começaram a se organizar de forma espontânea, com o objetivo de intensificar a insurreição. Os insurrectos nepaleses levaram as ações além dos incêndios em massa, apreendendo armas e causando o rápido colapso do governo. Quando os militares nepaleses assumiram o controle, começaram a culpar os “anarquistas” pela insurreição. A democracia liberal foi finalmente restaurada por meio da infame eleição Discord, quando outra onda de amok masa diminuiu.

Na Indonésia, onde as massas protestavam contra o regime cada vez mais corrupto e militarizado de Prabowo Subianto, o assassinato de Affan Kurniawan por uma viatura blindada da polícia desencadeou uma onda de amok masa. As insurreições na Indonésia foram marcadas por saques e incêndios de prédios governamentais, delegacias de polícia e mansões de políticos. Sendo o país do sul global com o maior meio anarquista, eles prontamente participaram e intensificaram as insurreições. No final de agosto e início de setembro, Prabowo condenou os “anarquistas”, ordenando uma temporada de caça aberta: uma onda de repressões e prisões de “anarquistas”, fossem quem fossem. Prabowo e as forças de segurança começaram a ver “anarquistas” em todos os lugares, detendo mais de três mil pessoas até meados de setembro, acusando os anarquistas de serem dalang (“mestre de marionetes”) orquestrando as insurreições. Espelhando o genocídio indonésio de 1965-66, o novo “medo negro” teve como alvo livremente anarquistas, insurrectos, estudantes, socialistas e progressistas.

Nas Filipinas, após décadas de desmoralização, a esquerda atingiu um grau quase histórico de baixa popularidade. Embora os atos de vandalismo amplamente divulgados e os confrontos de rua delimitados não tenham provocado uma onda de violência em massa no início de setembro, a insurreição indonésia e a revolução política no Nepal inspiraram muitas facções de esquerda, progressistas, liberais e de direita a programar vários protestos anticorrupção em todo o país, sendo o maior deles a Marcha do Trilhão de Pesos no último domingo (21 de setembro). Como de costume, os comícios contaram com a delimitação básica, policiamento pacífico e autoconfinamento de todas as facções da esquerda. Após o término dos programas de vários grupos, principalmente o BAYAN, de orientação democrática nacional, jovens não afiliados usando máscaras aparentemente começaram brigas de rua com a polícia na ponte Ayala e em Mendiola, historicamente a estrada literalmente disputada para Malacañan, o palácio presidencial. Essa ação direta resultou em uma segunda batalha de Mendiola, que se transformou em tumulto, resultando na prisão de centenas de jovens e transeuntes, sendo mais de noventa menores. Após repressão violenta, o secretário do Interior denunciou os supostos insurrectos como “anarquistas” e descreveu uma história fantasiosa de conspiração de financiadores estrangeiros e sabotadores locais, enquanto os advogados compilavam evidências de tortura.

Mesmo com esses agentes de engodo de vermelhos (ou de negros?) do Estado ou aliados da polícia da esquerda buscando sabotar a solidariedade entre os proletarizados para deslegitimar a insurreição, os asiáticos não se deixam levar. Hoje, o símbolo da rebelião é o pirata de chapéu de palha. Independente de onde sinais e símbolos específicos venham, o seu poder é inspirar, e invocar a anarquia, instilando medo nos corações da classe dominante. Esse medo de amok massa, o medo da anarquia ela mesma, declara ao mundo que a insurreição e a revolução continuam possíveis.

Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/09/25/black-scare-in-asia-governments-blame-anarchists-for-mass-discontent/

Tradução > CF Puig

agência de notícias anarquistas-ana

Canção sem letra:
assobio nos becos
desafia hinos de Estado.

Liberto Herrera

Apoie a ABC-Moscou na evacuação de anarquistas perseguidos da Rússia

Este ano, a ABC-Moscou realizou três evacuações bem-sucedidas de anarquistas que enfrentavam acusações criminais na Rússia. As forças de segurança queriam enviar esses militantes para centros de detenção provisória, mas, em vez disso, permanecem livres, embora forçados ao exílio.

Cada evacuação é difícil e cara. Envolve logística complexa: atravessar fronteiras, novos telefones e cartões SIM, transporte, alojamento, vistos e dinheiro para as primeiras semanas. Só nos últimos meses, isso custou cerca de 3.000 euros. Ainda é necessária mais ajuda — continuamos a receber pedidos de pessoas ameaçadas de processo judicial.

Segue a história de camarada evacuado:

“Estava envolvido em atividades da militância e, por causa disso, agentes do FSB [Serviço de Segurança Federal] vieram revistar minha casa. Eles me levaram para a delegacia e, depois de interrogatórios, me colocaram [informalmente] em prisão domiciliar, sem fornecer nenhum documento oficial. No meu celular, encontraram correspondência com uma organização clandestina e fui acusado de ‘treinamento para atividade terrorista’.

Para evitar a prisão, ofereceram cooperação. Fingi concordar, mas não traí ninguém, enquanto secretamente me preparava para fugir do país.

Entrei em contato com a ABC, e fui instruído sobre como sair da Rússia com segurança. A fuga foi bem-sucedida, mas, no primeiro país a que cheguei, ainda havia o risco de ser preso a pedido da Rússia. A ABC pagou meu voo para um país mais seguro, me ajudou a encontrar moradia temporária, forneceu dinheiro e agora está me ajudando a obter um visto humanitário em um país da UE.”

No momento, não temos mais dinheiro para evacuações. Nossos fundos estão esgotados e acumulamos uma dívida de mais de 2.000 euros com apoiadores. Por isso, não podemos ajudar novos camaradas procurando suporte. Para continuar evacuando pessoas, precisamos de ajuda financeira urgente.

Cruz Negra Anarquista de Moscou

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Importante: os serviços de segurança russos consideram os grupos ABC “organizações indesejáveis”. Compartilhar esta mensagem pode ser tratado como infração administrativa, e fazer doações para nós pode ser tratado como ato criminoso. Somente nos apoie se estiver seguro fora da Rússia ou se puder fazer uma transferência anônima (p. ex., em Monero).

Tradução > CF Puig

agência de notícias anarquistas-ana

cumes
de cúmulos
se acumulam

Alberto Marsicano

Palestina-Israel: a solução de dois estados não é o caminho para a resolução do conflito

Com o recente reconhecimento por parte de vários países ocidentais, entre os quais Portugal, do Estado palestino, cabe perguntar qual a sua eficácia para resolver o conflito naquela zona do globo. Praticamente sem território autônomo, dada a colonização israelita da Cisjordânia e a destruição da faixa de Gaza, sem continuidade geográfica, a impossibilidade da construção de um Estado palestino, para além do seu simbolismo, é evidente.

Para os anarquistas, a solução só poderá passar por uma nova configuração que permita que todos os povos que ali vivem, independentemente da sua origem, religião ou filiação, possam viver em conjunto, com direitos iguais para todos. Isto não se fará com a existência nem da Palestina, nem de Israel, mas sim com uma nova entidade regional. É nesse sentido que vai o recente comunicado da Federação Anarquista Francófona, emitido após o reconhecimento do Estado palestino pelo governo de Macron, e cuja tradução para português publicamos.

“Palestina–Israel: O Estado é tão útil como um buraco na cabeça

Nesta segunda-feira, 22 de setembro de 2025, após várias procrastinações e adiamentos, o presidente francês Emmanuel Macron anunciou que a França reconhece o Estado palestino. Não nos deixemos enganar pelas agendas políticas e geopolíticas e pelas segundas intenções dos poderosos. Esta declaração, na qual Macron fala prontamente de “urgência absoluta” ou de “bombardeamentos em Gaza”, evitando convenientemente o termo genocídio, infelizmente não porá fim ao conflito israelense-palestino.

A situação em Gaza, na Cisjordânia ocupada, no Líbano, etc., deteriora-se dia a dia. Quando um exército como as Forças de Defesa de Israel (IDF) bombardeia, mata e fere dezenas de milhares de pessoas desarmadas sob o pretexto de aniquilar o Hamas, com um plano declarado de limpeza étnica, estamos de fato a testemunhar um genocídio. O termo é agora consensual entre ONGs e jornalistas sérios em todo o mundo.

Os habitantes de Gaza estão a morrer de fome porque o exército de ocupação está a impedir a entrada de ajuda humanitária. Inúmeros médicos relataram caso de “emagrecimento muito severo, com perda significativa de peso e massa muscular”. A Anistia Internacional confirmou num seu comunicado à imprensa de 18 de agosto de 2025 que Israel está a conduzir uma “campanha deliberada de fome” em Gaza. Até mesmo a ONU havia pedido, alguns dias antes, que Gaza fosse provida de ajuda alimentar para evitar a fome. Aqui, novamente, é necessário usar as palavras certas: o exército israelense está a usar a fome como arma de guerra.

As potências “vitoriosas” da Segunda Guerra Mundial estabeleceram, ao final desta, um novo equilíbrio de poder no mundo. Dividiram o bolo entre si.

A partir da Assembleia Geral das Nações Unidas e do Comitê Especial para a Palestina, desde 1947, que Israel e a Palestina têm tentado serem reconhecidos como Estados. Muito rapidamente, Israel foi reconhecido de jure pelos soviéticos e de fato pelos Estados Unidos; o Estado palestino, por sua vez, nunca viu a luz do dia. Apesar disso, pode-se dizer que um protoestado palestino existe desde 1988. De fato, em 15 de novembro desse ano, em Argel, o Conselho Nacional Palestino declarou unilateralmente a independência da Palestina, e quatorze Estados a reconheceram-no imediatamente. Só em 28 de maio de 2024 os primeiros Estados da Europa Ocidental reconheceram o Estado palestino. Foi o caso dos governos espanhol, norueguês e irlandês.

Hoje, a limpeza étnica continua sob o governo israelense de extrema direita. A 15 de agosto de 2025, o governo de Netanyahu discutia com o Sudão do Sul a possibilidade de deportar os habitantes de Gaza – cerca de 2 milhões de pessoas – para aquele país.

A situação atual no conflito palestino-israelense mostra que a formação de um Estado palestino é, pelo menos por enquanto, impossível. O reconhecimento desse Estado anunciado por Macron promete, como o reconhecimento da Espanha, Irlanda ou Noruega, não mudar nada neste quadro ou no destino dos palestinos.

O próprio triste personagem (Macron) refere que “o reconhecimento de um Estado por outros Estados não leva necessariamente à sua existência efetiva “.

Um Estado exclusivamente palestino ou árabe apenas exacerbaria os ódios e as tendências bélicas de ambos os lados e, dadas as forças políticas atualmente em ação, um Estado palestino não se sairia melhor do que seu vizinho em relação aos não palestinos que estariam em seus territórios.

Nesta terra chamada Palestina/Israel, a única solução, após tantos anos de conflito, é uma configuração que permita que todos os povos ali, independentemente de religião ou filiação, vivam juntos. Isso não se dará por meio de dois Estados nacionais, mas por meio de uma entidade única, reconhecendo direitos iguais para todos.

Não se trata de vasculhar nas profundezas de uma história fantasiosa que terá existido há 10, 100 ou 1.000 anos. Devemos nos colocar de acordo no sentido de que todos aqueles que vivem hoje nesta terra (seja qual for o nome que lhe dermos) possam viver juntos em paz. A conclusão do recente folheto da rede Makhno (“Terra Santa, Guerra Sem Fim: A Criação do Estado de Israel na Palestina, Sionismo e Utopias “, ed. du Monde Libertaire, 2025) é inequívoca: “A criação do Estado de Israel é um fracasso humano. Uma verdadeira revolução social e libertária pode resolver definitivamente o conflito israelense-palestino.”

Enquanto isso, e para que todos os palestinos, judeus, muçulmanos, cristãos e outros possam viver juntos, do rio ao mar, devemos continuar a luta para que o Estado israelense ponha fim às colonizações, massacres, exclusões, limpeza étnica, etc.

Devemos pressionar para que os palestinos tenham os mesmos direitos que os israelenses onde quer que vivam nesta terra.

Muito sangue já foi derramado. É preciso acabar com isto

Federação Anarquista Francófona

Segunda-feira, 22 de setembro de 2025″

Fonte: https://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2025/09/25/palestina-israel-a-solucao-de-dois-estados-nao-e-o-caminho-para-a-resolucao-do-conflito/

agência de notícias anarquistas-ana

saltitando
desconfiado sabiá
sabe onde pisa

Yara Shimada

A Muralha do Canto

Não ergam muros de concreto e medo,

Onde o pensamento é réu e é crime,

Onde o futuro é um projeto gélido,

E o passado, uma arma contra o vivo.

Vossa bandeira é um só coração,

Um peito nu contra a suja ilusão

De um líder forte, de um punho de aço,

Que tece teias de ódio e de embaraço.

.

Sois a muralha que não se constrói,

Sois o vento que a rua percorreu,

Sois a voz que o decreto não calou,

O pão que se repartiu, o grão que brotou.

Sois o sim que se nega a obedecer,

A mão que aprendeu a construir e a tecer

Laços de afeto, de apoio mútuo,

O sorriso livre, o canto que é bruto.

.

Eles têm tanques, fardas e temor,

Nós temos a praça, a estrofe, o amor

Feroz daquele que não se vendeu,

E por um mundo sem donos lutou.

Têm a mentira que a história corrói,

Nós a memória dos que não se dobraram,

E em cada esquina, sementes deixaram.

.

Não há cercas que prendam o voo do anseio,

Nem grades que calem o grito do desejo.

O fascismo é a noite, pesada e escura,

Mas é de raiva e luz a nossa procura.

E na fresta mais ínfima do dia,

A utopia teima, teima e arderia.

.

Que vossa força seja de enxada,

De livro aberto, de fala afiada.

Não seguiremos o passo da corja,

Nossa marcha é diversa e não corrói.

Somos o caos que gera a nova ordem,

Sem senhores, sem deuses, por dentro e por fora,

A antítese viva da vossa teia morta.

.

Pois contra o punho, erguemos a mão aberta,

Contra o decreto, a canção que é incerta

E livre como o rio que não pede licença

Para correr, para fertilizar a crença

De que um dia, sem rei e sem patrão,

A liberdade será a única lei e a única nação.

Liberto Herrera

agência de notícias anarquistas-ana

Um sopro de brisa —
A barra da cortina
suave, ondulando…

Guin Ga Eden

[Espanha] Alicia Valdés, Carlos Taibo, Noelia Bueno, Cristina Barrial e Dolors Marín nas jornadas “Agora Anarquia”

Os eventos acontecerão entre setembro e outubro em Navia, Candás, Xixón, Uviéu, Llanes, La Felguera e Mieres.

Alicia Valdés, Carlos Taibo, Cristina Barrial e Dolors Martín participarão das jornadas libertárias “Agora Anarquia” organizadas pela Coordenadora Anarquista Horizontal e pelo jornal Asturies.

O cientista político Carlos Taibo será o responsável por abrir os eventos em Xixón (Casa l´Pueblu, 26 de setembro) e La Felguera (CSA La Xusticia, 27 de setembro) com a apresentação de seus livros “Bakunin frente a Marx” e “Anarquia para jovens (e para quem não é tanto)”.

“A ideia de Emma Goldman e Kropotkin” será o título da conferência que a professora de filosofia da Universidade de Oviedo/Uviéu, Noelia Bueno, fará em 4 de outubro na sede da CNT em Oviedo/Uviéu.

Em 10 de outubro, a também professora de filosofia Alicia Valdés falará sobre o conceito de “posanarquismos” em Xixón. No dia seguinte, haverá uma excursão guiada aos cenários da batalha do Mazucu, em Llanes.

Dolors Marín, autora de “Visionárias, livre-pensadoras e espíritistas”, falará sobre um livro que percorre a vida e as contribuições de mulheres ativistas na Espanha durante o século XIX e início do XX. Se apresentará em La Casa Azul de Navia e La Llocura de Mieres.

As jornadas continuarão com um ato em 24 de outubro em Xixón sobre o movimento Rebelião Científica e a desobediência civil frente às mudanças climáticas, e concluirão com a apresentação do livro da jornalista e antropóloga Cristina Barrial “A trincheira doméstica”, sobre as trabalhadoras do serviço doméstico. Será no CSA La Xusticia de La Felguera.

O programa completo pode ser consultado aqui: https://asturies.noblogs.org/

Fonte: https://www.nortes.me/2025/09/17/alicia-valdes-carlos-taibo-noelia-bueno-cristina-barrial-y-dolors-martin-en-las-jornadas-libertarias-agora-anarquia

agência de notícias anarquistas-ana

Dia de primavera —
Pássaros de dobradura
Pra passar o tempo.

Teruko Oda

Governo Lula fará compra bilionária de helicópteros militares dos EUA

O governo brasileiro vai fechar um negócio bilionário na área militar com os Estados Unidos.

A Aeronáutica anunciou recentemente a decisão de ampliar sua frota militar de helicópteros Black Hawk com a compra de onze aeronaves usadas do Exército norte-americano, modelo UH-60L. 

O contrato, sem licitação, é estimado em quase 230 milhões de dólares — cerca de R$ 1,2 bilhão de reais — e será realizado a partir do programa Black Hawk Exchange Sales Team do Exército dos Estados Unidos.

Além da compra dos novos helicópteros, o negócio envolve a modernização de 24 aeronaves já operadas pelas Forças Armadas brasileiras. 

Fonte: agências de notícias

agência de notícias anarquistas-ana

Ao brilho suave
da lua de primavera
um vulto se aproxima.

Benedita Azevedo

[EUA] Tudo o que o Trump diz sobre a Antifa está errado

Na semana passada, a CNN noticiou que Donald Trump anunciou planos para designar a Antifa como uma “grande organização terrorista”, que descreveu como um “desastre doentio, perigoso e radical da esquerda” e apelou a investigações sobre os seus alegados financiadores. Ontem, Trump assinou uma ordem executiva tornando essa designação oficial. No site da Casa Branca, datado de 22 de setembro de 2025, em Ações Presidenciais, o governo destaca a ordem “Designando a Antifa como Organização Terrorista Doméstica”.

No entanto, a Antifa não é uma organização estruturada, nem mesmo uma organização não estruturada. Talvez seja mais bem descrita como um movimento vagamente afiliado ou mesmo uma ampla identidade cultural e política, tornando tal designação juridicamente obscura e conceitualmente equivocada. Os críticos argumentam que a medida é inconstitucional e politicamente motivada. Nosso projeto, Agency, trabalha para abordar a caracterização errônea das ideias e da organização anarquistas. Sabemos em primeira mão que quase tudo o que Trump diz sobre a Antifa é errado. Desde o primeiro mandato como presidente, Donald Trump tem caracterizado repetida e falsamente a Antifa como organização terrorista doméstica violenta. Trump culpou a Antifa por tudo, desde movimentos de protesto liberais moderados até revoltas urbanas, sem apresentar provas e, muitas vezes, indo em contra o consenso dos especialistas.

A Antifa não é uma organização

Uma das alegações mais persistentes e enganosas de Trump é que a Antifa é uma organização formal. Este recente anúncio do plano para designar a Antifa como organização terrorista não é único. Por exemplo, em tuíte de 31 de maio de 2020, Trump afirmou: “Os Estados Unidos da América designarão a ANTIFA como Organização Terrorista”.

Antifa significa antifascista. É uma ideia com a qual milhões e milhões de pessoas se identificam globalmente. Antifa também se tornou uma abreviação para um conjunto de táticas e abordagens organizacionais para confrontar organizações e manifestações fascistas, e as pessoas que resistem ativamente ao fascismo, à supremacia branca e outras formas de opressão. Como explica o historiador e autor Mark Bray em “Antifa: The Anti-Fascist Handbook” (Antifa: O Manual Antifascista), a Antifa não é uma organização, mas, sim, uma rede descentralizada e vagamente afiliada de indivíduos e grupos unidos pela oposição ao fascismo, à supremacia branca e ao autoritarismo. “Não existe um comando central da Antifa”, escreve Bray. “Não há cartões de filiação à Antifa. Não existe sede de Antifa. Antifa é um conjunto de táticas e princípios compartilhados ao longo do tempo e pelo espaço.”

A organização antifascista é uma prática popular. Aqueles que se organizam ativamente como antifascistas não têm financiamento profissional para esse trabalho, e o trabalho não tem vínculos com organizações formais; são voluntários, seu trabalho tende a ser muito local, descentralizado e em desacordo com abordagens profissionais de militância ou organização comunitária. Isso contradiz diretamente a imagem que Trump e aliados promovem de organização extremista obscura e bem financiada que sustenta uma vasta rede de organizações profissionais. Na verdade, Antifa é uma ideia ampla e multifacetada que assume muitas formas diferentes. Rotulá-la como organização terrorista é como declarar o punk rock ou o hip hop como organizações terroristas.

Bodes expiatórios criados

O desejo de retratar Antifa como o rosto da “violência de esquerda” tem sido uma estratégia conveniente para Trump, especialmente em momentos de crise nacional. Durante os protestos do Black Lives Matter, em 2020, Trump afirmou repetidamente que a Antifa era responsável por incitar a violência e os saques, mesmo quando investigações federais não encontravam evidências para sustentar essa alegação. Avaliações semelhantes foram feitas em outras cidades. No entanto, Trump continuou a promover essa narrativa falsa, tuitando em letras maiúsculas: “Anarquistas e saqueadores liderados pela ANTIFA estão tomando conta das nossas cidades”. Esse tipo de desinformação não só desvia a atenção das verdadeiras intenções de movimentos de protesto importantes, como alimenta a paranoia e abre caminho para repressões mais amplas à dissidência.

A jornalista e repórter trabalhista, Kim Kelly apontou os perigos dessa retórica. Escrevendo na Vice e na Medium, entre outros veículos, Kelly enfatiza que a obsessão da direita com a Antifa serve para distrair da ameaça muito maior representada pelos grupos supremacistas brancos e extremistas de extrema direita, responsáveis pela grande maioria dos ataques terroristas domésticos das últimas décadas. Um estudo do Instituto Nacional de Justiça americano, publicado em junho de 2024 e divulgado no site do Departamento de Justiça americano, afirma que “desde 1990, extremistas de extrema direita cometeram muito mais homicídios motivados ideologicamente do que extremistas de extrema esquerda ou islâmicos radicais, incluindo 227 eventos que tiraram mais de 520 vidas”. No entanto, esse estudo foi removido do site do Departamento de Justiça americano poucos dias após o tiro contra Kirk. O vice-presidente J.D. Vance, então, afirmou falsamente, no podcast de Kirk que, “as pessoas de esquerda são muito mais propensas a defender e celebrar a violência política… é um fato estatístico que a maioria dos lunáticos na política americana atual são membros orgulhosos da extrema esquerda”.

Violência: enquadramento enganoso

Trump cita muito a violência como justificativa para rotular a Antifa como grupo terrorista. Aponta os confrontos em protestos ou destruição de propriedade como evidência de campanha violenta organizada. Mas essa interpretação é enganosa e hipócrita.

Embora alguns ativistas que se identificam como antifascistas realmente se envolvam em táticas de confronto, incluindo destruição de propriedade e autodefesa contra extremistas de extrema direita, essas ações geralmente não são preventivas ou em grande escala. Bem diferente disso, são, na maioria das vezes, respostas a ameaças fascistas percebidas, como comícios neonazistas ou eventos de discurso de ódio. Como explica Mark Bray, “a abordagem da Antifa se baseia na ideia de que o fascismo deve ser confrontado e detido antes que se transforme em algo mais perigoso”.

A maior parte do trabalho feito sob a bandeira Antifa, deve-se ressaltar, inclui monitorar grupos de extrema direita, expor neonazistas e as ameaças que representam para impedir que recrutem novos membros e aumentem a capacidade de praticar violência, além de se opor à violência nas ruas e às demonstrações de força. Essa organização é uma forma de defesa comunitária e ajuda mútua. Bray enfatiza que a atividade militante expressa é uma pequena parte de um conjunto muito maior de atividades focadas em resistir ao fascismo em todas as suas formas. Retratar o movimento como violento não é só impreciso, é intelectualmente desonesto.

Basta comparar com a violência documentada de grupos de nacionalistas brancos com organizações reais, com liderança formal e financiamento, como os Proud Boys ou os Oath Keepers, ambos com membros envolvidos na insurreição de 6 de janeiro. Trump não só se recusa a condenar esses grupos, ele concedeu perdões amplos e libertou os seus membros da prisão.

Quem se beneficia com a demonização?

É importante perguntar por que Trump e outras figuras da direita investiram tanto em demonizar a Antifa. O governo e os líderes republicanos americanos têm os recursos de inteligência para entender o que realmente a Antifa é. Eles sabem que não é a vasta organização obscura que descrevem. Perpetuar essa narrativa desonesta, entretanto, tem utilidade política. Pintar Antifa dessa forma permite que políticos com mentalidade autoritária justifiquem a expansão da vigilância, dos poderes policiais, a repressão aos movimentos sociais e uma miríade de ataques aos direitos civis e à liberdade de expressão.

Ao invocar o espectro da Antifa, Trump recorre a uma longa tradição de perseguição aos comunistas e propagação do medo, que lembra o macarthismo. Isso serve como apelo velado aos eleitores de extrema direita que veem os movimentos de esquerda como inimigos, encorajando ainda mais aqueles inclinados à violência política. Também oferece aos centristas e liberais do regime uma oportunidade de se insinuarem junto ao partido no poder, tornando-se cúmplices involuntários do poder da extrema direita.

A real ameaça

A real ameaça à segurança e à democracia nos Estados Unidos nunca foi uma rede antifascista mal organizada. A real ameaça é a normalização da supremacia branca e o uso do poder estatal para silenciar a dissidência política. A fixação de Trump com a Antifa não tem a ver com proteger ninguém do terrorismo. Tem a ver com distrair e proteger a ascensão do fascismo, que exatamente aquilo que fez com que a Antifa surgisse e fizesse resistência.

As mentiras de Trump sobre a Antifa revelam mais sobre suas próprias tendências autoritárias do que sobre o movimento. Como acadêmicos, jornalistas e até mesmo órgãos de segurança pública deixaram claro, a Antifa não é a ameaça que ele afirma ser. Além disso, muito pouco ou nada do que ele diz sobre a Antifa é remotamente verdadeiro. A verdade é que, se o governo considera o antifascismo como terrorismo, então, acredita que o fascismo é aceitável. Esta é uma forma real de terror, que nos mostra que Antifa é necessária, agora mais do que nunca. O maior terrorista doméstico do nosso tempo é Donald Trump, precisamos resistir a ele e ao seu regime de todas as formas que pudermos.

Fonte: https://anarchistagency.com/everything-trump-says-about-antifa-is-wrong/

Tradução > CF Puig

agência de notícias anarquistas-ana

As marcas do tempo
apenas em meu rosto —
Lua de primavera!

Teruko Oda

[Itália] Não às feiras-mercado de guerra e morte

Na perspectiva da luta contra as fábricas de armas, todos os exércitos e todas as guerras, aderimos ao contingente do coordenamento antimilitarista de Carrara na manifestação de 27 de setembro em La Spezia contra a feira naval-militar Seafuture, e ao cortejo de 29 de novembro em Turim contra a feira-mercado de armas Aerospace and Defense Meetings.

Federação Anarquista Italiana – FAI

Conferência de Empoli, 20-21 de setembro de 2025

Eis o artigo de apresentação do cortejo de La Spezia.

No coração de La Spezia, cidade historicamente ligada ao mar e à construção naval, prepara-se a nova edição da SeaFuture 2025, um evento que, de feira civil da economia azul, transformou-se em um salão militar naval pleno, totalmente dedicado ao comércio bélico internacional.

Patrocinada pelas empresas líderes na produção de guerra – incluindo Leonardo, Fincantieri, MBDA, Elettronica Group, Intermarine – e apoiada pela Marinha Militar italiana, a SeaFuture hospedará mais de 150 delegações militares de todo o mundo, inclusive de regimes autoritários e países envolvidos em guerras. Não se falará de paz, mas de guerra eletrônica, ciberdefesa, produção e venda de armamentos, incluindo os chamados “de uso dual”, ou seja, tecnologias civis facilmente convertíveis para uso militar.

No meio de uma escalada bélica global e do genocídio do povo palestino diante dos olhos do mundo inteiro, La Spezia se prepara para receber um evento que normaliza e celebra o mercado de armas, uma escolha que parece, além disso, em claro contraste até mesmo com o artigo 11 da constituição italiana, que sancionaria a repudia à guerra como meio de resolução de controvérsias internacionais.

Gravíssimo o envolvimento das escolas locais, convocadas a participar com projetos, visitas, competições e atividades de PCTO (percursos de competências transversais e orientação, equivalente a estágios) que envolvem os jovens das escolas da província. Esta participação arrisca militarizar ainda mais a escola e distorcer seus percursos formativos, expondo os estudantes a uma mensagem implícita que legitima o conflito armado e a indústria bélica.

O evento chega num momento em que a União Europeia aprova planos de rearmamento de centenas de bilhões de euros e a OTAN pede aos países membros que destinem 5% do PIB para despesas militares, enquanto faltam recursos para saúde, escola e meio ambiente.

Tudo isso está acontecendo numa cidade que tem um arsenal ainda por descontaminar, um litoral interditado à população porque ocupado pela Marinha Militar, que subtrai o acesso ao mar dos seus próprios habitantes. Uma cidade que arrisca tornar-se um emblema de guerra e de morte com a presença crescente de fábricas de armas e da organização de eventos como a SeaFuture.

Contra tudo isso, pede-se a reconversão da SeaFuture numa feira civil orientada à sustentabilidade; o fim do envolvimento das escolas em eventos de caráter bélico; o apelo convoca ainda pela interrupção da cooperação militar com Israel e por sanções pelas violações dos direitos humanos.

Queremos a desmilitarização de La Spezia e a reconversão da indústria bélica e dos espaços militares para uso social.

Queremos um futuro de paz, de justiça e solidariedade internacional.

MANIFESTAÇÃO DIA  27 DE SETEMBRO ÀS 15:30H

PRAÇA BRIN – LA SPEZIA

CONSTRUAMOS A PRESENÇA LIBERTÁRIA ANTIMILITARISTA NO CORTEJO

Reconvertamos a SeaFuture – Coordenação Antimilitarista

Fonte: https://umanitanova.org/no-alle-mostre-mercato-di-guerra-e-morte/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

O vaso da varanda
exala um doce perfume —
Uma flor-de-cera…

Tania Alves