Plano da Petrobras para perfurar Foz do Amazonas enfrenta forte resistência indígena

Por Marta Nogueira e Fabio Teixeira | 18/04/2024

OIAPOQUE, Amapá (Reuters) – A Petrobras vem enfrentando uma resistência crescente de grupos indígenas e agências governamentais contra seu principal projeto de exploração, que visa abrir uma nova fronteira na parte mais promissora para petróleo da costa norte do Brasil.

O órgão ambiental federal Ibama negou à Petrobras uma licença para perfuração em águas ultraprofundas da Bacia da Foz do Rio Amazonas, no litoral do Amapá, no ano passado, citando possíveis impactos sobre os grupos indígenas e o sensível bioma costeiro. Mas um apelo da Petrobras para que o Ibama reverta sua decisão atraiu um poderoso apoio político.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse em setembro que o Brasil deveria ser capaz de “pesquisar” os recursos potenciais da região, dado o interesse nacional. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse na semana passada a jornalistas que o “Brasil tem o direito de conhecer estas potencialidades”.

Essas posições reforçaram a retórica otimista da Petrobras sobre suas chances de obter uma licença para perfurar os blocos no litoral do Amapá.

“Prepara Amapá, que nós estamos chegando”, disse o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, a políticos locais e executivos do petróleo em um evento no mês passado que promoveu a exploração marítima ao longo da costa norte do país, em uma área conhecida como Margem Equatorial. Ele a chamou de “talvez a última fronteira da era do petróleo para o Brasil”.

Ele havia dito anteriormente que esperava começar a perfurar no segundo semestre deste ano ou antes nos blocos da Foz do Amazonas, considerados os mais promissores da Margem Equatorial, em blocos que ficam a centenas de quilômetros de onde deságua o importante rio amazônico. A região onde a Petrobras quer perfurar compartilha geologia semelhante com a costa da vizinha Guiana, onde a Exxon está desenvolvendo enormes campos.

O presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, disse em novembro que uma decisão seria tomada no início de 2024, embora disputas trabalhistas na agência tenham desacelerado o ritmo do licenciamento ambiental desde então.

Visitas a quatro aldeias indígenas, entrevistas com mais de uma dúzia de líderes locais e documentos anteriormente não divulgados mostram uma oposição organizada crescente contra a tentativa da Petrobras de reverter a negativa do Ibama para a perfuração exploratória sem que os povos indígenas sejam ouvidos.

A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) solicitou em dezembro ao Ibama que realizassem vários outros estudos para avaliar os impactos, de acordo com documento de 11 de dezembro da Funai enviado ao Ibama e obtido por meio em um pedido via Lei de Acesso à Informação. Os estudos propostos teriam que ser feitos antes que o Ibama pudesse decidir se aceita o pedido de reconsideração da Petrobras.

Em julho de 2022, o Conselho de Caciques dos Povos Indígenas do Oiapoque (CCPIO), um grupo que representa mais de 60 aldeias indígenas de Oiapoque, solicitou o envolvimento do Ministério Público Federal (MPF), denunciando uma suposta violação de seus direitos.

Os procuradores têm o mandato de proteger os povos indígenas, e muitas vezes tomam o seu lado em disputas com empresas ou governos. Em setembro de 2022, recomendaram que o Ibama não emitisse a licença antes de uma consulta formal às comunidades locais.

Os registros de investigação preliminar dos promotores, vistos pela Reuters, mostram que, em dezembro de 2023, o CCPIO pediu-lhes que acompanhassem uma consulta formal de 13 meses com a Petrobras sobre as visões indígenas sobre o projeto.

O processo de consulta, juntamente com os estudos propostos pela Funai, levaria uma decisão sobre a perfuração para 2025, quando o Brasil sediará a cúpula sobre mudanças climáticas COP30 na cidade amazônica de Belém, no Pará, o que poderia tornar mais politicamente difícil a aprovação da perfuração, disse uma pessoa próxima ao CCPIO à Reuters.

A ata de uma reunião de junho de 2023 entre Petrobras, líderes do CCPIO e promotores mostra que a empresa se ofereceu para consultar as comunidades locais sobre uma eventual produção comercial de petróleo na área, se o Ibama solicitar, mas não se comprometeu com uma consulta antes de perfurar poços exploratórios.

Questionada sobre os apelos dos líderes indígenas para uma consulta imediata, a Petrobras disse à Reuters em comunicado que o tempo para tal pedido já passou.

“A definição quanto a necessidade ou não da consulta aos povos indígenas e/ou comunidades tradicionais se dá no momento inicial do processo de licenciamento ambiental”, disse a Petrobras.

O Ibama ainda não respondeu à recomendação da Funai feita no final do ano passado para mais avaliações dos efeitos dos planos de exploração da Petrobras, de acordo com um documento da Funai de 3 de abril visto pela Reuters.

Ambas as agências não responderam aos pedidos de comentários da Reuters. A CCPIO e o MPF disseram que uma consulta deve ser feita antes que o Ibama emita uma licença para perfurar.

EQUILÍBRIO DE PROMESSAS

A questão da perfuração criou um impasse no governo Lula, que busca equilibrar suas promessas de proteger a Amazônia e os seus povos indígenas com os interesses da Petrobras e de aliados políticos que poderão colher os benefícios de uma nova região produtora de petróleo.

Silveira, o ministro de Minas e Energia, disse que um único bloco da Foz do Amazonas poderia conter mais de 5,6 bilhões de barris de petróleo, o que seria a maior descoberta da empresa em mais de uma década.

No pedido de reconsideração ao Ibama, a empresa afirmou que a exploração não terá impacto negativo nas comunidades locais.

“Ratificamos o entendimento de que não há impacto direto da atividade temporária de perfuração de um poço a 175 km da costa sobre as comunidades indígenas”, disse a Petrobras.

A população local e alguns ambientalistas alertam que a perfuração pode ameaçar manguezais costeiros e as vastas zonas ricas em peixes e plantas, ao mesmo tempo que perturba a vida dos 8.000 indígenas em Oiapoque, no extremo norte da costa do Brasil.

O CCPIO, a mais alta autoridade indígena do Oiapoque, é composto por mais de 60 caciques, representando mais de 8.000 pessoas. Eles não se opõem à busca de petróleo em si, mas invocam o que dizem ser um direito de serem consultados pela Petrobras, com a fiscalização do Ministério Público Federal e da Funai.

A convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário, diz que os governos devem consultar os povos indígenas e tribais por meio de suas instituições representativas, sempre que considerarem medidas legislativas ou administrativas que possam afetá-los diretamente.

MUDANÇA EM ANDAMENTO

Os planos de perfuração já estão mudando a cidade de Oiapoque. Ondas de trabalhadores migrantes chegaram à procura de emprego para uma indústria petrolífera que ainda não existe, disse o deputado estadual Inácio Monteiro (PDT).

Monteiro disse que se reúne frequentemente com indígenas, conversando com eles sobre os benefícios que a Petrobras poderia trazer ao Oiapoque, incluindo empregos, receitas de impostos e programas sociais.

No entanto, o CCPIO e os seus aliados têm manifestado cada vez mais a sua resistência, enquanto a Petrobras obtém apoio de atores políticos em seu pedido de reconsideração da decisão do Ibama.

Na conferência climática COP28, em dezembro, Luene Karipuna disse em um painel que a Petrobras e os políticos locais tentaram silenciar o seu povo.

“Estrategicamente a consulta prévia é a nossa única segurança até agora”, disse Karipuna, de 25 anos, que estuda para ser professora, ao receber a Reuters perto de sua casa, na aldeia de Santa Izabel, onde áreas de floresta e pântanos ficam cheios de água do mar em certas épocas do ano.

Quando os rios ficam baixos, as marés trazem peixes de água salgada que os moradores comem, mas alguns entrevistados pela Reuters temem que isso possa também trazer eventuais derramamentos de óleo.

PRESSÃO POLÍTICA

Líderes indígenas disseram que um forte apoio de políticos locais à Petrobras foi demonstrado em uma audiência pública realizada em maio de 2023 que Monteiro, o parlamentar estadual, convocou poucos dias depois de a licença da Petrobras ter sido negada.

Os poderosos políticos do Amapá, incluindo importantes aliados de Lula, reuniram-se em poucos dias na Câmara Municipal de Oiapoque para a audiência para promover os planos de perfuração da Petrobras.

No evento, um homem de camisa pólo branca e cocar de penas, Ramon Karipuna, disse à multidão que os indígenas eram a favor da perfuração, segundo a ata da reunião vista pela Reuters.

Karipuna disse ter falado em nome do coordenador do conselho de caciques do CCPIO, ausente por “motivos de saúde”.

Posteriormente, a Petrobras citou o apoio de Karipuna em seu apelo à licença de perfuração e o descreveu como um “representante do CCPIO”.

No entanto, o coordenador do CCPIO, Cacique Edmilson Oliveira, disse à Reuters que não estava doente naquele dia. O CCPIO recusou-se a participar do evento convocado às pressas, de acordo com uma carta de 18 de maio enviada em resposta ao convite de Monteiro para a audiência e vista pela Reuters.

“Essa é uma preocupação muito grande, por isso que a gente está falando que a gente já se sente ameaçado, aliciado, por essa situação”, disse Oliveira, acusando a Petrobras de distorcer a visão das lideranças indígenas. “A gente nunca se sentou e entrou em acordo para alguma aprovação.”

Em entrevista por telefone, Karipuna confirmou que trabalhava na prefeitura e que não é membro do CCPIO — embora a Petrobras tenha usado suas palavras como principal argumento ao Ibama de que os representantes indígenas apoiavam a perfuração. Ele também recuou em seus comentários a favor da perfuração.

“Até hoje, sobre o negócio de Petrobras, muita gente tem dúvida”, disse.

Questionada sobre Karipuna não ser um representante do CCPIO, a Petrobras citou a ata da reunião de maio de 2023, sem dar mais detalhes.

Fonte: https://www.swissinfo.ch/por/especial-plano-da-petrobras-para-perfurar-foz-do-amazonas-enfrenta-forte-resist

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agência de notícias anarquistas-ana

Um dia nublado
no beiral do mar sem fim:
tudo está grisalho

O Livreiro

[Chile] A gendarmaria quer que o companheiro Francisco Solar cumpra sua pena em um regime excepcional de segurança máxima.

Depois que a sentença de 86 anos contra o companheiro anarquista Francisco Solar foi ratificada e se tornou definitiva, a gendarmaria fez uma nova manobra na situação do companheiro dentro da prisão.

Depois de ser mantido no Módulo de Segurança Máxima 2 da prisão de Rancagua, ele deveria ter sido transferido para o Módulo de Segurança Máxima 1 como prisioneiro condenado, juntamente com o restante dos companheiros anarquistas e subversivos. Mas desta vez, para aprofundar a vingança legal, o companheiro foi levado para um espaço no mesmo módulo de segurança máxima 2 para cumprir sua pena em um regime excepcional de punição e isolamento.

Solidariedade e cumplicidade com aqueles que atacam os poderosos!

Vamos lutar contra a prisão perpétua velada e o confinamento solitário do companheiro anarquista Francisco Solar!

Fonte: Buskando La Kalle

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Penso apenas
Em meu pai e minha mãe —
Tarde de outono.

Buson

Lula propõe comprar terras para reparar indígenas Guarani e Kaiowá

No dia 12 de abril de 2024, Lula propôs ao governador do Mato Grosso do Sul Eduardo Riedel (PMDB) a compra de terras indígenas para o povo Guarani e Kaiowá, mesmo tendo o poder de decretar demarcações de terras indígenas. Lula ofereceu uma solução que não leva em consideração o Direito Originário à terra garantidos pela constituição federal (art. 231;1 a 6).

O Direito Originário dos povos indígenas é anterior à república, porque vivíamos aqui antes mesmo do surgimento do que o não indígena chama de Brasil.

É dever do chefe de Estado demarcar terras indígenas. Tornar a terra indígena uma propriedade do Estado em nada soluciona nossos problemas.

Já enfrentamos problemas com a criação de reservas indígenas feitas pelo Estado. Um exemplo que podemos citar foi a criação do Serviço de Proteção ao Índio (SPI) que surgiu em 1910.

O SPI criou reservas do Estado com o intuito de “civilizar” os povos indígenas.

O mesmo órgão gestor passou pela gestão do Ministério do Trabalho, Ministério de Guerra e pelo Ministério da Agricultura durante sua existência.

Essa alternância trouxe muitos problemas, inclusive o esvaziamento de terras indígenas liberando terras para o colonizador.

A pressão que o SPI fazia para ocupar e as diversas denúncias de expropriação de madeira, gado, doenças pulmonares, álcool e açúcar contaminado fizeram com que o serviço fosse extinto.

Essa tentativa do Estado de civilizar e ter controle sobre as terras indígenas já foi utilizada e a história provou que não dá certo.

Nós indígenas, conhecemos muito bem a nossa história e não vamos trocar o Direito Originário por uma tentativa por parte do chefe de Estado de controlar nossas terras indígenas comprando-a.

Nós não vemos a terra com o mesmo olhar do não indígena. Ela não é uma propriedade do humano. Ela é parte do que somos, funcionamos juntos e não separados.

A relação consumista dos recursos naturais tem nos levado a uma espécie de suicídio coletivo. Estamos tentando há anos alertar dos perigos dessa relação, mas parece que preferem ficar cegos a lutar pela VIDA.

No mais, quem quer o bem de um povo não fala, faz!

Uma forma de solucionar parte desse problema seria demarcar as terras do povo Guarani e Kaiowá, e depois de demarcar oferecer apoio para evitar conflitos com invasores de terras indígenas.

Outros presidentes fizeram mais demarcações que o Partido dos Trabalhadores (PT) em seus mais de 17 anos no poder. Isso é um fato incontestável que poderia mudar caso o presidente usasse seu poder de chefe de Estado para assinar a pilha de pedidos que estão há anos aguardando a demarcação de suas terras.

Para mais informações recomendamos a leitura da nota oficial das mulheres indígenas Guarani e Kaiowá @kunangueatyguasu em sua página oficial.

Autonomia Indígena Libertária (AIL)

agência de notícias anarquistas-ana

Sobe a piracema…
A continuidade da vida
na contramão.

Teruko Oda

[EUA] John Sinclair (1941-2024)

John Sinclair, poeta, autor de Guitar Army, gerente da banda de rock MC5, cofundador do Partido dos Panteras Brancas e escritor do [jornal anarquista] Fifth Estate, morreu de insuficiência cardíaca em Detroit no dia 9 de abril. Ele tinha 82 anos. Longe de sua cidade natal, ele foi aclamado como um ícone da contracultura, um defensor da legalização da maconha e um entusiasta do rock and roll, tendo sido imortalizado em uma música de John Lennon.

Embora Sinclair tenha sido pouco celebrado como ativista político, uma perspectiva radical formou a matriz pela qual todos os seus outros trabalhos fluíram. Em uma entrevista de 2005 ao Detroit News, jornal de grande circulação, ele respondeu da seguinte maneira a uma pergunta sobre o MC5, a banda de hard rock de Detroit que ele dirigia: “Qual era a nossa visão de mundo? Tudo deve ser gratuito para todos – esse é um bom ponto de partida. Ataque total à cultura, por todos os meios necessários…”

Sinclair era amplamente conhecido por sua campanha pela legalização da maconha, pela qual sofreu duas sentenças de prisão, incluindo uma de 9,5 a 10 anos dada em 1969 por um juiz vingativo de Detroit por dar dois baseados a um policial infiltrado. Ele ficou famoso por ter sido libertado após um comício em Ann Arbor, Michigan, no final de 1971, encabeçado por John Lennon e Yoko Ono, mas que também contou com Stevie Wonder, Bob Seger, Phil Ochs, o saxofonista de jazz Archie Shepp, entre outros. Entre os palestrantes estavam Jane Fonda, Allen Ginsberg, o presidente dos Panteras Negras Bobby Seale, e Ed Sanders, do Fugs. Lennon cantou a música que compôs para o evento, intitulada “John Sinclair”.

Sinclair era uma lenda no mundo do rock and roll. Entre 1966 e 1972 ele foi fundamental na formação e promoção do Grande Ballroom de Detroit, que inicialmente apresentava bandas locais do rico cenário musical da cidade, mas depois viu as maiores bandas clássicas da época no palco, incluindo The Who, Led Zeppelin, Pink Floyd, Cream, Grateful Dead, além de artistas de blues como Howlin’ Wolf, BB King e John Lee Hooker. Ele foi essencial para trazer o saxofonista John Coltrane e a Sun Ra Arkestra para o local.

John se tornou o empresário do MC5 quando o grupo ganhou fama internacional por tocar um “rock and roll de alta energia” que refletia a energia da época e a subcultura que a definia. Muitos roqueiros e críticos musicais posteriores definiram a banda como proto-punk por conta de sua performance selvagem no palco e pelo som de altos decibéis. O guitarrista do Rage Against the Machine, Tom Morello, disse que o MC5 “basicamente inventou o punk rock”, uma descrição negada por Sinclair. Ele disse ao Detroit News, em uma entrevista de 2005, que o MC5 descrevia sua música como “avant rock”, e atribuiu a origem do punk a outra banda local imortal, Iggy and the Stooges.

Sinclair, sua esposa Leni (uma fotógrafa renomada que documentou grande parte do cenário cultural e político de Detroit em suas fotografias) e várias outras pessoas fundaram em 1968 um grupo antirracista chamado Partido dos Panteras Brancas (WPP). A banda MC5 fazia parte dessa cena e frequentemente posava para fotos promocionais empunhando rifles. Sinclair disse que o objetivo da música era “tirar você da sua mente e levá-lo para o seu corpo”.

A ênfase na maconha e nos roqueiros armados, contudo, não impressionou a esquerda oficial de Detroit. O falecido Pun Plamondon, cofundador do WPP, abordou o fato de que grande parte da esquerda de Detroit durante a década de 1960 descartou o partido e a banda como hippies apolíticos que só estavam interessados em se drogar e ouvir rock and roll. Em uma retrospectiva de 2017 sobre os Panteras Brancas que organizei no Museu Afro-Americano Charles Wright da cidade, que também contou com a participação de John e Leni, Pun disse: “Para a esquerda, éramos palhaços da contracultura, mas saíamos todos os fins de semana e distribuíamos literatura revolucionária, inclusive o Fifth Estate, para centenas e centenas de jovens, enquanto a esquerda discutia Mao”.

A poesia de John foi reconhecida internacionalmente. Ele escreveu milhares de poemas a partir do início da década de 1960, publicados juntamente com o trabalho de seus compatriotas em um fluxo aparentemente interminável de livros mimeografados e jornais. Sua última aparição pública, apenas algumas semanas antes de sua morte, foi em Paris, na exposição de obras de arte de Mike Kelley, oriundo de Detroit. Apesar de estar confinado a uma cadeira de rodas, ele fez a viagem de Detroit a Paris para ler três poemas com acompanhamento de rock para uma multidão que o aplaudia loucamente. Não se poderia pedir por um melhor último show.

Em seu best-seller de 1969, Guitar Army [Exercício de Guitarras, em tradução livre], Sinclair escreveu: “Nossa cultura é uma cultura revolucionária, uma força revolucionária no planeta, a semente da nova ordem que florescerá com a desintegração e o colapso das formas sociais e econômicas obsoletas que atualmente infestam a Terra”. Façamos com que assim seja.

Peter Werbe

Werbe é um colaborador de longa data do periódico anarquista Fifth Estate e mora em Detroit. É autor de Summer on Fire: A Detroit Novel [Um verão pegando fogo: um romance de Detroit, em tradução livre] e da coleção de ensaios Eat the Rich [Comam os ricos, em tradução livre]. peterwerbe.com

Fonte: https://freedomnews.org.uk/2024/04/09/obituary-john-sinclair-1924-2024/

Tradução > anarcademia

agência de notícias anarquistas-ana

Sob o ipê florido
embelezam de amarelo
as flores que caem.

Sandra Hiraga

[França] Saint-Brieuc: Apelo a uma passeata antifa libertária

Manifestação regional antifascista em Saint-Brieuc, 21/04

ANTIFASCISTAS PORQUE ANARQUISTAS!

Face à crescente influência da extrema-direita nos últimos 40 anos e às suas manifestações agressivas na Bretanha nos últimos anos, partilhamos uma necessidade urgente de responder com várias organizações políticas e indivíduos. A criação de uma “Frente Comum Antifascista” muito ampla [frontcommun22.wordpress.com] atesta isso. E embora asseguremos nosso apoio inabalável a todos aqueles que lutam contra o fascismo ou são diretamente visados por ele (pessoas negras, pessoas com deficiência, LGBTQI+, mulheres, ativistas etc.), acreditamos que a resposta deve ser radical (o que vai à raiz do problema), ou seja, libertária.

Instrumentalizando a perspectiva de uma tomada fascista do poder, um bicho-papão perfeito desde os anos Mitterrand, os próprios partidos do chamado “governo” navegam entre o autoritarismo do capital e o processo de fascização. Durante muito tempo, aproveitando-se de confusões ideológicas e de uma polícia largamente conquistada para a sua causa, a extrema-direita trocou a camisola castanha pelo fato e gravata e, atualmente, é o macronismo que paga o alfaiate. Consideramos, portanto, que a provável chegada do RN ao governo apenas “efetivará” um equilíbrio de poder que já está presente. O separatismo e as leis de imigração, a operação Wuambushu, o controle das roupas dos alunos e, mais particularmente, das alunas (seja a proibição de uns ou a obrigação de outros), o SNU, a farsa do diálogo social ou a militarização da polícia são prova disso.

Diante de uma trajetória apresentada como inevitável pela mídia, não contaremos com um chamado “obstáculo” nas próximas eleições, que cada vez alimenta a ilusão democrática sem transformar a situação, nem com a expectativa da “grande noite”, que se imobiliza diante da magnitude de um programa que nunca foi implementado. Naquela época, como agora, o nacionalismo continua sendo a base mortal do fascismo. É uma necessidade vital combatê-la, pois o horizonte está bloqueado. Ao contrário dos nossos inimigos ideológicos, reivindicamos claramente o nosso caminho político: ajuda mútua, liberdade, igualdade, federalismo, internacionalismo.

Para sair da impotência, acreditamos que devemos promover concretamente nossas práticas, nos envolver nos espaços existentes e construir novas iniciativas de emancipação que possam inscrever nossa força ao longo do tempo, por exemplo:

– Operações de assistência material para erradicar a pobreza e a exploração por conta própria, especialmente no exílio (fundos de solidariedade, cantinas, ocupações, etc.);

– Ações de luta social (dentro e fora dos sindicatos) para conquistar nossa autonomia, socializando os meios de produção e nos livrando daqueles deletérios;

– Locais de difusão e desenvolvimento da cultura e das práticas anarquistas, para dissipar confusões políticas (bibliotecas, locais de espetáculos autogeridos, pedagogia libertária, mercearias autogeridas, etc.).

Essa luta contra o fascismo é global, e não faria sentido se contentar com uma luta local. Seria inútil esperar progresso aqui se do outro lado da fronteira nossa classe social ainda é explorada. É por isso que também pedimos apoio político e material aos nossos camaradas que lutam em todo o mundo contra Estados autoritários (seja no Oriente Médio, Índia, Hungria, Argentina, Sudão…), bem como para bloquear, sabotar empresas e instituições imperialistas em nosso próprio território (arsenal, bancos, laboratório, empresa colonial…).

A ascensão do autoritarismo é um fenômeno global, portanto, há uma necessidade urgente de fortalecer o federalismo libertário na Bretanha e em todo o mundo. Não queremos pátria! Propomos, portanto, aos organizadores, coletivos e indivíduos que compartilhassem desses pontos de vista libertários que se reúnam em uma procissão rubro-negra durante a manifestação regional antifascista de 21/04 em Saint-Brieuc, em toda diversidade organizacional e tática. Será uma oportunidade para expressar nossa solidariedade contra a agressão neofascista, para ocupar as ruas e tornar visível nossa determinação em derrotar, a curto, médio e longo prazo, a onda de extrema-direita que o sistema capitalista está alimentando.

Queremos viver livres! Vamos agir para desenvolver a anarquia, e é na raiz que o fascismo será destruído!

Grupos da Federação Anarquista na Bretanha

Fonte: https://bourrasque-info.org/spip.php?article2432

agência de notícias anarquistas-ana

Para tricotar
Sento-me numa cadeira
De onde veja o relógio.

Toshiko Nishioka

[Argentina] Ato pelo 1º de Maio em Rosário

Quarta-feira, às 17h, na Plaza Sarmiento (Entre Ríos e San Luis)

INTERNACIONALISTA

Porque a questão social não é colocada em termos patrióticos, mas em termos de classe. A burguesia, nacional ou estrangeira, nos explora e oprime de diferentes maneiras. Quer tenhamos um emprego ou não. De todos os gêneros, de todas as cores e de diferentes capacidades.

ANTICAPITALISTA

Porque o ajuste é um ataque contra aqueles de nós que trabalham, alugam, usam transporte, saúde pública e/ou recebem benefícios sociais.

REVOLUCIONÁRIO

Porque é o momento de explorar novas perspectivas, novas formas de lutar. Para além da pátria, do Estado, da democracia, da lógica da mercadoria, dos partidos e dos sindicatos.

bibliotecaalbertoghiraldo.blogspot.com

agência de notícias anarquistas-ana

Em meio ao capim
de onde sopra o vendaval,
lua desta noite.

Miura Chora

[Itália] Não ao despejo do Spazio Anarchico “19 luglio”!

Solidariedade! Resistência!

O Spazio Anarchico “19 luglio” [Espaço Anárquico “19 julho”] está sendo despejado. Há vários anos, os companheiros vêm transformando um espaço que estava abandonado há décadas em um local para reuniões, sociabilidade e auto-organização política e social.

Depois de reformar completamente as instalações graças ao trabalho de camaradas e voluntários solidários, o local se tornou um ponto de referência para muitas iniciativas no coração do bairro operário de Garbatella.

Ele abriga um centro de arquivos e uma biblioteca popular, além de ser a sede do grupo anarquista Cafiero da Federação Anarquista Italiana.

Lá são organizadas conferências, shows e projeções. Também iniciativas educacionais libertárias desenvolvidas para as crianças do bairro.

A prefeitura ordenou o despejo das instalações em 17 de abril.

Mas os companheiros estão determinados a não desistir e lançaram um apelo de solidariedade para esse dia nas primeiras horas da manhã.

Vamos apoiar a luta deles!

Parem o despejo e a especulação imobiliária em Garbatella!

Solidariedade com os companheiros e companheiras do grupo Cafiero!

Federação Anarquista Italiana

Comissão de Correspondência

13 de abril de 2024

Fonte: https://www.anarresinfo.org/no-allo-sgombero-dello-spazio-anarchico-19-luglio/

agência de notícias anarquistas-ana

O céu, que é perfeito,
andou jogando em seus olhos
o dom do infinito.

Humberto del Maestro

[Alemanha] Ataque incendiário a uma van do desenvolvedor de tecnologia militar naval Noske-Kaeser

Você tem o poder, mas nós temos a noite: ataque antimilitarista em Hamburgo-Altona

Como podemos agir em relação às guerras que são cofinanciadas e apoiadas a partir daqui? Por exemplo, atacando daqui as infra-estruturas que tornam estas guerras possíveis. Foi o que fizemos na noite de 24 de março de 2024 em Hamburgo-Altona, incendiando um carro da empresa Noske-Kaeser.

A Noske-Kaeser é um dos fornecedores mais estabelecidos de equipamentos marítimos. Fornece sistemas de ar condicionado e ventilação, proteção para transporte de material radioativo, sistemas de supressão de incêndio e outros equipamentos para submarinos e embarcações militares para a Bundeswehr [Forças Armadas alemã], a Marinha Britânica, os exércitos de Israel, Coreia do Sul, Austrália, França… A empresa opera em todo o mundo e só nos últimos 50 anos equipou e revisou 200 navios e 81 submarinos. Entre estes, e juntamente com a Thyssen Krupp, 50 navios e 6 submarinos em nome da Bundeswehr. Desde 2000, também tem apoiado a Bundeswehr com equipamento de guerra no Kosovo, Turquia, Chipre, Afeganistão e Mali. Em Kiel, Noske-Kaeser forneceu o armamento de 6 navios para a Marinha israelense. O diretor administrativo é Thomas Arlit e a unidade operacional é BREDO DRY Docks GmbH em Bremerhaven. Todo o trabalho é feito lá. Noske-Kaeser é co-responsável pelas guerras em que estão envolvidas Alemanha, Inglaterra, Israel, França, etc.

Noske-Kaeser também equipou a maior fragata da Bundeswehr que acaba de partir para a guerra no Iémen. Mais uma guerra que a OTAN está a travar e que é retratada pelos meios de comunicação social como absolutamente desprovida de alternativas e polêmicas. Sem rodeios, a missão de combate no Mar Vermelho foi chamada de “Guardião da Prosperidade”.

Vamos lutar pelo antimilitarismo, vamos nos opor às empresas que ganham milhões com extermínios e guerras e que enriquecem com a miséria das pessoas, dos animais e da natureza. O antimilitarismo deve materializar-se nas ruas e à noite e deve ser praticado ativamente. Palavras e discussões não são suficientes para nós, por isso nos opomos com fatos à guerra, à exploração e à acumulação de riqueza por parte dos indivíduos, que se baseiam no assassinato e no abuso de outros e do ambiente. Com todos os meios ao nosso dispor.

Contra todas as guerras e pela revolução social.

Liberdade para todos!

Fonte: https://de.indymedia.org/node/350745

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instante do passarinho
fui olhar
fiquei sozinho

Ricardo Silvestrin

[São Paulo-SP] Em “O circo bélico”, Trupe Lona Preta fala da guerra com a linguagem do palhaço

A Trupe Lona Preta apresenta, no Engenho Teatral, de 20/04 a 05/05, a peça O circo bélico, espetáculo que usa a linguagem do palhaço e o riso para pôr em cena um tema grave: a guerra. A montagem conta a história de um grupo de palhaços que trabalham em uma zona de guerra. Como empregados de uma empresa de petróleo, eles devem perfurar um poço na região, mas, para além dos interesses econômicos em movimento, sonham e lutam pela paz.

Por meio do percurso dos personagens, a trupe levanta questões sobre o que significa a paz: é só um ajustamento com o que já está estabelecido? É a conciliação de interesses antagônicos? Assim, além do humor na peça, há no fundo uma posição política crítica, que é sugerida, por exemplo, neste excerto de um texto divulgado pela companhia:

O circo bélico trata da luta de classes na sua expressão mais crua: a guerra. Esta, entendida não apenas como saída para as constantes crises do capitalismo, mas como a própria forma de organização do capital. É um circo alegre, mas é um circo ao avesso. Sua lona mais se parece com uma nau onde se apegam os desgarrados donos de nada, que não tem nada a vender a não ser sua própria força de trabalho. Trata da relação contraditória entre as mais altas patentes e os aspirantes do exército de produção, todos inadequados, ineptos. São bufões que já tentaram se incluir a qualquer custo, agora simplesmente agem, como máquinas, frias e solitárias, de guerra.

De 20/04 a 05/05/2024

Sábados e domingos às 19h – Grátis

Duração: 60 minutos – Indicação etária: livre

Local: Engenho Teatral

​Ao lado da estação Carrão do Metrô (linha 3 vermelha)

Rua Monte Serrat, 120 – Tatuapé, São Paulo-SP

agência de notícias anarquistas-ana

tantos outonos
em uma paisagem
chuva nos pinheiros

Alice Ruiz

[Alemanha] Hamburgo: 1° de Maio Anarquista de 2024

Há cinco anos, saímos juntos às ruas pela primeira vez para um 1° de Maio anarquista. Em cinco anos muita coisa aconteceu. Uma pandemia global matou milhões de pessoas e abriu caminho a uma solidariedade sem precedentes entre esotéricos, ideólogos da conspiração e racistas, tendo um impacto poderoso no chamado “meio” da sociedade. A AfD [partido de extrema direita alemão] está em uma ascensão desenfreada e a guinada da sociedade à direita continua.

Há guerra novamente na Europa, um fato que está dando origem a muita discussão.  Infelizmente, a matança e o assassinato contínuos em muitas outras partes do mundo não recebem tanta atenção. Como no Curdistão, por exemplo, onde o projeto progressista de Rojava continua a ser alvo de um estado da OTAN com força letal. E bem perto de nós, na República Federal da Alemanha, a repressão contra os antifascistas está se tornando cada vez mais opressiva: qualquer pessoa que realmente se levante contra os nazistas pode esperar ter a porta de seu apartamento arrombada e acabar na cadeia. A propósito, o clima está mudando cada vez mais rápido e os protestos contra os responsáveis pelas mudanças climáticas estão se tornando cada vez mais perigosos.

Há motivo suficiente para irmos às ruas pela quinta vez no 1º de Maio (sem o Corona, seria a sexta vez). Para articular nossa raiva, mas também para lutar por uma sociedade melhor, uma vida de qualidade e um uso sustentável dos recursos, para o benefício de toda a humanidade – pela anarquia.

Mas também há vitórias a serem comemoradas. Os sucessos do movimento e, especificamente, os da nossa aliança. Nos últimos anos, a repressão contra nossas manifestações aumentou cada vez mais. Houve feridos com risco de morte, ataques da polícia pelos motivos mais triviais e manifestações que nem sequer puderam começar. Por terem sido proibidas ou por terem sido simplesmente bloqueadas por uma força superior militarizada, sem nenhuma proibição.

No entanto, ainda estamos aqui. Passamos de um pequeno grupo organizacional para uma grande aliança. Vários grupos anarquistas se conheceram por meio da manifestação e agora trabalham juntos em um espírito de confiança. O cenário anarquista do norte da Alemanha cresceu nos últimos anos, tornando-se mais vivo, mais criativo e mais resistente. Essa não foi, de forma alguma, a única conquista de nossa aliança. Mas estamos muito felizes por termos contribuído para isso. Queremos comemorar essa e todas as outras grandes e pequenas vitórias do anarquismo junto com vocês.

Depois da manifestação, ainda tem mais. No dia 4 de maio, comemoraremos nosso aniversário junto com vocês no Rote Flora. Porque se você não pode dançar… você sabe.

Novamente em 2024: Nas ruas, em palestras, nas barricadas. Eduquem-se, eduquem os outros, formem gangues. Pela anarquia.

PS: Este ano iniciaremos no dia 1º de Maio com um mês de promoções. Mais informações podem ser encontradas aqui: https://sr1m.blackblogs.org/1-mai/1-mai-2024/aktionsmonat-zum-1-mai/

https://sr1m.blackblogs.org/

Tradução > meiocerto

agência de notícias anarquistas-ana

Sob o futon
Alguém está dormindo –
Montanhas do Leste.

Hattori Ransetsu

[Espanha] Oficina de ocupação de Sevilha

A ocupação em Sevilha não apenas existe e resiste, mas também continua a se reproduzir, apesar da guerra travada contra ela em todas as frentes. A batalha cultural contra a ocupação em todo o estado continua a não dar frutos. Como ela sempre resiste, há sempre brotos e grupos de ocupação surgindo na cidade, prontos para travar uma guerra contra o Estado e seu pilar mais sagrado: a propriedade privada. O fato de tanto esforço ser dedicado a estigmatizar, criminalizar e tornar invisível o movimento de ocupação mostra o potencial político que ele tem, a natureza radical de seu discurso e ação.

Com a Oficina de ocupação, queremos eliminar toda essa propaganda neoliberal contra a ocupação e defendê-la com todas as ferramentas à nossa disposição.

A partir da Oficina de ocupação, enfrentamos a mídia lixo, o banqueiro, o proprietário de vários imóveis, o indivíduo que decide aumentar o preço do aluguel porque o mercado assim o exige, o proprietário que decide transformar sua casa em um apartamento turístico, o Estado e seus braços para dizer-lhes que são escória, que com a moradia não se brinca, não se especula! Que não é um negócio!

Para a Oficina, tanto o aluguel quanto a propriedade são roubo, são os símbolos máximos da desigualdade social, a base e a razão do capitalismo. A sacralização da propriedade nos perturba, nos machuca. Quem possui e não mora em uma casa, mas a possui apenas para obter lucro e, portanto, a explora, oprimindo aqueles que não têm condições de comprá-la, torna-se um inimigo. O aluguel oprime ao gerar hierarquias miseráveis entre proprietários e inquilinos.

O aluguel nada mais é do que o direito de abusar da propriedade. Por meio do aluguel, a propriedade privada permite que os proprietários vivam do trabalho de outros. Ela permite que eles vivam da história, do aluguel.

A partir da Oficina, queremos confrontar o discurso democrático liberal repugnante que defende pessoas sem casas e casas sem pessoas, vomitamos em suas leis macabras que defendem a propriedade acima de qualquer outra coisa que desconsidere a necessidade de ter um lar. E nos dedicaremos a promover, compartilhar, divulgar e defender a ocupação.

Caminharemos ao lado daqueles que querem confrontar os pilares do Estado ocupando e politizando suas vidas diariamente. Para travar uma guerra contra a propriedade e seus defensores, da polícia ao juiz, do banco ao multiproprietário, do governo ao Estado. Todos eles exploradores de outros.

Toda casa vazia deve ser ocupada e colocada em uso.

Toda ocupação significa resistência e ataque ao capitalismo. Toda ocupação é um sopro de ar fresco, de liberdade.

OKUPE E RESITE!

RESISTIR VALE A PENA!

Abrimos a Oficina de ocupação todas as quartas-feiras, das 18:00 às 20:00, no CSOA Malatesta (C/Escarpia, 48).

ofideokupacionsevilla.noblogs.org

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

De manhã, a brisa
encrespa o igarapé
e penteia as águas.

Anibal Beça

[Grécia] Atenas: Protesto em frente à embaixada da Alemanha | Solidariedade com os 3 processados como membros da RAF

No domingo, 14/04, atendendo ao chamado da Cruz Vermelha Internacional para um dia global de ação em solidariedade a ativista da RAF Daniela Klette, presa na Alemanha, e aos camaradas E. Staub e B. Garweg, que são perseguidos e processados como membros da RAF, realizamos uma concentração solidária em frente à embaixada alemã, em Atenas.

A manifestação durou cerca de uma hora, com os companheiros e as companheiras que participaram gritando slogans. Uma faixa foi aberta na rua Loukianou e panfletos foram distribuídos para os transeuntes.

Anarquistas

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agência de notícias anarquistas-ana

Os pardais voam
De espantalho para
Espantalho

Sazanami

Palestra: Simón Radowitzky e as origens do Primeiro de Maio na Argentina

Simón Radowitzky, 1889?-1956. Aprendeu a ler e quase imediatamente a trabalhar. Participou dos protestos de sua época e conheceu as ideias revolucionárias; era um entusiasta do anarquismo. Sofreu a repressão czarista no Império Russo. Aos vinte e poucos anos, já em Buenos Aires, executou Ramón Falcón, o político-militar sanguinário responsável pelo massacre de 1º de maio de 1909. Depois de seu ato, ele tentou fugir, até mesmo cometer suicídio, mas foi pego vivo e não foi perdoado. Ele passou exaustivos vinte anos na prisão em Ushuaia. Houve uma campanha bem-sucedida para libertá-lo. Depois disso, voltou a viver na prisão por um tempo e lutou o quanto pôde no Uruguai. Participou da revolução de 1936 na Espanha. Com outro nome, continuou a lutar até morrer no México, onde permaneceu por quinze anos.

Nós o convidamos a compartilhar esses e outros episódios de sua vida, sua luta e sua época. Sábado, 20 de abril, em Rosário, e sábado, 27 de abril, em CABA (Buenos Aires).

bibliotecaalbertoghiraldo.blogspot.com

agência de notícias anarquistas-ana

Ameixeiras brancas —
Assim a alva rompe as trevas
deste dia em diante.

Hori Bakusui

[Reino Unido] Alguns anarquistas libertam 41 patos de um celeiro

28 de março. Norte do Reino Unido.

Recebido anonimamente por e-mail:

“Com a lua como nossa cúmplice e determinados a participar de uma fuga da prisão, nos aproximamos de um celeiro e retiramos nossas ferramentas. Depois de cortar a tela, forçar a abertura de uma janela e escalar um buraco na parede, dezenas de milhares de patinhos nos saudaram com sons agudos.

Eles deviam ter três, talvez quatro dias de vida. Muitos, talvez os mais sortudos, já estavam mortos no chão. Com cuidado, pegamos quarenta aves e as colocamos em caixas, prontas para uma vida melhor, destinadas a se libertar. Escrevemos uma mensagem na parede para que a escória que lucra com a tortura e o assassinato de patos saiba que algumas pessoas estão dispostas a revidar. “Mais um”, alguém disse, então quarenta e um vieram conosco e fomos embora tendo feito dezenas de novos amigos.

Ao sairmos, pensamos em Jack e Ita, ambos libertados da prisão há pouco tempo, e pensamos em Ru, Tortu e Panda, que ainda estão presos em um buraco infernal no Chile.

Até que nos vejamos novamente, continuaremos lutando em seu nome.

Torne-se cúmplice de suas fugas da prisão, torne-se cúmplice da destruição de seus opressores, torne-se uma ferramenta para sua vingança.

Lute contra a máquina que nos devora a todos com a ganância do capitalismo.

Por um futuro de liberdade e solidariedade, um presente de fogo.

Alguns anarquistas.

Agir para recuperar nossa vida é já recuperá-la no terreno da luta, já se tornar o criador da própria existência, mesmo que em constante batalha com uma ordem monstruosa determinada a nos esmagar“. Bonanno.

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Em qualquer lugar
Onde se deixem as coisas
As sombras do outono.

Kyoshi

[São Paulo-SP] Ciclo de debates, 20/04: Espaços Anarquistas | Espaço Impróprio

A Biblioteca Terra Livre comemora, em 2024, seus 15 anos de existência. Será um ano de muitas iniciativas comemorativas e formativas.

Muitas pessoas antes de nós se associaram para criar e manter espaços de organização, luta e sociabilidade numa perspectiva libertária. Projetos em que de certa forma participamos ou que nos influenciou na construção de um acervo, um coletivo e uma sede que pudesse ser a materialização de um novo modo de relação social e política baseado na autogestão e na ação direta.

Para celebrar e relembrar todas essas iniciativas bem como refletir sobre suas práticas, conquistas e desafios, realizaremos o CICLO DE DEBATES: ESPACOS ANARQUISTAS. Ocorrerá no Centro de Cultura Social, o espaço libertário mais duradouro do Brasil, fundado há mais 90 anos.

Os primeiros encontros contarão a história de três espaços emblemáticos dos anos 2000/2010 através da exibição de documentários seguidos de conversa com alguns de seus membros.

Reserve as datas, sempre um sábado às 16h:

  • 20 de abril: Espaço Impróprio
  • 18 de maio: Ativismo ABC
  • 15 de junho: Casa Mafalda

No segundo semestre daremos continuidade ao Ciclo, pois há muita memória e luta na experiência de espaços como o próprio Centro de Cultura Social, o Instituto de Cultura e Ação Libertária, o Espaço Ay Carmela!, a Casa do M.A.R., o Espaço Germinal, a Comuna Goulai Pole, o Centro de Cultura Social Vila Dalva, a Biblioteca Carlo Aldegheri e muitos outros locais de luta e resistência anarquista que deixaram suas marcas nas lutas sociais em seus territórios de atuação.

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Ao fim da fogueira
Apenas cinco cachorros
Dormindo ao redor

Miyoko Namikata

Expansão global da JBS é marcada por concentração de renda e aumento da pobreza, conclui estudo

Por Mariana Costa | 10.04.2024

Com faturamento anual que supera o PIB de 20 estados brasileiros e histórico de empréstimos públicos, corporação tem executivos que ganham salários milionários enquanto operários recebem pouco mais que o mínimo.

Um alinhamento entre interesses públicos e privados fortaleceu a trajetória da JBS rumo ao posto de maior empresa de alimentos do mundo, em processo marcado por concentração de renda e agravamento da fome e da pobreza em cidades onde opera.

A conclusão é do relatório “Alimentando a Desigualdade: os custos ocultos do monopólio industrial da carne”, financiado pelo Tiny Beam Fund e escrito por Raisa Pina, pesquisadora visitante do King’s College London e do Centro Latino-Americano da Universidade de Oxford.

O estudo traça um retrospecto das políticas públicas e decisões governamentais, fundamentais para levar o pequeno açougue em Anápolis (GO) à liderança global no processamento de proteínas animais, apontando para a disparidade entre os resultados obtidos e os ganhos socioeconômicos.

Neste processo, o BNDES, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, teve um papel fundamental, graças a uma política de empréstimos a juros mais baixos que os do mercado. O banco hoje é detentor de 20,8% das ações da JBS, o segundo maior acionista após a própria família Batista, que até hoje exerce o controle da empresa.

Entre 2013 e 2023, a JBS teve um aumento de 303% em sua receita líquida, fez cerca de 40 aquisições de frigoríficos e outras empresas ao redor do mundo e o salário dos administradores subiu 2000%.

Neste mesmo período, em cidades como Lins (SP), onde a JBS opera seu maior frigorífico, os cadastros do Bolsa Família aumentaram 51%. Em Goiânia, esse crescimento foi ainda maior, de 162%. Apenas uma das 12 cidades analisadas não teve novos beneficiários em dez anos.

Nem a JBS, nem o BNDES responderam ao nosso pedido para comentar as conclusões do estudo até o fechamento do texto.

“Existe um paradoxo claro: o Brasil tem a maior empresa de alimentos do mundo e, ao mesmo tempo, vê a fome da população aumentar. Considerando os investimentos públicos e a participação do Estado na governança da empresa, esse paradoxo não pode ser naturalizado”, avalia Raisa, que teve a ideia da pesquisa a partir de uma vivência pessoal.

Assim como a JBS, a pesquisadora nasceu em Anápolis e ouvia relatos dos tempos em que Zé Mineiro (José Batista Mineiro, fundador da JBS) abatia cinco cabeças de gado em uma área que pertencia a sua família. “Em Goiás, é difícil crescer sem que a JBS seja assunto de conversa nos espaços mais diversos”, conta. “Quando a JBS se consolidou como uma campeã nacional, ainda na década de 2010, resultado de uma política do então governo federal, eu comecei a questionar o significado desse título e olhar para minha própria realidade e para a minha comunidade”.

Para chegar a essa conclusão, foram avaliadas três fontes principais de dados: documentos corporativos, registros governamentais e entrevistas. Relatórios anuais, atas de assembleias de acionistas, propostas da administração e mapas de votos serviram de base para mapear financiamentos, lucros, salários e disputas entre acionistas.

Em seguida, foi feito um levantamento dos salários de executivos, administradores e operários, e das solicitações do Bolsa Família ao longo de dez anos em 12 cidades onde a JBS mantém operações.

Empréstimos a juros baixos e portas abertas

Embora a indústria da carne fosse incentivada por meio de políticas públicas desde a década de 1990, foi nos anos 2000 que esse movimento do governo brasileiro ganhou escala. A autora faz um retrospecto da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), conhecida como a “política das campeãs nacionais”, vigente entre 2007 a 2013, para, então, analisar a década seguinte.

Na época, o objetivo era abrir novos mercados e inserir empresas brasileiras em um cenário global. Para colocar este plano em ação, o BNDES tornou-se um braço financeiro fundamental, apoiando aqueles setores preparados para a concorrência internacional.

Assim, a JBS se beneficiou de empréstimos vantajosos, com taxas de juros em torno de 8,5% ao ano; em contraste, as taxas de outras instituições financeiras variavam normalmente entre 14% e 22%, segundo a autora.

Em 2005, o BNDES forneceu metade do crédito necessário para a JBS adquirir a Swift Argentina, seu primeiro passo rumo à internacionalização dos negócios.

Este foi um precedente para apoios futuros, que permitiram inicialmente à empresa diversificar seu alcance geográfico e linha de produtos no Brasil. Essa expansão se estendeu a outros países da América do Sul e da Oceania e aos Estados Unidos.  Este apoio serviu como um sinal de confiança para os investidores globais. Com a ajuda do banco, a JBS não só se expandiu internacionalmente, mas também diversificou seus produtos além da carne bovina in natura.

“Além da carne, outros poucos setores também foram beneficiados, como energia, combustíveis e mineração, mas nenhum teve o êxito que a indústria da carne teve, de ver uma empresa se consolidando como líder global. A análise do estudo foca no período imediatamente após, para analisar as consequências dessa política considerando os impactos sociais”, explica Raisa.

O objetivo de um negócio familiar, um relacionamento permanente entre o Estado e a empresa, investimentos de outros países e interesses de grandes bancos internacionais formaram uma combinação de fatores que possibilitou a expansão da JBS, conclui a autora.

Crise é oportunidade

Em 2008, a crise que abalou os mercados globais e frigoríficos mundo afora já havia sido proveitosa para a empresa, em um movimento típico da dinâmica do capital em que muitos perdem e poucos ganham. Novamente com o apoio do BNDES, a JBS comprou grandes concorrentes nos EUA e a empresa brasileira Bertin.

Nos últimos dez anos, a JBS adquiriu 44 empresas, expandindo presença nos EUA, na Austrália, no Reino Unido e na União Europeia. A pandemia foi a oportunidade para ampliar essas aquisições na Espanha, Holanda e Itália.

O relatório também mostra o papel da diplomacia brasileira nas negociações internacionais, “abrindo portas nos círculos de empresários que antes estavam fechadas para a então relativamente desconhecida família Batista”.

Nos últimos 20 anos, a JBS obteve quase 25 bilhões de dólares de financiamentos a partir de um consórcio de instituições financeiras, incluindo o BNDES, mas também o Banco da China e o Royal Bank of Canada, entre outros.

A empresa tem hoje uma receita anual de R$ 370 bilhões e um faturamento anual que supera o PIB de 20 estados brasileiros.

Nos últimos dois anos, a empresa distribuiu aos acionistas mais de US$ 1 bilhão – metade deste valor foi para a família Batista, que tem mais de 49% das ações. O BNDES fica com 20% e o restante é distribuído entre os acionistas minoritários, de acordo com a porcentagem de ações.

Apesar das polêmicas, como a prisão dos irmãos Wesley e Joesley em um escândalo de corrupção, a presença da família Batista continua forte, com a próxima geração já posicionada em papéis-chave, relata o estudo.

Aproximadamente 70% dos lucros anuais da JBS são destinados a reservas corporativas, para futuras aquisições.

Salários de R$ 2 milhões

A JBS é responsável por 2,7% da geração de empregos formais no país. O relatório, no entanto, mostra o abismo entre a remuneração de executivos e administradores, em comparação ao rendimento médio dos trabalhadores.

Houve um aumento exponencial no salário dos executivos, especialmente após os escândalos de corrupção em 2017 e novamente após a pandemia de Covid-19. Esses reajustes aconteceram mesmo com a oposição da maioria dos acionistas, inclusive do BNDES.

Atualmente, segundo o relatório, cinco executivos ganham salário de R$ 2 milhões, enquanto nove conselheiros têm remuneração mensal de R$ 65 mil.

Enquanto isso, os cerca de 113 mil operários ganham, em média, pouco mais de um salário mínimo: R$ 1,7 mil. Um valor distante do salário mínimo real, medido pelo Departamento de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), atualmente estimado em R$ 6,2 mil.

“O Brasil é líder no setor de alimentos, mas isso não deve gerar orgulho na nação. Teremos orgulho no dia que o país zerar a fome. Enquanto governos e setor privado continuarem investindo neste sistema desigual, estaremos longe de sermos finalmente uma nação campeã”, conclui Raisa.

Fonte: https://ojoioeotrigo.com.br/2024/04/expansao-jbs-concentracao-pobreza/

agência de notícias anarquistas-ana

Passa um vagalume.
Quando vou dizer “Veja”,
Me encontro sozinho.

Taigi