[Reino Unido] O Sudão está sufocado de sangue e fome

A região do Darfur está mergulhada em atrocidades, com fome, assassinatos em massa e deslocamentos agora definindo o que resta da revolução do Sudão.

Blade Runner ~

A cidade de El Fasher, na província sudanesa de Darfur, que é quase do tamanho da Espanha, devastada pela guerra, caiu nas mãos das Forças de Apoio Rápido (Rapid Support Forces, RSF), que são paramilitares, após mais de 18 meses de cerco. Nesse tempo, centenas de milhares de civis ficaram presos, os suprimentos de alimentos entraram em colapso e as condições de fome começaram a se estabelecer. Imagens de satélite e relatos de testemunhas oculares agora revelam cenas de terror: bairros queimados, valas comuns e assassinatos em larga escala de civis. As RSF, lideradas pelo general Mohamed Hamdan Dagalo (“Hemedti”), sucessores diretos das milícias Janjaweed, os chamados “demônios montados”, durante anos aterrorizaram populações não árabes em Darfur, e têm lutado contra as Forças Armadas Sudanesas (SAF) do general Abdel Fattah al-Burhan há mais de 2 anos, naquilo que muitos sudaneses chamam de “guerra contra civis”, já que mata uma proporção descomunal de mulheres e crianças.

O número total de pessoas mortas é desconhecido. As estimativas variam de dezenas a centenas de milhares, mas nenhum número confirmado se aproxima de um milhão. Mais de 12 milhões de pessoas foram deslocadas dentro do Sudão ou forçadas a fugir para países vizinhos, particularmente o Chade, mas também República Centro-Africana, Líbia, Egito, Sudão do Sul, Uganda e Etiópia. Cerca de 25 milhões de pessoas precisam de assistência humanitária, com cerca de 24 milhões sofrendo insegurança alimentar aguda e surtos de doenças como o cólera. Mesmo a ajuda que chega ao país é frequentemente bloqueada ou saqueada pelas forças da RSF, por unidades das SAF ou por milícias locais alinhadas algum dos lados. O número de refugiados que consegue chegar ao Mediterrâneo na tentativa de cruzar para a Europa em barcos inseguros é pequeno, muitas vezes arriscando ou encontrando a morte no mar.

Essa guerra civil começou após a derrubada do presidente Omar al-Bashir, em 2019, quando uma revolta popular o forçou a deixar o poder. Em vez de levar a qualquer tipo de democracia, o país foi tomado por generais rivais que acabaram virando as armas uns contra os outros. Tornou-se um conflito impiedoso que a ONU chamou de “a tempestade perfeita”, sem perspectiva visível de fim, atraindo o envolvimento externo de potências regionais como os Emirados Árabes Unidos e o Egito, apoiando lados diferentes, bem como interesses russos e empreiteiros militares privados. A UE tem gasto milhões para conter a migração, enquanto equipamentos militares da Grã-Bretanha, Canadá e outros lugares estão sendo usados nos campos de batalha.

Menos conhecido é o que resta do movimento revolucionário de base que ajudou a desencadear o levante contra al-Bashir. Entre essas forças está o Grupo Anarquista no Sudão (AGS), fundado por estudantes e jovens trabalhadores em 2017. Durante a revolução, ajudou a organizar comitês de resistência, assembleias de bairro que coordenavam protestos, greves e ajuda mútua. Depois que os militares retomaram o poder e a guerra civil começou, muitos membros do AGS foram presos, mortos ou empurrados à clandestinidade. Outros continuaram o trabalho em segredo: traduzindo e imprimindo textos anarquistas, administrando cozinhas comunitárias, ajudando famílias deslocadas e apoiando grupos de defesa locais. Com o apoio de redes anarquistas internacionais, incluindo Black Rose/Rosa Negra, o AGS adquiriu uma impressora para produzir material, embora a luta e a repressão constantes tenham limitado o seu uso. Para eles, essa não é simplesmente uma guerra entre dois generais, mas a destruição violenta da revolução que vinha a partir de baixo, um esmagamento deliberado de qualquer tentativa de auto-organização, autonomia ou poder popular.

Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/10/31/sudan-drowning-in-blood-and-hunger/

Tradução > CF Puig

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vento transparente
nu
vens

Alexandre Brito

Flecheira Libertária 831 | “Sociedade e Estado é uma dupla indissolúvel”

mais do mesmo

Para quem não sabia, o Rio de Janeiro, neste século, está dividido em diversas empresas ilegais, entre as quais as maiores são: CV (Comando Vermelho), ADA (Amigo dos Amigos) e TCP (Terceiro Comando Puro), que introduziu os evangélicos neste negócio. Pouco? Coisas de ilegalismos derivados do proibicionismo com sua continuidade obsessiva e moral, com sua lucratividade econômica da sociedade majoritária e do Estado democrático de Direito, gestões compartilhadas e a ideia fixa da segurança.

…e o rio explode

Matam-se. Uns dizem que tem muita violência nestas mortes. E há mortes programadas sem violência? Querem uma polícia pacificadora ou redutores de violências? Já tiveram… Falam de uma população que se subordina. É verdade. E não se revolta. É verdade. Se deixou apanhar pela utilidade. Alguém mandou matar? Mandou. Os outros só reclamam dos meios. Tráfico-Estado-empresas legais e ilegais: isso é capitalismo, socialismo estatal, sociedade hierarquizada. Sociedade da denúncia e da delação. Sociedade e Estado é uma dupla indissolúvel. Só os safados e as safadas do momento é que ainda querem fazer crer que há oposição de interesses entre Estado e Sociedade. Estamos na grande era dos assujeitamentos.

>> Leia o Flecheira Libertária 831 na íntegra aqui: https://www.nu-sol.org/wp-content/uploads/2025/11/flecheira831.pdf

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Virada do morro:
Ipê e seu grito amarelo
perpendicular.

Eolo Yberê Libera

[Chile] Lançamento: “Niñarquia – Juegos en resistencia”, de Jorge Enkis

GUIA PARA BRINCAR, DESOBEDECER E CRIAR LIBERDADE DESDE A INFÂNCIA

“Niñarquía” é a arte de brincar sem permissão. É o espaço onde a brincadeira se torna ferramenta de resistência, criação e liberdade.

Cada atividade deste guia convida a questionar a obediência, a competição e o tédio, promovendo a autonomia, a cooperação e a imaginação. Ideal para comunidades que buscam uma infância livre.

Baixe, Imprima e divulgue!

>> PDFhttps://editorialautodidacta.com/wp-content/uploads/2025/11/Ninarquia-Juegos-en-resitencia-Jorge-Enkis.pdf

editorialautodidacta.com

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espuma do mar
adensa o voo das
gaivotas no ar

Carlos Seabra

[México] A vida do anarquista Jorge Esquivel corre risco

Nas últimas semanas o estado de saúde de Jorge Esquivel se deteriorou como resultado da falta de atendimento médico adequado. Jorge solicitou atendimento médico no interior do Reclusorio Sur, o qual não foi proporcionado de maneira adequada e oportuna, o que provocou em Jorge a perda de peso e presente dores intensas no abdômen, pelo que sua mobilidade foi reduzida de maneira considerável.

Jorge tem antecedentes de problemas gastrointestinais sérios, inclusive sofreu intervenção cirúrgica para remoção de parte de seu intestino antes de voltar a ser sequestrado pelo estado. Seu processo de recuperação e cura foi interrompido por sua detenção em dezembro de 2022. Desde então não recebeu tratamento para que sua saúde melhore.

Que a solidariedade se expresse para exigir atendimento médico e um tratamento adequado!

Solidariedade e força para Jorge Esquivel!

Conteúdo relacionado:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/02/13/mexico-prisioneiro-anarquista-jorge-yorch-esquivel-e-transferido-e-recurso-e-negado/

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A lei é teia
que arde com um sopro
de gente unida.

Liberto Herrera

Sobre o massacre de estado – Rio de Janeiro

Por Camila Jourdan | 29/10/2025

A política de morte não trata apenas de matar, mas sempre de produzir a própria possibilidade do extermínio. Por isso ela tem sempre uma dimensão discursiva. Que ameaça devem produzir corpos expostos em praça pública? Que ensinamento de terror sempre esteve expresso pelas execuções públicas? Ao lado disso: o que autoriza que o estado moderno mate? Como se produzir a morte e, ao mesmo tempo, se dizer que se faz isso para defesa do estado democrático de direito? Como exibir publicamente uma fileira de corpos e, ao mesmo tempo, se escrever a legenda: ‘cidade volta ao normal após operação’? Como colocar a chacina e o extermínio sob a égide da normalidade?

Desde do dia da operação a televisão insistia em dizer que todos os mortos eram ‘bandidos’, mesmo que não se soubesse quem eram. Tudo havia sido feito em função da manutenção da ordem e da paz social. Paz para quem, afinal? A implicação: ‘morreu, logo era traficante‘ é antiga neste contexto de produção de discursos da suposta ‘guerra às drogas’, e já fazem pelo menos quatro décadas. Sabemos que se diz ‘guerra assimétrica’ para não se chamar chacina, extermínio, massacre, perseguição aos pobres, gestão do crime e domínio dos territórios pelo medo. Quando finalmente a mídia passa a chamar de ‘suspeitos’, é sempre com uma acompanhada despersonificação. É importante tornar os alvos não-sujeitos, e isso se procede de muitas maneiras. Pela exibição de corpos em montanhas. Pelo número colocado como sujeito da frase. Pela tentativa de se evitar qualquer empatia. Foram mais de 100 pessoas assassinadas, mas isso deve ser tratado em bloco, apenas a família e amigos dos quatro policiais são exibidos chorando, sentindo, demonstrando comportamento de dor. As pessoas assassinadas não têm família, ou esta família é um sujeito oculto mencionado para se reconhecer a culpa do filho morto, não há quem se importe, são números: ‘128 mortos’, ‘128 corpos’, nenhuma subjetividade…daí o pano de fundo estar dado para fala do governador, repetida pelo secretário de segurança: “só tivemos 4 vítimas nesta operação, os policiais”, os demais foram contidos, eliminados, abatidos. Os demais não são pessoas. 

Tudo isso vem então acompanhado da impossibilidade de defesa, o outro animalizado é o lugar do inimigo social, e o inimigo social é aquele que pode ser eliminado sem que isso gere punição. Mais do que isso, cuja tentativa de autodefesa deve sempre deflagrar sua própria morte. Lugar ocupado por quem é colocado como não-humano é o que a designação de ‘terrorista’ deve produzir, o lugar que pessoas sem direitos devem ocupar. As entrevistas do governador e do secretário de segurança defendem de modo intransigente uma operação ilegal, amparados nesse estratagema discursivo: o lugar onde a defesa é impossível, é também o lugar da presa. Por isso é tão importante que eles digam que o que está em jogo não é mais o comércio de drogas, mas a defesa do estado, que tratam-se afinal de ‘narcoterroristas’ muito perigosos. O ‘narcoterrorista’ é matável por excelência, inimigo da civilização, fabricado no lugar de ameaça interna, capaz de incendiar a cidade, parar o mercado, interromper as vias, levar o caos. Contra ele qualquer violência apresenta-se como plenamente legítima.

Só assim é possível sustentar que sejam largados na mata pra que seus familiares busquem os corpos. Requinte de crueldade sem dúvida, mas que convenientemente impede a perícia. Pois se eles vão buscar, são acusados também de serem criminosos, de terem adulterado a cena do crime, de terem gerado qualquer marca no corpo que não corresponda à versão do auto de resistência. Mas, ora, se eles estavam todos em confronto por que não foram encontrados com seus fuzis? Não seria importante a polícia deixar a prova que sustenta sua narrativa no local, já que agiam pra se defender? Como corpos desarmados podem ser vistos como ameaças? Daí a importância que sejam recolhidos por seus próximos, aquelas pessoas que mesmo diante dessa estratégia sádica, insistem em ter empatia, e assim ocupam o lugar de Antígona, elas impedem que os corpos sejam largados sem ritos. Na praça, diante da comunidade, podem receber novos sentidos. Na praça, diante das câmeras, os corpos matáveis insistem em ser gente, e são aplaudidos. 

Mas quanto ao corpo de Polinice, infaustamente morto, Ordenou aos cidadãos, comenta-se, Que ninguém o guardasse em cova nem o pranteasse, Abandoando sem lágrimas, sem exéquias, doce tesouro De aves, que o espreitam famintas. As ordens – propalam – do nobre Creonte, que ferem a ti E a mim, a mim, repito, são estas, que vem para cá Com o propósito de anunciar as ordens aos que ainda não as conhecem Explicitamente. O assunto lhe é tão sério Que, se alguém transgredir o decreto, Receberá sentença de apedrejamento dentro da cidade (Antígona)

Antígona, um mito antigo, enfrenta o estado representado por Creonte, e confronta sua narrativa pela qual o cadáver do seu irmão não pode receber ritos fúnebres por ter ofendido as leis em vigor. Antígona impede que o corpo de seu irmão apodreça sem ritos fúnebres e que seja comido por animais. Que os próprios parentes recolham seus mortos atesta também: o estado mata, mas a comunidade cuida. Antígona também se torna igualmente criminosa por isso. Na necropolítica, cuidado é crime. Porém, dessa forma, não temendo mais, em seus próprios termos, nem a morte nem a loucura, parece apontar um princípio de uma ética para além do estado e da noção necessariamente excludente de humanidade.

Morrerei, sim. Se minha morte vier mais cedo, eu a receberei de bom grado. Minha vida tem sido apenas miséria. Se me punires, não farás mais do que acelerar minha chegada ao túmulo. Mas não honrar meu irmão, isso sim seria intolerável. (Antígona)

As analogias param por aí. Não devemos sustentar que o ocorrido foi uma tragédia, pois não foi, foi planejado e executado de acordo com o plano. Nisto, o governador não mentiu. Em todo caso, Claudio Castro disse que os policiais que morreram em confronto são heróis. Não quero disputar heroísmos. Mas se há uma ação que em meio a tudo isso possa ser saudada são daqueles e daquelas que passaram a madrugada buscando os corpos dos seus parentes, amigos ou apenas vizinhos em meio a mata. Estas pessoas nos permitem enfrentar o medo que nos é sistematicamente imposto como política de morte.

Fonte: https://lasintec.unifesp.br/produ%C3%A7%C3%B5es/colabora%C3%A7%C3%B5es-externas/camila-jourdan-sobre-o-massacre-de-estado-rio-de-janeiro-29102025

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travesso gato
com saudade do dono
mija no sapato

Carlos Seabra

[EUA] Libertem Mumia Abu-Jamal, já!

Ontem (19/10) visitei Mumia. Ele é uma das pessoas mais inteligentes que já conheci. Visito-o há mais de trinta anos e, a cada visita, fico mais claro para mim o motivo pelo qual querem silenciá-lo.

43 anos atrás das grades afetaram seu corpo e sua visão, mas seu espírito de denunciar injustiças continua forte.

Mumia não está na prisão porque um policial foi morto em 9 de dezembro de 1981. Mumia está na prisão porque sobreviveu.

Se o policial Faulkner tivesse sobrevivido e Mumia tivesse morrido, o policial Faulkner estaria na prisão?” — Mumia

Mumia é vítima da corrupção policial, do racismo, de Rizzo [ex-prefeito da Filadélfia]. Libertem Mumia!

Mike Africa Junior

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no vaso menor
um punhado de terra
violeta em flor

Ricardo Silvestrin

A “pacifista” Corina Machado, um disparate perigoso

A escolha da venezuelana María Corina Machado como ganhadora do Prêmio Nobel da Paz de 2025 além de descredibilizar o comitê de Oslo, dando a ele um notório toque de bizarrice, realça também a não neutralidade de seus participantes na escolha da honraria, dado que o “condomínio político” ali representado, ao conceder esse prêmio, premia, acima de tudo, a atuação política de uma figura tão controversa quanto o bolsonarismo aqui no Brasil. Com um passado abraçado ao golpismo, essa senhora, ainda hoje, clama por uma escalada militar dos EUA contra seus compatriotas e tal sinalização, escancarada nas mídias digitais, pode servir de aterramento midiático aos interesses de ocupação que o imperialismo sempre teve pela região.

Para Pablo Uchôa, pesquisador e docente do Institute of the Americas, da Universidade de Londres, a premiação ignora o passado antidemocrático da líder e pode até servir como um atalho para a influência de Trump sobre a América Latina. Uchôa avalia que, ao destacar uma figura individual, o Nobel perdeu a chance de reconhecer a luta coletiva pela democracia, representada por algumas organizações da sociedade civil; e, diante da crescente sombra direitista pela América, o professor ainda nos lembra que: “No ano em que o espectro do fascismo começa a se alastrar pelos Estados Unidos, o comitê do Nobel resolve premiar a sua maior aliada na América Latina.”

Diante disso, como considerar uma defensora da paz alguém que apoia as ações do governo de Benjamin Netanyahu em Gaza e defende intervenções externas na Venezuela? Ora, essa mulher que apoiou o golpe contra Chaves em 2002 e a deposição de Nicolas Maduro, em 2019, ao lado do autonomeado presidente, Juan Guaidó, recentemente comemorou que o governo americano aportasse na costa caribenha três navios de guerra prontos para o terror; o que passa longe de alguém que comunga os preceitos pacifistas de respeito e diálogo. Muitas vezes vendida como esperança de democracia, María Corina, na verdade, não passa de uma fascista de longa data – que nunca hesitou em conclamar meios beligerantes para derrubar o governo de seu país natal.

Aqui no Brasil, até mesmo os defensores de tal figura tiveram imensa dificuldade para justificar na imprensa o prêmio concedido a ela, dado seu “histórico de luta” estar resumido apenas a conchavos esporádicos na coxia política. Não é pra menos: este talvez seja o prêmio mais bizarro dado na história da instituição do Nobel. E olha que o plantel de demônios laureados, sedentos pelo sangue de países periféricos, é extenso: vai de Henry Kissinger à Menachem Begin e Barack Obama, por exemplo.

É lamentável que esse prêmio contamine de infâmia aqueles que, de fato, o merecem e seja posto, hoje, como uma espécie de avalista para possíveis confrontos armados, pois, neste exato momento, o presidente Trump já fala abertamente em fazer uma incursão por terra na Venezuela, legitimando seu discurso com esses “confetes” recebidos. Ou seja, acabou a vergonha em falar em nome do sangue e do saque, pois todos sabemos que os EUA não está nem aí para a democracia. Quem fala alto aqui e agora é o perigo. Ao anunciar como vencedora uma atriz política, o comitê de Oslo premiou sua histórica atuação por submissão, intervenção e saque. Ora, dado o histórico macabro do próprio prêmio, e dado os devidos créditos de megalomania do presidente americano, a premiação de 2025 seria até menos absurda se tivesse sido concedida a Donald Trump.

Diego Fernandes Moreira

ULCM (Unificação das Lutas de Cortiços e Moradias)

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Noite fria.
Mundo em silêncio.
Tosse ao longe…

Gustavo Alberto Corrêa Pinto

Sejam pessoas bem vindas a COP30: Brasil, uma potência em destruição ambiental!

O Brasil longe de ser o paladino da preservação ambiental, já destruiu 71,3% das áreas de florestas tropicais nativas, conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe), devido aos diversos ciclos de exploração agrícola ocorridos desde a invasão europeia. 

Para fins ilustrativos, a cana-de-açúcar e o café tiveram um papel significativo na destruição da flora e fauna no Nordeste brasileiro. A exploração da cana-de-açúcar, em particular, levou ao desmatamento e à perda de habitats, impactando diretamente a biodiversidade da região em um período de tempo de quase 3 séculos. 

E esse perfil não mudou!

Os vários governos brasileiros com seus perfis variados (direita ou esquerda institucionais), não tiveram nenhum compromisso sério de mudança em suas políticas agrícolas e ambientais, embora gritem aos quatro ventos estejam engajados em programas ambientais e preocupados com as mudanças climáticas que estão nos devastando. 

Balela!!!

Ao mesmo tempo que buscam ter algum protagonismo nas questões climáticas e ambientais, mostra sinais contraditórios de apostar em exploração de mais fontes de energia suja, como petróleo e termelétricas, mantendo a política de uso de veneno nas lavouras e afrouxamento das regras para autorizações de empreendimentos extremamente destruíres com de mineradoras e construções de alto padrão em áreas de preservação ambiental, além de manterem a política de extermínio dos povos originários, uma vez que nada fazem para parar os avanços das fronteiras agrícolas. 

Recentemente, em outubro de 2025, foi autorizado pelo Ibama (órgão que deveria proteger o meio ambiente brasileiro) a sondagem exploratória da foz do Amazonas pela Petrobras. E o Brasil mantém subsídio para o uso de carvão para termelétricas, recentemente prorrogado até 2040, também em outubro de 2025!

Não se deixem enganar, o Brasil sempre caminhou como tantos outros países que destruíram seu meio ambiente, uma vez que o que a ganância e avidez por mais riquezas por parte dos grupos dominantes (empresariado em geral, banqueiros, agro-negociantes entre os principais) mantém a pressão para manterem operações nocivas ao meio ambiente. Não importa que isso cause impacto negativo, tendo lucros e mais lucros, o planeta que se dane!

A diferença é o tamanho continental que faz com que a percepção de que ainda temos muita área preservada, mas é ilusório, uma vez que a ganância e ambição dos grupos exploradores de todas as matizes não vão parar em quanto a terra não estiver seca de uma forma irreversível, assim como fizeram com grandes áreas no nordeste brasileiro.

Embora vastas áreas do Brasil permaneçam preservadas, as áreas já desmatadas são tão grandes que, quando comparadas a países menores, a magnitude do dano é assustadora. Por exemplo, o Brasil perdeu uma área de vegetação natural equivalente ao tamanho da Bolívia (mais de 111 milhões de hectares) em apenas 40 anos. Apenas em 3 anos, uma área maior que a Suíça foi devastada na Amazônia. Esses números, expressos em áreas comparáveis a países inteiros, demonstram a escala colossal da destruição, que pode ser subestimada quando vista apenas em termos de porcentagem de um território tão grande quanto o brasileiro.

Com uma vasta extensão territorial do país pode criar uma falsa percepção de que os recursos naturais são inesgotáveis e que sempre haverá mais áreas a serem exploradas ou preservadas. Isso pode levar a uma complacência em relação às taxas de desmatamento e degradação.

A destruição ambiental ocorre em diferentes biomas (Amazônia, Cerrado, Caatinga, etc.) e em locais distantes dos grandes centros urbanos. A distância física e a dispersão dos problemas podem fazer com que a população urbana e a mídia não tenham a real dimensão do que está acontecendo em regiões remotas.

Frequentemente, os dados de desmatamento são apresentados como porcentagens da área total do bioma ou do país, o que pode parecer pequeno em um território colossal. No entanto, em termos absolutos (quilômetros quadrados), a área destruída é enorme, e tem impactos globais significativos, como a emissão de gases de efeito estufa e a perda de biodiversidade. 

Reforçamos que a dimensão do Brasil mascara o fato de que a destruição, embora localizada em certas regiões, atinge proporções que, em qualquer outro país, seriam consideradas uma catástrofe nacional de proporções inquestionáveis.

Brazil: king of ambiental destruction!

anarkio.net

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Rebelião íntima:
quem doma o próprio medo
derruba impérios.

Liberto Herrera

[Macedônia do Norte] Coletivo Anarquista Smokva: “Rejeitamos as ilusões da democracia representativa e suas hierarquias”

O Coletivo Anarquista Smokva (lit. “Figo”) é um grupo de pessoas que se reuniram com uma forte vontade de criar um espaço social, político e amigável, bem como um modelo de vida mais humano.

Impulsionades pelo desejo de ajuda mútua, amizade horizontal e ação direta, nos reunimos, não para representar, mas para agir; não para falar em nome de outra pessoa, mas para conversar juntes; não para imitar o que existe, mas para experimentar e criar possibilidades.

Vivemos em sistemas que se alimentam da guerra e da alienação, enquanto os políticos oferecem promessas vazias. Vivemos em meio a escombros empilhados, que ainda fingem constituir uma forma de ordem. Ao nosso redor, os antigos sistemas de poder, capitalistas, patriarcais e imperialistas, continuam se reproduzindo, incapazes de existir sem guerra, alienação, roubo e desespero.

Percebemos como cada avanço na igualdade de gênero está diminuindo, vemos nossos amigos da multidão de liberdades sexuais sendo empurrados para as margens, vemos o ar que respiramos sendo envenenado pela poluição, vemos como a mera sobrevivência ecoa como um futuro impossível, enquanto as ruas estão cobertas pelos excrementos do consumo infinito.

A isso, respondemos com uma ação experimental, criando novas formas de união.

Solidariedade e amizade não são apenas slogans para nós – são uma prática cotidiana: nas decisões que tomamos juntes, nas refeições que compartilhamos, no cuidado que temos uns com os outros e com as ruas que estamos recuperando. Acreditamos na amizade sem papéis e na igualdade sem mestres.

Rejeitamos as ilusões da democracia representativa e suas hierarquias. A liberdade não é delegada, e a igualdade vive na diversidade, não na semelhança.

Smokva é uma constelação de amizades e experiências, imperfeita, fluida e viva. Um símbolo da vida que cresce, ramificada e livre, uma tentativa de paz em um mundo sem paz, que cresce entre o que é e o que poderia ser.

Instagram: https://www.instagram.com/ak_smokva/

Tradução > transanark / acervo trans-anarquista

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Criança com sede
E a chuva de primavera
Na concha da mão.

Tânia D’Orfani

[Uruguai] XI Feira Anarquista de Montevidéu – 22 & 23 novembro

Desde a organização da FLA Montevidéu convocamos a propostas de oficinas, palestras e/ou mesas redondas.

Estendemos também o chamado a montar bancas para coletivos, grupos ou individualidades que desenvolvam propostas editoriais.

A feira tem como objetivo o encontro para a difusão de materiais, publicações, propaganda e outros afins à anarquia.

Para participar podes escrever-nos ao contacto:

feriadellibroanarquistamvdeo@riseup.net

22 e 23 de novembro

Desde as 14:00 horas

Espaço Tormenta (espaço queer autogestivo)

Saúde!

Os esperamos!

agência de notícias anarquistas-ana

a chuva me cai
como uma luva
me OH!rvalha

Joca Reiners Terron

Pela união e organização anarquista: da teoria à ação combativa!

Às companheiras, companheiros e companheires, àqueles que carregam no peito o fogo da liberdade e o ódio à opressão: saudações da Federação Anarquista Capixaba!

O atual momento histórico exige mais do que palavras indignadas; exige ação concertada e estratégia. Enquanto nos perdemos em discursos fragmentados e ações desconexas, o capital avança, internacional e articulado, pisoteando povos, ecossistemas e qualquer resquício de autonomia. Sua face é global, e nossa resposta, até agora, tem sido localista e insuficiente. É hora de entender que a luta contra o Leviatã Estatal e o vampiro do Capital não será vencida por atos de bravura isolados, mas pela construção de um movimento capaz de enfrentá-los em todas as frentes.

A dispersão é nosso maior inimigo interno. Enquanto nos contentamos com grupelhos fechados em suas próprias verdades ou ações simbólicas sem continuidade, o sistema ri e segue seu caminho de destruição. Romantizar a espontaneidade sem organização é um luxo que não podemos mais nos dar. Precisamos de uma união orgânica, fluida e combativa, que transcenda as afinidades pessoais e se estruture em torno de um programa e uma estratégia comum. Só uma organização específica anarquista, firmemente enraizada nas lutas populares, pode acumular forças, compartilhar experiências e projetar uma transformação social real e duradoura.

Não basta diagnosticar os males do mundo; é nossa obrigação mergulhar nas profundezas da conjuntura e dela extrair um plano de batalha realista. A análise não é um exercício acadêmico, mas a base para a ação eficaz. Devemos estudar minuciosamente as táticas do inimigo, identificar seus pontos fracos e, a partir daí, criar estratégias de ação que sejam ao mesmo tempo ousadas e exequíveis. Isso significa conectar nossa prática cotidiana – do apoio mútuo nas comunidades à greve no local de trabalho – com nosso horizonte estratégico de transformação social radical. É a ponte que nos tira do campo das ideias e nos lança ao combate direto.

O capital não conhece fronteiras, e nossa solidariedade também não pode conhecer. Nossa luta no Espírito Santo está intrinsecamente ligada à dos povos da Amazônia, dos trabalhadores da Europa, dos oprimidos do Sul global. A internacionalização da luta não é um slogan, mas uma necessidade de sobrevivência e vitória. Devemos construir canais de comunicação, apoio e ação direta com organizações irmãs em todo o mundo, compartilhando táticas, recursos e, acima de tudo, a convicção de que nenhum de nós é livre enquanto um de nós for escravo. Nossa rede deve ser tão global quanto a do capital, porém, fundada na liberdade e na cooperação, não na exploração.

Portanto, chamamos todas e todos que almejam um mundo verdadeiramente livre a superar a inércia e o sectarismo. Unamo-nos sob a bandeira negra e vermelha da Anarquia organizada! Vamos forjar na prática uma ferramenta de luta afiada, capaz de analisar, planejar e atacar. O inimigo é poderoso, mas nossa força reside no povo organizado. É hora de transformar nossa indignação em movimento, nossa teoria em ação combativa e nossa esperança em realidade. A luta é aqui, é agora e é até a vitória final!

PELA ANARQUIA!


FEDERAÇÃO ANARQUISTA CAPIXABA (FACA)

federacaocapixaba.noblogs.org

fedca@riseup.net

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Sobre o telhado
flores de castanheiro
ignoradas.

Matsuo Bashô

[Osasco-SP] LASInTec convida: “Pesquisa, militância e anarquia: formas insurgentes de produção do saber”

No dia 4 de novembro, a partir das 19h, receberemos na Eppen-Unifesp – Universidade Federal de São Paulo -, em Osasco, o autor norte-americano Peter Gelderloos, para debate sobre seu novo livro “As soluções já estão aqui: estratégias revolucionárias ecológicas vindas de baixo”, em lançamento no Brasil pela GLAC edições, pela Entremares e pela Teia Dos Povos.

A mesa “Pesquisa, militância e anarquia: formas insurgentes de produção do saber” contará com a participação do professor Acácio Augusto, coordenador do LASInTec. A conversa será em espanhol e não haverá transmissão ao vivo.

SOBRE O LIVRO

“As soluções já estão aqui: estratégias revolucionárias ecológicas vindas de baixo”, de Peter Gelderloos, são um chamado urgente que ecoa das margens para o centro de nosso tempo histórico. Publicado originalmente pela Pluto Press (2022) e agora no Brasil, com prefácio de Anne Xukuru, o livro desmascara a farsa dos governos, corporações e ONGs que vendem falsas saídas “verdes” enquanto aprofundam a devastação.

Acompanhando por décadas as lutas anticapitalistas, Peter Gelderloos recolheu experiências de territórios insurgentes: comunidades indígenas que replantam florestas, camponeses que defendem a soberania alimentar, coletivos urbanos que reinventam a vida comum.

Em diálogo com povos do Brasil, da Venezuela, da Indonésia, da Europa e de tantas fronteiras em disputa, o autor mostra que a verdadeira resposta à catástrofe climática já está em curso — enraizada na autonomia, na solidariedade e na prática cotidiana de quem resiste.

SOBRE O AUTOR

Peter Gelderloos — Ativista anarquista norte-americano, foi preso em 2001 durante protesto contra a School of the Americas, centro de treinamento militar americano que treina militares para a América Latina. Ele fez a própria representação no tribunal e foi condenado a seis meses de prisão. Em 2007, foi novamente detido na Espanha durante um protesto e absolvido em 2009, após alegar condenação injusta e perseguição política. É autor de Como a não violência protege o Estado (2005), referência em debates sobre resistência.

William Gillis descreve Gelderloos como “um anarquista comprometido em tornar a teoria anarquista acessível” e “dentro de nosso movimento […] provavelmente o escritor anarquista menos controverso vivo”. Em 2024, ele coproduziu It’s Revolution or Death, uma série documental focada na crise climática global, em colaboração com o coletivo de mídia subMedia.Tv.

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mar sem ondas
a criança cai
levanta

Ricardo Portugal

Chacina no Rio de Janeiro: O ESTADO É O VERDADEIRO TERRORISTA!

Na terça-feira, dia 28 de outubro de 2025, presenciamos uma matança promovida pelo governo do Estado do Rio de Janeiro, por meio de uma megaoperação policial nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte da cidade. A Chacina, que já conta pelo menos 130 mortos e dezenas de desaparecidos, foi a ação policial mais letal de que já se teve registro na história do país, superando até mesmo o massacre do Carandiru. Este é mais um episódio sangrento de terrorismo de Estado e sua política genocida sistemática contra a população pobre, negra e periférica!

A atual megaoperação não é a primeira a prometer “retomar o controle do Estado” nas favelas cariocas, é continuidade da nefasta política de segurança pública implementada no estado do Rio de Janeiro nas últimas décadas. Em 2010, a falida política das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) promovidas pelos governos Dilma-Lula-Cabral prometeu “acabar com o tráfico”, mas na prática fortaleceu o controle miliciano sobre os territórios. Em 2018, a Intervenção Federal de Michel Temer decretou a segurança pública do Estado do RJ sob o comando do exército brasileiro na figura de seu general Walter Braga Neto, prometendo solucionar a “crise” na segurança pública, e o que se sucedeu foram os assassinatos de moradores pelas forças militares e o descumprimento de direitos humanos mínimos, sob argumento de “guerra às drogas”.

Já o governador Cláudio Castro, tem em suas costas quatro das cinco operações mais letais da história do Rio de Janeiro: Jacarezinho (2021, 28 mortos), Complexo da Penha (2022, 23 mortos), Complexo do Alemão (2022, 16 mortos), Complexos da Penha e Alemão (2025, 120 mortos).

A política de segurança do governador Cláudio Castro (PL) é a mesma de seu antecessor no governo do RJ,  Wilson Witzel (PSC) que além de ser conhecido por ter sofrido impeachment por corrupção, cunhou a frase: “A polícia vai mirar na cabecinha e… fogo”.  Portanto, o número superior a 120 mortes não é um “dano colateral”, é a materialização da doutrina que vê a população pobre como inimiga a ser eliminada.

DA FAIXA DE GAZA AO RIO DE JANEIRO, A MÁQUINA DE GUERRA COLONIAL

O orçamento da segurança pública do estado do Rio de Janeiro chega aos R$ 19 bilhões por ano (a segunda maior pasta de gastos) e 61% desse orçamento é destinado exclusivamente ao policiamento ostensivo. Esse financiamento sustenta a máquina de guerra que tem o Estado genocida de “Israel” como principal fornecedor, responsável por 17% das armas do Estado. O mesmo arsenal e as tecnologias de guerra colonial experimentadas em Gaza são importados e aplicados nas favelas cariocas:  Assistimos à chegada de drones e agora de helicópteros de guerra como o “Black Hawk”, aeronave armada com mísseis e metralhadoras com capacidade de disparar mil tiros por minuto. Na “Gaza brasileira”, o Estado replica a lógica de guerra colonial e extermínio em massa praticada por “Israel” contra o povo palestino.

Como forma de justificar o massacre, a extrema direita destaca a quantidade de armas apreendidas na operação que até o momento contabiliza 93 fuzis. É importante lembrar que há pouco tempo atrás, em 2019, 117 fuzis NOVOS foram apreendidos na Barra da Tijuca, no apartamento de Alexandre de Souza, amigo de infância do miliciano Ronnie Lessa, assassino de Marielle Franco e vizinho do ex-presidente Jair Bolsonaro. O mesmo aparato que assassina dezenas para apreender 93 fuzis na favela, age de forma “discreta” para apreender 117 fuzis novos num bairro de classe alta.

Entre as justificativas que embasam essa operação, é citado que o Comando Vermelho promovia uma “expansão violenta em áreas de milícia”. Tal preocupação ilustra que o Estado adota abordagens distintas para as diferentes facções criminosas, mudando a balança de suas disputas pelos pontos de varejo e beneficiando os setores mais alinhados com as forças policiais paramilitares.

O “NARCOTERRORISMO” COMO PLATAFORMA DE CAMPANHA: QUAIS CORPOS DANÇAM PARA QUE A FESTA DA DEMOCRACIA ACONTEÇA?

Alinhado aos ventos reacionários da política internacional, Cláudio Castro, ecoa a retórica imperialista de Donald Trump que autorizou o bombardeio a barcos na América Latina sob a acusação de “narcoterrorismo”, buscando legitimar a execução sumária de civis sem qualquer tipo de julgamento. O objetivo de Castro com essa ação é nitidamente promover o populismo penal, a fim de criar uma plataforma de campanha para 2026, utilizando as vidas ceifadas como combustível eleitoreiro e demonstrando novamente que aqui o genocídio é um projeto de poder. Os de cima chamam de democracia a matança de quem não dança na sua festa!

Faz parte do teatro eleitoreiro a retórica do “narcoterrorismo”, que pinta a imagem de um inimigo interno preto, pobre, favelado. Mas é importante dizer que a apreensão de alguns quilos de droga e uma matança contra supostos soldados de uma facção sequer arranham a estrutura do verdadeiro crime organizado, que é na verdade administrado pelo grande capital financeiro desde luxuosas coberturas. Pesquisas indicam que o crime organizado faturou R$ 350 bilhões nos últimos três anos no Brasil. Nos últimos meses, investigações escancararam bilhões de reais movimentados no mercado formal (postos de combustível, venda de bebidas, mercado imobiliário, fintechs, dentre outros). Não se trata de uma “infiltração” do crime na economia formal, mas de investimentos ativos do mercado financeiro, que busca lucrar com a economia bilionária dos mercados ilícitos sem sujar as mãos. Não acreditamos de forma alguma que o tráfico e as milícias atuariam da forma como atuam sem o agenciamento e financiamento do Estado e do mercado, que lucram política e financeiramente com a sua existência.

TERRORISTA É O ESTADO!

É ainda mais alarmante que o governador faça um discurso que tente classificar as facções criminosas como grupos terroristas, enquanto nós sabemos que TERRORISTA É O ESTADO! Longe de serem exceções, tais assassinatos exemplificam a regra das ações policiais contra a população negra e pobre do país. Não se trata de políticas de um ou outro governo, mas sim de uma característica intrínseca ao sistema capitalista-estatista na promoção do genocídio do povo negro. Não é possível falar do terrorismo de estado sem levar em conta seu caráter racial – os números demonstram que a grande maioria das pessoas assassinadas pelas polícias são negras – e a instituição policial surge no Brasil justamente como uma ferramenta de Estado para controle e extermínio do povo negro. Terrorista é o Estado que invade casas, executa civis, destrói o patrimônio público e oferece a morte como política pública. Terrorista é o mercado financeiro que lucra com o sangue derramado nas periferias!

A operação no Rio de Janeiro é resultado direto da ação do Estado na ADPF das Favelas. As favelas perderam, e o Estado ganhou. O STF tem responsabilidade nesse processo, assim como o governador. A própria gestão estadual chegou a publicar nas redes sociais que “a operação está sendo realizada cumprindo as exigências da ADPF 635″. O governador comemorou como se houvesse um grande êxito, diante de mais de 120 corpos de pessoas brutalmente assassinadas sem direito a julgamento, de moradores baleados, escolas sem aula, trânsito interrompido e famílias em pânico”. Isso é reflexo de uma política que abocanha o orçamento público e destina seus recursos para financiar o genocídio da população negra e periférica.

É certo que não existem soluções simples para a segurança pública, como vendem os políticos tanto da direita quanto da esquerda institucional. A “sensação de insegurança” das elites e dos setores médios nada mais é do que o medo de perder seus bens ou sua vida na barbárie produzida pelo próprio sistema capitalista. No entanto, as estatísticas não deixam dúvida sobre quem são as verdadeiras vítimas desse sistema: em 2024, 76% das 44 mil vítimas de homicídio no Brasil eram negras. Disfarçada de guerra às drogas, a política genocida é na verdade uma guerra aos pobres, que vitima a juventude negra e periférica, e mantém a população dessas comunidades sob constante ameaça.

Chacinas como a que vivenciamos no Rio de Janeiro demonstram a falência das instituições de Estado em garantir o mínimo que elas mesmas se propõem. Enquanto a população periférica seguir sem moradia digna, saúde, educação e lazer, o ciclo de violência seguirá se perpetuando. Enquanto não avançarmos a descriminalização das drogas, bilhões seguirão indo para o bolso de empresários e políticos ligados ao narcotráfico. É urgente que o debate nos movimentos populares sobre o fim da polícia militar avance para demandar o fim de todas as polícias, que são o braço armado dos poderosos para nos torturar, prender e matar. A verdadeira resposta não se resume a combater a violência, mas a construir um outro projeto de sociedade. Somente a construção de um povo forte é capaz de desmontar esta máquina de morte. A única resposta possível ao terror de Estado é a organização popular das comunidades em autodefesa!

Pelo fim do genocídio do povo negro!

Pelo fim das polícias!

Por vida digna e segura para as vilas e favelas!

cabanarquista.com.br

agência de notícias anarquistas-ana

Na cidade, a lua:
a jóia branca que bóia
na lama da rua.

Guilherme de Almeida

Crime organizado legal pelo Estado: monopólio da violência explícita!

Há tempos que as terras invadidas são palco para a violência desmedida, da repressão aos povos originários, as execuções de rebeldes nas diversas revoltas que tivemos, dos sumiços de corpos no período da ditadura, das incursões policiais nas periferias, onde executam supostas pessoas criminosas.

A manutenção da desigualdade social e econômica precisa de agentes que possam cumprir esse trabalho de repressão e tudo e todos que sejam classificados como criminoso será “neutralizado” ou seja, será preso ou assassinato, conforme o capricho do agente repressor e das ordens que tenha recebido.

Somamos a esse processo de violência, mais uma lamentável megaoperação policial no Rio de Janeiro, em outubro de 2025, resultando em mais de 120 mortes (ainda contando), já a mais letal da história do estado, maior que ao Massacre do Carandiru, onde 111 pessoas foram assassinadas pelo Estado de forma covarde e mais criminosa do que os processos daquelas pessoas apenadas. 

Essa é uma questão importante e inquietante: essas pessoas são pessoas, antes de serem classificadas ou taxadas de bandidas ou criminosas. Daí por serem entendidas como supostas criminosas (ainda estão averiguando se realmente eram todas envolvidas com organizações criminosas), isso dá carta branca para serem assassinadas? 

Sempre tratam as pessoas oprimidas e exploradas como “criminosas”, enquanto o sistema mantém os grupos empresariais, banqueiros, latifundiários e toda a sorte de bandido capitalista dito bem sucedido, “cidadão de bens” bem protegidos para roubarem mais e mais, de cometerem crimes com a anuência do Estado que o protege, o crime organizado legalizado, o que são de fato.

O Estado não falhou em proteger a vida dessas pessoas porque seus agentes não as enxergavam como pessoas, cidadãs brasileiras e sim, pessoas infratoras e por isso podiam ser executadas sem um processo prévio. Lembremos que o Brasil não tem pena de morte institucional, porque não precisa, as execuções são feitas pelas pessoas agentes de segurança pública, principalmente nas periferias e comunidades mais vulneráveis. 

No caso da megaoperação de extermínio, foi focada em reprimir o avanço da facção criminosa Comando Vermelho (CV) nos Complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte, gerou intensos confrontos e grande repercussão. Em muitos desses espaços, há que considerar as forças de milicianos (policiais e militares que se fazem de justiceiros, mas que de fato, são organizações criminosas associadas às forças de repressão). Dependendo da situação, é muito possível que essas milícias assumam os espaços deixados pela megaoperação.

O número de mortos durante a operação varia em diferentes relatos, mas a contagem mais alta chegou a 121 pessoas (entre supostos criminosos e militares). Moradores relataram ter retirado dezenas de corpos de uma área de mata nos complexos. Isso porque as forças repressivas violaram todas as regras sobre essa situação, de acionar a perícia técnica, o IML e todo o protocolo quando há pessoas mortas. A comunidade vítima das organizações criminosas (a legal e ilegal) fez o pape de trazer das matas, dezenas de corpos, muitos nus e com sinais de tiro na nuca e rosto, indicando terem sido executadas de pronto.

Houve prisões de dezenas de suspeitos, incluindo criminosos de outros estados. Também houve uma grande apreensão de armamento, principalmente fuzis. A operação visava prender líderes do Comando Vermelho e combater o avanço territorial da facção. No entanto, um dos chefes, conhecido como Doca, conseguiu fugir.

Essa chacina do crime organizado legal causou comoção e protestos entre moradores e ativistas de direitos humanos, que questionaram a letalidade da ação. O Ministério Público Federal (MPF) chegou a pedir acesso aos dados da perícia dos corpos para investigar possíveis irregularidades. Por outro lado, muitas pessoas tem elogiado esse massacre, por esquecerem de que atrás de uma criminosa, há uma pessoa. Nos dias seguintes, a população viveu momentos de medo de possíveis retaliações, com comércio e escolas vazias em algumas áreas. 

Os crimes do Estado para que possa se manter e sustentar o sistema continuará, esses episódios são necessários para o controle social, base para a manutenção das desigualdades sociais e econômicas às quais somos submetidas.

anarkio.net

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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/10/29/gaza-e-o-rio-de-janeiro-gaza-e-o-mundo-inteiro/

agência de notícias anarquistas-ana

A raiz quebra o cimento
com a paciência feroz
dos oprimidos.

Liberto Herrera

[Itália] 4 de novembro: Desertamos todas as guerras

Falar sobre 4 de novembro hoje, sobre nossa oposição ao militarismo, à retórica e à propaganda que justificam as guerras, significa necessariamente confrontar também a forte oposição social à guerra que recentemente vimos crescer nas praças.

Nestes meses, milhões de pessoas se mobilizaram impulsionadas pela ação da Global Sumud Flotilla, pelas imagens do genocídio em Gaza, contra a guerra e o apoio que o governo italiano deu à agressão pelo Estado de Israel.

Trata-se de um movimento diverso, no qual se reuniram antimilitaristas com expoentes de movimentos pacifistas e não violentos e até mesmo de igrejas. Junto a eles, mobilizaram-se inúmeras pessoas que nunca são vistas em manifestações, um sintoma de um descontentamento e de uma oposição à guerra profundamente enraizados nas massas populares, juntamente com a desconfiança na ação do governo e das oposições parlamentares, e com a vontade de fazer algo concreto contra o horror que nos rodeia. E algo concreto foi feito, com os bloqueios que paralisaram grande parte do país e que tiveram repercussões também no exterior.

É, sem dúvida, um movimento heterogêneo, que escapa aos organismos sindicais e políticos que pretendem representá-lo e que, com suas narrativas, buscam dar uma visão distorcida, como se fosse um movimento motivado apenas pelo pedido de respeito ao direito internacional, pelo reconhecimento do Estado da Palestina, por uma guinada na política externa da Itália.

Na realidade, o ponto de partida deve ser a vontade de ir às ruas fora das siglas de partidos, sindicatos ou centros sociais, é a prática da ação direta e da auto-organização que frequentemente marginalizou os “chefinhos” dos sindicatos, das listas eleitorais e dos centros sociais que pretendiam dirigir o movimento.

Dentro deste percurso, o questionamento da produção e do tráfico de armas assumiu um papel central como objetivo de luta, para além das mediações institucionais habilmente executadas por alguns sindicatos, assim como um fator importante foi a solidariedade espontânea expressa na enorme quantidade de ajuda reunida pela Flotilla.

Impossível, portanto, reduzir este movimento a um movimento de apoio ao nacionalismo palestino e em particular às tendências islamistas em seu interior, elementos estes que, no entanto, estão presentes. É certamente mais interessante lê-lo também como um movimento que expressa um novo protagonismo da classe operária e do conjunto das trabalhadoras e dos trabalhadores, capaz de expressar a solidariedade internacionalista para além das fronteiras a uma população martirizada.

Saber captar os elementos positivos e trabalhar sobre eles para reduzir a influência dos aspectos negativos é a tarefa da componente francamente e conscientemente antimilitarista: por isso é importante estar presente dentro do movimento. A crítica antimilitarista deve se relacionar com os novos fenômenos, como este movimento, para se expandir a outras camadas sociais, com presença nas assembleias e coletivos, evitando que sejam dominados por forças que nada têm a ver com o antimilitarismo.

O 4 de novembro é uma oportunidade para uma intervenção desse tipo. O que o exército israelense faz hoje em Gaza, o exército italiano fez na Eslovênia e Croácia, na Líbia com o extermínio dos Senussi, na Etiópia, na Espanha com os bombardeios indiscriminados de Barcelona e outras cidades republicanas. O exército italiano de hoje é sempre aquele que em 1898 metralhou os famintos ou que, no dia seguinte a 25 de julho de 1943, atirou sobre os manifestantes que pediam o fim da guerra.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, não houve nenhuma solução de continuidade, a ponto de, ainda hoje, se celebrarem as batalhas da guerra imperialista fascista, assim como ruas, escolas e edifícios públicos recebem os nomes dos massacradores fardados.

O 4 de novembro é a festa de tudo isso, é um momento de propaganda institucional da ideologia da violência, do militarismo. A ideologia militarista da dissuasão e da competitividade é a que está por trás do genocídio de Gaza e dos mil genocídios espalhados pelo globo; a guerra nas cidades foi tema de uma doutrina específica elaborada pela OTAN nos últimos anos, da qual a operação “Strade Sicure” é apenas a primeira etapa. E a guerra nas cidades é, em primeiro lugar, guerra contra a classe operária, para submetê-la ao domínio dos governos e dos patrões.

Eis, portanto, que a contestação das cerimônias oficiais do 4 de novembro fornece ao movimento como um todo a ocasião para dar um passo adiante, sob o impulso da crítica antimilitarista, rumo à abertura de um processo de transformação social, sem enclausurar o movimento que recentemente se desenvolveu na perspectiva mesquinha de uma lista eleitoral para 2027.

Tiziano Antonelli

Fonte: https://umanitanova.org/4-novembre-disertiamo-tutte-le-guerre/

Tradução > Liberto

Nota:

No dia 4 de novembro, a Itália celebra o Dia da Unidade Nacional e das Forças Armadas. A data comemora o fim da Primeira Guerra Mundial. As celebrações incluem eventos cívicos e cerimônias militares, como a principal em Roma no Altar da Pátria, com a presença do presidente italiano e o depósito de uma coroa de flores no Túmulo do Soldado Desconhecido.

agência de notícias anarquistas-ana

A mesma paisagem
escuta o canto e assiste
a morte das cigarras

Matsuo Bashô

Palestina: Kyriakos Xymitiris, presente!

Um ano após a perda de nosso amigo e camarada, o guerrilheiro anarquista Kyriakos Xymitiris, queremos manter viva sua memória revolucionária e expressar nossa solidariedade com as companheiras anarquistas presas Marianna Manoura, Dimitra Zarafeta e os demais perseguidos no mesmo caso.

A ação revolucionária de Kyriakos esteve sempre ao lado das pessoas oprimidas e condenadas pelo estado e pelo capital, assim como daquelas que resistem à lógica do sistema patriarcal, do racismo e do colonialismo.

Com nossos pensamentos voltados a ele, pintamos estencils de seu rosto junto aos nomes de Marianna e Dimitra no muro do apartheid: um muro que mina e ameaça as vidas dos palestinos, e que, ao mesmo tempo, revela os sinais da resistência, os sinais do fogo e carrega os gritos por um mundo livre entre os rostos de tantos que deram suas vidas pela justiça. É ali que está o sorriso de Kyriakos, olhando para nós.

Chegará o momento em que todos os muros cairão! Todas as pessoas serão livres!

Solidariedade internacionalista com os perseguidos do caso Ampelokipi!

Kyriakos Xymitiris, presente!

Todos e todas à marcha pan-helênica de memória e luta: 31/10/25, às 18h30, nos Propileus de Atenas.

A n a r q u i s t a s

Fonte: https://athens.indymedia.org/post/1638192/

Tradução > Contrafatual

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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/10/30/grecia-tres-dias-de-memoria-e-luta-pelo-companheiro-kyriakos-xymitiris-e-pela-causa-de-ampelokipoi/

agência de notícias anarquistas-ana

Greve na fábrica:
as máquinas paradas
sonham com selvas.

Liberto Herrera