[Indonésia] Bandung: “Rejeite a Lei do Exército Nacional”

“Rejeite a Lei do Exército Nacional”, “Sem regras, apenas caos” e “Queime o Banco Mundial” são pixos de um grupo anarquista de afinidade informal.

Somos responsáveis ​​pelo incêndio em dois caixas eletrônicos do Hana Bank [o maior banco da Coreia do Sul, com filiais em vários países], do edifício que abriga os escritórios do Banco Hana, uma tela publicitária de propriedade de algum capitalista e um veículo motorizado pertencente ao Exército Nacional Indonésio.

O ataque incendiário ocorreu depois que manifestantes ocuparam as ruas contra a adoção da Lei do Exército Nacional Indonésio (Lei TNI); A ação direta aconteceu em Bandung, província de Java Ocidental, na noite de sexta-feira, 21 de março de 2025.

A ação realizada pelos manifestantes em frente à Câmara Provincial dos Representantes (DPRD) foi ignorada pela polícia de choque, apesar dos coquetéis molotov, cilindros de propano, pedras e fogos de artifício terem sido atirados na varanda do prédio. Até que optamos pela ação direta, queimando os muitos objetivos já mencionados.

Estamos completamente além da autoridade da linguagem do Estado e do capitalismo, somos a irracionalidade, somos uma forma do caráter ilógico da autoridade da própria linguagem. Somos uma das organizações informais do fim do mundo que não acredita na chegada do Iluminismo amanhã, porque para nós o futuro é apenas uma nova forma de sofrimento. Somos um fogo que devora prédios inteiros da cidade à noite.

Não acreditamos na revolução da esquerda e de outros anarquistas sociais. Somos escritores e poetas, insurreição é poesia, poesia é insurreição.

Morte ao Estado!

Morte ao exército nacional!

Morte a toda civilização!

Morte ao Banco Mundial!

Longa vida à Conspiração das Células de Fogo!

Longa vida à Associação Livre de Fogos Autônomos!

Longa vida à ISP/FRI!

Longa vida à anarquia!

agência de notícias anarquistas-ana

Bananeira ao vendaval de outono –
Noite de ouvir a chuva
Pingando numa bacia.

Bashô

 

Revolta na Indonésia

Recentemente, os antiautoritários se reuniram para o pré-congresso Perhimpunan Merdeka em algum lugar da Indonésia para trabalhar em prol de uma federação anarquista.

Um companheiro envolvido nesse evento relata um levante que está ocorrendo na Indonésia e que até agora recebeu pouca cobertura da mídia internacional.

Para entender melhor o contexto, confira abaixo tradução de um folheto distribuído por anarquistas como parte do movimento na cidade de Makassar em 20 de março. Ele foi publicado originalmente em perhimpunanmerdeka.wordpress.com.

“O projeto de lei do TNI (Exército da Indonésia) não é apenas mais uma lei – é uma declaração de guerra contra a liberdade do povo!

Esse REGIME DE OLIGARQUIA ARMADA busca restaurar o domínio militar sobre todos os aspectos da vida, repetindo os tempos da Nova Ordem, quando o exército era uma ferramenta de opressão!

Com o apoio de vários partidos políticos, ex-ativistas, influenciadores e intelectuais oportunistas, eles estão ansiosos para inserir os militares nas instituições civis, garantindo o controle total sobre a vida das pessoas. Desde o Gabinete do Procurador-Geral, ministérios e agências civis até a distribuição de arroz e fertilizantes, passando por questões de terras agrícolas e programas de refeições gratuitas – tudo é projetado para garantir os interesses oligárquicos e manter as pessoas submissas sob as botas dos militares!

Eles falam sobre “Operações Militares Diferentes da Guerra”, mas sua verdadeira intenção é clara: livrar os militares da supervisão parlamentar, dando-lhes legitimidade sem controle para agir como bem entenderem! Isso significa que podemos esperar mais desaparecimentos forçados, apropriação de terras de cidadãos e comunidades indígenas, destruição de florestas e oceanos e repressão aberta contra aqueles que ousam resistir!

Pior ainda, os militares agora estão se intrometendo no fornecimento de alimentos, na distribuição de GLP e em projetos nacionais! Essa é a verdadeira face do capitalismo de estado – os militares como executores dos capitalistas, garantindo que as pessoas permaneçam abaixo de um padrão de vida decente e sem poder!

O projeto de lei do TNI deve ser combatido! Não precisamos de militares em assuntos civis!

Construa o poder popular de baixo para cima por meio de conselhos locais, conselhos de fábrica, acampamentos, cooperativas e redes econômicas para substituir essa estrutura social corrupta!

Organize a resistência de base por meio de comitês de ação autônomos!

Combater a dominação armada!

Expulsem os militares dos assuntos civis!

Retomar o controle de nossas vidas!

Sem Patrões, Sem Escravos!

Solidariedade, liberdade e justiça para todos!

Perhimpunan Merdeka – Makassar

Aparentemente, estão ocorrendo tumultos em todo o país. Muitos jovens estão nas ruas usando símbolos anarquistas. Policiais da tropa de choque atacam o movimento e até mesmo sequestram ambulâncias com ativistas feridos que deveriam ser tratados no hospital. Delegacias de polícia e parlamentos regionais são atacados.

Mais informações sobre isso provavelmente serão fornecidas mais tarde. Fique ligado!

Fonte: https://globalmayday.net/2025/03/25/anarchist-uprising-in-indonesia/

agência de notícias anarquistas-ana

Sobre a folha seca
as formigas atravessam
uma poça d’água

Eunice Arruda


Seis Razões para Abraçar o Anarquismo

Vivemos em um mundo onde a opressão se disfarça de normalidade: governos que nos vendem a ilusão de liberdade enquanto nos vigiam, empresas que nos exploram em troca de uma vida precária, fronteiras que nos separam para nos manter submissos. O anarquismo não é um convite ao caos, mas uma revolução radical contra todas as formas de dominação. É a coragem de perguntar: por que aceitamos hierarquias que nos esmagam? Por que naturalizamos a desigualdade como destino? Este pequeno texto é um chamado à insubordinação — àqueles que ousam sonhar com um mundo onde a autonomia, a solidariedade e a justiça não sejam ideais distantes, mas a base de uma vida verdadeiramente livre. Se o sistema nos trata como peças descartáveis, ser anarquista é recusar o script e escrever, com nossas próprias mãos, um novo começo. Portanto, seguem seis razões para abraçar o anarquismo:

01. O Estado é uma Máquina de Opressão
O Estado, em todas as suas formas, é um instrumento de controle que concentra poder nas mãos de poucos, perpetuando desigualdades e reprimindo liberdades. Seja através de leis que criminalizam a pobreza, polícias que assassinam em nome da “ordem” ou burocracias que sufocam a autonomia, o Estado não existe para servir o povo, mas para garantir a dominação de classes. Um anarquista entende que a liberdade só floresce quando destruímos essa estrutura hierárquica e construímos relações horizontais, onde todas as vozes têm igual valor.

02. O Capitalismo Corrói a Vida em Comum
O sistema capitalista transforma tudo em mercadoria: terra, água, até relações humanas. Trabalhadores vendem sua força por migalhas, enquanto bilionários acumulam riquezas à custa da exploração. O anarquismo propõe uma economia baseada na cooperação, não na competição. Cooperativas autogestionárias, onde os produtores decidem coletivamente seu destino, mostram que é possível viver sem patrões. Afinal, por que aceitar um sistema que nos faz mendigar por sobrevivência em troca de nosso próprio trabalho?

03. Liberdade Não se Concede: Conquista-se
A democracia representativa é uma farsa. Políticos são marionetes de corporações, e eleições são leilões para os mais ricos. O anarquismo defende a ação direta como forma de transformação: greves, ocupações, apoio mútuo e organizações comunitárias. A história prova que mudanças reais vêm da rua, não das urnas. Quando mulheres, negros e indígenas tomam praças e derrubam estatuetas de colonizadores, estão praticando anarquismo: questionando hierarquias e construindo poder popular.

04. Um Mundo sem Fronteiras ou Prisões
O Estado-nação é uma ilusão que divide a humanidade em “nós” e “eles”, alimentando guerras e xenofobia. O anarquismo sonha com uma sociedade sem fronteiras, onde ninguém precise fugir da miséria ou da guerra. Além disso, o sistema prisional é uma indústria de tortura que criminaliza a pobreza. Em seu lugar, comunidades autônomas podem resolver conflitos através da mediação e da justiça restaurativa, não da vingança estatal.

05. Ecologia ou Extinção
O capitalismo está destruindo o planeta. Governos e empresas sacrificam florestas e rios no altar do lucro, enquanto nos vendem falsas soluções “verdes”. O anarquismo eco-socialista entende que a Terra não é um recurso, mas nossa casa coletiva. Comunidades zapatistas em Chiapas ou os curdos em Rojava mostram nos dias de hoje que é possível viver em harmonia com a natureza, administrando recursos de forma coletiva e sustentável.

06. A Beleza da Autonomia e da Solidariedade
Anarquismo não é caos, mas ordem construída livremente. É a certeza de que, sem amos, podemos organizar escolas, hospitais e redes de apoio mútuo. Movimentos como o MST (mesmo com todos os seus problemas) ou as ocupações urbanas provam que, quando nos unimos, somos capazes de criar alternativas reais. A solidariedade, não o individualismo, é nossa maior arma contra o medo que o sistema semeia.

Por fim…  O Futuro é um Projeto Coletivo

Ser anarquista é rejeitar a ilusão de que “não há alternativa”. É lutar por um mundo onde ninguém domine ninguém, onde a vida valha mais que o dinheiro, e onde a liberdade seja prática cotidiana. Não precisamos de salvadores: somos nós, com nossas mãos e corações, quem pode construir essa utopia. A pergunta não é “por que ser anarquista?”, mas “como não ser?”.

Federação Anarquista Capixaba – FACA

federacaocapixaba.noblogs.org

agência de notícias anarquistas-ana

Amanhece em flor
e anoitece pelo chão
— efêmero ipê

Marba Furtado

 

Milhares protestam na Indonésia contra lei que militariza o Estado

A Câmara dos Deputados da Indonésia aprovou uma revisão da Lei Militar, permitindo que oficiais militares ocupem mais cargos no governo e assumam posições civis sem renunciar às Forças Armadas Nacionais da Indonésia.

Em protesto, desde 20 de março, estudantes, anarquistas e outros antiautoritários estão realizando manifestações de rua simultâneas em diversas cidades do país em resposta à promulgação da Lei.

Os críticos argumentam que essa mudança pode levar a abusos de poder, violações de direitos humanos e impunidade política para o pessoal do exército, lembrando a era do ditador Suharto, que deixou o cargo em 1998.

O momento é particularmente significativo, pois a Indonésia agora é liderada pelo Presidente Prabowo Subianto, ex-general militar, acusado de abusos de direitos e crimes de guerra durante os dias sombrios do regime de Suharto, que foi empossado em outubro de 2024.

agência de notícias anarquistas-ana

dissolve-se a tarde
no alarido das araras
e em flocos de chumbo

Zemaria Pinto

 

[Espanha] Homenagem da CNT Madri a três jovens anarquistas mortos por fascistas

Nesta sexta-feira, 28, pagamos uma dívida a três jovens anarquistas que perderam suas vidas nas mãos dos fascistas durante a supostamente ordeira Transição.

É hora de lembrar suas vidas e unir sua luta à nossa. Para isso, contaremos com pessoas que viveram em primeira mão aqueles momentos convulsivos e que os conheceram.

Lembraremos de Vicente Cuervo, vizinho de Vallecas e trabalhador da Telefunken, delegado sindical da CNT nessa empresa, assassinado quando tinha apenas 21 anos de idade após uma concentração fascista no bairro; Agustín Rueda, 25 anos, morto na prisão de Carabanchel por espancamento múltiplo depois de anos sendo deslocado por várias prisões do estado, tudo por sua militância anarquista e por não vender seus companheiros presos; e Jorge Caballero, membro da CNT, morto aos 21 anos por fascistas que viram nele um crachá com um A quando ele estava saindo do cinema.

A CNT de Madri não esquece.

Esperamos por você na sexta-feira, 28 de março, às 19 horas, em nossa sede na Glorieta de Embajadores 7, 1ºB.

madrid.cnt.es

agência de notícias anarquistas-ana

zunir da cigarra…
no instante da pausa
o silêncio ecoa

Gustavo Terra

 

[Itália] Desarmemos a guerra! Antimilitaristas contra a Cidade do Espaço Aéreo

Turim, 23 de março – Uma visita surpresa ao canteiro de obras da Cidade do Espaço Aéreo, na avenida Marche, onde, há cerca de um mês, começaram as demolições do prédio 27 da antiga Alenia-Aermacchi.

Um manequim ensanguentado, pichações, fumaças, cartazes que nos lembram das vidas roubadas por bombas, armas e guerras. Guerras entre poderosos que disputam recursos e poder, indiferentes à destruição de cidades, à contaminação do meio ambiente e ao futuro negado de tantos que vivem neste planeta.

Os escombros são apenas bons negócios para um capitalismo voraz e destrutivo, que tem uma única lógica: o lucro a qualquer custo. Homens, mulheres e crianças são apenas peças sacrificáveis em um jogo terrível, que não tem outro limite senão a força daqueles que oprimem e exploram – e daqueles que se rebelam contra uma ordem mundial intolerável.

Enquanto a Europa – e o mundo – aceleram numa corrida insana por rearmamento, é cada vez mais necessário se colocar no caminho, travar as engrenagens, lutar contra a indústria bélica e o militarismo.

Não ao novo polo bélico da Leonardo e do Politécnico!

Não contem com nossa resignação!

Como gotas, continuaremos a alimentar a maré que os afogará.

Devemos isso a quem, todos os dias, morre pelas armas projetadas e fabricadas a poucos passos de nossas casas.

Devemos isso a quem é massacrado no Congo, no Sudão, na Ucrânia, em Gaza, na Síria…

Devemos isso a quem morre nas fronteiras que separam os afogados dos salvos.

Devemos isso a quem não se conforma, a quem luta contra Estados, fronteiras e nacionalismos.

Não existem povos oprimidos, porque a noção de povo está na raiz de todo nacionalismo, de toda armadilha inventada pelos poderosos para recrutar corpos e consciências.

Nós não apoiamos nenhum povo – nós apoiamos oprimidos e oprimidas de todos os lugares.

Nós estamos do lado de quem deserta. Nós somos desertores de todas as guerras.

A guerra está a poucos passos de nossas casas: vamos detê-la!

Assembleia Antimilitarista

antimilitarista.to@gmail.com

Fonte: https://umanitanova.org/disarmiamo-la-guerra-antimilitaristi-contro-la-citta-dellaerospazio/

Tradução > Liberto

Conteúdos relacionados:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/03/05/italia-trieste-nao-a-guerra-e-quem-a-arma/

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/02/19/italia-roma-nem-deus-nem-estado-nem-guerra/

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/02/06/italia-abolamos-os-exercitos-paremos-as-guerras-desmascaremos-os-nacionalismos/

agência de notícias anarquistas-ana

Noites sem cigarras –
qualquer coisa aconteceu
ao universo.

Serban Codrin

[Reino Unido] John Couzin (1934-2025) seguirá nos inspirando

No dia em que completaria 91 anos, um membro da ACG relembra John Couzin

John Couzin, ativista anarquista, poeta e arquivista, faleceu pouco antes de completar 91 anos.

John provavelmente era mais conhecido como o idealizador do projeto *Glasgow Radical History* e cofundador do respeitado *Spirit of Revolt: Archives of Dissent* (Espírito da Revolta: Arquivos da Dissidência). Embora não fosse um historiador “profissional”, dedicou-se a preservar a memória do movimento anarquista e socialista libertário em Glasgow, na Escócia e além. Um intelectual orgânico, sua adesão à política anarquista nasceu da experiência de vida como trabalhador, primeiro como engenheiro naval em Govan e depois como vendedor ambulante nas áreas mais pobres de Glasgow.

Mais tarde, John começou a publicar um boletim chamado *Anarchist Critic* (Crítica Anarquista). Era comum vê-lo distribuindo o material em manifestações e marchas entre 2002 e 2022, sempre disposto a aproveitar cada oportunidade de espalhar a mensagem anarquista para quem estivesse receptivo. Acreditava que anarquistas precisavam ser visíveis e estar presentes, especialmente nas ruas. Nos últimos anos, foi um defensor entusiasta das celebrações anarquistas do Primeiro de Maio, em particular dos piqueniques no Glasgow Green.

John também foi autor de *Radical Glasgow: A Skeletal Sketch of Glasgow’s Radical Tradition* (Glasgow Radical: Um Esboço Esquelético da Tradição Radical de Glasgow), publicado pela primeira vez em 2006 e já na sua quarta edição. O livro cobre o período do século XVIII até a década de 2010 e reflete sua política não sectária, sem jamais abrir mão de sua perspectiva de luta de classes, uma introdução acessível a muitas lutas e personagens ignorados pela historiografia oficial.

Ele também era conhecido por sua poesia. Na verdade, quando o conheci, vinte e quatro anos atrás, numa manifestação contra a guerra em Glasgow, perguntei se ele era o John Couzin, o poeta? Querendo ser reconhecido como um camarada entre camaradas, ele foi extremamente modesto quanto a isso, como era de seu feitio.

O camarada Couzin era uma pessoa aberta e generosa, com uma energia e um compromisso que pareciam infinitos, apesar dos sérios problemas de saúde. Tinha o hábito de se reerguer após as doenças, pronto para seguir na luta, e, nisso, era uma inspiração para os mais jovens e também para os nem tão jovens. Sentiremos profundamente sua falta, sua companheira e camarada Stacia, assim como todos que o conheceram e lutaram ao seu lado pela realização da visão anarquista.

John Couzin (1934-2025) seguirá nos inspirando.

Fonte: https://www.anarchistcommunism.org/2025/03/23/john-couzin/

Tradução > Contrafatual

agência de notícias anarquistas-ana

poente de outono –
nuances avermelhadas
vestígios do dia

Zunir Andrade

 

[Grécia] Cartaz em solidariedade à luta judicial da companheira demitida O.F.

Em julho de 2024, a ONG “Ελληνικό Συμβούλιο για τους Πρόσφυγες” (Conselho Grego para Refugiados) demitiu uma companheira com câncer, refugiada, após 26 anos de trabalho, pouco antes de ela ter direito a uma aposentadoria. O caso da companheira destaca que as ONGs, apesar de sua fachada humanitária, violam sistematicamente os direitos trabalhistas das próprias pessoas que “apoiam”. A exploração, a intimidação, as práticas vingativas, a discriminação de gênero e o preconceito de idade não vão parar, a menos que nós as impeçamos! Eles só serão detidos pela solidariedade entre os trabalhadores, pela coletivização de nossas resistências e pela luta para recuperar o que é nosso.

CONVOCAMOS SINDICATOS E COLETIVOS A PROTESTAR EM SOLIDARIEDADE

JUSTIÇA IMEDIATA PARA NOSSA COMPANHEIRA

agência de notícias anarquistas-ana

antes do meu cochilo
não estavas aí
nuvem de verão

João Angelo Salvadori

[Itália] Profissionais do Espetáculo

Política e entretenimento certamente têm pontos em comum, mas uma das coisas que distingue os dois campos é o fato de que o primeiro deveria lidar com o real, e o segundo não apenas com isso. No entanto, há limites que, quando ultrapassados, podem causar “curtos-circuitos” na comunicação. Se somarmos a isso a possibilidade de personalidades do entretenimento intervirem de forma significativa na política (e vice-versa) e/ou de misturarem as linguagens e técnicas de comunicação características dos dois setores, os problemas começam a se tornar sérios. 

Tomemos, por exemplo, o que aconteceu no final de fevereiro passado no Salão Oval da Casa Branca e o previsível dilúvio de comentários que se seguiu. Poucos levaram em devida conta que, naquela ocasião, estavam frente a frente, diante de câmeras e jornalistas, duas figuras com histórias não ocasionais no setor do entretenimento. Mesmo assim, não deveria surpreender o comportamento de alguém que, após anos frequentando o mundo do espetáculo, aplique o que aprendeu mesmo em outra profissão. 

Trump é uma figura midiática há mais de trinta anos e um político há menos de dez. Sua primeira aparição no cinema talvez date de “Ghosts Can’t Do It” (1989), seguida por “Esqueceram de Mim 2” (1992), “Pequenos Travessos” (1994), “Across the Sea of Time” (1995), “Zoolander” (2001), “Simplesmente Amor” (2002) e “Wall Street – O Dinheiro Nunca Dorme” (2010). Participações em séries famosas: “Um Maluco no Pedaço” (1994), “Sex and the City” (1999) e “Days of Our Lives” (2005). A isso, somam-se as inúmeras aparições no “Saturday Night Live”. E provavelmente falta algo nesta lista. Mas o marco significativo de sua carreira é 2004, quando começou a apresentar um reality show que durou onze anos: “The Apprentice” (2004-2015) e “The Celebrity Apprentice” (2008-2015), que o acompanharam até sua primeira eleição. 

Por sua vez, Zelensky também passou mais de vinte anos no mundo do entretenimento. Começou como comediante em 1997, tem experiência em direção e produção de programas de TV e atingiu o auge da popularidade ao protagonizar a série “Servidor do Povo” (2015), na qual interpretava um professor que se torna presidente da Ucrânia (vejam só!). Uma diferença em relação a Trump é que os programas da TV ucraniana não têm a mesma repercussão global que os norte-americanos. 

Carreiras assim permitem que até mesmo pessoas sem brilho intelectual ou político administrem de forma profissional certos contextos públicos, como um debate diante de câmeras e plateia. 

Ainda assim, há quem se surpreenda com o comportamento do presidente dos EUA, seja ao republicar na internet um vídeo de mau gosto, seja ao dizer coisas que servem apenas para virar manchete. Essa surpresa pode levar a interpretações equivocadas dos fatos. 

Voltando ao ocorrido na Casa Branca, muitos comentários apressados sobre o encontro foram de indignação com o tratamento dado ao presidente ucraniano e com a arrogância e violência verbal de Trump e seu vice. O episódio foi resumido como: “Trump e Vance armam uma emboscada a Zelensky, maltratando-o para servir a seus interesses e aos de Putin.” Mas essa narrativa, se não totalmente falsa, é questionável, principalmente se feita sem considerar o vídeo completo. A gravação integral (supondo que seja) dura cerca de 50 minutos e mostra um típico talk-show – em seus mecanismos de comunicação – comparável aos que infestam TVs do mundo todo. Uma discussão conduzida com um estilo pouco político, entre duas figuras do gênero, e uma suposta “violência” do debate que, comparada à que se vê na TV italiana, foi risível. Muito mais disseram, em certos momentos, as caretas, gestos e movimentos corporais dos protagonistas. 

Uma leitura alternativa poderia ser: “Trump disse a Zelensky que, para acabar a guerra, é preciso ceder algo, tanto aos EUA quanto a Putin. Mas o presidente ucraniano manteve sua posição.” Isso pode ser visto como chantagem, conselho pragmático ou ambos. Na prática, interpretar certos contextos com tais protagonistas é complicado. Especialmente se ignorarmos a piada final de Trump, que ressaltou aos espectadores: “Isso foi um belo pedaço de televisão!” 

A tragédia é que os protagonistas do show conversaram tranquilamente sobre uma guerra de três anos que, segundo estimativas, já causou quase 900 mil mortes e destruição. 

Isso não significa que o espetáculo da política mude quando dois atores medíocres usam a linguagem que conhecem, mas sim que fica mais difícil entender seu conteúdo real. Como comprovam os eventos posteriores: Trump diz uma coisa hoje e o oposto amanhã; Zelensky, talvez, já mudou a posição firme que mantinha em Washington. 

Pelos rumos atuais, teremos de nos acostumar não à invasão de profissionais do entretenimento na política, mas à tentativa de políticos de imitar as habilidades de performers. Isso não é novidade. Veja-se, por exemplo, as “caras e bocas” da primeira-ministra italiana diante das câmeras, parte de sua comunicação direta com o público. 

Antes, os limites entre a linguagem política e a do entretenimento eram ultrapassados ocasionalmente. Hoje, parecem ter sumido, relegando as pessoas ao papel de espectadores que desabafam nas redes sociais em vez de protestar no mundo real.

Pepsy

Fonte: https://umanitanova.org/professionisti-dello-spettacolo/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Apenas os bastões dos peregrinos
Se movem através
Do campo de verão.

Ishu

[Espanha] Anúncio do projeto documental sobre Joan García Oliver

Companheiras e companheiros, sindicatos

Anunciamos o início de um emocionante projeto documental dedicado a explorar e difundir a vida e o legado de Joan García Oliver, destacado líder anarquista e figura chave do movimento anarcossindicalista. Este novo documentário segue a linha do trabalho realizado anteriormente com Salvador Seguí. História de um anarcossindicalista, que comemorou o legado de Salvador Seguí em seu aniversário.

Além do documentário, este projeto inclui um componente significativo: a restauração em Guadalajara, México, de sua tumba, que, esquecida desde sua morte no exílio, em 1980, não constava nem seu nome nem dado nenhum já que morreu só. Na tumba, só constava o nome do filho, Juan García Álvarez, falecido anos antes em um acidente.

Agora, vamos reparar e dignificar dita tumba após o acordo de Plenária correspondente, além de preservar e destacar os lugares vinculados ao legado deste histórico personagem.

Nosso objetivo com este projeto é múltiplo:

  1. Preservar a memória histórica de García Oliver e seu impacto na luta obreira e no movimento anarquista.
  1. Criar um espaço de reflexão sobre o papel das ideias anarcossindicalistas no contexto atual.
  1. Promover a restauração e conservação de espaços históricos para garantir que as novas gerações possam se conectar com esta rica herança.

Este esforço é uma homenagem não só a um indivíduo, mas a um movimento que sonhou em transformar o mundo desde a solidariedade, a ação direta e a justiça social.

Os manteremos informadas e informados dos avanços, enquanto damos vida a este projeto que busca inspirar, educar e manter viva a memória dos que lutaram por um futuro mais justo, dentro do Ideal e da Anarquia.

Fonte: https://memorialibertaria.org/anuncio-del-proyecto-documental-sobre-joan-garcia-oliver/

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

uma folha salta
o velho lago
pisca o olho

Alonso Alvarez

[Croácia] Vrrr(a)ne Manifesto | Anarco-Queer-Feminismo

INTRODUÇÃO: PROPÓSITO

As tentativas de repensar nosso futuro como um lugar de solidariedade, apoio mútuo, equidade e decrescimento exigem o questionamento das estruturas de poder existentes. O enfrentamento das desigualdades sociais está no cerne da crítica às estruturas autoritárias e, sem isso, nunca poderemos viabilizar relacionamentos igualitários e de equidade, que são fundamentais a qualquer ideia anarquista.

Em Zagreb, nós, como anarquistas, vemos a necessidade de tratar explicitamente de um desses sistemas de desigualdade e dominação: o patriarcado. Como um sistema consolidado de dominação, ele continua a contribuir para a marginalização, a exploração e as repercussões violentas contra nós que não obedecemos aos papéis estritamente definidos e subjugados que circundam a figura do homem cis dominante. Mesmo em nossos coletivos e comunidades anarquistas, essas estruturas de poder são reproduzidas e, com muita frequência, não são contestadas nem questionadas. Isso gera violência e maior subjugação/marginalização/dominação e constitui um obstáculo imediato às nossas visões.

QUEM SOMOS NÓS?

Somos um grupo autônomo e auto-organizado de anarcofeministas queer que deseja criar um espaço seguro para enfrentar os desafios da opressão e lutar contra todas as formas de discriminação baseadas em gênero e sexualidade.

Somos anarquistas porque somos contra qualquer tipo de dominação e exploração e queremos criar uma sociedade livre onde tais dominações e explorações sejam abolidas.

Nosso grupo foi formado como uma resposta ao estado atual da sociedade patriarcal e à tolerância à violência física e sexual contra mulheres e pessoas queer em nossa sociedade. Isso também é visível em nossos círculos e é necessário aumentar a conscientização e condenar esse tipo de comportamento a partir de nossos espaços e grupos e disseminar nossos princípios na sociedade em geral.

Nossa base é em Zagreb, mas viemos de diferentes partes do mundo, “países” e culturas. Além disso, temos diferentes experiências e maneiras de nos envolvermos no ativismo e queremos compartilhar diferentes maneiras de lutar contra o sistema patriarcal e falar sobre métodos que podem ser diversos, dependendo de nossa experiência e formação anterior, para obter mais conhecimentos culturais sobre como agir ou quais estratégias podemos usar.

METAS/OBJETIVOS

Abordar especificamente tópicos anarco-queer-feministas dentro e fora das organizações anarquistas em Zagreb, inclusive analisando as estruturas e os projetos existentes que se dizem anarquistas sob o ângulo anarco-queer-feminista e, assim, identificar os locais onde ainda é necessário desenvolver a inclusão.

Construir uma rede de apoio e locais para compartilhar experiências relacionadas à violência patriarcal, de modo que seja possível abordá-las adequadamente, denunciá-las e criar locais isentos – na medida do possível – de tal violência.

Educar – por meio de nossa própria organização, encarnando os valores e o mundo que queremos criar e por meio de esforços mais diretos de compartilhamento de conhecimento, pretendemos incentivar uma mudança cognitiva na forma como percebemos o mundo e desmantelar todas as formas de dominação – o estado, o gênero, o hetero- e o cis-sexismo, o casamento e a família nuclear e assim por diante.

A QUEM DAMOS AS BOAS-VINDAS PARA SE JUNTAR À NOSSA LUTA?

Defendemos mulheres trans e cis, homens trans, pessoas genderqueer, two-spirit e não binárias, pessoas intersexo, pessoas queer, pessoas de todas as raças e etnias, pessoas em movimento, profissionais do sexo, pessoas indocumentadas e criminalizadas, pessoas com diferentes capacidades físicas, pessoas neurodivergentes, pessoas de todas as crenças (desde que não entrem em conflito com nossos valores) e muitas outras que são marginalizadas e oprimidas pelo sistema atual. Às pessoas que compartilham de nossos valores, listados aqui, por favor, entrem em contato conosco e vamos transformar nossa fúria em um propósito construtivo para mudar este mundo sombrio em que vivemos!

Em última análise, desejamos que os homens cis lutem ao nosso lado, já que todes sofremos com o patriarcado. No entanto, os mesmos esquemas de dominação patriarcal estão fadados a se repetir; mesmo em círculos anarquistas, vemos como as vozes masculinas são mais ouvidas e recebidas e como elas frequentemente assumem o papel principal. Como confirmação disso, algumas das reações à formação desse grupo refletem o engano comum de que excluir o grupo dominante da auto-organização marginalizada é de alguma forma “discriminação” (como se fôssemos convidar os patrões para os estágios iniciais da sindicalização dos trabalhadores). No entanto, a melhor maneira de eliminar muitos dos padrões de comportamento mencionados acima é simplesmente não permitir a entrada de homens cis no grupo, pelo menos enquanto estivermos nos orientando e estabelecendo uma dinâmica de grupo saudável.

Dito isso, oferecemos apoio a toda e qualquer pessoa que venha em paz e solidariedade.

Esse parágrafo, juntamente com o restante do manifesto, foi escrito logo no início de nossa reunião. Agora, um ano depois de nossa organização, decidimos reavaliar novamente e determinamos que essa decisão passou da validade. Embora essa tenha sido uma conversa contínua ao longo do ano, juntamente com a discussão de nossa rejeição à política de identidade, sabemos que a tomamos conscientemente, principalmente por motivos pragmáticos – era simplesmente mais fácil do que ter de se envolver em processos transformadores quando o grupo ainda é jovem e tem pernas finas. Colaboramos com homens cis em ações e em nossos esforços educacionais, mas mantivemos a organização central fechada para eles. Agora nos sentimos mais confiantes em nossa estrutura não hierárquica e solidária e achamos que estamos em condições de lidar com qualquer comportamento machista e patriarcal que possa surgir em nosso caminho e temos o desejo de abrir o espaço para a participação de homens cis. No entanto, pedimos que todes – mas especialmente os homens cis – se concentrem em agir sem dominar os espaços, ouvindo e refletindo seus comportamentos – portanto, pedimos a presença discreta de companheiros homens cis que queiram aprender.

NOSSOS VALORES

– antiautoritarismo – nos esforçamos conscientemente para denunciar as formas formais e informais de poder centralizado

– cuidado – percebemos que os padrões da economia neoliberal patriarcal, como a competição e a comunicação e o comportamento agressivos, estão sendo perpetuados nas relações sociais dentro e fora de nossos grupos. Em vez disso, queremos que o cuidado ativo e a camaradagem sejam a base de nossas relações sociais e comunidades

– ecofeminismo – o reconhecimento de que a cultura patriarcal e a economia capitalista subjugam e exploram as mulheres e outros grupos marginalizados da mesma forma que fazem com a natureza é fundamental para conectar (e entender melhor) essas lutas, tornando-nos mais conscientes dos padrões repetidos de dominação e mais minuciosos e táticos no desmantelamento desses sistemas de opressão (o que nos torna mais fortes e mais conscientes dos problemas em nossa sociedade)

– anti-especismo – garantimos o respeito e o cuidado com todos os seres vivos, independentemente de sua proximidade com a condição humana

– anticolonialismo e antirracismo – tendo em mente nosso privilégio, estamos tentando ativamente desaprender preconceitos coloniais e de supremacia branca e lutar contra a dominação cultural. Vemos formas específicas de racismo e xenofobia ocorrendo em nosso contexto regional (sentimentos anti-roma, violência contra refugiados…) que nos comprometemos a ajudar a desmantelar e, em contrapartida, contribuir para a liberdade de movimentações de pessoas

– antinacionalismo e antifascismo – reconhecendo a história (e o presente) violenta da região dos Bálcãs e as tensões étnicas ainda não reconciliadas, acreditamos que lutar explicitamente contra os movimentos nacionalistas é fundamental para a construção de uma comunidade melhor

– anticapitalismo – em vez de permitir que o capitalismo neoliberal patriarcal prejudique a totalidade de nossas relações sociais e observar como ocorre a mercantilização de todos os aspectos da vida (isso inclui o consumismo homonormativo e o capitalismo pink!!), estamos trabalhando ativamente com base no apoio mútuo, na economia solidária, nas práticas de compartilhamento e em “cada um de acordo com sua capacidade, a cada um de acordo com suas necessidades”. não podemos ter um crescimento econômico constante, mas podemos ter mais daquilo que realmente importa.

– interseccionalismo – todas as formas de marginalização e violência – racismo, sexismo, heteronormatividade, amatonormatividade, transfobia e transmisoginia, capacitismo, gordofobia, nacionalismo, classismo – trabalham em sincronia para manter as estruturas opressivas de dominação; não podemos ignorar nenhuma delas se quisermos alcançar a equidade e a paz

– anti-assimilacionismo – recusamo-nos a ter nossas identidades e expressões subjugadas e moldadas para sermos mais palatáveis e “mais bem tolerados” dentro da sociedade atual e nos esforçamos para criar espaços de pluralidade onde operamos, trabalhamos, aparentamos e sentimos de maneiras divergentes

– autonomia corporal – recusamo-nos a ter nossas experiências e decisões em relação aos nossos corpos governadas e estritamente controladas pelo estado e, em vez disso, optamos por lutar para ter uma agência maior em relação à saúde reprodutiva e sexual, cuidados de afirmação de gênero, saúde mental e muito mais

– anarco-queer-feminismo

COMO AGIMOS?

– prefiguração – acreditamos que a criação de um novo mundo é tomar medidas para criá-lo e viver a vida que queremos viver. queremos que nossas ações e nossa forma de organização reflitam a sociedade futura em que gostaríamos de viver

– resposta local – compartilhamos nossas preocupações nos grupos e círculos em que atuamos para conscientizar sobre situações e pessoas problemáticas e criar um espaço mais seguro para quem é afetade, nos organizamos no contexto local para atender e ajudar nas necessidades específicas de nossas comunidades e criamos vínculos com outros grupos que compartilham nossos valores e trabalham pelos mesmos objetivos, mas que podem lutar em frentes diferentes

– abordagem holística e antiautoritária para viver e se organizar – queremos trabalhar para fortalecer nossos instintos corporais, mentais, emocionais, interpessoais e outros, e nos engajar tanto na prática quanto na teoria

– uma estrutura de organização horizontal e não hierárquica que opera de forma participativa, com base em consenso – todas as ideias ou preocupações que você possa ter são bem-vindas!

Ao longo do nosso crescimento, planejamos organizar diferentes workshops e campanhas; você será mais do que bem-vinde a participar de cada um deles, ou apenas de um – o que você precisar.

COMO ENTRAR EM CONTATO?

Sinta-se livre para nos contatar em:

vrrrane@riseup.net

vrrrane1312.noblogs.org

Tradução > acervo trans-anarquista

agência de notícias anarquistas-ana

Alto da serra —
Passa sobre a terra arada
A sombra das nuvens.

Paulo Franchetti

[Grécia] Campanha de apoio financeiro para as despesas legais do companheiro Andreas F.

TEMOS UM MUNDO INTEIRO PARA GANHAR
TEMOS UMA VIDA PARA TENTAR

No dia 22/04/24, o companheiro anarquista Andreas F. foi sequestrado pela unidade policial antiterrorista em Patras, onde reside, e levado para Atenas para ser interrogado. Ao mesmo tempo, pela segunda vez (a primeira em relação a um caso de furto de produtos de pequeno valor no supermercado Lidl), sua casa foi invadida pela polícia durante horas para fabricar provas incriminatórias contra ele, além de confiscarem seus dispositivos eletrônicos e objetos pessoais.

No segundo ato do roteiro de terrorismo escrito pela polícia grega, A.F. foi transferido para Atenas, interrogado e, com base na lei antiterrorista 187A, acusado de ser membro da organização “Cooperação de Vingança” e de ser o autor material de suas ações, acusações que o companheiro rejeita totalmente.

O “pilar” das provas que levaram à sua perseguição são dois textos de reivindicação de duas ações da organização “Cooperação de Vingança”, cujas cópias foram encontradas em seus dispositivos eletrônicos, com datas de armazenamento posteriores à publicação desses textos na internet.

Em meio a um delírio de difamação e desinformação por parte da mídia local e nacional, no dia 26/04, a juíza de instrução e o promotor decidiram pela prisão preventiva de Andreas na prisão de Ámfisa. Ao mesmo tempo, a polícia atacou uma concentração em solidariedade a Andreas na ocupação Paratima em Patras, onde prenderam 27 companheiras e companheiros.

A PERSEGUIÇÃO AO COMPANHEIRO É UM ATAQUE CONTRA TODO O MOVIMENTO

Tantos meses depois, não há nenhuma prova contra mim. Estou sendo perseguido por minha presença constante em cada trincheira da luta social e de classe, porque escolhi caminhar por esta vida de cabeça erguida, porque tomei posição na luta mais bonita, a luta pela libertação individual e coletiva de toda a humanidade, por um mundo de solidariedade, dignidade, paz, igualdade, sem exploração nem opressão, sem guerras nem devastação da vida, por um mundo emancipado e livre de dominação.”

Esta campanha tem como objetivo fornecer apoio financeiro ao companheiro, que enfrenta uma grave acusação e um processo judicial custoso.

>> Apoie aquihttps://gogetfunding.com/%ce%ba%ce%b1%ce%bc%cf%80%ce%ac%ce%bd%ce%b9%ce%b1-

freeantreasf.espivblogs.net

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Escalo a colina
cheio de melancolia –
Ah, roseira-brava.

Buson

[Itália] Trítio, Giorgia e Descalzi. A energia nuclear civil como passagem obrigatória para o escudo atômico europeu

A periculosidade e a falta de viabilidade econômica de aquecer água com energia nuclear para produzir eletricidade saltam aos olhos: ninguém usaria uma bomba atômica para esquentar uma panela de macarrão. Mas, além dessas considerações elementares, há uma estreita ligação entre o nuclear civil e o nuclear militar.

Para causar uma reação de fissão que produzirá energia, utiliza-se o urânio-235 — “o único núcleo fissionável que existe na natureza”. No entanto, quando o urânio é extraído, ele contém apenas 0,7% de urânio-235. Os 99,3% restantes são urânio-238. Assim, para produzir energia, é necessário “enriquecer o urânio”, ou seja, aumentar a concentração de urânio-235. Para isso, a principal técnica utilizada é a centrifugação.

Uma usina nuclear precisa de urânio de baixo enriquecimento (com teor de U-235 acima de 0,71% e rigorosamente abaixo de 20%). Isso exige um uso significativo de centrífugas, mas nada comparado ao nível de urânio-235 necessário para reatores de pesquisa nuclear. Nesses casos, usa-se urânio altamente enriquecido, com teor de U-235 igual ou superior a 20%. Uma vez alcançado 20%, é possível chegar a 90% rapidamente.

Como destacava o Relatório sobre a Situação da Indústria Nuclear no Mundo (2018):

“Os Estados com armas nucleares continuam sendo os principais defensores dos programas de energia nuclear. O WNISR2018 oferece uma primeira análise sobre se interesses militares servem como um dos fatores que impulsionam a extensão da vida útil de instalações existentes e novas construções em alguns países. Por que a energia nuclear mostra resistência surpreendente, em certas regiões do mundo, às mudanças drásticas no mercado global de energia e na estrutura de fornecimento de eletricidade? Em um contexto de declínio da indústria nuclear global, planos para estender a vida útil de usinas e novas construções continuam sendo áreas-chave de investimento em países específicos. Projetos como Hinkley Point C, no Reino Unido, persistem apesar de custos quintuplicados, problemas técnicos não resolvidos e demandas por mais garantias governamentais.”

“Evidências começam a surgir em vários Estados nucleares militares sobre interdependências industriais para sustentar programas de propulsão naval nuclear. Com o declínio do nuclear civil nos EUA, relatórios recentes destacam a importância, para a ‘Marinha Nuclear’, de manter uma base nacional de engenharia nuclear apoiada por políticas do setor civil. O Nuclear Sector Deal do Reino Unido afirma que ‘o setor se compromete a aumentar a transferibilidade entre indústrias civil e de defesa’, buscando preencher 18% das lacunas de habilidades com ‘mobilidade’. Em vários países, fatores militares podem explicar a persistência de uma tecnologia cada vez mais vista como obsoleta para geração de energia de baixo carbono.”

Assim, um site civil produtor de energia pode rapidamente se transformar em uma instalação militar disfarçada.

É neste contexto que se insere o acordo entre a ENI e a UKAEA (Autoridade de Energia Atômica do Reino Unido) para pesquisa em fusão nuclear, incluindo a construção da maior instalação mundial de gestão do ciclo do trítio — combustível-chave para fusão. O comunicado da ENI destaca os benefícios futuros, mas, segundo o World Nuclear Industry Status Report 2024, o trítio já tem uso militar atual: armas termonucleares usam esse isótopo radioativo do hidrogênio para aumentar a eficiência da fissão primária, liberando nêutrons que iniciam a fusão secundária.

Com meia-vida de 12,3 anos, o trítio decai 5,5% ao ano, exigindo produção contínua para manter reservas bélicas. Historicamente, EUA e França produziram trítio em reatores militares, mas hoje os EUA usam reatores civis (como Watts Bar, no Tennessee). A França, após fechar seus reatores dedicados, anunciou em março de 2024 parceria com a EDF para produzir trítio na usina de Civaux — projeto ainda não aprovado pelas autoridades de segurança.

Nas armas termonucleares, o trítio é injetado como mistura com deutério, comprimida para gerar fusão e nêutrons energéticos. Isso aumenta a eficiência do combustível primário (plutônio/urânio enriquecido), permitindo redução de massa e prevenção de detonações prematuras. Estima-se que cada ogiva precise de 2 a 4 gramas de trítio, com demanda crescente nos EUA para “melhorar desempenho”.

O governo italiano, independentemente de sua orientação, sempre apoia os interesses da ENI. Agora, aprovou em tempo recorde um projeto de lei que permite ao Estado participar do bolo nuclear militar — disfarçado de civil —, ignorando conquistas do movimento antinuclear.

Mais uma vez, o governo se revela o pior inimigo da sociedade.

Avis Everhard

Fonte: https://umanitanova.org/trizio-giorgia-e-descalzi-il-nucleare-civile-passaggio-obbligato-per-lo-scudo-atomico-europeo/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Oh cruel vendaval!
Um bando de pequenos pardais
agarra-se à relva.

Buson

[São Paulo-SP] Geografias das autonomias indígenas na América Latina

Na sexta feira, dia 28 de março, a Biblioteca Terra Livre em conjunto com o Programa de Pós Graduação em Geografia Humana da USP e o Lemadi-USP realizam o evento “Geografias das autonomias indígenas na América Latina”, com a participação do pesquisador e ativista uruguaio Raúl Zibechi, além dos geógrafos Fábio Alkmin e Adriano Skoda.

O evento é gratuito, aberto para todas as pessoas e não requer inscrição prévia.

Estamos buscando viabilizar a transmissão do evento online. Caso seja possível pedimos para nos contactar para enviarmos o link por email.

Quando: 28/03/2025, sexta-feira, às 18h.

Onde: Auditório Milton Santos – Departamento de Geografia da USP.

agência de notícias anarquistas-ana

fim de tarde
depois do trovão
o silêncio é maior

Alice Ruiz

A História do Movimento anarquista em Belém do Pará e na Amazônia

PANORAMA HISTÓRICO DO ANARQUISMO NA AMAZÔNIA

Acompanhem o surgimento e o desenvolvimento do anarquismo na nossa região ao longo da sua caminhada até os dias atuais. De onde vem o CCLA, como chegamos a construir esse espaço, quais foram as principais etapas desse percurso etc.? Eis algumas respostas a essas perguntas que mereciam que a nossa militância escrevesse algumas linhas.

A chegada da ideologia anarquista na Amazônia segue o mesmo percurso em todo o Brasil, via imigração. Por exemplo, o governo do Pará, a partir da segunda metade do século XIX, tinha uma preocupação em “aumentar” a população da então Província do Grão-Pará, incentivando a vinda de imigrantes europeus, principalmente, portugueses e espanhóis, mas também italianos, franceses, alemães, belgas e suíços. Também vieram norte-americanos, cubanos, argentinos. Assim, em junho de 1875 com a inauguração da colônia Benevides (hoje município da região metropolitana de Belém). Isso tudo motivado por uma crise de abastecimento alimentar na qual a região se encontrava. Boa parte da mão-de-obra disponível (especialmente ligada à agricultura e coleta na floresta) estava orientada para a produção do látex e da borracha (produto muito demandado no final do século XIX), causando uma falta de gêneros alimentícios básicos nas principais cidades. É nesse contexto que o Governo da Província incentivou a entrada de migrantes europeus, mas também muitos trabalhadores nordestinos, em especial cearenses. O objetivo era criar colônias agrícolas, interligadas pela ferrovia Belém – Bragança, que iriam suprir essas necessidades.

Pela cidade de Belém chegavam, passavam, mas também, ficavam uma quantidade expressiva de imigrantes. Registros historiográficos mostram atuação de anarquistas, mesmo que de forma individual, já neste período. Um episódio curioso, talvez poucas pessoas saibam, em maio de 1896, na ilha de Caratateua, em Outeiro, distrito de Belém, na hospedaria onde se abrigava imigrantes, menciona-se um pedido de repatriamento de um imigrante que fazia distribuição de avulsos de propaganda anarquista[1], muito provavelmente, alusivo ao dia da classe trabalhadora (1° de maio) e aos mártires de Chicago.

>> Para ler o texto na íntegra, clique aqui:

https://cclamazonia.noblogs.org/post/2025/03/10/a-historia-do-movimento-anarquista-em-belem-do-para-e-na-amazonia/

Conteúdo relacionado:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2024/02/01/ccla-um-espaco-anarquista-no-coracao-da-amazonia-brasileira/

agência de notícias anarquistas-ana

O galo é um leão
furiosamente aberta
a sua juba de penas.

Kikaku

[França] O que resta da utopia anarquista? Chamada de trabalhos

O ideal anarquista, que se enraizou em meados do século XVIII, previa a criação de uma sociedade sem deuses ou mestres, igualitária, justa e harmoniosa. Em suma, o verdadeiro paraíso na terra. Para alcançá-lo, alguns pensaram que teria sido suficiente difundir essas ideias, organizar-se em grupos e associações onde a autogestão cotidiana teria facilitado a emancipação de todos.

Mas percebemos que as coisas não aconteciam assim. As forças agrupadas dos Estados, do capitalismo, dos partidários da dominação, obviamente, não deixaram o caminho aberto para esses rebeldes sem lei. É por isso que imaginamos que uma revolução violenta “infelizmente” seria necessária… sem falar na submissão voluntária que, de geração em geração, se renova em espaços institucionais e íntimos.

Quase dois séculos depois, o que resta desse projeto?

Notamos que esse ideal anarquista ainda está vivo, tanto nos interstícios de pensamento que circulam nos espaços da cultura institucional, no mundo da arte, em grupos, sindicatos, federações – por menores que sejam – reivindicando-o, quanto, de formas muito diversas e às vezes informais, em práticas sociais, políticas e econômicas presentes em diferentes países e continentes.

Gostaríamos de uma reflexão coletiva para lançar luz sobre este tema que nos é caro desde a criação de nossa editora, e já tratado em parte em várias conferências que organizamos no passado e através de todos os nossos títulos.

Para isso, pedimos a todos aqueles que gostariam de contribuir que nos enviem textos originais. De nossa parte, comprometemo-nos a ler atentamente suas propostas, com vistas a uma futura publicação.

Seus textos devem ser enviados para contact@atelierdecreationlibertaire.com

Atelier de Création Libertaire – ACL

agência de notícias anarquistas-ana

A noite caminha.
No negrume, o vaga-lume
acende a bundinha.

Flora Figueiredo