Associação de Trabalhadores de Base (ATB) ao povo

Nesse 1º de Maio, data histórica das lutas da classe trabalhadora, a ATB vem reivindicar seu lugar na barricada, sua posição nas frentes de batalha do povo periférico e das massas oprimidas. Vem se alinhar com todas as iniciativas que não se subordinem aos governos, patrões e autoproclamadas lideranças partidárias. Vem denunciar a falsa polarização eleitoral e os acordos de cúpula, todos eles celebrados à custa da miséria e incontáveis sofrimentos daqueles que realmente criam as riquezas na sociedade capitalista.

Desde 2019 quando foi criada, a ATB estabeleceu, através de seus princípios, os alicerces para uma caminhada que entende ser longa e que, por isso mesmo, precisa de referências claras e objetivas. O cerne das nossas postulações fundamenta-se assim no anticapitalismo, antissexismo, antirracismo, apoio mútuo, autogestão, internacionalismo, federalismo, autonomia e ação direta. Aspectos estes derivados da experiência popular que se reinventa cotidianamente e que tem suas raízes mergulhadas nas realizações da nossa ancestralidade.

Por tudo isso estaremos sempre agindo em apoio aos terceirizados, precarizados, desempregados e informais com ênfase na questão organizativa, anunciando um tipo específico de associacionismo inspirado nas Bolsas de Trabalho, no sindicalismo revolucionário e nos núcleos populares de produção. Em comum acordo com tal atitude destacamos o papel das cooperativas de crédito, trabalho e consumo como elementos de inegável utilidade para a emancipação dos explorados.

Assim pensando, a ATB vem propor a ruptura com todas as formas de exploração, substituindo-as pelas relações horizontais e igualitárias, estas sim as únicas capazes de engendrar um mundo novo sem patrões e toda a espécie de parasitas.

Viva o 1º de Maio!!!

Viva a Luta da Classe Trabalhadora!!!

Associação de Trabalhadores de Base – ATB

atbrj.wordpress.com

comunica.atbrj@protonmail.com

agência de notícias anarquistas-ana

Ao ser perseguido,
O vagalume /
Se esconde na lua!

Ryôta

1º Maio – Memória e Luta. Avançar na Combatividade e Confrontar o Peleguismo

O dia 01° de maio é importante para marcarmos a memória dos mártires de Chicago, trabalhadores anarquistas, que foram assassinados pelo Estado dos EUA e seus capitalistas. No entanto, além da importância de lembrar dos operários que foram condenados à morte e prisão perpétua como Samuel Fielden, Michael Schwab, Oscar Neebe, Adolf Fischer, Albert Parsons, August Spies, Ludwig Lingg e George Engel em um processo que se caracterizou desde o início como irregular e injusto, é fundamental relembrarmos essa data com muita luta.

No passado estes trabalhadores e trabalhadoras lutaram para diminuir a jornada de trabalho, que nos EUA passava de 16 horas diárias. A exploração era enorme. No Brasil, quando esses eventos ocorreram, o país ainda vivia sobre o regime da escravatura. Passado mais de 100 anos, a luta por melhores condições de vida e trabalho continuam.

A Exploração e Dominação que Sustenta o Poder: A Urgência da Luta Sindicalista Revolucionária no Brasil

O Brasil é um país construído sobre a superexploração da classe trabalhadora, onde o capitalismo racista, patriarcal e colonial extrai lucros gigantescos enquanto condena milhões à miséria. Os salários de fome, a precarização avassaladora e a violência estrutural do Estado revelam a face brutal de um sistema que só se mantém porque oprime, assassina, divide e escraviza a classe trabalhadora.

No caso brasileiro, a redução da jornada de trabalho para 44h semanais só atingiu uma parcela da classe trabalhadora, ficando grande parte da classe ainda no trabalho informal que ganhou novas roupagens, com as tecnologias e os discursos de empreendedorismo. Hoje, a luta imediata da classe trabalhadora é: 1) pela redução da jornada de trabalho com o fim da escala 6×1, com 30 horas semanais em 4 dia da semana sem redução do salário/remuneração; 2) pelo aumento da remuneração das empresas de aplicativos; 3) contra violência nas favelas e periferias; 4) por terra e liberdade e 5) pelos direitos sexuais, reprodutivos e econômicos da mulher e população LGBTQIA+

Além disso, os trabalhadores e trabalhadoras negros sofrem ainda mais com a violência estatal que assola as periferias das cidades brasileiras com o genocídio dos jovens negros. As mulheres trabalhadoras por sua vez sofrem diretamente com a falta de direito à reprodução pela sua condição de duplamente, triplamente explorada, com duas, três ou mais jornadas diárias, sem que seu trabalho doméstico seja valorizado e pago e ainda com seu corpo controlado e vigiado.

Trabalhadores e trabalhadoras LGBTQIA+ também são perseguidos e perseguidas, subjulgadas (os) e mortas (os). Homens e mulheres Trans tem expectativas de vida baixíssima e na grande maioria dos casos realizam seus trabalhos em péssimas condições.

Os camponeses, quilombolas, povos ribeirinhos, caiçaras, pescadores e povos indígenas têm seus modos de vida ameaçados com a violência estatal e da burguesia do agro que avançam sobre seus territórios. Não por acaso, todos os anos dezenas são assassinados por pistoleiros e policiais à mando da classe dominante e de políticos.

A destruição ambiental promovida pelo avanço do capitalismo já produz alterações climáticas que tem impactado, sobretudo, as e os trabalhadores mais empobrecidos. O avanço do agronegócio, o latifúndio modernizado, tem destruído o Pantanal, os pampas, a mata atlântica, a Amazônia, a caatinga e o cerrado para produção de comoditties agrícolas. O assassinato de animais e a destruição desses biomas tem avançado todos os anos, ainda que trabalhadores do setor ambiental façam um trabalho hercúleo para impedir tal destruição. A classe dominante está criando uma extinção em massa dos animais e impossibilitando a vida na terra.

Salários de Miséria: A Farsa da “Recuperação Econômica”

Hoje, enquanto o governo Federal do PT e seus aliados celebram números frios de empregos, 60% dos trabalhadores brasileiros sobrevivem com até 2 salários mínimos – menos de R$ 3.000 em um país onde o custo de vida não para de subir. O trabalhador negro recebe 30% menos que o branco, e as mulheres, mesmo mais escolarizadas, ganham 20% a menos que os homens pelo mesmo trabalho. Além disso, 39% de trabalhadores estão na informalidade, totalmente desprotegidos e desassistidos. Se por um lado o governo celebra a situação de superexploração do trabalho, o empresário quer mais exploração e continua atacando a classe trabalhadora, agora propondo o congelamento do salário mínimo.

Precariedade como Política de Estado

O trabalho intermitente, os falsos PJs e os contratos terceirizados são armas do patronato para negar direitos, enfraquecer contratos permanentes de mais longo prazo, como da própria CLT, e transformar o trabalhador em mercadoria descartável. A aprovação do novo teto de gastos do governo federal tende a favorecer ainda mais esse processo de terceirização, uma vez que áreas como saúde, educação, cultura e meio ambiente demandam de cada vez mais investimentos e contratações e o novo teto de gastos de Haddad/Lula não permite isso. O governo, inclusive na figura do seus Presidente, Luís Inácio Lula da Silva, e o judiciário, como o STJ, legislam a favor do empresariado, criminalizando greves, impedindo e sufocando a livre organização sindical.

A Violência Contra a Classe Trabalhadora

Não é apenas o salário que mata. São as jornadas exaustivas, o assédio moral no ambiente de trabalho, a falta de justiça reprodutiva, a falta de segurança no trabalho, o transporte público lotado e a negação do direito à saúde e à moradia digna. Nós trabalhadoras e trabalhadores estamos cada dia mais adoecidos fisicamente e mentalmente. Todo dia, um trabalhador morre em acidente evitável. Todo dia, uma mulher é assediada no emprego. Todo dia, um jovem negro é exterminado pela polícia nas periferias.

A Resistência é a Única Saída: Destruir o Sindicalismo Propositivo de Resultado

O cenário é devastador. Novas epidemias aparecerão. Mas ao mesmo tempo é preciso que o velho sindicalismo propositivo de resultados, de ocupação de cargos públicos e fóruns tripartites e de ação parlamentarista, caracterizado nos últimos 30 anos pelo seu peleguismo, dê lugar ao novo, que rompa com o legalismo e a conciliação de classe, marca de centrais sindicais como CUT e CTB, vinculado ao Partido dos Trabalhadores (PT) e ao Partido Comunista do Brasil (PCDoB), sem contar as outras centrais que são contrárias aos interesses dos trabalhadores, como UGT e Força Sindical.

Assim, a Federação das Organizações de Base (FOB) tem como proposta justamente o rompimento com as práticas burocráticas e parlamentaristas. Apostamos na ação direta, nós por nós mesmos, e na auto-organização da classe trabalhadora criando uma política dos trabalhadores de ação e ruptura, para criação de um mundo novo enquanto lutamos, e treinamos, para conseguir sobreviver de forma digna. Só temos um caminho a trilhar: da revolução social. Para chegar lá é preciso treinar e vencer cada partida, até vencermos o campeonato.

Só esse ano já tivemos importantes demonstrações do poderio e força da classe trabalhadora. A unidade da luta dos povos indígenas e professoras no Pará; o breque dos APPs em todo o país e a campanha pelo fim da Escala 6×1. Sem contar as centenas de mobilizações e greves que se espalham apesar de todas dificuldades atuais.

A história nos mostra: nenhum direito foi concedido de boa vontade. A CLT, o 13º salário, a licença-maternidade e a redução da jornada foram conquistados com sangue, greves e ocupações. Mas a burocracia sindical peleguista, aliada aos patrões e ao Estado, tenta domesticar nossa luta.

Por isso precisamos de:

Sindicatos e organizações Autônomas, classistas e de base, independentes do Estado e dos patrões.

Greves gerais que parem o país, unindo trabalhadoras e trabalhadores, camponeses, povos indígenas, quilombolas;

Ações diretas contra a precarização, ocupando fábricas e bloqueando portos, rodovias e aeroportos

Organização antiracista e feminista, porque não há revolução sem derrubar o machismo e o racismo.

O Sistema Tem Medo da Classe Trabalhadora Organizada!

Enquanto os ricos lucram, nós sangramos. Mas nossa força está na produção – e sem nós, o Brasil para. Neste sentido, é fundamental fortalecer nosso trabalho nos locais de atuação, apoiar a auto-organização do povo, ampliar as práticas de apoio mútuo e onde for possível construir e participar de atos de primeiro de maio com caráter classista, autônomo e combativo.

A hora é agora: por salários dignos, por emprego estável, pelo fim da terceirização e por uma sociedade sem patrões!

Pelo Fim da Escala 6×1

Pelo Fim das Opressões nos Bairros Proletários

Pela Liberdade de Associação

Por Justiça Reprodutiva

Em Defesa da Greve Geral

lutafob.org

agência de notícias anarquistas-ana

Vultos
Ciscos cegos
No olho da rua.

André Vallias

Ação de 1° de Maio na Zona Leste de São Paulo (SP)

Salve camaradas!

Neste Primeiro de Maio vamos somar juntos nessa atividade na região de São Matheus na Zona Leste de São Paulo. Estaremos concentrados na frente da saída do monotrilho da linha 15-Prata de São Matheus, depois seguiremos ao entorno, buscando a comunicação com quem está circulando e trabalhando. 

Nos organizarmos e mobilizarmos é fundamental nesse momento de acirramento da luta pelo fim da escala 6×1, dialogar com a população nas ruas é o que podemos fazer para ganharmos força popular, e assim podermos combater a exploração de classe que se agrava entre nós que obriga trabalharmos mais e mais pelo lucro da burguesia nacional e internacional. 

É urgente posicionarmos a favor da classe trabalhadora e contra os patrões e todos exploradores do povo, lutemos pelo fim dessa maldita escala e por uma mudança imediata que não prejudique mais quem mais sofre, a população pobre. 

Essa mobilização precisa tomar corpo e assim conquistaremos nossos objetivos. Pelo fim do capitalismo e do Estado. Autogestão e Revolução mais nenhuma forma de dominação e opressão. Viva o socialismo libertário.

agência de notícias anarquistas-ana

O ar a tremular —
A cada golpe da enxada
O cheiro da terra.

Rankô

[Espanha] 29-A: Não somos números, nem mais uma morte! Paremos as mortes no trabalho

Nos dois primeiros meses de 2025, 98 trabalhadores morreram e houve um total de 91.950 acidentes de trabalho. Diante desses números devastadores e inaceitáveis, pedimos que você participe da concentração que a Federação local da CGT València está convocando para a terça-feira, 29 de abril, às 11h30, na Plaza Manises (em frente ao Palácio da Generalitat), para denunciar esses fatos e lembrar que não somos números. Nem mais uma morte! #AcidentesdeTrabalho #CGT #València

Paremos as mortes no trabalho

Nos dois primeiros meses de 2025, 98 trabalhadores morreram e houve um total de 91.950 acidentes de trabalho. Diante desses números devastadores e inaceitáveis, convocamos os delegados, delegadas e afiliados da Federação Local de Valência a participarem da manifestação que ocorrerá na terça-feira, 29 de abril, às 11h30, na Plaza Manises (em frente ao Palácio da Generalitat) para denunciar esses fatos e lembrar que não somos números, nem mais uma morte!

Se a responsabilidade pela organização do trabalho for do empregador e as mortes ocorrerem como consequência do trabalho – contratos precários, trabalho por peça, ritmos frenéticos e estressantes, tempos de viagem cada vez maiores, pressão e violência (moobing) na organização do trabalho, autoritarismo e falta de democracia no local de trabalho, … – há apenas uma pessoa responsável: OS EMPREGADORES.

ACIDENTES DE TRABALHO E SAÚDE OCUPACIONAL

Desde a Confederação Geral do Trabalho (CGT), nos perguntamos: para que serve ao trabalhador morto a dor fictícia de seu patrão ou a dor mais real de seus companheiros, de sua família ou da sociedade?

O trabalho assalariado é uma necessidade para milhões de pessoas que estão empregadas, trabalham, têm um emprego ou estão procurando um. Trabalho que produz bens e riquezas para a sociedade.

Todos os dias, uma média de 2 trabalhadores têm suas vidas ceifadas em várias atividades. Centenas de milhares de pessoas sofrem acidentes graves ou muito graves e lesões incapacitantes todos os anos pelo simples fato de irem trabalhar.

A Lei, o Estatuto dos Trabalhadores, a Lei de Prevenção de Riscos Ocupacionais, obriga os empregadores a proteger a saúde e a vida de milhões de funcionários. Essas garantias são desrespeitadas diariamente ao serem condicionadas à lógica da eficiência econômica e dos lucros das empresas.

A sociedade aceita a morte nos “trabalhos” como um fato “normal”, pois a lógica da eficiência econômica capitalista é abençoada a ponto de nos fazer acreditar que ela é imutável e, além disso, inevitável. Como prova disso, basta dar uma olhada nas estatísticas oficiais de cada ano.

A Lei do Mercado funciona como uma máquina que tritura direitos e vidas, e as mortes, doenças e acidentes causados por essa lei têm nome e sobrenome: os empregadores, seus gerentes, seus diretores, os políticos e legisladores.

É uma guerra em que, a cada dia, dois trabalhadores morrem, ou seja, são “assassinados legalmente”, seja por acidente ou por doença ocupacional. Nessa guerra, não há direitos de refúgio, pelo contrário, as políticas são antiproativas na proteção dos direitos dos trabalhadores.

Fonte: Gabinete de Comunicación de la Confederación General del Trabajo del País Valenciano y Murcia

agência de notícias anarquistas-ana

casca oca
a cigarra
cantou-se toda

Matsuo Bashô

Três Vivas Pelos Atos Pela Juventude Trans.

Há muito o que comemorar neste 24/04. O esforço para realizar manifestações em favor dos direitos e da juventude trans em todo país, fortemente puxado pelo Coletivo Antiordem, que está no mesmo grupo que nós (o Lunária) e o Coletivo Chama, foi um enorme sucesso.

Através das cinco regiões do Brasil, em metrópoles e em alguns casos no interior, os atos reuniram pessoas dispostas a lutar por seus direitos e contra a transfobia do CFM (Conselho Federal de Medicina), além de terem demonstrado que a comunidade LGBTQIA+ é materialmente capaz de se organizar pelo país inteiro.

Talvez o detalhe mais bonito desses atos tenha sido a expressividade, em Belo Horizonte houve cartazes e um desenho, em Franca bandeira colocadas lá pela comunidade (inclusive as bandeiras anarquistas do Antiordem e do Anarco-Comunismo), no Rio de Janeiro houve discursos poderosos, apenas para citar alguns exemplos.

E quem quer que seja que afirmar que os atos não incomodaram ou não vão fazer a diferença é mentiroso. O CFM de várias cidades fechou o prédio e as janelas, a polícia foi chamada de forma unânime, e a direita se fez presente num caso bem irônico:

Lucas Pavanato, sujeito cuja altura pequena só é maior que o pequeno caráter, tentou atrapalhar a manifestação em São Paulo, e só teve “coragem” de aparecer porque foi protegido por vários policiais: uma clara demonstração que o Estado serve para proteger os privilegiados.

Depois do sucesso dessas manifestações o dia 24/04 é a mais nova data comemorativa da esquerda e comunidade LGBTQIA+ brasileira.

Um brinde!

Fonte: https://novaplebe.com/tres-vivas-pelos-atos-pela-juventude-trans/

agência de notícias anarquistas-ana

lua n’água
entre pétalas
alumbra o abismo

Alberto Marsicano

[Áustria] Conectando as lutas emancipatórias – Vá para as ruas no dia 1º de maio!

MAYDAY / MAYDAY

1º de maio, 15:00, S-/U-Bahn Simmering

As pressões impostas pelas estruturas da sociedade estão constantemente impondo desafios. A alta inflação, o aumento dos aluguéis e o domínio dos investidores no mercado imobiliário são um problema. Aqueles que não têm acesso a moradias municipais ou ao mercado de aluguel seguro enfrentam contratos de curto prazo e aluguéis exorbitantes. Muitos não podem mais se dar ao luxo de morar em Viena. Nós nos opomos a isso e saímos às ruas por uma cidade para todos!

Isso é necessário à luz da crescente violência da direita nas ruas de nossa cidade. Globalmente, as estruturas feministas e queer estão sob ataque, e o número de feminicídios está aumentando. Recentemente, uma rede de extrema direita na Áustria foi exposta, tendo como alvo homens homossexuais e indivíduos queer. As pessoas que se opõem consistentemente à ideologia de direita, especialmente os antifascistas, estão se tornando cada vez mais alvos de medidas autoritárias do Estado. Seja Maja, na Hungria, que enfrenta uma sentença de 24 anos de prisão, vários antifascistas envolvidos no caso de Budapeste que estão enfrentando punições igualmente draconianas, ou a severa repressão que está ocorrendo atualmente em Graz contra ativistas antifascistas.

Onde quer que os partidos de direita consigam entrar no governo, eles começam a implementar sua ideologia na prática. Não precisamos olhar para os EUA em busca de exemplos – isso também está acontecendo na Áustria. Recentemente, na Estíria, o governo conservador de direita substituiu os conselhos consultivos existentes para o financiamento da cultura por indivíduos de sua escolha, mesmo antes do término de seus mandatos.

No entanto, as iniciativas e os espaços culturais são vitais para a coesão social. Esses espaços fornecem uma base fundamental para combater a polarização da sociedade e lutar pela solidariedade. Atualmente, muitos desses espaços estão ameaçados, e defendemos a preservação de espaços livres como o St. Mar, que corre o risco de ser demolido.

Não são apenas o antifascismo e o trabalho cultural que estão sob ameaça. O antissemitismo e o racismo estão em ascensão. Desde o dia 7 de outubro e a guerra que se seguiu, tanto a propaganda islâmica quanto a de extrema direita aumentaram, afetando nossos movimentos. O número de ataques antissemitas – incluindo aqueles provenientes de círculos supostamente de esquerda – aumentou drasticamente, juntamente com um aumento de incidentes racistas e antimuçulmanos.

As pessoas que são vistas como “diferentes” sofrem exclusão cotidiana. Aqueles com nomes percebidos como “não alemães” enfrentam grave discriminação no mercado imobiliário. A discriminação no local de trabalho devido à origem (percebida) também é desenfreada, sem mencionar as lutas dos indivíduos que não têm acesso ao mercado de trabalho. Aqueles com direitos de trabalho limitados, como os solicitantes de asilo, geralmente acabam trabalhando como autônomos subcontratados em setores precários, como entrega de alimentos e pacotes. Atualmente, esse setor está sofrendo reveses significativos – recentemente, a Lieferando demitiu 1.000 motoristas empregados, mudando totalmente para contratos freelance. Esse é um ataque direto aos direitos dos trabalhadores, que nós, como esquerdistas e movimentos emancipatórios, não podemos ignorar!

O trabalho precário geralmente leva a condições precárias de vida e saúde. Apartamentos muito caros, às vezes sem aquecimento ou eletricidade. Altos custos de saúde para indivíduos sem seguro. Muitas vezes, as pessoas afetadas precisam se organizar contra essas condições desumanas – enfrentando repressão severa, às vezes até a perda do emprego. Todos esses são sintomas da lógica do lucro capitalista e da marginalização.

Estamos vivendo em um mundo de múltiplas crises e guerras, que não podem ser resolvidas com respostas simplistas e retórica de direita. Uma crise que a política dominante continua a ignorar é a mudança climática. Desde as enchentes do último outono, ficou claro: a crise climática chegou à Áustria. Devemos reconhecer que muitas regiões – especialmente no Sul Global – são afetadas de forma desproporcional. O que vivenciamos até agora é apenas uma prévia do que está por vir. Está ocorrendo uma organização local, como a “Wir fahren gemeinsam”, em que motoristas de ônibus, sindicatos e ativistas ambientais unem forças para pressionar por uma transição do nosso sistema de transporte.

Para nós, a questão é como construir um modo de vida diferente – livre da guerra, da opressão estatal, do capitalismo, do racismo, do antissemitismo, do fascismo e do patriarcado; livre da dominação e da exclusão.

É hora de unirmos nossas lutas e desenvolvermos soluções coletivas. O mundo de amanhã deve ser melhor – livre de todas essas restrições!

Em resposta à exclusão, construímos solidariedade! Por essa visão, sairemos às ruas em 1º de maio! Junte-se a nós às 15h00 no S-/U-Bahn Simmering para uma manifestação militante pelo 11º distrito.

MAYDAY / MAYDAY

www.mayday.jetzt

[Espanha] Ofensiva anarcossindicalista 1º de Maio

Este dia 1º de Maio, Dia Internacional da Classe Trabalhadora, a Confederação Geral do Trabalho de Andaluzia, Ceuta e Melilla, ergue sua voz em nome de quem sustenta esta sociedade com seu esforço e sacrifício. Desde os campos, às fábricas, desde os hospitais ate os lares, as trabalhadoras e os trabalhadores de Andaluzia demonstraram uma vez mais sua resistência frente à exploração e a injustiça. Somos os que produzem a riqueza e, por isso, temos o poder de transformar este sistema opressor.

Desde a CGT Andaluzia, reivindicamos um 1º de Maio combativo e cheio de memória histórica. Recordamos os que lutaram por direitos que hoje tentam nos arrebatar: jornadas dignas, salários e pensões justas, condições laborais seguras, liberdade sindical… Não esquecemos que foi a organização obreira e a ação coletiva as que arrancaram estas conquistas do poder estabelecido. E hoje, ante uma crise que não provocamos, mas que sim pagamos, voltamos a levantar nossas bandeiras vermelho e negras em sinal de rebeldia e luta.

O capitalismo segue mostrando seu verdadeiro rosto: uma máquina insaciável que converte nosso esforço em lucros para uns poucos, enquanto nos deixa só umas migalhas. Em Andaluzia, terra rica em recursos e cultura, seguimos sendo testemunhos de como a precariedade, a exploração e a desigualdade se perpetuam como se fossem inevitáveis. Mas não o são. Juntos podemos mudar este injusto regime.

Neste contexto, denunciamos com firmeza o recente anúncio da União Europeia de aumentar o gasto militar em 800.000 milhões de euros, financiados — o reconheçam ou não — às custas de cortes em políticas sociais já bastante minguadas, especialmente em comunidades como a andaluza, açoitada por uma onda de cortes e privatizações como a de motosserra. Este dinheiro, que poderia garantir serviços públicos universais, moradia digna, pensões justas, emprego estável ou a Renda Básica Universal, será utilizado para alimentar uma maquinaria bélica que só beneficia as elites econômicas e políticas. A militarização não resolve problemas como a desigualdade, a crise climática ou a falta de direitos laborais; ao contrário, aprofunda a miséria das classes populares e a mudança climática. Rechaçamos redondamente este giro militarista e exigimos que os recursos públicos se destinem a melhorar a vida das pessoas, não a fabricar armas.

Também, elevamos nossa voz em apoio ao povo palestino, que resiste heroicamente frente ao fascismo sionista, supremacista e colonial de Israel. Denunciamos a ocupação militar, os assentamentos ilegais, os muros da vergonha, os bombardeios indiscriminados, o apartheid sistemático que sofrem milhões de palestinos e palestinas ou as ameaças de limpeza étnica.

Exigimos o fim imediato da ocupação, o desmantelamento do muro ilegal, o fim dos assentamentos coloniais e o reconhecimento pleno dos direitos do povo palestino, incluindo o direito ao retorno. Rechaçamos qualquer cumplicidade com o regime israelense, seja mediante o comércio de armas, acordos econômicos ou relações diplomáticas que legitimam a opressão.

Também denunciamos a criminalização e exploração sistemática das pessoas migrantes, tratadas como criminosas por buscar uma vida digna longe de guerras, pobreza e devastação ambiental causadas pelo capitalismo e o colonialismo. Nenhuma pessoa é ilegal. As fronteiras são uma invenção do poder para dividir-nos e debilitar-nos como classe trabalhadora. Se não há fronteiras para o capital, não deveria haver para as pessoas. Exigimos a regularização imediata de todas as pessoas migrantes, o fechamento definitivo dos Centros de Internamento de Estrangeiros (CIEs) e o fim das políticas racistas e xenófobas que criminalizam os que buscam uma vida melhor. A luta das pessoas migrantes é nossa luta.

Finalmente, é o momento de recordar a sangria de mortes e enfermidades graves que ocorrem diariamente nos centros de trabalho sob o eufemismo de «acidentes laborais». Não são acidentes, mas consequências diretas da falta de medidas de prevenção, o descumprimento de normas de segurança e saúde, e a pressão insustentável para aumentar a produtividade. Por trás de cada vida truncada há uma empresa que prioriza os lucros sobre a vida humana. Dizemos basta a esta cultura de exploração extrema. Nem um trabalhador ou trabalhadora a menos! Exigimos medidas efetivas de prevenção, castigo exemplar para as práticas empresariais irresponsáveis e o direito universal a um trabalho seguro e saudável.

A tudo isto, voltamos a lançar um chamado urgente pela paz na Europa. A escalada militar impulsionada pela Comissão Europeia pretende perpetuar o conflito ao invés de buscar sua solução. Não queremos uma Europa militarizada nem uma guerra interminável que só alimente ódio, destruição e sofrimento. Se queremos a paz, devemos preparar a paz, não a guerra. Os fundos destinados à militarização devem dirigir-se urgentemente às escolas, hospitais, moradia social e programas de reconstrução. A Europa tem a oportunidade de ser um farol de cooperação, solidariedade e diplomacia, mas para isso deve abandonar a lógica do confronto e apostar pelo diálogo.

Este 1º de Maio não é um dia de celebração vazia nem de discursos ocos. É um chamado à ação diária e permanente. A CGT de Andaluzia, Ceuta e Melilla convida a todas as trabalhadoras e trabalhadores a organizarem-se, a construir redes de apoio mútuo e enfrentar o poder mediante a assembleia, a greve e a mobilização. Não esperemos que outros mudem o mundo por nós; juntas, podemos transformá-lo. Isso é o que querem que não saibas.

Recordemos que a verdadeira mudança não virá de cima, mas de baixo. Este 1º de Maio nos comprometemos a seguir lutando por um futuro onde a liberdade, a igualdade e a justiça social sejam uma realidade para todas as pessoas.

CGT de Andaluzia

cgtandalucia.org

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Entre as ruas, eu,
e em mim, eu em outras ruas,
sob a mesma noite.

Alexei Bueno

[Espanha] Vivendo a minha vida Kelly

Era 20 de junho de 2004, o dia da minha chegada à cidade de Pamplona. Eu tinha dezesseis anos e soube o que era limpar merda. Começava minha vida como Kelly, embora não soubesse o que significava ser “sudaka”, “proletária” ou “cenetista”. Limpava um bar “no mercado informal” durante os finais de semana por 100 € por mês. Esse foi meu primeiro trabalho. E a ele se somaram o cuidado de crianças, limpeza de casas e portões.

Descobri o que era um contrato de trabalho seis anos depois, momento em que passei a doar meu tempo e minha força de trabalho a muitos patrões sem escrúpulos. Nem sabia que estava sendo explorada. Quando você é uma mulher migrante e todo o seu entorno também é, acaba se acostumando a esses trabalhos precários, a abaixar a cabeça, a ser grata aos seus “conquistadores” e a se ver como uma cidadã de terceira classe.

Contrariando todas as previsões, entrei na universidade sem bolsas de estudo ou qualquer tipo de ajuda. Com esforço infinito e alvejante (equipe de limpeza), consegui acessar os espaços que pessoas como eu só contemplavam da rua. Qualquer um poderia imaginar que, com um diploma e um mestrado, eu teria mais oportunidades de trabalho. Mas não. Continuo sendo Kelly. Pode ser que estudar Filosofia e Literatura Castellana não seja a opção mais rentável do mercado, eu sei disso.

Também não tenho um corpo hegemônico nem cumpro os parâmetros ocidentais de beleza, por isso, no mundo da hotelaria, nunca me colocaram para atender os clientes, mas para limpar seus quartos ou cozinhar como uma empregada doméstica sudaca à la carte.

Vinte anos depois, começam os problemas da vida Kelly. Não conheço ninguém do meu coletivo que seja feliz limpando ou fazendo quarenta camas diárias. Não há crianças dizendo “quando crescer, quero ser Kelly, foder minha coluna e receber abaixo do salário mínimo”. Se ninguém deseja ter rizartrose e síndrome cervicobraquial que vai paralisando os braços aos 37 anos, por que permitimos que esse tipo de trabalho continue existindo? Nos chamam de essenciais, mas ninguém nunca se colocou no nosso lugar ou tentou melhorar nossas condições. Eu gostaria que políticos e empresários limpassem dezoito quartos em seis horas e meia, como exigem as agências de emprego temporário, especialmente quando todos os hóspedes vão embora e você tem que trocar os lençóis e edredons sujos por outros.

Não é só o fato de ser mulher, mas também ser imigrante. Duplo preconceito. A sociedade continuará atribuindo os trabalhos que ninguém quer para você, não importa o que estude. Se você quiser ser independente e não contar com a ajuda econômica dos seus pais, acaba negociando com a merda e se prometendo que algum dia deixará de ser Kelly.

Na luta entre o senhor e o escravo, o servo não deseja se tornar patrão e lucrar com o seu trabalho, ele só deseja eliminar a dialética que determina sua vida. Por isso milito na CNT, para que um dia todas as Kellys do planeta façam a revolução.

Saúde e Anarquia.

Mariela Díaz, afiliada CNT Iruñea.

Fonte: https://www.cnt.es/noticias/viviendo-mi-vida-kelly/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

No solar ruído
há ainda verdes cortinas
e um senhor, o sapo.

Alexei Bueno

[EUA] Novidade editorial: Desobediência: Declarações Anarquistas diante do Juiz e do Júri

Desde que existem anarquistas, há conflito com a lei. Do local de trabalho às ruas, nossas ações nos colocaram repetidamente diante de juízes e júris. Muitos de nós escolhemos manter nossa oposição desafiadora à lei, apesar da ameaça de punição. Esta antologia reúne as palavras de anarquistas que enfrentaram a condenação por um sistema judiciário no qual não acreditamos.

“…o banco dos réus tem sido a mais eficaz e, permitam-me dizer, a mais gloriosa de nossas tribunas.”

– Errico Malatesta

Defiance: Anarchist Statements before Judge and Jury

256 páginas

Preço promocional: US$ 13,50

detritusbooks.com

Tradução > Contrafatual

agência de notícias anarquistas-ana

Em qualquer lugar
Onde se deixem as coisas
As sombras do outono.

Kyoshi

[Espanha] Inicia Ruido Feminista Radio, ondas livres contra o patriarcado!

Ruido Feminista Radio surge com a intenção de seguir criando ferramentas de transformação social que sejam espaços coletivos de encontro para pessoas atravessadas pela categoria mulher (cis, trans, etc.), e espaços de difusão de perspectivas feministas.

Criamos uma rádio on-line na qual reeditamos programas e podcast feitos por mulheres CIS, Trans, Não binárias, sexualidades dissidentes, etc. que se encaixam nos princípios das rádios livres.

Uma Rádio Livre para dar lugar a todas aquelas vozes do território com um objetivo comum: uma Cantábria anticapitalista, feminista, libertária e antirracista.

Queremos oferecer formatos e conteúdos para despertar através das ondas vosso espírito crítico, a informação verídica e o livre pensamento, mas também os sonhos.

Podes encontrar toda a informação sobre o projeto e escutar a rádio on-line em
https://ruidofeministaradio.org/

Tradução > Sol de Abril

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Chuva de outono
Folhas secas de momiji
Entopem a calha

Chico Pascoal

[França] Contra o negócio da guerra! Não à OTAN, nem em Toulouse nem em nenhum outro lugar.

De segunda a quarta-feira, generais, pesquisadores e industriais britânicos, franceses, americanos e da OTAN se reunirão no Centro de Congressos Pierre Baudis, em Toulouse, para a primeira conferência inaugural do futuro “Centro Espacial de Excelência da OTAN”, que será localizado em Toulouse neste verão.

A OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) é o braço armado do imperialismo ocidental e está constantemente expandindo sua influência por meio de armamentos e guerras.

Toulouse é um centro nevrálgico da indústria bélica. Sob o pretexto de pesquisa e desenvolvimento nos setores aeronáutico e espacial, suas empresas (Airbus, Thalès, Safran, etc.) e laboratórios universitários (CNES, OMP, ONERA, etc.) contribuem ativamente para armamentos e mortes em todo o mundo.

De 28 a 30 de abril, os principais atores das guerras de ontem, hoje e amanhã estarão conversando, comendo e comemorando em nossa cidade. Não deixemos que eles perpetuem a morte e a destruição em paz!

Vamos nos manifestar contra esse projeto mortal nesta terça-feira, 29 de abril, às 17h30. em frente ao centro administrativo, estação de metrô Compans Cafarelli.

Guerra contra a guerra!
OTAN, fora de Toulouse!

A N T I M I L I T A R I S T A S

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alta madrugada,
vaga-lumes no jardim
brincam de ciranda

Zemaria Pinto

[Itália] O sabor da liberdade: “Anarquia à mesa”, de Fiamma Chessa

“Anarquia à mesa”, de Fiamma Chessa, é mais do que um simples livro de receitas: é um diário gastronômico anárquico que entrelaça histórias, tradições e lutas que atravessam gerações, demonstrando como a comida pode ser um instrumento de memória, resistência e comunidade.

“Anarquia à mesa”: uma jornada entre culinária e memória
 
O que a culinária tem a ver com anarquia? Esta é a pergunta que surge ao nos depararmos com “Anarquia à mesa”, o novo livro de Fiamma Chessa, estudiosa e curadora do Arquivo Família Berneri Aurelio Chessa. A resposta é simples: a comida é cultura, tradição, narrativa, e torna-se um fio que entrelaça histórias, ideias e comunidades. Neste livro, a culinária não é apenas sustento, mas um ato de resistência, compartilhamento e identidade. A citação de Tiziano Terzani que abre o volume – “Nós não somos apenas o que comemos e o ar que respiramos. Somos também as histórias que ouvimos, os livros que lemos, a música que escutamos” – introduz perfeitamente o sentido da obra. Através de receitas transmitidas, encontros com figuras do movimento anarquista e relatos de lugares vividos, Chessa nos conduz em uma jornada pessoal e coletiva, onde a culinária se torna o espelho de uma ideia de liberdade e pertencimento. Não se trata apenas de um livro de receitas, mas de uma narrativa que atravessa gerações, desde a lembrança dos pratos de família até as experiências nas cozinhas coletivas dos encontros anarquistas. “Anarquia à mesa” é um livro que celebra a comida como veículo de memória histórica e política, transformando cada prato em um fragmento de história e cada ingrediente em uma narrativa.

As raízes familiares: as receitas de Giovanna Caleffi
 
A jornada culinária de “Anarquia à mesa” tem início nas raízes familiares da autora, entrelaçando-se com a memória de Giovanna Caleffi, esposa de Camillo Berneri. É ela quem transmite a Fiamma Chessa a paixão pela culinária, presenteando-a com uma cópia de “A ciência na cozinha e a arte de comer bem”, de Pellegrino Artusi, um clássico da gastronomia italiana. As receitas de Giovanna Caleffi não são apenas uma herança gastronômica, mas o reflexo de um modo de viver e pensar: pratos simples, ligados à tradição camponesa, mas carregados de significado afetivo e político. Através desses sabores, o livro recria a atmosfera de uma época em que a cozinha também era um momento de socialização, confronto e cuidado mútuo. As iguarias narradas não são apenas uma lista de ingredientes e procedimentos, mas pequenos fragmentos de vida: cada prato torna-se o pretexto para evocar episódios, encontros, anedotas ligadas à figura de Caleffi e ao contexto anarquista em que viveu.

A Vitrine da Editoria Anarquista e Libertária
 
Se as primeiras seções de “Anarquia à mesa” mergulham na dimensão íntima e familiar, o livro se abre posteriormente para uma dimensão coletiva e comunitária com o relato da Vitrine da Editoria Anarquista e Libertária, manifestação iniciada em 2003 em Florença, com periodicidade bienal. Este evento não é apenas um momento de encontro para editores e autores independentes, mas também uma oportunidade para experimentar e compartilhar diferentes cozinhas, entre cultura libertária e tradições populares. Ao longo dos anos, a manifestação deu origem a uma cozinha coletiva, organizada para alimentar os participantes com pratos que são fruto das experiências e das contaminações de quem participa. As receitas desta seção do livro narram uma culinária mestiça e solidária, que acolhe pratos da tradição camponesa, mas também propostas vegetarianas e veganas, adaptando-se às necessidades e sensibilidades de uma comunidade em constante transformação. Entre as receitas apresentadas, encontramos a torta de maçã, pera e chocolate; o babka (doce da tradição judaica da Europa Oriental); e o sanduíche de lampredotto, símbolo da culinária popular florentina. Através dessas experiências, a comida se confirma não apenas como necessidade, mas como instrumento de relação e agregação, uma maneira de entrelaçar histórias e identidades diversas, no caminho de uma tradição anárquica que sempre fez da convivialidade um elemento central de sua cultura política.

Reggio Emilia e a redescoberta das raízes familiares

A última parte de “Anarquia à mesa” nos leva a Reggio Emilia, cidade para onde Fiamma Chessa se mudou nos anos 2000 para acompanhar o Arquivo Família Berneri-Aurelio Chessa, guardião de grande parte da memória anarquista italiana. Aqui, a narrativa se entrelaça com novas descobertas e encontros significativos, incluindo aquele com os sobrinhos-netos de Giovanna Caleffi, que permitem à autora aprofundar ainda mais as tradições culinárias de sua família.
Esse retorno às origens não é apenas uma jornada gastronômica, mas também um momento de redescoberta, onde a comida se torna um veículo de memória e continuidade. Entre as receitas transmitidas pela família Caleffi, destacam-se a galinha recheada e a zuppa inglese, pratos que carregam consigo o sabor de uma época e de uma comunidade que, através da culinária, soube manter vivos seus laços.

O livro se encerra com uma entrevista com Libereso Guglielmi, jardineiro e anarquista, conhecido por sua ligação com a família de Mario Calvino, pai de Italo. O diálogo com Guglielmi acrescenta uma perspectiva inédita sobre a relação entre botânica, liberdade e culinária, reforçando a ideia de que a comida, assim como as plantas, é um elemento de conexão profunda entre indivíduos e território. Com esta seção, “Anarquia à mesa” demonstra mais uma vez como a culinária nunca é apenas nutrição, mas um idioma cultural e político, capaz de contar histórias de resistência, solidariedade e pertencimento.

Comida, memória e anarquia: o valor de “Anarquia à mesa”

Com “Anarquia à mesa”, Fiamma Chessa assina uma obra que vai além de um simples livro de receitas. Através da culinária, a autora nos oferece um retrato da história anarquista italiana, narrando episódios, encontros e tradições que muitas vezes permanecem à margem da grande narrativa histórica. Das receitas de Giovanna Caleffi e Aurelio Chessa aos pratos compartilhados na Vitrine da Editoria Anarquista e Libertária, cada página do livro é um testemunho de resistência e comunidade, uma ode à simplicidade e ao compartilhamento.

O volume também demonstra como a culinária é um instrumento de conexão, capaz de atravessar épocas e gerações. As experiências da autora, desde os relatos de sua infância até os anos mais recentes em Reggio Emilia, nos mostram como as tradições gastronômicas podem se transformar em arquivos vivos, capazes de transmitir valores e ideias com a mesma força de um manifesto político.

“Anarquia à mesa” é, em essência, um livro sobre anarquia e convivialidade, sobre laços familiares e luta política.

Anarchia a tavola
Fiamma Chessa
diario
Edizioni Malamente
novembro 2024
180 págs.
20,00€
edizionimalamente.it

Fonte: https://www.magozine.it/il-sapore-della-liberta-anarchia-a-tavola-di-fiamma-chessa/

Tradução > Liberto

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Soneca da tarde.
Uma brisa companheira
chega sussurrando.

Alberto Murata

Contra a guerra, contra o poder: um apelo da IFA a todxs os anarquistas para se posicionarem contra a OTAN

A cúpula da OTAN em 2025 acontecerá no Fórum Mundial de Haia, nos Países Baixos, de 24 a 26 de junho. Enquanto a máquina de guerra reúne milhares de delegados de seus 32 Estados-membros para orquestrar a próxima grande onda de expansão militar, não podemos ficar em silêncio. Precisamos erguer uma bandeira de desafio e resistência. A OTAN não existe para nos proteger. Ela serve aos interesses dos Estados, das corporações e de poucos às custas de muitos.

O Estado e a OTAN, ou qualquer outra aliança militar multinacional, não nos trazem segurança — trazem controle, buscando apenas nossa obediência, nossa conformidade e nossa capitulação. Seja na violência endêmica da polícia em nossas comunidades, nos campos de batalha ensanguentados da Ucrânia ou nos oceanos de ruínas de Gaza, temos um único inimigo: o capitalismo e o Estado.

Desde sua criação em 1947, a OTAN agiu apenas como executora da violência imperialista, instrumento de repressão e motor de guerra. Ela não protege a paz. É nossa inimiga de classe e uma ameaça direta à vida e ao bem-estar de cada um de nós. Nossa luta não é entre nações, mas contra a classe dominante à qual todxs resistimos. Isso continua verdadeiro, mesmo diante da brutal realidade da guerra. Sob o pretexto da segurança europeia e nacional, os governos da OTAN estão canalizando bilhões para orçamentos militares, cortando serviços sociais vitais.

Enquanto constroem exércitos, nos deixam lutando pela sobrevivência. Impõem austeridade enquanto acumulam recursos para a guerra. Eles erguem forças armadas enquanto nós lutamos por saúde, moradia e dignidade básica. Vemos todos os dias como recrutam as próximas gerações, preparando-as para pegar em armas — privadas de oportunidades, sem outra escolha a não ser se alistar e virar carne para canhão em conflitos que não criaram, vendidas à aventura, à falsa fraternidade e ao patriotismo. Quando os recrutas voltam, mutilados e destroçados, são descartados, úteis apenas como símbolos em desfiles vazios. Em seus uniformes militares, mostram à luz do dia que a propaganda nunca termina.

Chamamos todxs os anarquistas, antiautoritários e quem se opõe à guerra para se unir, organizar e resistir ao militarismo. A OTAN e seus senhores da guerra se reunirão, mas nós também. Vamos às ruas. Vamos perturbar suas demonstrações de poder. Criaremos redes de solidariedade e nos oporemos diretamente às suas guerras, à sua polícia militarizada e à repressão de nossos movimentos. Nós, anarquistas, lutamos por um mundo sem fronteiras, sem Estados e sem exércitos que sustentem seu domínio.

Conclamamos à solidariedade internacional contra a OTAN e toda manifestação de opressão militarizada — seja a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC), a Força Escudo da Península (PSF), a Aliança dos Estados do Sahel (AES), o Plano ReArm Europe 2030 ou qualquer outro pacto ou exército supostamente de “segurança coletiva”. Todos servem ao mesmo propósito: manter o domínio pela força, perpetuando o sofrimento no mundo. As armas que usam hoje para garantir recursos serão voltadas contra nós amanhã.

Pedimos a todxs anarquistas, antiautoritários e antimilitaristas que ajam nesses dias em Haia e em todo o mundo, em solidariedade internacional. Que os detalhes de nossos planos cresçam juntos. Organizem-se e preparem nossas ações. Juntos, faremos com que saibam: rejeitamos as falsas escolhas do nacionalismo. Rejeitamos a ideia mentirosa de que a OTAN existe para proteger. Rejeitamos a brutalidade de seu militarismo e as doutrinas marciais da guerra. Repudiamos suas propostas de orçamento que esvaziam os cofres da classe trabalhadora e apoiamos as vítimas e desertores de todas as guerras.

Nenhuma guerra entre os povos, nenhuma paz entre as classes.

Comissão de Relações da Internacional das Federações Anarquistas (IFA)

Marselha (França), 22-23 de março de 2025

Fonte: https://umanitanova.org/contro-la-guerra-contro-il-potere-un-appello-dellifa-a-tutt-l-anarchic-a-schierarsi-contro-la-nato/

Tradução > Liberto

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Sai em disparada
da grande moita de mato
o esquilo cinzento…

Hazel de S. Francisco

[Espanha] Primeiro de Maio de 2025 CNT-AIT Granada

Neste Primeiro de Maio, a CNT-AIT de Granada o celebrará na Placeta de la Cruz a partir das 12h.

Uma jornada para que todos estejam juntos, no qual o ato central serão os comícios nos quais serão abordadas diferentes questões atuais. O sindicato dará ênfase especial a como o crescente aumento do militarismo e do fascismo afeta os trabalhadores. Para reverter essa situação, nada melhor do que gerar comunidades de luta organizadas desde baixo, sem a mediação de partidos e organizações de vanguarda.

Além da CNT-AIT de Granada, outros coletivos participarão.

Além disso, durante toda a jornada haverá banquinhas com livros e outros materiais. Ao meio-dia, teremos um almoço popular, provavelmente paella, e desfrutaremos de algumas apresentações artísticas: concerto, poesia, palhaços e DJ.

Por um Primeiro de Maio revolucionário, autogestionado e libertário!

granada.cntait.org

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a sombra da nespereira
mergulha
na frescura do poço

Rogério Martins

[Bélgica] Bem-vindo à Antena Negra!

Desde janeiro passado, o centro social autogerido Antena Negra (rue du Marais 1) está aberto a todos para se encontrarem, compartilharem, discutirem, brincarem, se organizarem, comerem juntos, lutarem e reviverem um lugar abandonado que foi transformado em um espaço de liberdade no coração de Bruxelas!

Sinta-se à vontade para participar das diversas atividades semanais e trazer suas próprias ideias, necessidades e atividades para o local. A Antena Negra precisa que você continue existindo e resistindo!


Hoje encontramos lá:

  • o café para desempregados (segunda-feira de manhã, a partir das 9h30),
  • a assembleia de luta em solidariedade com o Congo (segunda-feira à noite, às 19h),
  • o caf’anar (quarta-feira à noite, das 18h30 às 22h),
  • o café queer (quinta-feira, das 17h30 às 22h),
  • o dia de atualidades (sexta-feira, das 10h às 16h),
  • a cantina popular + projeção (1 domingo de cada mês, a partir das 16h),
  • o soft rock café (domingo, das 19h30 às 22h)

E muitas outras atividades!


Todas as novas propostas são bem-vindas nas reuniões gerais do centro social (duas vezes por mês, terça-feira à noite, às 18h30).


Você também pode nos escrever em lantennenoire@riseup.net

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Outono –
uma folha úmida
cobriu o número da casa.

Constantin Abaluta

Os Karuanas não querem petróleo | “É ele o maior vilão na aceleração da crise climática”

Por Luene Karipuna | Oiapoque-Amapá

Morei a maior parte da minha infância numa aldeia chamada Encruzo, na Terra Indígena Uaçá, no município de Oiapoque. Tenho boas lembranças da minha aldeia: cheiro de lama, o vento que vinha do mar, a pororoca, o peixe assado, as histórias do meu avô. Ele sempre nos ensinou a respeitar o rio e os Karuanas. Os Karuanas são seres sobrenaturais, que se conectam com os pajés e vivem no Outro Mundo, onde são gente como nós. Apenas os pajés conseguem vê-los e se comunicar com eles. Os Karuanas vêm do mar, dos rios, dos lagos, da mata e do espaço. São espíritos de Aves, Cobras, Peixes, Árvores e Estrelas. Eles são responsáveis por nos curar e manter o equilíbrio entre o nosso mundo e o mundo deles.

Quando criança nós aprendemos a respeitar as regras – a gente não podia pular no rio às 6 da manhã, ao meio-dia ou às 6 da tarde. Nosso avô dizia que nesses horários a gente perturbava o descanso dos Karuanas, pois eles também precisavam dormir. Ele nunca se referia aos Karuanas como espíritos, mas sim como gente, pessoas que cuidavam de nós.

Por esse conhecimento ancestral sou contra a exploração de petróleo na foz do Amazonas. Os Karuanas são extremamente importantes para o equilíbrio da vida. Sem eles, nós ficamos enfraquecidos. Quando operações como a exploração de petróleo chegam aos lugares onde moram os Karuanas e incomodam a casa deles, eles vão embora e se afastam. E nossa conexão se enfraquece. Com isso, vamos adoecendo espiritualmente.

Meu avô sempre nos ensinou que precisamos respeitar os Karuanas. Por toda a minha vida eu aprendi isso. Não consigo sequer imaginar o que é viver em um lugar morto de espírito, onde a ganância é soberana, onde todos os ensinamentos do meu povo correm perigo, onde eu não possa mais sentir os Karuanas. Onde o brincar na lama e tomar banho de rio não são mais possíveis. Eu me recuso a viver em um lugar onde meus sobrinhos não possam ver esses lugares sagrados e não possam aprender sobre os Karuanas.

A vida não pode ser determinada pela ganância dos humanos. Vejo todas as minhas memórias de infância correndo risco de não ser mais realidade: comer Caranguejo e Caramujo, cair na lama com meus pais e irmão, pegar Akari, um peixe cascudo. Por muitos anos eu acreditei que nunca iria sentir esse medo de perder tudo em um piscar de olhos. Mas hoje vivo com medo todos os dias.

Eu sou contra a exploração de petróleo porque ela ameaça o território e a história do meu povo. Eu sou contra a exploração de petróleo porque é ele o maior vilão na aceleração da crise climática. Eu sou contra a exploração de petróleo porque ela acabou com o nosso sossego. Eu sou contra a exploração de petróleo porque isso ameaça a vida dos Karuanas – e me ameaça.

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sussurro um ruído
(farfalhar de qualquer folha
ao pé de um ouvido)

Bith