[Espanha] ArteFato Militante: Roc Blackblock | “Sinto-me mais claramente libertário e me defino como um anarquista autônomo”

Artigo publicado em Rojo y Negro nº 399, abril de 2025


Por ocasião da elaboração de um grafite na sede da FAL em Madri, entrevistamos o grafiteiro Roc Blackblock (Barcelona, 1975).

Como você escolhe o tema de seus grafites?

Acredito que você esteja se referindo ao motivo de eu expressar temas políticos, o antifascismo. No meu entender, como diz Miquel Ramos, antifascismo significa valores de respeito aos direitos humanos e é aí que tudo entra… memória histórica, o que for.

Por que faço isso, bem, comecei a pintar quando era ativista, sempre foi algo que fez parte de mim. Participei de movimentos sociais desde quando me tornei insubmisso, depois em centros sociais okupados, passando pelas lutas por moradia, educação livre… Desde que me tornei pai e tive que me preocupar com a educação de minhas filhas, percebi que a gente faz coisas criativas, de forma a expressar nossas preocupações e as coisas que nos movem por dentro, e para mim as questões de justiça e transformação social me movem mais do que meu mundo interior ou meus fantasmas pessoais. Então, quando comecei a pintar murais, descobri nessa ferramenta uma maneira muito poderosa de participar de movimentos sociais, até mesmo uma forma de militância, além disso, quando comecei a pintar, estava morando em uma fábrica okupada, onde havia quilômetros e quilômetros de parede e, bem, isso foi uma combinação explosiva, né?

Depois de cerca de 15 anos pintando dessa forma, decidi me profissionalizar e, então, decidi não vender meu trabalho, não jogar fora todos esses anos anteriores de coerência, de tentativa de encontrar uma coerência e uma linha de teor político e não jogar fora para me vender a quem pagasse mais, embora eu tenha feito algumas pequenas intervenções de marketing direto com a empresa do Mobile World Congress e outras coisas, das quais não me orgulho; isso me ajudou a saber qual era o meu caminho e que, se eu quisesse colocar minha assinatura, meu nome ou mesmo se não os assinasse, preferia me dedicar a outras coisas.

Desde então, tenho feito um grande esforço para preservar os rumos do meu trabalho sem me desviar excessivamente e, muitas vezes, o que fiz para conseguir isso foi tanto uma questão de consciência quanto de sentir que também estou fazendo algo em todos esses coletivos, colaborando gratuitamente em projetos, entendendo que isso é uma forma de militância e também uma maneira de promover que os projetos que saem de mim tenham esse foco. Creio ser o artista certo para alguns projetos e o errado para outros, e acho que tudo decorre disso. Se você pinta borboletas, vão lhe pedir borboletas, se você pinta, sei lá, personagens de uma série de televisão, é isso que vão lhe pedir, e eu fiz um grande esforço e fiz tudo o que estava ao meu alcance para manter o fio condutor do antifascismo, da transformação social e do pensamento libertário, do pensamento crítico. Essa é a minha decisão, porque é assim que me sinto.

Você já se filiou a algum sindicato?

Nunca me filiei a nenhum sindicato ou partido político. Às vezes, me envolvi com a ideia e sinto afinidade e colaborei com o espectro da esquerda real, mas não, não me filiei.

Devo dizer também, nesse sentido, que meu crescimento político se deu no movimento autônomo, nas okupas e nos centros sociais, onde acredito que o que prevaleceu foram modelos alternativos de vida com um discurso que muitas vezes estava mais próximo de evitar o trabalho assalariado como tal e de entender um pouco que as formas clássicas de mobilização e organização política, como os sindicatos, eram um pouco estranhas para nós.

Foi à medida que fui ficando mais velho que as ideias políticas se cristalizaram e se tornaram mais definidas, porque, no início, era mais uma questão de impulso libertário do que de capacidade de defender um discurso político ao qual aderir. Agora, sinto-me mais claramente libertário e me defino como um anarquista autônomo e simpatizo mais com os sindicatos anarco-sindicalistas, mas até o momento, não, não sou filiado.

Você tem “discípul@s”?

Não, de forma alguma, jamais. Além disso, há uma coisa que acho que todos que leem esta publicação entenderão, que é o fato de eu não desejar nem gostar de comandar ou obedecer. Nas poucas vezes em que tive equipes de trabalho sob minha responsabilidade, lidei muito mal com isso, foi algo que ocorreu em circunstâncias muito específicas, porque o trabalho exigia isso. Às vezes, tive pessoas, como no seu caso, que se ofereceram para colaborar comigo e tentei compensar essa colaboração sendo também positivo para essa pessoa e ensinando-a, explicando-lhe um pouco minha maneira de trabalhar, mas, na prática, ficou um pouco assim.

Por um lado, considero quase um exercício de coerência, mas, ao mesmo tempo, também é uma incoerência trabalhar sozinho e trabalhar com o próprio nome e assinatura e, nesse sentido, por exemplo, um projeto que me parece ser uma referência absoluta é a gráfica coletiva de Can Batlló, em Barcelona, que, além do fato de fazer um trabalho de artes gráficas absolutamente maravilhoso e totalmente politizado, faz todos os processos criativos de trabalho e produção de forma comunitária e é algo que invejo no melhor sentido das palavras e aplaudo. Precisarei de outra vida para explorar essas outras áreas.

Então, você faz seu trabalho por militância…

Olha, por militância eu sou capaz de sair por uma semana e ficar 10 horas por dia pendurado em um muro de seis andares, como foi o caso em Gijón, porque me parece que é um ato de militância reivindicar e dar valor a coisas como a revolução nas Astúrias e fazê-las durar no espaço público. Como um ato de militância, quatro de nós nos reunimos e organizamos eventos em solidariedade a Pablo Hassel, contra a censura. Por solidariedade, faço pôsteres e material gráfico para o Congresso de Habitação na Catalunha e tento contribuir com minhas ferramentas…

Agora, não sou oficialmente militante de nenhum coletivo, mas me sinto próximo de muitos, de todo um espectro de coletivos, movimentos libertários e contestadores, e tento manter um fluxo de colaborações com todos eles, com o ateneu libertário do meu bairro ou com o caso X. Não sei, em breve, por exemplo, estarei trabalhando com pessoas de Castellón para pintar um ginásio popular que as pessoas da Cosa Nostra vão alugar … há um ano, eu estava pintando em Motril, colaborando com a CGT, que trabalha com o tema La Desbandá.

Aqui o debate se abre um pouco sobre quando essa militância significa longas horas, muito esforço físico e eu tenho que passar 15 dias trabalhando, tenho que colocar um preço nisso, embora eu sempre tente, se for forçado a colocar um preço nisso, não deixar nenhum projeto de lado por falta de dinheiro, explorar formas de autogestão e, por exemplo, quando vejo um Verkami ou um projeto que está tentando autogerenciar um documentário sobre o movimento libertário, um coletivo que está arrecadando dinheiro para uma causa antirrepressiva… eu tento contribuir com material e emprestá-lo a eles. Tento contribuir com material e doá-lo gratuitamente para que eles possam colocá-lo como recompensa. O espectro é muito amplo, mas acredito que a melhor maneira de contribuir é com meu trabalho artístico criativo.

O que você pensa sobre IA?

Olha, eu acredito que a inteligência artificial, assim como a Internet em geral, é uma ferramenta com potencial ilimitado e que, se for bem utilizada, pode se tornar algo que melhora e facilita nossa vida. Acredito que há áreas da inteligência artificial que abrangem, agilizam e facilitam processos ou partes de processos que são altamente complicados ou quase improváveis de serem realizados. Com o uso indevido antiético desse potencial e desse maquinário ou dessa tecnologia, como em tudo o mais, isso pode rapidamente se tornar algo que beneficia apenas os poderosos e prejudica as classes trabalhadoras e alternativas.

No que se refere ao campo que abordamos e à ilustração, a imagem generativa me parece ser um ataque direto aos direitos autorais e levará a uma desvalorização da qualidade à medida que se retroalimenta. É um pouco como quando me perguntaram sobre como eu vejo a tendência artística atual, acho que a inteligência artificial afeta coisas que, em um primeiro momento, podem ser muito atraentes, funcionais e visualmente estéticas e podem parecer resultados práticos, mas que, em uma análise um pouco mais profunda, significam estagnação ou um produto vazio, porque nunca terão aquela capacidade disruptiva, inovadora e pioneira da criatividade de um indivíduo, além da questão da substituição profissional e do trabalho.

Em outras palavras, acredito, e isso se aplica a todo o progresso, que, como espécie humana, alcançamos altos níveis de significância e acredito que a grande maioria dos avanços não foi usada para melhorar a qualidade de vida, a equidade ou um futuro mais igualitário para todos, mas sim para aumentar essas diferenças. Então, bem, se realmente tivéssemos a capacidade de usar toda essa tecnologia e todo esse progresso para o bem da humanidade, seria ótimo. Resumindo, em si, não acho que ela seja boa ou ruim, o que importa é o uso que se faz dela e, obviamente, quem tem os meios para implementar a inteligência artificial são as grandes empresas de tecnologia que estão se posicionando como as grandes potências neoliberais destinadas a serem controladas pelos poderosos que estarão segurando as rédeas da nova ordem mundial. Portanto, nesse sentido, só posso me opor, me opor a isso.

O que você pensa sobre direitos autorais?

Acho que os direitos ou o reconhecimento me parecem inquestionáveis. É essencial que haja o reconhecimento da autoria, mas, como em todas as perguntas anteriores, depende do uso e do objetivo de colocar os direitos autorais em primeiro lugar, porque poderíamos discutir isso de uma forma um pouco mais intensiva, quero dizer, obviamente, se eu faço um trabalho e alguém vai enriquecer com esse trabalho e obter lucro, acho que deve haver proporcionalidade e justiça para o trabalho intelectual e prático envolvido na criação desse trabalho e, obviamente, vivemos em um mundo em que as fontes primárias, seja um fazendeiro ou o ilustrador que está fazendo o trabalho, tendem a ser o último passo nesse processo de enriquecimento, na maioria das vezes absolutamente precário, e são os distribuidores ou aqueles que estão encarregados da logística e do marketing que ficam com grande parte dos lucros que podem ser gerados, certo? Nesse sentido, não concordo com a gestão dos direitos autorais.

Por outro lado, sou totalmente a favor do livre acesso à informação, à comunicação e à cultura. Acredito que esse seja um dos potenciais da Internet, por exemplo, e, portanto, da mesma forma que eu me alimento e sustento todo o meu trabalho com base no acesso a essas informações, parece-me não apenas legítimo, mas também justo e necessário disponibilizá-las a todos e não apenas àqueles que podem pagar por elas. Assim, entramos em uma espécie de looping para o qual também não tenho uma solução concreta.

É exatamente por isso que gosto de arte urbana e de trabalhar como muralista. Quando considero os direitos autorais como artista, e não acreditando em estruturas como estados ou órgãos administrativos, entendo que, inserido nesse modelo social, meu cliente mais fiel seria a administração pública, que tem o dever e a obrigação de gerenciar o espaço público e também o faz com os recursos de toda a comunidade, seria a fórmula perfeita para mim que, com recursos públicos, no espaço público, eu pudesse fazer uma obra que estaria disponível gratuitamente para todos, livremente acessível, tudo se encaixaria.

Foi isso que, ocasionalmente, por exemplo, eu já fiz quando quis autogerenciar um projeto, uma colaboração com um coletivo ou com alguma entidade, para fazê-lo de uma maneira ou com preços mais ou menos reduzidos e depois, por exemplo, fazer impressões ou reproduções e colocá-las à venda, entendendo que o trabalho seria um pouco como um espaço público, feito a um preço acessível para a comunidade ou feito gratuitamente em colaboração com algum coletivo e depois, se você quiser tê-lo na sala de jantar de sua casa, naquele espaço privado para seu próprio consumo, você paga por ele. Essa é a fórmula que usei para autogerenciar projetos… é um pouco complicado, mas, bem, como tudo nesta vida, é um jogo de sempre tentar equilibrar contradições, valores e também ter limites claros para não cruzar.

É mais ou menos essa a questão. Obviamente, o que eu não concordo de jeito nenhum é pintar um mural e depois o Banco Santander ou La Caixa vir e usá-lo em um anúncio publicitário e transformá-lo em algo com o qual eles vão lucrar, mas também não posso fazer nada para evitar isso e, se acontecer, tenho que comer. Bem, quando falo sobre trabalhar para a administração pública, sei que o trabalho que vou fazer, o conselho ou o partido de plantão vai instrumentalizá-lo e usá-lo para seu próprio benefício e não como um serviço ou em resposta a uma necessidade cultural e social da comunidade, certo? Eu sempre digo que menos de 3 ou 5 contradições é demagogia; sendo um anarquista, você tem que aumentar para 10 contradições, porque essa sociedade vai totalmente na contramão.

María Paredero Pérez
(Instagram: #mpainkoil)

Tradução > acervo trans-anarquista
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agência de notícias anarquistas-ana


A tarde vai caindo…
As águas do lago se encrespam
ao frio leve de outono…

Débora Novaes de Castro

[Reino Unido] DIY or Die | Faça-Você-Mesma, Faça-Junto e Anarquismo Punk

Jim Donaghey (Editor); Will Boisseau (Editor); Caroline Kaltefleiter (Editora)

A expressão “faça-você-mesma” (do-it-yourself), frequentemente usada em discussões sobre ativismo cultural e político, é mais um desses termos-chave que foram tomados emprestados (ou simplesmente roubados) de outros contextos. Assim como “anarquista” e “punk” foram apropriados (nos anos 1840 e 1970, respectivamente), o “DIY” também foi recontextualizado, surgindo inicialmente no contexto da melhoria doméstica nos anos 1910, e passando a ser usado em ambientes musicais e políticos a partir dos anos 1950. Mas esses termos são adotados por uma razão, e seus significados originais continuam carregando importância: há uma veia radical inegável que atravessa o faça-você-mesma, nascida de: sua ênfase na ação e na prática; sua valorização da liberdade de expressão; seus vínculos com a produção material e cultural; e sua capacidade de borrar as fronteiras entre quem consome e quem produz.

Partindo das raízes domésticas do DIY como ponto de partida, fica evidente que esse núcleo de experimentação amadora ecoa em suas aplicações contemporâneas dentro do anarquismo e do punk. No entanto, esse cerne radical está sempre sob ataque do consumismo e do empreendedorismo, tensões que continuam a marcar a cultura punk influenciada pelo DIY e o ativismo anarquista.

Esta coletânea de ensaios de diversas partes do mundo é o segundo volume de uma série publicada pela Active Distribution, explorando diferentes aspectos da relação entre punk e anarquismo.

Editora: Active Distribution

Formato: Livro

Encadernação: Brochura

Páginas: 534

ISBN-13: 9781914567377

Preço: US$ 23,00

activedistributionshop.org

Tradução > Contrafatual

agência de notícias anarquistas-ana

Hora do almoço.
Pela porta, com os raios de sol,
As sombras do outono.

Chora

[Itália] A Resistência Anarquista na Ligúria: Ernesto Mora

Entrevista com Ernesto Mora, conhecido como “Sestri”
 
A entrevista a seguir foi realizada por Elio Fiori (partisan e militante da FAI) e Alfonso Nicolazzi (tipógrafo, Promosello Chivenda 1942 – Carrara 2005) como parte de uma pesquisa sobre os anarquistas na Resistência, promovida pelo Centro Studi Libertari/Archivio G. Pinelli e pelo Archivio Anna Kuliscioff de Milão, em preparação para o congresso realizado em 8 de abril de 1995 no Circolo De Amicis.
 
Ernesto Mora: Fui para as montanhas como voluntário, não porque fosse obrigado, e antes de ir, garanti que minha família tivesse o mínimo necessário. Claro, não havia abundância, mas o essencial estava garantido.
 
Entrevistador: Onde você estava no 8 de setembro [de 1943, data do armistício italiano]?
 
Ernesto Mora: Essa é uma história… Eu estava em Veneza, no fim de quase três anos embarcado. Tinha partido como “voluntário de serviço militar” em 1941, em um navio de apoio. Naquela época, qualquer embarcação era recrutada para vigilância costeira — havia uma a cada 9 milhas —, e de vez em quando alguma era afundada. A bordo, havia uma clara desigualdade de tratamento: nós, os marinheiros, éramos considerados militares, mas não tínhamos uniformes decentes, muito menos pagamento. Alguns recebiam, outros não. Começamos a reivindicar nossos direitos, o que me rendeu várias punições. Não era exatamente um “marinheiro modelo” — sempre na linha de frente das reclamações. Passei pelo CREM [Corpo dei Reali Equipaggi Marittimi] em Spezia e até pelo cárcere militar de San Francesco [em Parma], mas seria longo detalhar tudo.
Depois de alguns meses em Gênova, fui embarcado no Monreale, que fazia a rota Nápoles-Tripoli, e fiz três viagens. Depois, fomos para estaleiro em Taranto. Lá também havia desigualdades, e eu continuei sendo o “rebelde de plantão” — até deixei o cabelo crescer como forma de protesto contra a disciplina.
Em várias licenças, me envolvi em brigas com carabineiros e guardas de finança. Quando os relatórios chegaram ao meu navio, fui transferido para Spezia para um processo disciplinar. Mas o tribunal foi bombardeado no dia do julgamento, e nada aconteceu. Isso foi em 1942.
 
Entrevistador: Onde você estava quando veio a desmobilização [após o armistício]?
 
Ernesto Mora: Em Veneza. Meu navio estava em estaleiro, e eu já estava sob regime disciplinar. Quando o armistício foi anunciado, corri para a estação e peguei um trem para Milão. Em Verona, porém, o trem foi desviado para Tarvisio, e eu pulei para fora ao perceber que os alemães estavam selando os vagões para mandar todos à Alemanha. Peguei outro trem e, graças ao meu cabelo comprido e à ajuda de duas moças triestinas que faziam “a vida” no compartimento, consegui me disfarçar. Elas me deram um casaco, e eu cobri os olhos com o cabelo. Em Voghera e Tortona, tive que me esconder novamente — cheguei a pegar uma criança no colo para parecer inofensivo.
 
Entrevistador: Mas você era grande e forte…
 
Ernesto Mora: Sim, mas em certos momentos a gente se faz de pequeno! Em Gênova, quando estava perto da estação, umas mulheres me avisaram que a única forma de escapar era dizer “arbeit” [que estava indo trabalhar para a Todt, organização alemã que usava trabalho forçado]. Segui o conselho e, assim que pude, fugi para Sestri Levante, minha cidade. Mas não dava para ficar parado. Quando soube que “Zobizzi” [nome incerto] tinha dois mosquetes, fui buscá-los, e nós dois subimos para as montanhas. Lá, encontramos outros que já estavam organizados e formamos um grupo que depois se tornou parte da formação “Coduri” — nome em homenagem ao primeiro combatente morto na região, um marinheiro do sul.
 
Entrevistador: Você já era anarquista?
 
Ernesto Mora: Nem sabia o que significava. Lutei sem seguir ordens que não concordava, e por isso me chamavam de “anarquista” — principalmente os comunistas, que já selecionavam seus homens. Só depois da guerra entendi o que era. Conheci os anarquistas e, embora não concordasse totalmente (achava [Umberto] Marzocchi muito moderado), admirei suas ideias e coerência.
 
Entrevistador: Em quais ações você participou?
 
Ernesto Mora: Seria longo listar todas. Uma das mais intensas foi em Borgo Nuovo, onde emboscamos duas colunas alemãs descendo do passo do Bocco. A princípio, pensamos que fossem fascistas. Alertamos duas mulheres na estrada e então abrimos fogo. O terreno íngreme e o fator surpresa nos ajudaram. Na hora de recuar, meus companheiros fugiram para o bosque, mas eu tive que descer em direção ao comboio inimigo. Quando as balas passavam perto, eu caía fingindo estar morto; depois levantava e corria de novo. Acabei me escondendo em um mato de espinhos — nem sentiria as feridas, pois estava mais preocupado em recarregar minha arma, decidido a vender caro minha pele. Não me acharam, e quando cheguei ao povoado, já estavam me procurando como morto. Foi uma festa.
 
Entrevistador: Lembra de outro episódio marcante?
 
Ernesto Mora: Em agosto de 1944, um avião caiu no monte Pane, com uma bomba não detonada. Alguns companheiros tentaram abri-la para pegar explosivo, mas aqueciam-na com fogo — algo que eu desconfiava, pois ouvi dizer que era melhor usar água. Enquanto eu me protegia atrás de um celeiro, a bomba explodiu. O trinitrotolueno (TNT) se espalhou, mas a explosão feriu vários: um ficou com o rosto desfigurado, outro com os intestinos expostos. Fizemos curativos improvisados e os carregamos até Amborzasco, onde havia um hospital partisan. Foi uma subida dura, mas a vontade de salvá-los me deu força. No caminho, um civil bem-vestido — um refugiado com a família — nos ajudou a carregar um dos feridos.
 
Entrevistador: E o rastreamento [pelos nazifascistas]?
 
Ernesto Mora: Poucos dias depois do incidente da bomba, tivemos que recuar para Piacenza, até Cornolo, onde encontramos militantes de Giustizia e Libertà. Tínhamos que ter cuidado, pois havia rivalidades — principalmente por causa dos suprimentos aéreos: alguns grupos recebiam, outros não, criando atritos.
 
Entrevistador: O que você fez depois da Libertação?
 
Ernesto Mora: Percebi que as injustiças não acabaram com o fascismo. Tive sorte de ser autônomo — era bom pescador —, mas outros sofreram. Certa vez, enfrentei o diretor da FIT [indústria metalúrgica] para exigir emprego para um companheiro necessitado. Em 1946, eu mesmo entrei na FIT.
As diferenças com outros partigiani apareceram com o tempo. Antes de 1960, em um encontro em Varese Ligure para resolver conflitos entre a IV e a VI brigada, quase houve uma briga por causa da mentalidade autoritária dos comunistas da ANPI, que usavam a Resistência para ascensão política. Eu e outros não aceitávamos essa submissão — até hoje rejeito essa mentalidade de rebanho.
 
Entrevistador: Quando foi tirada sua foto [como partisan]?
 
Ernesto Mora: No inverno de 1944.
 
Entrevistador: Mas vocês estavam de calças curtas…
 
Ernesto Mora: Sim, quase todos usávamos calças curtas. Um dia, um fotógrafo veio até nós. Mandamos ele voltar para pegar a câmera, e assim foi tirada a foto.
 
Fonte: https://centrostudilibertari.it/it/resistenza-ernesto-mora
 
Tradução > Liberto
 
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agência de notícias anarquistas-ana
 
no mesmo banco
dois velhos silenciam
no parque deserto
 
Carol Lebel

[México] Manifestação anti-homenagem contra Fidel Herrera Beltran

TOMEMOS AS RUAS

ANTI-HOMENAGEM PÓSTUMA CONTRA FIDEL HERRERA BELTRAN

Em 11 de maio de 2025 o Congresso do Estado de Veracruz realizou uma homenagem fúnebre a um dos repressores, narcogovernadores e ditadores democráticos mais odiados de nossa história local: o priísta (membro do PRI) Fidel Herrera Beltrán. Durante seu mandato Veracruz se converteu em uma fossa clandestina gigante, desaparecidos, perseguidos, executados, sequestros perpetrados pela polícia, paramilitarismo, narco, roubos, desvio de recursos e uma encarniçada perseguição de lutadores sociais, estendendo seu legado de terror até o mandato do também priísta Javier Duarte que continuou com as lições sobre terrorismo de estado de seu mestre. É óbvio que como qualquer um que toma o poder, enriqueceu brutalmente a uma cúpula governante e empresarial que fez com que o progresso capitalista se estendesse ainda mais pela região, despojando terras, contaminando e saqueando rios e mares, gerando extrativismo, mantendo a mineração e o fracking e um longo etecetera.

Para a cidadania foi um grande governador e símbolo do progresso, para nós um a mais no poder, mas um muito doente. É por isso que fazemos um chamado a todas as pessoas com memória e com raiva a esta marcha/anti-homenagem póstuma contra Fidel Herrera Beltrán e qualquer personagem no poder seja do PRI, PAN, PRD, MORENA ou como quer que se apresente o opressor de turno.

DATA E HORA: 15 DE MAIO 2025 / 10h00

LOCAL: PARQUE LOS TECAJETES (XALAPA, VERACRUZ)

OS ASSASSINOS DO POVO NÃO SE CELEBRAM, SE REPUDIAM!!

RECUPEREMOS AS RUAS COMO FORMA DE LUTA SUBVERSIVA!!

CONTRA TODO ESTADO E CAPITAL!!

AUTO-ORGANIZAÇÃO E SOLIDARIEDADE CONTRA A REPRESSÃO!!

NÃO À MILITARIZAÇÃO CAMUFLADA!!

NADIA VERA E RUBÉN ESPINOZA PRESENTES!!

ACAB

– EL DESCONTENTO SOCIAL –

Fonte: https://es-contrainfo.espiv.net/2025/05/13/estado-mexicano-manifestacion-anti-homenaje-contra-fidel-herrera-beltran/

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Depois de tapar
O buraco do tatu,
A colheita do café.

Shûfûshi Ôkuma

[Internacional] Referendo 2025: já temos os resultados!

NOVAS SEÇÕES DA CIT E APOIO CONTÍNUO PARA NOSSOS AMIGOS DA ÁSIA

Na CIT, todas as decisões são tomadas de baixo para cima. Isso quer dizer que todas as pessoas filiadas em qualquer seção participam no processo e que os organismos formais (como os Grupos de Trabalho ou o Comitê de Relações) só tem a responsabilidade de efetivá-las. Isto se consegue mediante congressos e referendos. Estes últimos são convocados sempre que surge uma nova questão entre congressos, ou que fiquem pendentes alguns assuntos, que por alguma razão eles não puderam resolver.

Para que isto possa funcionar, se submetem uma série de questões às seções e todas as pessoas filiadas aos sindicatos locais as discutem, de modo que possam expressar sua opinião a respeito. Depois, cada seção segue seu processo interno para chegar a um acordo. O delegado ou a delegada da seção no Comitê de Relações recebe um mandato para defender esta postura. O ideal é que todos os resultados dos referendos sejam conseguidos mediante o consenso, mas se isto não é possível, há um sistema de votação (pode-se consultar nossos estatutos no seguinte link: Estatutos – ICL-CIT).

Coordenar companheiros e companheiras de tantos países diferentes pode levar tempo. O Comitê de Relações (composto por uma pessoa de cada seção e, portanto, conhecedora dos processos internos desta para chegar a uma postura comum) deve elaborar um calendário que permita a consideração de todas as questões nos níveis local e nacional. Agrada-nos dizer que isto funcionou perfeitamente e que já dispomos dos resultados deste referendo.

Nesta ocasião, se submeteram quatro questões para consideração dos filiados:

  • Adesão da IWW Wisera: Wisera participou na CIT faz bastante tempo, mas no congresso anterior ficou pendente a ratificação de sua adesão. Esta foi aprovada por unanimidade de todas as seções participantes na consulta.
  • Adesão da CNT-França: A CNT-F solicitou sua entrada em nossa internacional no final de 2024. Esta foi aceita agora de maneira formal, de novo por unanimidade. Alegra-nos dar as boas vindas a esta nova seção!
  • Apoio a FGWM de Myanmar: Uma seção votou contra a continuidade do apoio econômico à FGWM, mas todas as demais se pronunciaram a favor. Ao mesmo tempo, nosso Grupo de Trabalho da Ásia segue colaborando de forma muito estreita com nossos amigos da região.
  • Moção sobre antimilitarismo: este ponto foi transferido do congresso anterior, já que nesse momento o texto não estava finalizado. Agora, as seções o aprovaram, de novo por unanimidade.

Uma vez mais, constatamos que é possível tomar decisões de baixo para cima e que este processo funciona perfeitamente através das fronteiras, em vários continentes e países.

iclcit.org

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

peixes voadores
ao golpe do ouro solar
estala em farpas o vidro do mar

José Juan Tablada

[Holanda] Biblioteca Anarquista de Amsterdã

A Biblioteca Anarquista.

Todos os sábados, a biblioteca anarquista abre das 14h00 às 18h00 e todas as quintas-feiras das 19h00 às 22h00 no Bollox, um pequeno café situado no belo pátio do Binnenpret. Esta iniciativa está em andamento há mais de 10 anos. Temos uma extensa coleção que vai de clássicos anarquistas às últimas publicações sobre teoria econômica, perspectivas queer, arte radical, infiltração governamental e ocupação. Outros tópicos são antifascismo, libertação animal, feminismo, ecologia, história, biografias e luta prisional. Temos livros em holandês, inglês, espanhol, francês e alemão. Você pode encontrar livros sobre e por pensadores radicais, livros que você não encontrará em nenhuma outra biblioteca, livros para aguçar a mente e iniciar o pensamento e o debate. Livros que dão uma perspectiva diferente sobre o mundo como o conhecemos e nos esclarecem sobre o fato de que outro mundo é possível e necessário.

Empréstimo de livros.

Os livros podem ser emprestados gratuitamente por um período de quatro semanas, deixando um depósito de 10 euros por livro. Se um livro for danificado, o depósito não será devolvido. Você pode estender uma vez por quatro semanas extras. Se você perder o livro, você paga 20 euros para que possamos substituí-lo.

Catálogos.

Você pode ver nosso catálogo online em https://www.librarything.com/catalog/agamsterdam

O grupo anarquista de Amsterdã.

A biblioteca anarquista é uma iniciativa da AGA (Anarchistische Groep Amsterdam). A AGA é um grupo de pessoas que cooperam na criação de soluções e alternativas para problemas encontrados no trabalho e na sociedade. A AGA luta por um mundo sem hierarquia, exploração e repressão, no qual as pessoas produzem de acordo com a necessidade e não de acordo com o lucro. Se você gostaria de nos conhecer ou trocar ideias, por favor, venha à biblioteca e nós o receberemos lá.

A biblioteca anarquista está aberta todos os sábados das 14:00 às 18:00 e todas as quintas-feiras das 19:00 às 22:00 no café The Bollox @ De Binnenpret, Eerste Schinkelstraat 14-16 Amsterdã.

www.agamsterdam.org | aga@agamsterdam.org

agência de notícias anarquistas-ana

de tantos instantes
para mim lembrança
as flores de cerejeira.

Matsuo Bashô

Autogestão com mãos alheias

Desconfio dos anarquistas que falam bonito. Dos que desenham horizontes complexos sem nunca terem pegado a vassoura pra varrer a varanda onde sonham. Desconfio dos que não lavam a própria cueca. Que não sabem onde mora o sabão. Muito menos a cor da panela onde o arroz ferve. Fazem discursos sobre liberdade com a roupa passada por mãos alheias.

Citam Bakunin com gosto — mas pisam no chão limpinho que não foi limpado por eles. Difícil é ser justo com as formigas. Com o feijão de ontem. Com o gotejo da pia que ninguém nota. Com o mofo escondido atrás do tanque. Falam muito em transformação — mas não sabem onde mora o balde d’água.

Nunca viram o pano de chão nem o peso de uma sacola de feira. Negam o Estado sem lavar o prato que comem. Querem incendiar as ideias das pessoas sem acender o próprio fogão. Não cuidam de si, da casa, como quem cuida de um mundo. E eu — que sou pequeno, que erro, que me atraso, que não falo palavras difíceis — ainda assim acho tempo pra lavar meu prato e cozinho minha fome na panela torta.

Te digo: fica difícil acreditar em palavras que propõem autogestão quando não se consegue gerir nem a própria vida. Não fiquem irritados se depois de uma palestra complexa alguém perguntar o preço do feijão. Porque pode ser ele quem está segurando seu mundo.

* Retirado do zine Revolta, sem data, sem autoria do texto e sem localidade mencionada
 
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agência de notícias anarquistas-ana

No clarão da lua,
que pinta o lago de prata,
esse ar de mistério.

Reneu do A. Berni

Lula pacifista? Não, Lula lambe-botas de milico sanguinário!


Lula fala de “paz e amor”, mas, sorrindo e afetuosamente, aperta a mão de um “Senhor da Guerra”, amante das armas, tirano, sádico, caçador de animais, homofóbico…

 
Quando Lula aperta a mão do sanguinário Putin, ele sabe que de fevereiro de 2022 a novembro de 2024, 12.162 civis ucranianos foram mortos e 26.919 ficaram feridos, de acordo com o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos? Ele sabe que, ainda segundo a ONU, os russos mataram 209 ucranianos e feriram 1.146 civis apenas no mês passado, que dezenove crianças morreram e 78 crianças ficaram feridas nos ataques aéreos russos desses últimos dias?
 
Lula é um pacifista de araque, farsante, hipócrita, oportunista!!!
 
POR UM MUNDO SEM FRONTEIRAS, SEM EXÉRCITOS, SEM INSTALAÇÕES BÉLICAS, SEM MERCADO DA MORTE, SEM OPRESSÃO, EXPLORAÇÃO E GUERRAS!
SOMOS ANARQUISTAS, SOMOS ANTIMILITARISTAS!!!
 
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Noites sem cigarras –
qualquer coisa aconteceu
ao universo.
 
Serban Codrin

[Espanha] Contra a Feira Internacional de Armas em Madrid (FEINDEF 2025)

14 de maio, 19h30. Concentração contra a Feira de Armas em Madrid (FEINDEF 2025), em frente ao Quartel General do Exército (Praça de Cibeles, Estação de Metrô Banco, Madrid).

Vocês conseguem imaginar se sentíssemos vergonha de vender livros e a feira do livro tivesse que ser chamada de “feira da inovação e do pensamento”? Pois é isso que está acontecendo com a feira de armas FEINDEF, que ocorrerá de 12 a 14 de maio em Madrid, com o nome oficial de “Feira Internacional de Defesa e Segurança”. Não é de se estranhar que seja vergonhoso vender armas, pois, por mais adornos que coloquem, as armas destroem e matam. Esse é o objetivo para o qual foram minuciosamente projetadas por militares, empresários e engenheiros de “luvas brancas”, dedicados à “inovação e segurança”, a quem nunca atingirá o sangue de meninas inocentes. Não nos deixemos enganar pelo disfarce militar. Em feiras como essa, é onde são vendidas as armas que o exército de Israel está usando para destruir Gaza, derrubar casas, escolas, hospitais, armazéns de alimentos, mesquitas e igrejas, plantações, estradas, depósitos de água… Com armas como as que serão vendidas na FEINDEF, o exército de Israel está matando seletivamente jornalistas e médicos, ativistas e defensores dos Direitos Humanos. Quando tudo for esquecido, melhorarão as armas que usaram e as venderão na próxima feira com o rótulo de “testadas em combate”.

O fato de esse lucrativo negócio da morte ser realizado com o apoio do Estado, do Ministério da Defesa e de outros ministérios dispostos a mascarar gastos militares em seus orçamentos não diminui sua gravidade, mas a torna ainda mais grave, tornando toda a cidadania cúmplice. O fato de a Espanha estar entre os 10 maiores exportadores de armas não é motivo de orgulho, mas de vergonha. Aos senhores da guerra que organizam a FEINDEF 2025, dá vergonha chamá-la de “feira de armas”, assim como a Pedro Sánchez lhe dá vergonha que se gastem 800 bilhões de euros no rearme da Europa, além dos 10.471 milhões por iniciativa própria, o que nos empobrecerá ainda mais. Continuam nos enganando com os gastos militares reais, pois há anos já superamos 2% do PIB e, em 2024, nos aproximamos de 4%, com mais de 60 bilhões. Mudar o nome não muda a realidade; tenta apenas escondê-la.

Devemos estar atentas aos truques, jogos de palavras e disfarces do militarismo, e confrontar seus discursos com a realidade. Estamos testemunhando um processo acelerado de militarização da sociedade. A produção de armas está arrastando as universidades a uma cumplicidade crescente com a indústria da morte, com contratos vantajosos com o exército, traindo seu objetivo de colocar a ciência e o conhecimento a serviço da vida. O acordo de colaboração assinado pela UGT [sindicato majoritário espanhol] com a FEINDEF e as recentes declarações de seu secretário-geral, Pepe Álvarez, pedindo um imposto para a guerra de todos os cidadãos europeus, revelam bem a penetração do militarismo no mundo do trabalho e a traição que isso representa para as classes trabalhadoras, que serão as vítimas de nossa aclamada produção armamentista.

São muitas as implicações do militarismo em nossa vida. Destacamos uma mais, muito significativa: o mundo do jornalismo e da comunicação. Ao poderoso complexo político-militar-industrial foi inserido o poder midiático. Na Espanha, temos uma associação de jornalistas de “defesa”, bem recompensada com prêmios, reconhecimentos, condecorações e, provavelmente, salários do Ministério da Defesa, dedicados a limpar e adoçar os estragos do militarismo e a nos incentivar a sermos generosa carne de canhão na próxima guerra. O poder do complexo político-militar-industrial conseguiu, por meio de investimentos nos meios de comunicação, impregnar suas linhas editoriais para poder modelar a realidade à sua maneira e influenciar decisivamente a opinião pública, mesmo que tenham que trair sua adesão à verdade. Talvez essa implicação da indústria militar explique a postura belicista que o grupo Prisa tem adotado, agora paladino da guerra e do rearme, ataque aos pacifistas e antimilitaristas, a quem nunca convida para seus debates.

Com esse panorama e um clima crescente de belicismo, os coletivos que formam o Desarma Madrid não ficaram em silêncio. Em 24 de abril, organizamos um encontro com o lema “O que queremos defender. Alternativas frente aos Senhores da Guerra”. Denunciamos que o exército não nos dá segurança nem nos defende de nada que realmente nos importe, ao contrário, é uma ameaça. O que nos importa – os serviços públicos, a habitação, os direitos humanos, a paz, a justiça, a liberdade – é o que defendemos nas ruas e em nossas associações.

Coincidindo com a feira de armas, estão previstos vários atos: o principal é uma concentração de protesto no último dia da feira, 14 de maio, em frente ao Quartel General do Exército, na Cibeles, às 19h30.

Não se deixe arrastar para a guerra, participe, organize-se, divulgue, imagine, organize novas protestos contra o militarismo. Nossas vidas dependem disso.

alternativasnoviolentas.org

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Sobre o telhado
um gato se perfila:
lua cheia!

Maria Santamarina

[França] Ideias e lutas: Um Estado contra seu povo

Um projeto político baseado no terror

As ondas de repressão sofridas pelo povo russo de 1917 até os dias atuais são sinistras. É claro que o regime czarista realizou prisões por sua polícia política, a Okhrana, prisões, deportações e muitos revolucionários foram vítimas.

Mas com o regime que emergiu da tomada do poder pelos bolcheviques em 1917, a violência do Estado contra o povo mudou de escala e poucos oponentes sobreviveram em uma sociedade policial de brutalidade sem precedentes. Nicolas Werth, em uma edição atualizada de seu livro Um Estado contra seu Povo, de Lenin a Putin, sublinha “a centralidade da repressão em massa no exercício do poder e no funcionamento do Estado soviético durante grande parte das sete décadas de sua existência e o impasse a que essas repressões levaram“. Graças à abertura dos arquivos durante o período de relativa democracia sob Yeltsin, ele fortaleceu sua análise do uso da violência desde o início do regime. Os bolcheviques introduziram uma cultura política específica de guerra civil, marcada pela recusa de qualquer compromisso ou negociação. Por trás do pretexto real das circunstâncias militares, os líderes bolcheviques e Lenin em primeiro lugar desenvolveram “um forte projeto político baseado no terror como um instrumento primitivo, mas eficaz, de construção do Estado“. A criação da Cheka, em 7 de dezembro de 1917, formou a base dessa política. Essa ferramenta policial, política, extrajudicial e econômica organizou a prisão, deportação e eliminação dos “inimigos do povo” que eram membros de uma “classe socialmente estranha”, “inimigos do regime soviético”. As vítimas disso foram os czaristas, os mencheviques, os anarquistas, os socialistas revolucionários, os bolcheviques que se separaram, os kulaks… em suma, todos aqueles que tinham uma visão diferente dos que estavam no poder. Essa “guerra suja“, para usar a expressão de Nicolas Werth, a matriz do stalinismo, continuou até a década de 1950, quando o confronto entre os brancos e os vermelhos havia terminado há muito tempo.

A fragilidade do sistema

Por que essa política continua? É claro que os líderes estavam cientes da fragilidade do sistema diante de um corpo social difícil de controlar e de uma gestão pouco confiável. Não esqueçamos que os bolcheviques eram minoria em 1917. Para se impor, o Terror Vermelho constantemente usou e aperfeiçoou novas técnicas de repressão. A caça às tropas de Makhno na Ucrânia, o massacre de Kronstadt, duas ações lideradas por Trotsky demonstram a violência contra o povo, os oponentes. Nesta coluna, relatamos frequentemente testemunhos, notadamente dos livros Vivre ma vie de Emma Goldman, La Terreur sous Lénine de Jacques Baynac. Os fatos eram conhecidos, mas as democracias ocidentais estavam olhando para o outro lado. O leitor ficará chocado com os milhões de mortes durante as grandes fomes, a repressão dos trabalhadores em greve. Os absurdos chamados julgamentos de Moscou sublinham a espiral sem fim com um vocabulário delirante, a aplicação de uma lei penal que elimina oponentes reais ou supostos com base no famoso artigo 58 do código penal que define crimes contra-revolucionários em quatorze parágrafos.

Medo de conspiração

O medo da conspiração anima constantemente o regime. Devemos lembrar os erros, os crimes, especialmente no início da Segunda Guerra Mundial. Para cada falha ou deficiência, basta encontrar culpados até a trama dos médicos na véspera da morte de Stalin em 5 de março de 1953. No entanto, o regime está lentamente se movendo em direção à desestalinização. Muitos de seus hierarcas foram “heróis” das ondas de repressão, incluindo Khrushchev, portanto, recomenda-se cautela.

A repressão tornou-se mais sutil ou perversa. A KGB confiou em sua rede de hospitais psiquiátricos, acusou intelectuais de vandalismo e proibiu revistas dissidentes. Decididamente, o regime não sabe como se tornar uma democracia. Sabemos mais sobre os eventos mais recentes, mesmo que as greves dos trabalhadores sejam ocultadas e reprimidas. A Perestroika permite a reabilitação das vítimas. No entanto, a Rússia está voltando à violência institucional na Chechênia, ao controle da mídia e à eliminação de jornalistas como Anna Politkovskaya. Os oponentes morreram nas prisões da Sibéria. A revisão da história permite justificar a invasão da Ucrânia, um nacionalismo exacerbado, bem como a censura permanente. O direito penal justifica as violações das liberdades. A Associação Memorial foi dissolvida com argumentos e termos que lembram a época da Cheka. E “como sempre, a guerra desempenhou um papel importante na extensão e endurecimento da repressão política“. Você tem que ser corajoso para ser um oponente na Rússia, de Lenin a Putin.

Nicolas Werth
Um estado contra seu povo
De Lenin a Putin
Ed. Les Belles lettres, col. O sabor da história, 2025

Fonte: https://monde-libertaire.net/index.php?articlen=8364

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Sapato furado
em dia de chuva fria,
resfria um coitado.

Nilton Manoel

Um problema de origem capitalista não pode ter uma solução capitalista

O aquecimento global é causado principalmente por atividades humanas relacionadas ao impulso compulsivo em direção ao crescimento infinito impraticável. A necessidade de ações de mitigação é hoje um fato que o capitalismo soube aproveitar, “evangelizando” para comportamentos virtuosos que incrementem os negócios “verdes”. Basta olhar para as operações de “greenwashing” cada vez maiores promovidas pelas multinacionais e Estados.

Ações “verdes” que, por um lado, contribuem minimamente para a redução dos impactos diretos de alteração climática, mas, por outro, causam efeitos “indiretos” muito mais graves. Portanto, iniciar o decrescimento até que ele seja revertido de forma sustentável é a única solução seriamente adotável, mesmo em conjunto com transições energéticas compartilhadas.

As mudanças climáticas exigem ações claras e planos de mitigação urgentes, aumentando a dissidência em relação aos governos que viram as costas ao problema, relançando a ação autogerida e direta.

ANTICOP30 Belém-Brasil
Contra o mundo do petróleo!
Rebele-se!!

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Um grande silêncio —
Nuvens escuras se acumulam
Sobre a terra seca.


Paulo Franchetti

[Itália]: Fechemos as fábricas da morte.

Turim, 12 de maio

Diversas realidades que se opõem abertamente à militarização da sociedade e à opressão do regime autoritário de Erdogan na Turquia, animaram com intervenções, cantos e danças um barulhento protesto em frente ao Palácio Ceriana Mayneri, sede onde está sendo realizado o Fórum de Negócios Turquia.

O evento – organizado pela Região Piemonte, pela Câmara de Comércio de Turim e pelo Consulado Geral da Turquia em Milão – tem como principal objetivo fortalecer as relações econômicas entre as indústrias piemontesas e turcas em diversos setores. Um dos focos mais importantes é, obviamente, o setor aeroespacial militar, onde a cidade de Turim se destaca. Não é por acaso a participação da TUSAŞ, principal indústria militar da Turquia.

Armamentos, caças, drones de combate, são produzidos a poucos passos de nossas casas e revendidos para países em guerra. Populações como a do Rojava sofrem bombardeios, mortes e devastação ambiental perpetrados justamente graças a armas fabricadas na Itália. A União Europeia paga à Turquia para que bloqueie os refugiados de guerra.

Combater a legitimação dos poderes políticos e econômicos que estão permitindo a continuidade dos conflitos é possível, e começa justamente daqui, dos nossos territórios.

Jogamos areia nos mecanismos do militarismo.

Fechemos as fábricas da morte.

Contra todas as pátrias, por um mundo sem fronteiras!

Assembleia Antimilitarista – Turim

Federação Anarquista Torinese

Tradução > Liberto

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Está chovendo? Não
bichos-da-seda comendo
as folhas, tão ávidos.

Masuda Goga

[Alemanha] Lokal Aberto da FAU em Berlim– Um espaço social para todos!

O Lokal Aberto é um espaço social para membros e curiosos se encontrarem, trocarem ideias e fazerem redes de contatos. Todas as sextas-feiras a partir das 18h. até às 21h. abrimos nossas portas na Grüntaler Str. 24 (Berlim- Wedding) – sinta-se à vontade para trazer amigos e colegas!

  • Comida quente e bebidas geladas
  • Espaço para discussões, trocas e organização conjunta
  • Jogos, biblioteca e material informativo

Você já é membro e quer se tornar mais ativo? Ou você quer apenas dar uma olhada e ver o que a FAU Berlin está fazendo? Não importa se você está procurando uma conversa informal sobre condições de trabalho, perguntas sobre organização sindical ou simplesmente passar uma noite relaxante, você veio ao lugar certo. Às vezes há reuniões de grupo ou eventos, às vezes apenas saímos juntos.

Um lugar para comunidade, ideias e solidariedade. Venha e junte-se a nós!

berlin.fau.org

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sinto um agudo frio:
no embarcadouro ainda resta
um filete de lua

Buson

Ato de dignificação da tumba de Joan García Oliver em Guadalajara – México

Ontem, 11 de maio, no Panteão Colônias do cemitério de Guadalajara, no estado mexicano de Jalisco, se dignificou a tumba do destacado anarcossindicalista Joan García Oliver nascido em Reus em 1902 e falecido no México em 1980. Ao ato foram David Blanco, Secretário de Relações Internacionais e Carmen Arnáiz, Secretária de Ação Social, ambos em representação de toda a CGT. Umas vinte pessoas solidárias e afins ao movimento libertário da zona também estiveram presentes. 45 anos depois de sua morte, a tumba sem nome onde jazia o corpo de uma das mais destacadas figuras do anarcossindicalismo foi restaurada e significada a partir de um processo de busca e localização iniciada pelo companheiro de Memória Libertária da CGT Joan Pinyana em 2010. O ato foi carregado de emotividade e afeto. No encontro foi feita uma revisão sobre sua figura e contou nos momentos finais com a surpreendente presença de seu afilhado Rene Rivial, que falou com emoção das recordações compartilhadas com seu padrinho e sua companheira Pilar, aos quais a família Rivial ofereceu desinteressadamente alojamento durante seu exílio mexicano.

Durante o ato na tumba se colocou uma bandeira da CGT, um lenço em memória das vítimas do nazismo mortas nos campos de concentração e extermínio (algumas delas companheiros libertários de García Oliver), uma bandeira solidária das represaliadas da CNT de “las 6 de la Suiza”, um postal com a imagem histórica da Federação Anarquista Ibérica (FAI) com o lema de “Llibertat” e uma kufiya palestina, para denunciar o atual genocídio em Gaza. Também houve uma coroa de flores enviada pela Generalitat de Catalunya. David Blanco narrou o processo de restauração da tumba empreendida por Memória Libertária e como, por fim, esse processo chegava a seu final, também assinalou a importância que dava a organização anarcossindicalista CGT a não esquecer o passado para construir o futuro. De sua parte, Carmen Arnáiz enfatizou que o ato não era só para recordar a figura de um revolucionário como Joan García Oliver, mas também e com igual de importância a de milhões de pessoas que acreditaram no ideal anarquista e deram a vida para acabar com todo tipo de exploração. Nesse sentido, fez uma menção muito especial ao papel que jogaram as Mujeres Libres nesse processo de mudança revolucionária e estendeu a homenagem ao conjunto do movimento libertário e todas as organizações anarcossindicalistas atuais. O ato terminou com as pessoas participantes cantando “¡A las barricadas!”

cgt.org.es

Tradução > Sol de Abril

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o jornaleiro espantado
que eu queira comprar
o jornal de ontem

André Duhaime

[Canadá] Dia da vingança trans: quebecor destruído, cybertruck destroçado

No espírito do Dia da Vingança Trans e do Dia da Mentira, um grupo de anarquistas trans fez um estardalhaço, tendo como alvo a mídia transfóbica e o carro transfóbico. Por volta das 4h30 da manhã, com raiva da violência policial na manifestação da vingança trans, pessoas trans armadas e mascaradas levaram sua vingança ao Quebecor, empresa controladora do Journal de Montreal, TVA e outros. Esses veículos de mídia têm constantemente vomitado papo-furado transfóbico, intolerante e fascista no fluxo de notícias. Cerca de 5 janelas de sua sede na Square Victoria foram quebradas, tinta rosa clara foi lançada nas janelas e no interior da entrada, e fogos de artifício foram atirados.

Quando estavam se dispersando, o grupo se deparou com um belo cybertruck estacionado. Indignades com a onda transfóbica e fascista de Elon Musk, as bonekas aproveitaram essa oportunidade de ouro. A frase “Fuck Nazis” (Fodam-se os nazistas) foi gravada na traseira em rosa brilhante, a tinta vermelha cobriu as laterais e as janelas dianteiras e os para-brisas foram quebrados em pedacinhos.

Feliz dia da mentira, Elon, vá chupar uma piroca trans

E feliz dia da “visibilidade” trans para todes. Que nossa raiva e vingança sejam visíveis para todos que nos querem mal <3

Fonte: https://mtlcounterinfo.org/trans-day-of-vengeance-w-quebecor-trashed-cybertruck-wrekt/

Tradução > acervo trans-anarquista

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o bambual se encantava
parecia alheio
uma pessoa

Guimarães Rosa

Unidos pela ganância: o petróleo vale mais que a vida?