[Espanha] SAC Syndikalisterna: “A ideia generalizada é que a Suécia é um país com direitos sindicais consolidados. No entanto, a realidade é muito diferente, especialmente para as trabalhadoras migrantes”

Agnes, David e Pamela são companheiros da SAC Syndikalisterna, uma organização anarcossindicalista com sede em Estocolmo com a qual a CGT mantém uma relação muito importante há anos. Alguns dias atrás, eles viajaram até Barcelona por ocasião de um encontro sindical organizado pela Federação de Hotelaria e Comércio da CGT. Lá foi apresentado o livro “Algo Aconteceu. Cem histórias do novo mercado de trabalho”, uma coletânea de depoimentos reais de trabalhadores migrantes sobre suas experiências laborais nesse território escandinavo. Antes de retornar a Estocolmo, decidiram passar pela sede confederal em Madrid. Aproveitamos a oportunidade para fazer-lhes algumas perguntas sobre seu trabalho e sobre a situação da classe trabalhadora na Suécia, especialmente daqueles que migram para lá com a esperança de ter uma oportunidade de construir um futuro melhor.

Na Suécia, como nos diz Agnes, o idioma é uma barreira. Por isso, a SAC tem se preocupado muito em editar todas as informações relevantes sobre direitos trabalhistas em vários idiomas. “Por experiência, já que cheguei à Suécia há mais de quinze anos, sei o que isso significa. Se uma pessoa migrante começa a trabalhar e não conhece o marco legal do país, ela fica exposta a sofrer abusos desde o primeiro momento”, explica Paola. “Além disso”, acrescenta Agnes, “as políticas do Estado sueco não estão focadas nas pessoas migrantes que chegam para ganhar a vida. É habitual que ocorram situações de exploração extrema que, apesar de serem levadas ao conhecimento das autoridades, não têm solução e quem sai perdendo é o trabalhador ou a trabalhadora estrangeira”.

E a sociedade sueca, de um modo geral, tem um grande desconhecimento das situações que muitas pessoas trabalhadoras, especialmente as de origem estrangeira, vivem em seus locais de trabalho. A SAC, em concreto, considera que seria muito necessário abrir um debate sobre isso na sociedade, embora isso ainda não tenha acontecido ou as condições adequadas para que se realize com verdadeira intenção de analisar os problemas e buscar soluções para eles ainda não tenham sido dadas.

Por tudo isso é que o trabalho do grupo de trabalho da SAC, do qual Agnes, David e Pamela fazem parte, é necessário. “Realizamos um acompanhamento de verdade. Ajudamos a entender a situação em que uma pessoa trabalhadora pode se encontrar em um país que não é o seu, com outras leis e outros direitos, com uma burocracia em outro idioma”, diz Agnes. Parte desse trabalho é gerenciar os casos de abusos trabalhistas, que são mais comuns do que as pessoas imaginam. “Na maioria das vezes, são denúncias de não pagamento do salário por parte do empregador”, comenta David. “Nos reunimos e vamos até a porta da empresa e realizamos uma concentração para pressionar e conseguir que ela pague o salário ao trabalhador. Às vezes avisamos a mídia, embora eles só venham quando querem”.

O que David nos explica é um exemplo de “ação direta”, embora na Suécia não seja necessário avisar as autoridades para realizar uma concentração espontânea dessas características. Este é um dos princípios da SAC, recolhidos em uma declaração aprovada em 2022 em seu 33º Congresso. Para a SAC, as pessoas têm que se envolver diretamente nos problemas que as afetam e tomar decisões por si mesmas na busca de soluções. É o que na CGT resumiríamos em “Se ninguém trabalha por você, que ninguém decida por você”. E apesar da pouca repercussão que na maioria dos casos essas ações têm na mídia, eles consideram que são fundamentais como método de pressão. Nesse sentido, perguntamos sobre o papel que a imprensa desempenha quando se trata de dar a conhecer situações de abusos trabalhistas. Agnes explica que a mídia, em geral, “evoluiu — para o bem — na Suécia, no que diz respeito a dar cobertura a essas histórias”. E ela cita o exemplo, recolhido no livro que apresentam, de uma trabalhadora migrante chamada Idania. A moça havia começado a trabalhar como faxineira na casa de um ministro, através de uma empresa de serviços de limpeza doméstica. Um dia, um alarme da casa fez com que a polícia chegasse à residência. Lá encontraram Idania, que foi detida e transferida para um centro para migrantes. Tanto o ministro quanto a empresa para a qual Idania trabalhava divulgaram na mídia que a mulher havia sido contratada por um subcontratado, para não assumir a realidade de que todos conheciam a situação da mulher. A SAC consegue, através dos tribunais, que Idania receba o salário que lhe era devido. No entanto, ela é expulsa do país.

“A classe política sabe perfeitamente em que condições estão muitas pessoas indocumentadas na Suécia, e também a classe empresarial. É um sistema que os beneficia, mesmo sabendo da dor, da insegurança, da precariedade e da exploração sobre as quais se sustenta”, explicam Agnes e David. “Por isso sempre enfatizamos, para as pessoas que se unem a nós e chegam novas, e para as que já militam há tempo, que a única maneira de reverter ou, pelo menos, de enfrentar esses abusos é nos organizando como trabalhadores e trabalhadoras”, acrescenta Pamela. Além disso, nossos companheiros estão convencidos de que a militância, uma vez que a pessoa em questão foi protagonista de um caso de abuso trabalhista, é o que motiva, por sua vez, mais gente. É, sem dúvida, uma maneira de se integrar na sociedade em um país onde o idioma, como nos explicaram no início, é uma barreira a ser considerada.

Queremos saber mais sobre a burocracia administrativa na Suécia em relação às pessoas trabalhadoras migrantes. Agnes nos diz que os primeiros dois anos desde que uma pessoa chega à Suécia ela pode trabalhar em um emprego específico, que é precário e sem garantias de quase absolutamente nada. Cria estresse, cansaço físico — como no caso de Idania, que trabalhava o dobro de horas e recebia um salário pela metade delas. “Isso afunda moralmente um ser humano, faz com que ele se sinta totalmente sozinho e perdido”. E existe “asilo político”? As companheiras da SAC explicam que é muito complicado, para não dizer impossível, conseguir ser aceito com essa consideração na Suécia. Na prática, não existe como tal. “Há algum tempo não era tão complicado, nem as condições eram tão estritas, e uma pessoa migrante podia passar de ter asilo político a uma permissão de trabalho com condições laborais mais dignas. Agora não é assim, e de fato o governo até pretende retirar a permissão de residência permanente, chegando a retirar a nacionalidade”. Atualmente, o primeiro-ministro da Suécia — que como Estado é uma monarquia parlamentar — é Ulf Kristersson (1963), que pertence ao Partido Moderado (Os Moderados), de tendência neoliberal e conservadora.

A realidade das pessoas migrantes na Suécia, como podemos comprovar enquanto escutamos as companheiras da SAC, é quase a mesma que enfrentam todos os migrantes em muitos outros Estados do chamado “primeiro mundo”. As pessoas que chegam aos nossos territórios, algo que no Estado espanhol conhecemos muito bem através da Fronteira Sul, o fazem com o objetivo de poder ter uma oportunidade de uma vida mais digna. Sobreviver não é um crime, explorar e se aproveitar da vulnerabilidade desses seres humanos, sim. No entanto, é raro o dia em que não tomamos conhecimento de algum caso de exploração laboral ou da morte de algum trabalhador que, em condições de total desamparo, sofreu um acidente enquanto ganhava a vida. Na Suécia, nos explica David, “os empresários, aproveitando as regras do jogo do sistema, são inclusive os primeiros que chamam os ‘serviços’ de imigração quando querem se livrar de uma pessoa trabalhadora de origem migrante. Eles fazem isso porque conhecem desde o primeiro momento as circunstâncias desse trabalhador. As pessoas migrantes temem ser expulsas e, diante dessas situações, muitas vezes, demoram mais tempo para se atrever a denunciar ou contar o que lhes acontece”.

Gabinete de Imprensa do Comitê Confederal da CGT / Secretaria de Relações Internacionais da CGT.

Fonte: https://cgt.es/sac-syndikalisterna-la-idea-generalizada-es-que-suecia-es-un-pais-con-derechos-sindicales-consolidados-sin-embargo-la-realidad-es-muy-diferente-especialmente-para-las-trabajadoras-migrant/ 

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Quase escondida
entre a casca e o tronco
teia de aranha.

Rodrigo de Almeida Siqueira

No Equador, o neoliberalismo se impõe pela força

Reportagem • Ana Sofía Armand e Lisbeth Moya González • 23 de outubro, 2025

“Não somos terroristas. Somos milenares”. Assim versa um logo do Aya Huma que circula desde algumas semanas no entorno digital equatoriano.

O Aya Huma é uma figura ancestral que na cosmovisão andina representa guia, sabedoria e fortaleza. No contexto do paro nacional que começou na quinta-feira, 18 de setembro de 2025, toma novos significados.

Aparece com a cara coberta como o fazem os manifestantes para proteger sua identidade e seu rosto das bombas de gás lacrimogêneo. O lema que o acompanha é uma resposta popular à tentativa do governo de Daniel Noboa de criminalizar o protesto e a resistência.

Também denuncia a persistência do racismo estrutural e a exclusão histórica dos povos indígenas, muito mais quando se trata de contextos como este.

“Em cada paro se abre esta caixa de Pandora de ressentimentos, de racismo que existe dentro de diferentes pessoas, assim como também aflora todo o descuido que como governo tem tido com os setores sociais”, descreve Lisbeth Aguilar, advogada kichwa otavalo durante uma entrevista virtual com Ojalá.

O Equador não é um país que tolere ditadores: presidentes como Abdalá Bucaram, Jamil Mahuad ou Lucio Gutiérrez foram derrubados em 1997, 2000 e 2005 respectivamente. E o protesto tem sido fundamental para a derrubada de governos.

Desde a chegada ao poder de Lenin Moreno, ocorreram três paros nacionais: o primeiro em outubro de 2019 durou quase duas semanas e deixou um saldo de ao menos 12 mortos. Conseguiu a revogação do Decreto 883 que eliminava o subsídio aos combustíveis. O segundo aconteceu em junho de 2022 e deixou ao menos sete vítimas letais. Buscava também revogar aumentos de preços nos combustíveis, assim como a revisão de políticas econômicas e de segurança.

O terceiro paro nacional neste ciclo de mobilização foi convocado pela Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE) e começou em 22 de setembro de 2025 em rechaço às políticas do governo de Daniel Noboa, particularmente pela eliminação do subsídio ao diesel, entre outras.

O paro nacional no Equador acaba de ser suspenso em 22 de outubro, um mês depois de que começou.

“Ante a brutal repressão ordenada pelo Governo de #DanielNoboa, com três falecidos e dezenas de feridos, tomamos uma decisão difícil, mas necessária: a suspensão do #ParoNacional2025, a desobstrução das vias e a retirada para os territórios para proteger a vida de nosso povo”, afirmou a CONAIE em comunicado oficial.

Não obstante, algumas organizações indígenas, entre elas a União de Organizações Indígenas e Camponesas de Cotacachi (UNORCAC) desconhecem essa decisão e continuam em resistência.

A crise no Equador não cessou desde a posse presidencial de Daniel Noboa, que começou com uma escalada de violência do crime organizado em que declarou conflito interno armado e foi marcada pela crise energética. 

Os protestos do paro nacional se desenvolveram em todo o país, com epicentros, sobretudo em Imbabura, Cotopaxi, Pichincha e Cuenca, onde se registraram bloqueios, marchas e enfrentamentos com as forças da ordem.

Como foi o mês de paro no Equador?

A plataforma de monitoramento de violências durante o paro nacional Persecución Ecuador reporta que, até 18 de outubro de 2025, o dia 27 do paro, tinham se registrado 117 casos de repressão, entre eles três supostas execuções extrajudiciais, 38 lesões e 57 eventos de detenções.

A repressão estatal adotou múltiplas formas, entre elas: o assédio financeiro mediante o bloqueio de contas de líderes sociais, os ataques a jornalistas durante coberturas informativas, o bloqueio de sinal de Internet durante episódios de violência estatal e a deportação de um jornalista estrangeiro.

Aconteceram também detenções arbitrárias e diversas formas de uso excessivo da força, como disparos de bala e emprego de gás lacrimogêneo em grandes quantidades causando a morte de uma pessoa da terceira idade por sua inalação e afetando cidadãos não envolvidos no paro.

Outras das formas em que se manifesta a criminalização é a intimidação e fechamento de meios de comunicação, a entrada em centros médicos para impedir o atendimento dos feridos, e a militarização da Universidade Central do Equador (UCE).

O mapeamento da resistência informa que até 15 de outubro de 2025, contabilizou 547 ações coletivas, entre elas se contam vigílias, ações simbólicas, marchas, fechamento de vias, plantões, assembleias e panelaços.

Neste contexto, a violência dos corpos do Estado foi inegável. Circula no entorno digital, por exemplo, o vídeo do assassinato do comuneiro de Cotacachi, Efraín Fuérez, no qual os militares armados o golpeiam já ferido de morte no chão a ele e a um companheiro que foi socorrê-lo.

Resistências diversas

O paro teve a particularidade de se manter principalmente em territórios indígenas. Quito, a capital, se manteve parcialmente periférica, como expressa Jess Caiza, estudante da UCE.

“A resistência em território demonstrou que Quito não tem poder de convocatória, e o mais importante é que evidenciaram o racismo ainda muito presente, pelo que não pudemos manter o paro desde nosso lugar: a cidade”, explica Caiza na proximidade da UCE pouco antes de acompanhar seus companheiros no protesto.

Na noite de 15 de outubro, a UCE foi tomada por militares, violando a autonomia universitária. Ainda assim, os estudantes continuaram sua jornada de manifestações no dia seguinte.

O frio é constante em Quito. Chove e o gás lacrimogêneo afeta mais. Durante o último mês, nas esquinas se viam rapazes muito jovens assoprando tabaco na cara do compa gaseado para aguentar a dor. Não se distinguia entre a neblina e o gás, mas a ação estudantil persistiu.

“Realizamos vários plantões na Plaza Indoamérica, em frente à Universidade; esses plantões nos permitiram fechar as ruas e manter as vias bloqueadas durante horas, sempre desde a música e as expressões artísticas”, diz Caiza. “Também organizamos ações culturais, panelas comunitárias e espaços infantis”.

“El que no salta es de cartón” (Quem não pula é de papelão), o verso da banda equatoriana Mugre Sur que esteve presente nos protestos do paro nacional. A canção é uma crítica frontal à gestão de Daniel Noboa e uma piada ao uso de figuras de papelão em tamanho real durante sua campanha presidencial.

Os artistas teceram redes de manutenção do protesto mediante o uso da arte na rua como ferramenta de denuncia e sensibilização. Mas esta luta é anterior a setembro de 2025.

“Quando Daniel Noboa uniu os ministérios de Educação, Cultura e Patrimônio e Esporte, com o decreto Número 60, nós artistas atuamos em nosso papel de sair às ruas e realizar diversas ações para expressar nosso rechaço a uma medida que precariza ainda mais nossos meios de vida”, explica a Ojalá, sob o pseudônimo de Minotauro, uma artista que pela perseguição estatal decidiu permanecer no anonimato.

Nossa fonte explicou que diferentes artistas se articularam com as comunidades e em especial com a UNORCAC. Acolhem também as lutas dos que defendem seus territórios de projetos mineradores auspiciados pelo governo em Imbabura, Las Naves, Palo Quemado, Quimsacocha e Fierro Urco.

Assembleias transfeministas de cara ao estado

As redes de apoio desde a sociedade civil abarcaram setores em luta permanente, incluindo a Assembleia Transfeminista. Ojalá conversou com diversos membros de dita organização, que manteve a coleta e a entrega de doações em aliança com lideranças de várias comunas de Imbabura e em coordenação com centros culturais, organizações e cidadãos que colaboraram com provisões e transporte.

“Esta coleta busca romper as lógicas assistencialistas e reativar a solidariedade de classe, compreendendo o cuidado como um princípio na construção ampla da luta”, explicam companheiras da Assembleia Transfeminista. Estiveram pondo o corpo nas ruas, pelo que puderam falar de forma anônima e coletiva.

O papel da Assembleia Transfeminista vai mais além do apoio logístico, o protesto e a contenção. Gerou alianças em Quito para manter assembleias a cada quinta-feira junto a outras organizações, no contexto da dissolução de ministérios e os retrocessos do governo.

Nestes espaços é livre o uso da palavra, buscam-se soluções coletivas a tensões sociais e articula-se o protesto para manter processos coletivos em longo prazo.

Enquanto o governo de Noboa se fecha ao diálogo, criminaliza e reprime com bala diversos setores — indígenas, feministas, estudantes, artistas e sociedade civil em geral —, estes continuam articulando ações coletivas que buscam visibilizar suas demandas e manter os espaços de ação em todo o país.

O clima político dos próximos meses permitirá observar se estas formas de coordenação e resistência, além do paro nacional, conseguem incidir na agenda política nacional ou abrir novos caminhos de diálogo entre a sociedade civil e o Estado.

Em meio de tanta dor também emerge a beleza: mulheres indígenas enfrentando o militar armado, estudantes cuidando do companheiro do gás, pessoas entregando alimentos cultivados com suas mãos na chácara, curando os feridos com medicinas ancestrais, comuneiros que cantam e sapateiam em círculo em meio da manifestação como se do Inti Raymi — a festa mais importante da cosmovisão andina — se tratasse. Isso foi o paro, um canto coletivo de resistência à dor.

Fonte: https://www.ojala.mx/es/ojala-es/en-Ecuador-el-neoliberalismo-se-impone-por-la-força

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

folia na sala
no vaso com flores
três borboletas

Alonso Alvarez

[Grécia] Adeus, Christaras

Todas as noites passam como um filme, onde tudo o que vivemos é projetado no pano de fundo da praça. Todas as noites que passo aqui, sempre vou embora antes de ficarmos a sós, nunca assisto ao final.

Terça-feira, 7 de outubro. Mais uma notícia triste, mais um dia que nos deixa congelados. Nosso camarada, nosso Christaras, nosso XR, nosso eterno combatente das ruas, partiu para sempre.

O camarada Christos Spilios, figura nascida da juventude metropolitana e do movimento anarquista em ascensão, esteve desde 1990 do lado justo das barricadas. Participou continuamente e com todo o seu ser em todas as formas de luta: da solidariedade com os presos políticos, quase sempre era Christaras quem “dava o pontapé inicial na paixão”, e em tantas fotos de camaradas acorrentados lembramos de seu punho erguido acompanhando seus sorrisos, do antifascismo militante e de rua, das lutas por sua amada Exarchia, até as mobilizações contra a guerra. Nos últimos dois anos, o keffiyeh palestino havia se tornado parte inseparável de seu corpo.

Christos sempre esteve aqui, com sua loucura, com seu sorriso, e até com seus demônios, que ele sempre driblava.

Christos sempre esteve aqui para bater no ombro de cada camarada quando era preciso.

Nosso Christaras, que a cada novembro iniciava a evocação de nossos camaradas mortos e gritava “Presente!”

Então, nosso Christaras, neste novembro, na sua esquina favorita, entre Stournaris e Bouboulinas, gritaremos com paixão:

CHRISTOS SPILIOS SEMPRE PRESENTE!

Fundo de Solidariedade aos Lutadores Presos e Perseguidos

Fonte: https://athens.indymedia.org/post/1637928/

Tradução > Contrafatual

agência de notícias anarquistas-ana

No clube burguês,
o champanhe tem gosto
de suor alheio.

Liberto Herrera

O Santo do Pau Oco

Tecendo Caminhos à Revolução Ecológica

Em Belém, trabalhadores são explorados e partes da Amazônia devastadas para receber a COP30, a cúpula anual do clima patrocinada pela ONU. Há 30 anos, líderes governamentais, cientistas, grandes ONGs e corporações de todo o mundo afirmam que vão resolver o problema, mas ele só piora. Não surpreende, porque as instituições que tentam monopolizar as soluções são as mesmas que causam o problema, destruindo nossos ecossistemas, nos explorando, cortando nossos serviços de saúde e colocando em risco nosso acesso a alimentos, moradia, ar puro e água.

Não temos o luxo de confiar neles nem mesmo por mais um dia.

Em novembro, enquanto os ricos e poderosos se encontram e fazem acordos, uma rede anticolonial com ramificações em todo o mundo se unirá ainda mais. Anarquistas lutando nas cidades por moradia, saúde e transporte gratuito e contra o autoritarismo que destruiu revoluções anteriores. Comunidades rurais que fugiram da pobreza extrema nas cidades, sobreviventes do colonialismo e da diáspora africana, retomando terras das garras do agronegócioe de outras indústrias extrativistas, curando-as, cultivando seus próprios alimentos e, então, compartilhando-as por meio de suas redes em expansão. Povos indígenas que chamam a Amazônia de lar, que a defendem, que cuidam da floresta e dos rios e nunca perderam as formas ecossistêmicas de organizar suas comunidades.

Queremos fortalecer nossos laços e aprender uns com os outros. Queremos mostrar ao mundo que toda nós podemos nos desconectar desta Máquina que destrói a vida. Queremos deixar claro que o Estado, capitalistas, especialistas, as grandes instituições de caridade não vão nos salvar desta enorme crise que eles causaram. E queremos disseminar exemplos de como é uma mudança real, para que pessoas em todos os lugares possam apoiar tais iniciativas em suas próprias regiões ou iniciar novos projetos e se juntar a esta rede crescente, uma rede que não é um Partido ou uma organização única. Não queremos que vocês abram mão de sua autonomia, de seu pensamento crítico, de sua história. Queremos conversar com você, para que possamos aprender umas com as outras e apoiar uns aos outros em um espírito de solidariedade e ajuda mútua.

Para isso, precisamos da sua ajuda: pagando o transporte enquanto cruzamos as fronteiras que nos separam. Pagando a alimentação básica enquanto alguns de nós pegamos a estrada para encontrar novos amigos e aprender sobre projetos e lutas de São Paulo a Belém, distâncias de milhares de quilômetros. Pagando equipamentos que nos ajudarão a dar entrevistas e a produzir documentários sobre o que estamos aprendendo. E trazendo recursos para projetos que possam inspirar resistência ao redor do mundo.

Doe o que puder. Compartilhe com amigos. E quando os artigos, entrevistas, podcasts e vídeos deste projeto começarem a sair nos próximos meses, por favor, ajude-nos a divulgá-los e traduzi-los!

>> Apoie aquihttps://www.firefund.net/pathstoecorevolution

agência de notícias anarquistas-ana

Escudo de papel:
as leis são frágeis diante
de um poema em brasa.

Liberto Herrera

[Grécia] Três dias de memória e luta pelo companheiro Kyriakos Xymitiris e pela causa de Ampelokipoi

Um ano após a explosão na rua Arcádia em 31/10/2024, que teve como trágica consequência a perda do combatente armado e nosso querido companheiro Kyriakos Xymitiris, mas também a prisão de nossos companheiros/as, honramos sua memória e lutamos pela libertação de todos/as que estão presos/as nas celas da democracia.

Na quinta-feira, 30/10, às 18h00, na Universidade Panteion, será realizado um evento com o tema Memória Revolucionária e a apresentação de um livro com casos de combatentes que caíram lutando de forma semelhante. No evento participarão companheiros/as do exterior com experiências parecidas.

Na sexta-feira, 31/10, às 18h30, convocamos uma marcha no centro de Atenas em memória do combatente armado Kyriakos Xymitiris e contra as perseguições e prisões preventivas de companheiros/as que ocorreram com motivo da explosão em Ampelokipoi.

No domingo, 02/11 (em horário a ser anunciado posteriormente), será co-organizado com a família e seus próximos, o memorial político do companheiro no cemitério de Maroussi.

KYRIAKOS XYMITIRIS UM DE NÓS – UM COMPANHEIRO PARA SEMPRE NAS RUAS DE FOGO

LIBERTAÇÃO IMEDIATA DAS COMPANHEIRAS MARIANNA MANOURA, DIMITRA ZARAFETA, DOS COMPANHEIROS DIMITRI E NIKO ROMANOS E DO A.K.

Os estados são os únicos terroristas. Solidariedade aos guerrilheiros armados.

Assembleia de Solidariedade às Companheiras e aos Companheiros Presos, Fugitivos e Perseguidos

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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2024/11/19/grecia-o-anarquista-nikos-romanos-foi-preso-no-contexto-da-perseguicao-policial-apos-a-morte-de-kyriakos-xymitiris/  

agência de notícias anarquistas-ana

O jantar chique: máscaras
de prata sobre a podridão
do lucro fácil.

Liberto Herrera

[Itália] Viva a FAI!

Já passou uma semana desde o Congresso de estudos organizado para celebrar os oitenta anos da constituição da Federação Anarquista Italiana (FAI). Um congresso em memória de Italino Rossi, companheiro federado que nos deixou há um ano. A organização deste evento fazia parte daquela promessa de levar adiante os valores que nos uniram no percurso de vida compartilhado.

Italino, com sua cultura e sua viva paixão pela história, certamente teria apreciado as várias intervenções que se sucederam no pequeno auditório do Teatro Animosi. Nas falas — políticas, históricas e culturais — houve emoção, lágrimas de alegria, mas também lágrimas de “militância”, daqueles que acreditaram e ainda acreditam em um percurso político que já completa oitenta anos.

É um belo número, mas a atualidade do pensamento anarquista e o renovado fervor das praças nos rejuvenescem e nos projetam em novas lutas com a maturidade e as características intrínsecas da Federação: internacionalismo, antiautoritarismo, solidariedade.

Muito empenho na organização, pois nos importava especialmente o sucesso desses dois dias para os companheiros e companheiras que vieram a Carrara e para toda a Federação. Sempre bonito e enriquecedor o confronto e o diálogo com as companheiras e os companheiros, ao compartilhar o Congresso e a convivência dos eventos que o rodearam.

Gratificante o agradecimento recebido dos trabalhadores do auditório do Teatro Animosi, dos técnicos de áudio e vídeo e dos restauradores de Carrara.

Concluo agradecendo aos palestrantes, moderadores, músicos e artistas gráficos, estendendo esse agradecimento a todos e todas os companheiros e companheiras que, com seu empenho, tornaram possível o sucesso deste fim de semana em tons vermelho e preto.

Manu’, pelo grupo Germinal

Fonte: https://umanitanova.org/evviva-la-fai/

Tradução > Liberto

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agência de notícias anarquistas-ana

Sol de primavera —
O despertar das flores
É quase um sussurro.

Paulo Ciriaco

[EUA] Mumia Abu-Jamal é uma vítima, mas não só isso – é um objetivo

Por Mike África Junior | 21-10-2025

O objetivo do departamento de polícia mais violento da história deste país. A única cidade que lançou uma bomba sobre pessoas inocentes e crianças inocentes. O mesmo sistema que celebrou sua brutalidade sob o punho de ferro de Frank Rizzo, um homem que levava o racismo como uma medalha de honra.

Mumia não teve nenhuma oportunidade em seu julgamento, porque nunca foi um julgamento. Foi um linchamento com um martelo. O juiz Albert Sabo nem sequer tentou ocultá-lo. Ele disse em voz alta: “Vou ajudá-los a fritar o negro“.

Isso não é justiça. É genocídio com papelada.

A Filadélfia construiu seu poder destroçando os corpos das pessoas negras e silenciando os que falavam demasiado alto. E a voz de Mumia – aguda, intrépida, revolucionária – ameaçava em trazer à luz todas as suas camadas podres.

Não podiam igualar seu intelecto, assim que o fecharam em uma jaula.

Liberdade a Mumia!

Fonte: https://desdedentro.noblogs.org/post/2025/10/23/ee-uu-mumia-abu-jamal-es-una-victima-pero-no-solo-eso-es-un-objetivo/

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Lua de primavera
Revela-me teus segredos
Há anos te conto os meus

Pésce Roizenblit

Gaza é o Rio de Janeiro. Gaza é o mundo inteiro.

Por Raúl Zibechi | 29/10/2025 | Uruguai

Não há palavras suficientes para descrever o horror que nos causa o massacre de mais de 130 jovens negros pobres assassinados pela polícia do Rio de Janeiro, com a desculpa de atacar o narcotráfico.

Foi uma operação de guerra urbana em que o governo do estado mobilizou 2.500 policiais militares armados para a guerra, além do envio de blindados e helicópteros para atacar os complexos de favelas da Penha e do Alemão, na zona norte da cidade, uma área com forte concentração de população pobre. São dois conjuntos de favelas com mais de 150 mil habitantes, com uma enorme densidade populacional.

O governo do Rio disse que houve 60 mortos, mas a população das favelas levou às praças mais de 50 corpos que não constavam na contagem oficial, deixando dúvidas sobre quantos foram assassinados. Até agora, o número ultrapassa 120.

As reações não se fizeram esperar, desde organizações de direitos humanos até as Nações Unidas, que se dizem “horrorizadas” com o massacre. Além dos dados, há fatos relevantes.

O genocídio palestino em Gaza é o espelho onde devemos nos olhar, nós, povos e pessoas oprimidas do mundo. Para os que estão no topo, abre-se um período de caça indiscriminada à população “excedente”, porque têm garantida a impunidade. Agora, mais do que nunca, Gaza somos todos e todas. Pode ser Quito, San Salvador, Rosário ou Tegucigalpa; o Cauca colombiano ou Wall Mapu; talvez a montanha de Guerrero ou as comunidades de Chiapas. Agora, todos e todas estamos na mira de um capitalismo que mata para acumular mais rapidamente.

Dizem narcotraficantes com a mesma insensibilidade com que matam palestinos, mapuches ou maias. São apenas desculpas. Argumentos para as classes médias urbanas. Mas a história recente nos diz que eles estão criando laboratórios para o genocídio.

No tranquilo Equador, quando os povos os derrotaram na revolta de 2019, eles reagiram libertando criminosos das prisões transformadas em espaços de extermínio, onde a mídia mostrava presos jogando futebol com a cabeça de um decapitado.

No Cauca, a mineração a céu aberto e o cultivo de drogas exacerbaram a violência paramilitar contra as comunidades nasa e misak que resistem e não se rendem, tornando a região a mais violenta de um país violento.

No território mapuche, tanto no Chile quanto na Argentina, os poderes decidiram que aqueles que não se submetem devem ser chamados de “terroristas”, com o resultado de que hoje há mais presos mapuches do que durante as ditaduras de Pinochet e Videla.

No México, tudo está claro, tão claro que a mídia e os governos não querem que vejamos, mascarando a violência com discursos que apenas mencionam sua cumplicidade. A violência sistemática em Guerrero e em Chiapas deveria ser motivo de escândalo.

No Rio de Janeiro, um sociólogo costuma dizer que o narcotráfico não é um Estado paralelo, mas o Estado realmente existente. Incluindo todos os governadores das últimas décadas, com sua comitiva de empresários mafiosos, de deputados e vereadores que formam um poder herdado dos esquadrões da morte da ditadura militar.

Gaza nos coloca em outro lugar, diante de outros desafios. O primeiro é compreender que a morte é a razão de ser do sistema capitalista. O segundo é entender que esse sistema é integrado pelas direitas e pelas esquerdas, pelos conservadores e pelos progressistas. O terceiro é que devemos nos organizar para nos proteger, porque ninguém vai fazer isso por nós.

O mundo que conhecíamos está desmoronando. Choremos por esses jovens assassinados no Rio, por esses corpos estendidos no asfalto.

Transformemos nossas lágrimas em rios de indignação e torrentes de rebeldia.

Fonte: https://desinformemonos.org/gaza-es-rio-de-janeiro-gaza-es-el-mundo-entero/

agência de notícias anarquistas-ana

A fúria é semente.
Da rachadura no asfalto,
nasce o novo trigo.

Liberto Herrera

Um livro sobre anarquismo em Abya Yala


Por Alf Bojórquez

Olá. Escrevo do México. Sou uma escritora trans e não binária. Há alguns meses está circulando meu segundo livro — um ensaio pessoal que explora o tema do anarquismo latino-americano — intitulado Não existe dique capaz de conter o oceano furioso. Potência, alegria e anarquismo. Está disponível na rede de distribuição da Traficantes de Sueños, Virus e Cambalache.

Meu nome é Alf Bojórquez, sou romancista e ensaísta de uma pequena cidade próxima a Cuba. Iniciei o caminho que desemboca neste livro editando e traduzindo para a editora Tumbalacasa. Coordenei a tradução, em parceria com Traficantes de Sueños, AK Press e Tumbalacasa, de Militancia alegre. Tejer resistencias, florecer en tiempos tóxicos de Nick Montgomery e Carla Bergman. Tenho ministrado oficinas na América Latina, Europa, Estados Unidos, Filipinas e Marrocos. Tenho também um podcast intitulado Un sueño largo, ancho y hondo, disponível em todas as plataformas, onde trato há anos das problemáticas da narrativa, da arte e da teoria crítica.

Não existe dique capaz de conter o oceano furioso é um livro que defende a alegria: uma capacidade que surge sem aviso prévio, sem antecipação nem planejamento. Desde que trabalhei em Militancia alegre, tenho me concentrado nesse tema porque acredito que é uma forma de definir o anarquismo de modo afirmativo e não apenas negativo (contra o Estado, o capital, o patriarcado etc.). O anarquismo, para mim, é a favor da alegria e da improvisação (é expansivo em termos spinozianos, isto é, de ação), portanto, não teme tanto o erro.

Desde o stalinismo, o anticapitalismo em geral tende a ser cinza, áspero, mecânico, melancólico, trágico, sombrio, gótico — por isso venho há anos criticando a vertente capacitista e adultocêntrica que, junto com tudo isso, nos diminui. Não existe dique capaz de conter o oceano furioso é um livro que busca libertar o anarquismo de si mesmo — de suas bandeiras rígidas, de suas personagens engessadas e previsíveis — para expandi-lo a novos horizontes coletivos onde caibam mais mundos e formas de vida. Além disso, aborda como as ideias e práticas anárquicas viajaram para a América e se somaram às lutas anticoloniais, às revoltas de indígenas e de pessoas escravizadas.

Não existe dique capaz de conter o oceano furioso é um ensaio pessoal sobre a extrema esquerda, com um estilo agradável e ágil, que fala das lutas atuais. É o resultado de minhas colaborações com a Asamblea de Defensores del Territorio Maya Múuch XíimbalaOrganización Popular Francisco Villa de Izquierda Independiente e a Preparatoria Comunitaria José Martí. É uma autobiografia desde e em direção ao político, que atravessa muitas outras questões que podem interessar a vários tipos de leitores. É um ensaio sobre adolescência, proletariado, necessidade de pertencimento, os povos, o zapatismo, as subculturas urbanas nos países colonizados. Por isso é narrado com um tom poético e pessoal.

O PDF do livro está disponível para download gratuito em: https://archive.org/details/no-existe-dique-digital

Com esta pesquisa poética busco dar visibilidade ao anarquismo mexicano. No livro, defendo que, embora seja uma invenção europeia, na América Latina ressignificamos o anarquismo ao integrá-lo às lutas anti-imperialistas e anticoloniais em diferentes momentos da história. Por trás do progressismo de Boric, Petro, Lula, Kirchner e Sheinbaum há um proletariado enfurecido — uma linha de frente que saiu para defender o pouco que nos resta antes que o protesto social fosse reciclado pela socialdemocracia latino-americana. O ciclo insurrecionalista das últimas duas décadas chegou ao fim com o agravamento do genocídio na Palestina e a ascensão de Trump e Milei. A conjuntura deste momento histórico nos convida a retomar o antifascismo e repensar a revolução.

Não existe dique capaz de conter o oceano furioso é um livro autopublicado. Fiz sozinha minha própria distribuição, indo aos correios enviar um exemplar após o outro para as pessoas que ouvem meus podcasts. Por isso mesmo disponibilizei gratuitamente o PDF — para divulgar minhas (auto)críticas ao anarquismo.

Se tiverem interesse no meu trabalho, nas mesmas distribuidoras encontra-se meu primeiro livro, um romance sobre um amor adolescente em uma cidade devastada pelo colonialismo, intitulado Pepitas de calabaza.

Fonte: https://redeslibertarias.com/2025/10/29/un-libro-sobre-anarquismo-en-abya-yala/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Uma frente à outra,
floridas sibipirunas
trocam amarelos.

Reneu do A. Berni

Brasil Negro Insurgente | Anarquistas e socialistas libertários pretos e pardos da Primeira República

“Brasil negro insurgente” traz à tona vidas e lutas soterradas pela historiografia oficial. A partir de um extenso trabalho de pesquisa, o livro reúne dezenas de militantes pretos, pardos e indígenas que atuaram no campo da esquerda libertária e socialista durante a Primeira República.

O projeto

“Brasil negro insurgente” traz à tona vidas e lutas soterradas pela historiografia oficial. A partir de um extenso trabalho de pesquisa, o livro reúne dezenas de militantes pretos, pardos e indígenas que atuaram no campo da esquerda libertária e socialista durante a Primeira República.

Mais do que exceções em um movimento dominado por figuras brancas e imigrantes europeus, esses sujeitos constroem uma genealogia afro-brasileira da insurgência, uma história viva e radical que desestabiliza as narrativas oficiais sobre o operariado, o anarquismo e o socialismo no país.

Ao responder à pergunta incômoda “onde estão os libertários negros na historiografia brasileira?”, o autor desmonta explicações racistas que insistiram, por décadas, na suposta ausência das populações negras das ideias revolucionárias. O resultado é um mapa político de resistência, pedagogia e luta.

Entre os nomes reunidos estão homens e mulheres, operários, intelectuais, militantes de base, sindicalistas, educadores e agitadores culturais que atuaram nas ruas, nas greves, nos jornais e nas associações populares. Suas histórias revelam como a luta por emancipação racial e social sempre estiveram entrelaçadas no Brasil.

“Brasil negro insurgente” é uma obra urgente para tempos de apagamento. Ao devolver rostos negros e mestiços aos anarquismos e socialismos brasileiros, o livro propõe um novo ponto de partida: o reconhecimento da insurgência negra como parte constitutiva e não marginal da utopia libertária.

Com seu apoio, conseguiremos imprimir e distribuir esta obra de forma independente, sem concessões a grandes grupos editoriais ou interesses de mercado. A Editora Monstro dos Mares acredita que fazer livros é também fazer insurgência. Cada contribuição ajuda a sustentar um projeto editorial comprometido com a pluralidade, a justiça social e a memória das resistências.

>> Mais infos, apoiar o lançamento do livro, clique aquihttps://www.catarse.me/brasilnegroinsurgente

agência de notícias anarquistas-ana

O decreto impresso
amarela no sol—a rua
escreve com giz novo.

Liberto Herrera

[Reino Unido] O som dando base à fúria

Revisão de Anarcho-Punk por David Insurrection

~ Phil ~

Ter um lugar, um espaço, um centro local ou social, onde você se sinta em casa e rodeados por pessoas com interesses similares é algo muito poderoso. Um lugar onde se possa trabalhar, inspirar, criar ou relaxar, conversar ou meditar, um lugar para realizar eventos e campanhas de arrecadação de fundos… uma base sólida, um alicerce ou porto seguro pode ser vital para manter uma comunidade. Não é algo fácil de se conseguir em um período da história no qual muitas pessoas só existem online ou estão geograficamente distantes dos centros de atividade social.

Portanto, é extremamente útil saber o que pode ser feito e é bom saber como as pessoas conseguiram, tentaram e até falharam em criar comunidades no passado. Nos anos 1970 e 1980, na Grã-Bretanha, surgiu uma nova forma de ativismo que se ramificou da cultura musical, ou seja, do punk, que buscava uma autenticidade além da postura punk.

Junto com isso, surgiu um interesse pelo anarquismo e por novas formas sociais de conviver entre nós e com o ambiente. Essa é uma parte importante e muitas vezes obscurecida da nossa história social.

Não há dúvida de que, se não registrarmos a nossa própria história, perderemos muito. Perderemos a cultura e a capacidade de salientar o que foi feito, o que pode ser feito e continuar a ser feito. É fundamental fazer esse registro a partir das experiências de pessoas que se envolveram na criatividade cultural e na resistência.

Ter esse conhecimento pode nos dar inspiração, energia e resiliência. Ele nos dá a estabilidade da experiência e permite evitar repetir os mesmos erros.

Assim, chegamos a essa magnífica obra. Nessa história de mais de 200 páginas, David volta a atenção para a subcultura punk e a traz à vida com histórias e fotos. Olhando para trás, para locais significativos e eventos importantes do final dos anos 1970 e 80, o livro registra e documenta, nas suas palavras: “a história de uma cena muitas vezes esquecida” que “inspirou uma geração de ativistas, artistas e músicos a lutar por um mundo melhor”. Fala das pessoas, das bandas, dos locais e edifícios icônicos – dando voz às experiências daqueles que os usaram e mantiveram.

Após um prefácio de Tony Dayton, do fanzine Ripped & Torn (e também Kill Your Puppy), proclamando que o Crass era o que faltava na cena punk squat (e explicando como os punks, incluindo Adam Ant, se transformaram depois de ver Crass tocar), certamente ajuda a definir o cenário para o resto do livro.

Gostei da forma como o livro começa, estabelecendo imediatamente uma conexão entre o punk e o anarquismo da época. O ativismo antifascista também é um tema constante ao longo do livro.

“Bandas, zines, gravadoras e espaços autônomos autogeridos tornaram-se a frequência dessa nova cena”, explica ele, dizendo que sua “esperança é dar às pessoas um gostinho da época e das pessoas”, com a pesquisa servindo tanto como documento histórico quanto como guia.

Há muita história que eu não tinha lido antes sobre locais como o Wapping Autonomy Center e o Centro Ibérico, além de histórias sobre o Black Flag e os anarquistas espanhóis em Londres. Todas informações fascinantes que não se encontra facilmente.

Há muitas histórias interessantes e anedóticas sobre diferentes locais e bandas. Há uma discussão sobre o Monday Group e uma entrevista com Martin Wright, o que torna a leitura muito interessante.

O fato de que as histórias não sejam memórias nostálgicas e idealizadas também é um toque legal. Nem tudo era perfeito, nem todos se davam bem, nem todos se entendiam. Isso para não falar da violência fascista real que acontecia nos shows. Além da Hackney Hell Crew, é claro.

Há histórias de problemas pessoais e uma anedota interessante sobre alguém que deixou um squat, mas voltou e encontrou todos os colegas vestindo as suas roupas.

Pessoalmente, gosto muito da música daquela época e o livro traça um quadro interessante da vida e das experiências das bandas que compunham a cena anarcopunk. A primeira banda mencionada é Crass, claro, mas também temos Poison Girls, Icons of Filth, Omega Tribe, Conflict, Chumbawamba e muitas outras. Para seu crédito, várias bandas daquela época ainda podem ser encontradas tocando ocasionalmente hoje em dia.

Muitos dos locais mencionados no livro já não existem, muitos dos edifícios foram demolidos.

No entanto, as memórias permanecem vivas e, embora locais como o 121 em Brixton tenham sido tomados à força pelo Estado, outros sobreviveram. Há uma secção interessante que fala sobre a história da [livraria] Freedom, por exemplo, que continua forte. Todos compartilhamos dessa história e devemos assumi-la como nossa.

Temos uma tradição de espaços sociais, música, coletivos, publicações e uma cultura que continuamos a construir e a aprender, que continuamos a manter. Devemos aprender a celebrar isso, porque é a cultura e a história que nós mesmos criamos. É porque nos lembramos do nosso povo e do nosso poder, que nossa cultura não é vazia.

David Insurrection. 2024. Anarcho-Punk: Music and Resistance in London 1977-1988. Earth Island Books. ISBN 9781916864443.

Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/09/28/sound-providing-a-base-for-fury/

Tradução > CF Puig

agência de notícias anarquistas-ana

Desejo é revolta
contra a moral que acorrenta
o pulsar da vida.

Liberto Herrera

[Alemanha] Os Dias A de 2025: foi bom e muito obrigado!

7 dias – 33 eventos com mais de 2000 visitantes, muitos amigos, camaradas, novas experiências, impressões e deliciosas Küfas. Além disso, foram arrecadados mais de mil euros para os nossos camaradas na Ucrânia: agradecemos muito por essa maravilhosa semana de eventos.

O que realmente nos torna seguros?

Essa questão nos tem ocupado, visto termos um contexto político e social aqui em Dresden, desde que o ‘Escritório para a Proteção da Constituição’ nos classificou como “definitivamente extremistas de esquerda” já há mais de um ano. Durante os Dias Anarquistas, pudemos olhar para essa questão e discuti-la em diversos contextos.

A semana de eventos começou com uma oficina introdutória sobre anarquismo e uma comovente noite de cinema com ‘Aurora’s Sunrise’, filme sobre a história assustadora e impressionante da sobrevivente do genocídio armênio Aurora Mardiganian. Além disso, durante a semana houve a oportunidade de aprender mais sobre a história do anarquismo na Alemanha, ouvir uma leitura imaginativa e excêntrica, comer um delicioso Küfa e reencontrar velhos conhecidos.

O colapso é iminente: como podemos nos preparar para isso, além do Estado e das instituições estatais? Como evitar o colapso na prisão? Abordamos essas questões em um workshop com palestra no meio da semana do evento. Conversamos sobre preparação solidária e solidariedade dentro e fora da prisão.

Além disso, na série de eventos deste ano, tratamos de questões, por exemplo: Como podemos cuidar de nós mesmos como comunidade? Existe alternativa ao sistema psiquiátrico discriminatório? O que pode significar ajuda mútua em um estado emocional de emergência? Na oficina ‘Isso é loucura!’ os afetados trocaram ideias com pessoas não afetadas sobre essas mesmas questões.

Estamos particularmente orgulhosos de ter tido vários palestrantes de diferentes partes do mundo nos A-Days em Dresden novamente este ano. Pudemos aprender sobre a história da autodefesa da comunidade armada nos EUA, ouvimos uma atualização dos camaradas da Bielorrússia, 5 anos após o início dos levantes de 2020.

Praticamos a autodefesa com spray de pimenta e em oficina guiada de autoafirmação.

Este ano também foi importante para chamar a atenção às crises e guerras em curso neste mundo: palestrantes de Israel e da Palestina relataram a militarização da sociedade que vem ocorrendo há anos, a erosão do sistema legal e o papel das prisões no genocídio em curso da população civil palestina.

Infelizmente, a luta e o sofrimento do povo da Ucrânia continuam no outono de 2025. Decidimos usar as doações coletadas este ano como parte dos Dias Anarquistas para apoiar nossos camaradas na Ucrânia na luta contra o sistema fascista russo.

Tudo o que nos resta dizer é agradecer pelas contribuições para a discussão, pelas críticas, doações e por tornar os Dias Anarquistas 2025 tão maravilhosos – até a próxima <3

Fonte: https://a-dresden.org/2025/10/24/a-tage-2025-schon-wars-vielen-dank/

Tradução > CF Puig

agência de notícias anarquistas-ana

As marcas do tempo
apenas em meu rosto —
Lua de primavera!

Teruko Oda

[México] Novo fundo verde na COP30: armadilha para povos e bosques do sul global

Por Aldo Santiago | 27/10/2025

A duas semanas do início da Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP30), a realizar-se na cidade brasileira de Belém, na região amazônica, um grupo de governos de países industrializados e ONGs com perfil corporativo promovem um novo fundo de investimento internacional que busca mobilizar centenas de milhares de milhões de dólares para “recompensar” a conservação dos bosques tropicais.

Fundo Bosques Tropicais para Sempre (TFFF, por sua sigla em inglês), se apresenta como um “avanço histórico” em favor da conservação da natureza mundial. Seus principais promotores são uma dezena de governos de países industrializados – incluídos membros do G20, os mais poderosos do planeta – em aliança com governos de países amazônicos como Colômbia, Equador e Brasil, assim como de ONGs como a Sociedade para a Conservação da Vida Silvestre (WCS), Conservação Internacional (CI), The Nature Conservancy (TNC) e o Fundo Mundial para a Natureza (WWF).

Sua proposta, que planejam lançar oficialmente na COP30, aspira a arrecadar mil milhões de dólares através de um fundo de investimento internacional que busca mobilizar capital público, filantrópico e institucional para recompensar a conservação de bosques tropicais mediante pagamentos anuais por hectare “em pé”.

O TFFF estima incorporar um fundo financeiro de entre 100 e 125 mil milhões de dólares mediante o qual se pagarão quatro dólares por hectare conservado. Inclusive, assevera que planejam destinar ao menos 20% destes recursos a povos indígenas e comunidades locais. Não obstante, organizações ambientalistas como o Movimento Mundial pelos Bosques Tropicais (WRM) adverte que o mecanismo pode converter-se em uma nova armadilha de mercado que reforce o controle financeiro sobre os territórios do Sul Global.

Através do estudo, “O Fundo Bosques Tropicais para Sempre: Uma nova armadilha para os povos e bosques do Sul global”, o WRM alerta que, apesar de que o Brasil é o rosto político da iniciativa financeira – pois também anunciou que contribuirá com 1,000 milhões de dólares -, sua origem remonta ao ano de 2009, quando foi criada por um ex-funcionário do Banco Mundial vinculado a grandes bancos estadunidenses.

Para a organização, estas dinâmicas revelam a verdadeira expressão do fundo de investimento como “colonialismo financeiro imposto desde uma lógica vertical”, a qual asseguram tem uma relação estreita com outros mecanismos como REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação) que “foram concebidos por atores que operam a grande distância das realidades do Sul global, ainda que afirmem saber como salvar os bosques tropicais (…) o que se propõe não é mais que outro plano desenhado pelas elites do Norte, para ser gestionado pelas elites do Norte e, consequentemente, em beneficio das elites do Norte”.

Converter os bosques em ativos financeiros

O estudo do WRM, difundido este mês de outubro, destaca que a iniciativa do TFFF esconde uma estrutura enganosa, devido a que, na realidade, a gerência do fundo estará a cargo do Fundo de Investimento em Bosques Tropicais (TFIF, por sua sigla em inglês), que funcionará sob o suporte do Banco Mundial.

O documento detalha que as decisões estratégicas recaem no conselho diretivo do TFIF, fundo composto exclusivamente pelos governos dos países industrializados. Em contraste, os governos dos países com bosques tropicais não participarão na tomada de decisões, apesar de que o TFFF se promove como uma “proposta originada no Sul global”.

O WRM e organizações aliadas advertem que o TFFF, além de reproduzir lógicas de mercado e financeirização da natureza com participação desigual para os povos, os pagamentos dependem da rentabilidade financeira do fundo e que a conservação coexista com a expansão de indústrias extrativistas. Ainda mais, preocupa que os pagamentos que o TFFF promete realizar às comunidades poderiam fragmentar a solidariedade entre os movimentos de resistência ou entre as comunidades em resistência.

Em termos simples, o TFIF planeja utilizar o capital emprestado por investidores ricos, filantropos, bancos e governos do Norte global para adquirir “bonos” emitidos por aqueles governos que necessitam financiamento, o que implica tirar proveito da já avultada dívida pública dos países do Sul global, ou por grandes empresas que os utilizam para financiar projetos industriais em grande escala que destroem os bosques em ditos países. “Entre estes projetos se incluem atividades como mineração, monocultivos, infraestrutura e energia ‘limpa'”, alerta o estudo do WRM.

Derivado desta dinâmica, a organização questiona como a maior parte dos lucros que o TFIF espera gerar não se destinará à conservação, mas ao pagamento de interesses e lucros para quem empresta os fundos. “Estes atores investem no TFIF como uma forma de ganhar mais dinheiro. Só depois de cobrir as comissões de gestão e distribuir os lucros entre os prestamistas, desde o TFIF se contempla a possibilidade de transferir uma porção dos fundos aos governos que prometeram proteger os bosques tropicais”, sustenta o movimento.

O WRM e a Global Forest Coalition alertam que o TFFF poderia agravar a exclusão de comunidades e povos, que mais cuidam dos bosques e selvas, ao reduzir aos ecossistemas unicamente como ativos financeiros que, em consequência, violará seus direitos e criminalizará práticas tradicionais como o cultivo itinerante, atividades que podem interpretar como desmatamento.

Mais falsas soluções

Este modelo, adverte o informe do WRM, replica as deficiências do programa REDD+, onde múltiplos projetos de conservação geraram conflitos territoriais e restrições ao uso tradicional dos bosques. “Assim como o REDD, é provável que se converta em outro rotundo fracasso no cumprimento dessas promessas. Em essência, o TFFF não se trata de abordar as causas do desmatamento. Pelo contrário, seu “coração financeiro”, o TFIF, se alimenta de um mercado financeiro que fomenta o desmatamento”, sustenta o movimento.

Segundo adverte a Coalizão Mundial pelos Bosques (GFC, por sua sigla em inglês) em sua análise do TFFF, “resulta profundamente enganoso crer que a atribuição de um pagamento por hectare”, e mais ainda, um tão exíguo, poderia “resolver os problemas estruturais do capitalismo que são promovidos ativamente por capitais privados, grandes corporações e Estados”. Como resultado, alertam ambas as organizações, o TFFF aprofundará ainda mais as incertezas e ameaças para as comunidades que dependem dos bosques e porá em risco o futuro dos bosques tropicais.

Ademais, resgatam que mecanismos similares como a implementação de REDD+ durante duas décadas, propiciaram aprendizagens contundentes, pois evidenciam que, para os negócios que lucram com o desmatamento em grande escala, “os lucros derivados da venda de créditos de carbono não resultam tão significativos frente aos lucros que se obtêm com a destruição dos bosques”.

O estudo conclui que o novo fundo depende da destruição de territórios, devido a que seu modelo de geração de lucros é baseado em investimentos dentro dos mercados financeiros. Os mesmos que prosperam mediante a expansão da economia capitalista.

“Esse é o propósito original dos bonos: financiar megaprojetos energéticos, mineradores, de agronegócios, assim como a produção de papel e celulose”. Na atualidade, muitas destas atividades – que incluem as represas hidroelétricas ou a mineração de níquel para baterias, entre outras – são catalogadas como “limpas” ou “verdes”, apesar de que, por definição, implicam destruição territorial em grande escala. Sem canalizar o dinheiro para este ciclo de exploração, o TFIF não pode gerar os lucros que logo aspira destinar ao TFFF como pagamentos por “conservação de bosques”, sustenta o movimento.

De acordo com a análise do WRM, o TFFF aprofundará ainda mais as incertezas e ameaças para as comunidades que dependem dos bosques e porá em risco o futuro dos bosques tropicais a nível global.

Fonte: https://avispa.org/nuevo-fondo-verde-en-la-cop30-trampa-para-pueblos-y-bosques-del-sur-global/

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Dia grisalho
brotos brotam brutos
na ponta do galho

Danita Cotrim

Solidariedade com o Arquipélago do Fogo! Manifestação na Embaixada da Indonésia na Cidade do México

Relatório da ação de solidariedade na Cidade do México em prol dos anarquistas perseguidos na Indonésia:

Em 17 de outubro de 2025, grupos anarquistas como o CATL e a Cruz Negra, juntamente com a Rádio Zapote e outros, reuniram-se perto da embaixada da Indonésia, em um bairro nobre da Cidade do México, para bradar solidariedade aos anarquistas perseguidos e presos pelo Estado. Cercados pela polícia, que nos filmava e intimidava, compartilhamos comida com a comunidade enquanto divulgávamos informações sobre a repressão contra ativistas anarquistas na Indonésia.

Realizamos esta ação para expressar nossa solidariedade com os levantes que começaram depois que o parlamento indonésio concedeu a si mesmo um subsídio de moradia equivalente a dez salários mínimos e aprovou uma lei que permite que militares se candidatem a cargos políticos, renovando os temores de uma nova ditadura militar. Esses protestos explodiram depois que a polícia assassinou Affan Kurniawan, um entregador de 21 anos, atropelando-o com seu veículo blindado.

Por muitos meses, membros da Geração Z da Indonésia foram às ruas, participando do que foi chamado de “revoltas do sul global”, uma onda de resistência que varreu países como Bangladesh, Marrocos, Nepal, Madagascar, Equador e Peru, na qual os cidadãos desses países se levantaram contra a miséria imposta a eles por capitalistas gananciosos e elites políticas corruptas.

Durante nosso evento de solidariedade anarquista na Cidade do México, também conversamos sobre nosso camarada “Eat”, que, junto com outros anarquistas, está detido incomunicável há algum tempo. A polícia estava procurando por Eat porque ele estava arrecadando fundos e prestando apoio a 42 indonésios acusados ​​de serem membros do movimento anarquista insurrecional.

Parece que estamos diante de uma série de revoltas que se espalham por diversas geografias, e suas ideias não buscam um modelo político, mas sim uma luta épica contra as injustiças que se busca instalar em esfera global, especialmente no Sul.

Por todo o sul global e por todos os cantos do globo, uma resistência está se espalhando contra a miséria e a injustiça impostas pelas elites globais, uma batalha anarquista que luta contra políticos venais e capitalistas predadores.

Morte ao estado! Viva a anarquia!

A n a r q u i s t a s

Fonte: Coordinadora Anarquista Tejiendo Libertad – CATL

agência de notícias anarquistas-ana

Imposto é o ladrão
que rouba até o sabor
do pão compartilhado.

Liberto Herrera

[Espanha] Crônica da jornada de greve de 15 de outubro

Na quarta-feira passada, 15 de outubro, nos unimos à greve geral em solidariedade com o povo palestino, para denunciar o genocídio que está sofrendo e a cumplicidade dos estados ocidentais no mesmo.

Fomos a nossos centros de trabalho, mas não para trabalhar, mas para informar aos trabalhadores do motivo e da importância da greve e seus direitos nela.

Às 7h00 da manhã começamos com o primeiro piquete, frente a um dos centros de menores gestionados pela Fundação Diagrama, que tentou obstruir o direito à greve dos trabalhadores com uns serviços mínimos abusivos nos quais havia mais pessoal que em muitos turnos em dias normais.

Depois estivemos na estação de Príncipe Pío falando com os transeuntes, que manifestaram em mais de uma ocasião não ter conhecimento da jornada de greve convocada, o que demonstra que a mesma não foi convocada nem preparada com a antecedência suficiente, erro que já advertimos na anterior convocatória em 2024.

Seguimos a jornada de luta com um piquete nos escritórios de Revoolt, subcontratada da Glovo que explora ainda mais que esta a seus empregados.

A reunião seguinte foi em frente ao centro ocupacional Barajas, onde também impuseram uns serviços mínimos que gostaríamos que tivessem quando não há greve.

O último dos piquetes informativos o realizamos ante o centro juvenil El Sitio de Mi Recreo, gestionado pela empresa Tandem, que recentemente despediu um de nossos companheiros por sua luta sindical.

Por último, nos concentramos frente à junta municipal de Vallecas, onde seguimos informando sobre o genocídio do povo palestino e chamando ao boicote à Israel antes de irmos juntos à manifestação de Atocha a Callao.

Na CNT-AIT Madrid sempre estaremos do lado dos oprimidos e apoiaremos as causas justas, mas isso não nos impede sermos críticos com a maneira na qual esta greve foi convocada. Toda greve requer um extenso trabalho prévio se queremos que esta tenha êxito. Não vale convocar depressa e correndo para sair na foto, como fizeram alguns. Porque então as pessoas não se inteiram de que há greve ou não entendem as razões da mesma e não aderem. E isso, além de levar ao fracasso da mesma, desvirtua o próprio conceito de greve. Das paralisações parciais dos sindicatos amarelos nem falamos, porque é uma clara tentativa de boicote que não surpreende ninguém.

Gostaríamos de finalizar esta crônica fazendo um chamado à reflexão para evitar cometer no futuro os mesmos erros. Para que na próxima greve paremos todas e obriguemos o estado e o capital a ceder ante nossas reivindicações. Porque sobram razões para uma greve geral, porque estamos fartos de cortes para aumentar o gasto militar. Estamos fartos de que com o suor de nosso rosto se financiem bombas que matam ao povo palestino. Estamos fartos de que os donos do mundo joguem com nossas vidas.

madrid.cntait.org

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Nesta fria noite
Dorme no fundo do poço
A Lua encurvada.

Mary Leiko Fukai Terada