Solfed: uma carta da “minoria violenta” no Reino Unido

“Se economia altera nossas vidas, temos que quebrar a economia”

Estamos escrevendo isto para tentar impedir que a luta contra os cortes seja dividida e enfraquecida pelos meios de comunicação. Somos anarquistas (anarcossindicalistas tecnicamente) – uma palavra que é muito mal compreendida e mal interpretada. Também somos estudantes, trabalhadores e representantes sindicais.  Organizamos um “Bloco Radical de Trabalhadores”, ao sul de Londres. O objetivo foi proporcionar uma presença muito visível dentro do movimento dos trabalhadores do qual fazemos parte, chamando por greves, ocupações e à desobediência civil.

A manifestação de sábado passado (26M) foi muito maior do que o esperado, e vimos milhares de pessoas a ir além de um simples passeio para tomar a ação direta. As ações do Reino Unido contra os cortes, tanto na Oxford Street como na ocupação da  Fortnum e Masons levou à abusos policiais, incluindo prisões em massa.

Quando chegamos à Trafalgar Square, fomos para a rua Oxford às 14h00, para passar das palavras à ação. Quando chegamos, encontramos outros grupos anarquistas, que tiveram a mesma idéia.  Escolhemos permanecer em movimento, causando a interrupção de tráfego e do trânsito pela Oxford Street e seus arredores, acessos que foram fechados e vigiados pela polícia antidistúrbios. Posteriormente, vários bancos, o Ritz e outros edifícios foram danificados ou afetados por sacos de tinta atirados. Houve algumas pequenas brigas com a polícia. Houve um debate sobre as táticas a tomar; muitos foram a favor da ação direta das massas e outros pela destruição de propriedade. Vamos ter sempre esse debate dentro da luta anti cortes, e não deixaremos que a mídia nos divida.

Pensamos nisso do ponto de vista dos proprietários de lojas e comércio: uma janela quebrada pode custar £ 1,000. A perda de benefícios do comércio em um sábado por meio de uma ocupação pacífica iria custar várias vezes mais. Talvez isso ajude a explicar a resposta dura da polícia: nós atingimos aonde mais dói – no bolso. Tradicionalmente, os trabalhadores usaram o instrumento da greve para conseguir isso. Mas o que acontece com os trabalhadores que não são sindicalizados ou os sindicatos que não querem entrar em greve? E os estudantes, os desempregados? No Reino Unido, a ações anti-cortes foram muito bem sucedidos com a participação dessas pessoas – e isso parece estar na direção certa em termos de obrigar o governo a reverter seus programas de cortes. Mais ações e a maior parte delas nesse sentido serão necessárias para deter os cortes (na França, eles chamam de “bloqueio econômico”). Reconhecemos que só uma marcha a partir do “A” para “B” ou esperando que o governo seja justo não é suficiente. Sonegadores fiscais, governo e os ricos vão continuar a procurar fórmulas para fazer pagar os mais pobres da sociedade com suas políticas deficitárias, a menos que tomemos a opção mais cara para eles, a saber: “Se economia altera nossas vidas, temos que quebrar a economia”.

A cobertura da imprensa desde o último sábado entrou em um frenesi bem ensaiado, de “manifestante bom/manifestante mau”. Alguns, no Reino Unido, manifestaram indignação com as ações dos “manifestantes maus” , (corretamente) com ênfase na natureza pacífica da ocupação da F & M. Acreditamos que a idéia de dividir o protesto entre “bons” e “maus” só serve para legitimar a violência policial e a repressão.

Como vimos no sábado, a repressão não é causada por ações violentas, mas por ações eficazes – há uma longa história de piquetes e ocupações pacíficas, sendo estas violentamente reprimidas pela polícia (greve dos mineiros).

Na verdade, os protestos anti-cortes no Reino Unido têm estado muitas vezes no outro extremo, com a resposta da polícia às ocupações não-violentas utilizando sprays de pimenta e detenções violentas.

Nesse sentido, poderíamos dizer que estamos fazendo um bom trabalho. Que as prisões em massa fortalecem a nossa determinação de não parar. E não vamos cair na tática do “dividir para conquistar”, que é o truque mais velho no livro dos ricos e poderosos.

Se for capaz de oferecer qualquer ajuda ou solidariedade concreta para os detidos, por favor, entre em contato conosco. Conseguimos anteriormente aconselhamento jurídico e sessões de formação com Fitwatch, defesa legal e grupos de acompanhamento – estaremos felizes de fazer isso de novo. Ou se as prisões estão causando problemas para os trabalhadores, iremos ajudar a organizar os presos contra as represálias. No sábado, a maioria dos presos eram militantes anti-cortes no Reino Unido. Da próxima vez pode ser a gente. Estamos todos juntos nessa.

Assinado, SolFed Brighton (AIT)

Além de militantes de: Northampton, Norte de Londres, Manchester, Thames Valley, Liverpool e localidades do Sul de Londres.