[Espanha] Livro: “Invertidos e rompepatrias: socialismo e homossexualidade no Estado espanhol”

[Recentemente foi editado pela Eztabaida (Algorta) e Violent World (Valladolid) o livro “Invertidos y rompepatrias, socialismo y homosexualidad en el Estado espanhol”, escrito por C. Piro. A obra aborda a relação entre as diferentes tendências socialistas (socialismo, comunismo, anarquismo…) e a homossexualidade ao longo da história no Estado espanhol, centrando-se na II república, na guerra civil, no franquismo, na transição e na atualidade. Foi feito uma primeira edição com 400 exemplares, impresso numa gráfica libertária e autogestionada, a Irrintzi.]

Por décadas e décadas, seja por falta de análise ideológica, por negligência ou falta de interesse político dos militantes e supostos historiadores do movimento LGBT, as relações entre socialismo e a luta pela libertação homossexual, lésbica e transgêneros têm sido ignoradas ou apenas aprofundadas no marco territorial imposto pelo Estado espanhol, fato que não ocorreu em outros estados. Relações caracterizadas, por um lado, pela incompreensão e homofobia militante, até o restabelecimento de um marcado discurso homófilo, fruto de uma mudança cultural, entre outros motivos; por outro, por uma luta desesperada e infrutífera pela reivindicação homossexual dentro das organizações políticas, ao tentar repetir nas organizações propriamente homófilas os cânones e idéias roubadas do procedimento e da análise dos grupos socialistas.

Em ambos os casos, tem lugar um conflito ideológico e metodológico que resulta em discussões, agressões físicas, expulsões, insultos e decepções… mas sempre sob uma permanente militância, em meio a uma tumultuosa sociedade que, em menos de meio século, vive uma ditadura militar de orientação liberal-autoritária, uma república burguesa liberal -representativa de conteúdo social elevado, uma guerra civil com sugestões de luta social, outra ditadura militar fascista repressiva e brutal e uma transição para um liberal-representativo herdeiro direto em métodos, pessoal e idéias do aparelho ditatorial anterior. Neste mundo conturbado, milhares de socialistas e homossexuais lutam para recuperar suas vidas roubadas pelo Estado e a burguesia, interagindo, colidindo e colaborando finalmente, em um mais que reprovado estado de “tolerância” e “compromisso” sexual que se estende até hoje.

Com este trabalho, C. Piro quer colocar sobre a mesa de discussão as mais que censuráveis políticas homofóbicas e, em casos isolados, as dos grupos marxistas e anarquistas desde os anos 20 do século XX até a morte do ditador Franco; a gradual incorporação de valores homófilos da esquerda socialista; e a profunda influência que essas ideologias exercem sobre a organização, metodologia e objetivos do movimento LGBT, desde suas primeiras reivindicações nos anos 30, seu nascimento ativista no início dos anos 70 e seu assentamento na atualidade. Da mesma forma, pretende-se incentivar o leitor ou leitora a uma reflexão sobre a verdadeira homofilia das atuais forças socialistas, assim como o clima político do LGBT ou Queer, que oscilam entre a institucionalização “progressista”, um pacifismo cívico e reivindicativo indireto reforçador do Estado, e uma minoritária, mas poderosa luta direta contra o sistema autoritário, patriarcal e heterossexista e contra seus agentes de um lado e o espectro sexual do outro.

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