[Entrevista com Grant Barnes, preso da Frente de Libertação da Terra (FLT), realizada pelo ex-preso eco-libertário estadunidense Jeffrey Luers.]
Jeffrey Luers > Atualmente estás cumprindo uma longa pena por vários incêndios reivindicados pela Frente de Libertação da Terra. O que levou você a executar estas ações?
Grant Barnes < Há algum tempo eu estava ciente da existência da FLT, e, conforme comecei a perceber o quão graves eram as conseqüências das alterações climáticas, decidi que era hora de fazer alguma coisa e assumir a responsabilidade. Creio que a destruição da propriedade é um componente útil de um conjunto de táticas para alcançar a libertação da terra e a criação de uma cultura biocêntrica. Eleva os custos econômicos e psicológicos da destruição da terra, e quando as ações são cobertas pela mídia, como sempre, mostra a todos (estejam do lado que estiverem nesta luta) que os destruidores são vulneráveis. Creio que a destruição de propriedades é algo que o resto das espécies do planeta faria para defender-se da extinção se tivessem o conhecimento e capacidade para fazê-lo. Aqueles que destroem as propriedades de pessoas irresponsáveis que não se preocupam com a natureza o fazem em nome dessas outras espécies, que são nossa família.
Jeffrey > Como começou a se envolver no ativismo?
Grant < Dava uma força em uma “info-shop” em Denver (agora fechada) e colaborava com Food Not Bombs, e trabalhava no programa de assistência e conscientização sobre violação.
Jeffrey > Estás cumprindo sua sentença em uma prisão de segurança máxima. Como está sendo?
Grant < Um dos maiores desafios tem sido o racismo. Sou branco, e muitas das pessoas com quem falo não é, e isso me levou a ter alguns confrontos com racistas. Porém meus amigos apóiam-me, por isso quando há problemas, respondemos juntos, e isso me mantém são e salvo.
Mas o mais difícil é o isolamento. Sou uma pessoa social e para mim a comunidade é muito importante, por isso cada dia é um esforço consciente para adaptar-me a passar sozinho a maior parte do tempo (na maioria das vezes eu não tenho permissão para sair da cela). No entanto, eu permaneço ativo, estudando para me formar e trabalhar, e tenho feito grandes progressos nestas duas áreas. Ocasionalmente eu tenho a oportunidade de responder cartas, uma das minhas atividades favoritas aqui.
Jeffrey > Quando decidiu se envolver com a eco-defesa, você pensava que acabaria na cadeia? Se foi assim, se preparou para quando chegasse o momento?
Grant < Eu sabia que poderia cair preso e tentei que não acontecesse. Em vários momentos da minha vida eu li relatos de prisão – como “Soul on Ice”, do membro dos Panteras Negras Eldridge Cleaver e “Soledad Brother” de George Jackson – e alguns textos mais recentes sobre a vida na prisão, incluindo um texto que encontrei na Internet chamado “Como sobreviver na prisão”. Ele contém boas informações, por exemplo, sobre a importância do respeito, embora acredite que teria aprendido esse tipo de coisa se eu tivesse lido ou não. Provavelmente a melhor maneira de alguém se preparar seja manter-se em boa forma física.
Jeffrey > Como tem sido o apoio que vem recebendo? Como as pessoas podem ajudar?
Grant < As pessoas do projeto Lucy Parsons no ano passado enviaram-me um par de livros, o que é ótimo porque é muito difícil conseguir bom material de leitura aqui dentro. O Earth First! me deu uma assinatura gratuita de seu jornal, e também recebi um exemplar da Green Anarchy e Bite Back, publicações que já considerava significativa quando estava fora e que agradeço poder ler aqui. Estou particularmente grato pelo Earth First! e a Green Anarchy ter publicado o meu endereço. Recebo um monte de cartões e cartas me desejando o melhor e tenho começado recentemente a me corresponder com várias pessoas. Seria ótimo se mais pessoas me escrevessem.
A melhor maneira das pessoas ajudarem é através do envio de informações sobre comunidades, redes de apoio mútuo e similares que colaborem, enquanto estiver ausente. Um dos aspectos mais frustrantes de estar na prisão é oferecer tão pouco aos outros, mas eu quero estabelecer uma base sólida para a comunidade que gostaria de criar uma vez que eu sair daqui. Criar uma comunidade envolve muito trabalho, e sei que é preciso dedicar tempo para compreender, entre outras coisas, o nível de compromisso de um membro em potencial e seus pontos de afinidade com outros membros. Quero criar esse diálogo, porque o tipo de vida que quero levar fora da cidade é uma vida em espaços livres do patriarcado, da exploração, do antropocentrismo, do racismo e de todos os outros sintomas da alienante civilização atual. E para isso estou muito interessado em grupos mais primitivos. Ainda assim, é sempre especial receber uma carta ou postal de alguém que se preocupa com a terra e desfruta a vida.
Jeffrey > Estás trabalhando em algum projeto enquanto preso?
Grant < Estou terminando minha licenciatura em antropologia cultural. Era estudante quando me detiveram. Ler sobre um grupo diversificado de culturas tem sido provocativo. Tem me ensinado o quanto foi perdido com a extinção dos modos de vida sustentáveis e primitivos, um conhecimento que necessitamos agora mais do que nunca. Também acompanho os relatórios sobre mudança climática e estou lendo alguns livros os quais não houve tempo quando eu estava fora, como “Endgame”, de Derrick Jensen.
• Grant Barnes cumpre uma pena de 12 anos de prisão pelo incêndio de vários carros SUVs (uma gama de carros altamente poluentes). De sua cela observa as aves que construíram seus ninhos entre o arame farpado. Um reflexo do que acontece em nosso mundo.
Para escrever para Grant:
Grant Barnes, #137563, Arrowhead Correctional Facility, P.O. Box 300, Cañon City, CO, 81215-3000. EUA
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!