Cresce a violência anarquista no México

[A título de “curiosidade”, ou do que a mídia corporativa anda falando dos e das anarquistas, reproduzimos, em seguida, uma matéria publicada no dia 5 de setembro passado no jornal mexicano “El Universal”.]

Jovens radicais multiplicam seus ataques contra o que eles consideram símbolos do capitalismo no país: caixas de banco, lojas de animais, automotivos. O pacote-bomba contra cientistas do Tec de Monterrey marca uma nova escalada de agressões.

“Individualidades Tendientes a lo Salvaje” (Individualidades Tendentes ao Selvagem (ITS) enviou um pacote-bomba ao cientista Armando Herrera Corral do Tecnológico de Monterrey, Campus Estado de México, em 8 de agosto último. Ela explodiu quando aberta. Ele e seu colega Alejandro Aceves López ficaram feridos.

Este não foi um caso isolado. É produto de uma história que está se formando a algum tempo no México e que tem raízes doutrinárias anarquistas há dois séculos.

Em geral, o anarquismo busca subverter a dominação do Estado.

No México há várias correntes. Uma delas é a que recorre à “ação direta” ou sabotagens, inspirada em anarquistas radicais europeus e estadunidenses do final do Século XIX e início do XX. Também nos irmãos Flores Magón, do tempo da Revolução Mexicana.

Existem diferentes expressões: em defesa da terra, em defesa dos animais, e anti-carcerária e anti-civilização.

Uma das mais difundidas é a “eco-anarquista”. Suas ações consistem na libertação de animais de criadores ou lojas de mascotes; explosões em caixas eletrônicos, a fast foods e empresas de pele.

“O denominador comum é a raiva e a fúria liberada, onde a ação (quer sabotagem, agitação, propaganda ou desestabilização) deve falar por si”, diz o pesquisador Jorge Lofredo, do Centro de Documentação dos Movimentos Armados (CEDEM).

O bombaço do Tecnológico de Monterrey, campus Estado de México, anunciou a um grupo “ambientalista radical anti-industrial”, assumido como terrorista, que vê a tecnologia como um instrumento do sistema de dominação que depreda a natureza.

Grupos similares atuam há anos na Grécia, Itália, Espanha, França, Inglaterra, Estados Unidos, Chile, Brasil e Argentina, entre outros.

O Universal entrevistou dois “eco-anarquistas”, que pediram anonimato de seu grupo; e a um “insurrecionalista”, integrante da Frente Anarquista Revolucionária Margarita Ortega, que é inspirada no magonismo.

A ação direta

A Grécia é considerada o foco do anarquismo radical na Europa. O Chile lidera na América Latina e México lhe segue, explica um dos “eco-anarquistas”.

As ações diretas têm para ele uma mensagem: “Vou e destruo, e assim manifesto que as coisas não estão bem, que devem mudar radicalmente”.

As sabotagens são realizadas geralmente por células pequenas, sem estruturas verticais, de surpresa e, por vezes de forma espontânea.

O eco-anarquismo retomou a bandeira da Frente de Libertação Animal (FLA), que surgiu na década de setenta na Inglaterra, e da Frente de Libertação da Terra (FLT), também de origem inglesa.

A FLA libera animais em cativeiro e ataca empresas que fazem experiências com animais, os maltratam ou lucram com eles. “As células da FLA não atuam armadas e se preocupam de não criar medo na sociedade, nunca atacam civis”, conta um dos anarquistas.

Através da internet, essas células fizeram uma rede de comunicação mundial, sem nenhuma estrutura formal, onde trocam informações, reivindicam ações com fotografias e vídeos, denunciam capturas policiais e convocam ações conjuntas.

As ações são divulgadas no portal estadunidense Bite Back. Na América Latina, no site chileno “Liberación Total” (Libertação Total) que, de acordo com o anarquista, foi erroneamente designada como a organização central.

Nova geração

Embora desde 2000 os anarquistas de ação direta começaram a atuar no México, em 2007 surgiu uma nova geração influenciada pela Frente de Libertação Animal que, através de sites, diziam abertamente como eram feitas as sabotagens.

Uma revisão do Bite Back indica que de cinco ações reivindicadas no México em 2007, a lista saltou para 120 em 2008, e a mais de 240 em 2009.

No México a maioria dos anarquistas radicais é de jovens de classes populares urbanas, de famílias marcadas pela pobreza, muitos dos quais deixaram seus estudos para trabalhar ou para estar contra o sistema educacional.

Há também estudantes de classe média e alguns profissionais. Boa parte apenas se somam aos 20 anos.

A Liberación Total postou reivindicações de sabotagens na Cidade do México, Toluca, Colima, Guadalajara, San Luis Potosi, Durango, Monterrey, Culiacán, Oaxaca e Jalapa, entre outras.

O bombaço do Tec cria polêmica entre os anarquistas radicais. Alguns argumentam que “o anarquismo não é terrorismo”, outros dizem que “o circo midiático” ajuda muito a tornar visível suas demandas.

O “insurrecionalista” opina: “Não vejo que seja boa propaganda, porque se é ajustiçado um político ou policial repressor de alta patente pode criar simpatia entre o povo, mas neste caso pode trazer abaixo o trabalho que muitos têm construído nos bairros”.

agência de notícias anarquistas-ana

Lua despida
estendida na praia
à espera do mar

António Barroso Cruz