No sábado, 26 de novembro, pela manhã, cerca de 50-60 companheiros e companheiras conduziram um bloqueio de 4 horas da loja “Blanco”, na rua San Nicolas (Aguíu Nikolaou), na cidade de Patras. Os encarregados desta loja, junto com os policiais, são os responsáveis pela morte de uma mulher de 32 anos no centro de detenção das Forças de Segurança de Patras, tendo sido presa após a denúncia, apresentada pela gerência da loja, de que ela tinha roubado três camisetas.
Esta ação buscou mostrar à comunidade local o rolo bem orquestrado que existe entre os donos de lojas, a polícia e a imprensa local, assim não colocando em risco seus interesses comuns ao ocorrer incidentes semelhantes.
O bloqueio durou das 10 da manhã até as 2 da tarde. Milhares de panfletos foram distribuídos, e as pessoas tomaram uma atitude positiva em relação à ação, muitos folhetos foram lançados dentro e fora do negócio, foi usado megafone e se gritou lemas, alguns dos quais são os seguintes: “3 camisetas custam 1 vida, essa é aritmética dos patrões”, “Leva para comer, rouba se não tem, não pague nada e não sinta nenhuma vergonha”, “Seja Blanco ou Zara, os patrões não dão um centavo por nós”.
Segue a tradução do texto que foi distribuído pelos anarquistas da Assembléia Contra a Escravidão Assalariada “O portador de ferramentas” (Ergalioforos).
Nenhuma vida se pode apagar com ‘blanco’¹
Na semana passada uma notícia local passou silenciosamente através da tela do espectador oprimido pela atualidade. Falamos da morte de uma mulher de 32 anos, mãe de uma criança recém-nascida, que tentou cometer suicídio em uma cela do centro de detenção do Departamento de Polícia de Patras, e morreu poucas horas depois. A jovem chegou lá depois de uma denúncia apresentada pela gerência da loja “Blanco”, de roubar três camisetas.
Lendo a história tal como foi escrita nos jornais locais e Internet, rapidamente percebemos que a identidade do reclamante e da loja onde ocorreu o incidente é deliberadamente escondida pela mídia. Não temos experiência em questões legais e não somos advogados para saber os supostos quadros jurídicos que definem o que pode ser publicado ou não, mas podemos ver o óbvio – quem são os que não querem que seus dados sejam publicados. Cumprindo um voto de silêncio, o comerciante não vê suas vendas afetadas e a polícia silencia o assunto, ou seja, o fato de que uma pessoa morreu. Ao mesmo tempo, os meios de comunicação estão envolvidos neste rolo organizado, escondendo-se ou publicando qualquer identidade e qualquer evento, dependendo do que lhes convém e ao sistema que eles servem.
Tais “votos de silêncio” constituem a regra em casos como este, onde um “incidente desagradável” ameaça a regularidade de uma sociedade que consome – para não mencionar os senhores policiais, que na melhor das hipóteses vão sofrer uma mudança desfavorável por alguns meses até que o assunto seja esquecido. Claro, o comerciante decidiu chamar a polícia para lidar com um assunto tão trivial como roubar algumas roupas (que, em última análise são artigo de primeira necessidade) e é cúmplice, junto com a polícia que contém a um próximo em uma cela. Certamente, deste último não se poderia esperar nada melhor, já que é um capanga pago por interesses burgueses. Além disso, não são poucas as vezes em que os guardas de segurança das grandes lojas desonram as pessoas, são violentos ou chamam a polícia para tomar conta. “Nenhum trabalho é uma vergonha”, disse o povo, mas quando cobra para “ficar vigiando” a entrada de algum negócio, vender arrogância e proteger os interesses de alguém, definitivamente mais rico que você, então você deveria estar envergonhado. O que é surpreendente, no entanto, é o comportamento de alguns trabalhadores ou clientes das lojas, que muitas vezes desempenham o papel de agente de segurança para proteger os interesses dos empregadores. Este comportamento é inaceitável e mostra, por parte dos trabalhadores, pelo menos, falta de solidariedade de classe e falta parcial ou total da consciência de classe.
A roupa, alimentos, a água e até mesmo a eletricidade, propriedade que nós mesmos produzimos e são necessários para nossa sobrevivência, foram entregues à Soberania, que administra a riqueza. A existência da polícia e do palavreado moralizante sobre o roubo fortalece as relações de necessidade e compulsão. A expropriação de bens de primeira necessidade é um ato justo e necessário, já que a produção e muito mais que aprecie deve ser livre. Embora esta relação permaneça desigual, nós mesmos temos de recuperar o que nos pertence e o que precisamos para viver uma vida com dignidade.
Os mercados, através de uma política de lifestyle, enriquecem às custas dos trabalhadores e consumidores. Impõem necessidades e estilos de vida, marginalizando a mesma vida. Cafés, clubes, lojas de roupa e carros prometem tranqüilidade e reconhecimento, enquanto, ao mesmo tempo, nessas áreas muitas vezes as condições de trabalho são desumanas. Somos chamados a redefinir nossos valores e nossas necessidades e para libertá-las das mãos daqueles cujo único critério é o benefício.
Nenhuma paz aos policiais, exploradores e patrões.
Nenhum assassinato ficará sem resposta.
O silêncio é cumplicidade.
[1] Jogo de palavras: Blanco é o nome da loja e também se utiliza para o prefeito em grego.
agência de notícias anarquistas-ana
A flama brilha
Silêncio da noite
Fascínio da mariposa
CassMarie
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!