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[Tunísia] “Os desfavorecidos devem viver… os desfavorecidos devem governar”

By A.N.A. on 22 de Agosto de 2013

As experiências de autogestão e autogoverno que se viveram em muitos lugares na Tunísia – desde a queda de Ben Ali à consolidação parcial do aparelho do Estado através da convocatória de eleições para uma assembleia constituinte – continuam vivas nos setores e regiões mais combativos da rebelião tunisina.

Foram meses com localidades e províncias geridas pelos conselhos locais e regionais, muitos deles com base em assembleias. Foram meses em que a ocupação da Kasbah (Praça onde se situa a residência do primeiro-ministro), especialmente a 1ª e 2ª, refletiam um espaço concreto e real em que expressava a rebelião popular, sem intermediários ou representantes. Foram meses em que se sucediam uns e outros governos provisórios, à medida que iam sendo derrubados pelas ondas de rebelião.

As recentes ocupações de edifícios da administração, especialmente na província de Sidi Bouzid, mostram que essas experiências recentes ainda estão vivas na Tunísia. O crescente desagrado pelas lutas de poder dos partidos políticos, pela sua incompetência para resolver os problemas sociais e econômicos da população, criam um contexto favorável ao desenvolvimento de organizações libertárias e, o que é mais importante ainda, à expansão das ideias libertárias tais como autogestão, autonomia municipal, a defesa do comum, a rejeição da política partidária… A seguir, comunicado lançado pelo coletivo libertário tunisiano “Movimento Desobediência“.

“Os desfavorecidos devem viver… os desfavorecidos devem governar”

O povo tunisiano e os jovens da revolução vivem – a partir da suspensão da 2ª ocupação da Kasba – sob a batuta da dominação de uma classe política sedenta de poder, vivendo do sangue dos pobres e marginalizados, apropriando-se da riqueza dessas regiões, ignorando os seus habitantes; devido a isto as pessoas continuam a sofrer a deterioração do seu nível de vida, na contingência do desemprego e da pobreza.

Esta situação coincide com o surgimento de uma corrente fascista, o que levou já ao assassinato de dois ativistas políticos, Chokri Belaid e Mohamed Brahmi, estando esta lista, cada vez mais, em aberto.

A ditadura capitalista – que recuperou o fôlego com o estabelecimento do Supremo Tribunal de Bem Achour e com as eleições de 23 de outubro até à investidura da Assembleia Constituinte com a sua maioria, a sua oposição e todas as instâncias que daí saíram – é responsável pela deterioração da situação econômica e social e pela deterioração da situação em termos de segurança, com a continuação do terrorismo e dos assassinatos.

As diferentes regiões do país viveram, nos últimos dias, uma mobilização popular em larga escala coroada com a ocupação de alguns locais da administração, nas regiões do interior; este passo revolucionário, embora simbólico, requer que estas regiões reivindiquem o seu direito à gestão dos seus assuntos correntes e recursos e se defendam contra todas as tentativas de desvio e recuperação dos componentes do panorama político e militar, ávidos de poder.

A iniciativa, dos levantamentos populares, de pôr em ação conselhos locais e regionais, deve ser materializada e prioritária, na gestão dos assuntos públicos, tendo em vista:

• A criação de conselhos de gestão e administração dos assuntos públicos e de autogestão dos recursos e da riqueza a nível de municípios, vilas, zonas rurais, fábricas, fazendas e comunidades, tendo direito às assembleias e tomadas de decisão.

• A criação de conselhos regionais (a nível das províncias) que gerencie os assuntos regionais e assegure a coordenação regional da tomada de decisões.

• A criação de um Conselho Nacional geral – composto por mandato de várias delegações – que desenvolva as bases para um programa de desenvolvimento e dos princípios gerais da vida cotidiana dos tunisianos e de órgãos executivos que assegurem o cumprimento e seguimento das decisões do Conselho.

Apresentamos aqui estas propostas às forças militantes, sobre o começo da queda do regime e para garantir a soberania na tomada de decisões, romper com a pobreza, a espoliação, a exclusão regional, a violência e o terrorismo, com direito a defender-se contra todas as tentativas de desvio que se incubam no submundo, nos quartéis generais dos partidos políticos e nas embaixadas estrangeiras com pretextos, como a ajuda, a unidade nacional, a transição democrática e que são realmente apenas compromissos para se apropriarem da revolução e da riqueza do país.

Harraket A’ssyan – Mouvement Désobéissance – Movimento Desobediência

Terça-feira, 30 de julho de 2013

Tradução > Liberdade à Solta

Notícia relacionada:
http://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2013/07/08/documentario-sobre-o-movimento-anarquista-na-tunisia/

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o bambual farfalhando
nos ermos da mata.

Áurea de Arruda Féres

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