[Grécia] A greve na Universidade do Egeu

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Todos os dias de setembro, um grupo de professores e funcionários postam-se com faixas nas escadarias da Universidade do Egeu, em Mitilini, reivindicando o fim dos cortes no orçamento público e investimentos nas Universidades Públicas e na educação em geral, na contramão das medidas de austeridades preconizadas pela União Europeia, que definem cortes na educação, na saúde e nos direitos sociais.

A greve ou paralisação durará mais 5 dias.

Apesar das faixas e da manifestação pacífica de professores e funcionários, pouca ou quase nenhuma ação mais contundente foi definida pelos organizadores da mobilização, daí não haver resposta governamental e, socialmente, a greve passar despercebida – com o silêncio providencial da mídia local e nacional e a quase nenhuma influência sobre os estudantes, a comunidade acadêmica e a população de Mitilini e, possivelmente, das ilhas onde a Universidade de Egeu tem suas sedes.

Estão previstas assembleias ou reuniões, no final desses 5 dias, para avaliar o movimento.

O certo é que a avaliação pode ser positiva no sentido de que a maioria absoluta de professores e funcionários está paralisada, ao menos em Mitilini, afora o grupo de funcionários e professores ligados ao Erasmus, compromissados com estudantes que vem de outros países para estudar na Grécia. No entanto, apesar dessa grande mobilização, o movimento está fechado em si mesmo e não consegue influir e ganhar apoio social de forma combativa, e pode se enfraquecer e ter repercussão negativa para as próximas mobilizações, já que a direção conciliadora do movimento o mantém detrás dos muros da Universidade, sem alcance social e, com isso, facilita a ação governamental, que obviamente prefere calar-se, não manifestar-se, já que o movimento não perturba, senão o próprio funcionamento da Universidade.

Os movimentos dos professores no Brasil também cometem o mesmo erro: se isolam e acabam sendo corporativos demais para terem a solidariedade de classe, pois não se inserem nas lutas sociais cotidianas como mais um polo vinculado, de maneira clara, à todas as lutas dos trabalhadores e explorados. O preço que pagam é o isolamento. A opção por um movimento dentro dos marcos da legalidade, “civilizado”, facilita a inoperância governamental e, no limite, o faz ‘prometer’ mais verbas para a educação ou acaba por produzir uma negociação específica, descolada da realidade das lutas sociais, como aconteceu, por exemplo, em Portugal. Lá, depois de mais de 1 milhão de pessoas nas ruas nos meses de setembro e outubro do ano passado contra os cortes no orçamento social português, sem nenhuma participação da universidade, e na esteira da repercussão das lutas sociais, uma reunião de professores e reitores definiu uma carta contra o governo; no entanto, antes da próxima reunião que votaria a carta, o governo entrou em negociação com os professores e reitores prometendo cortes menores na Educação. Garantido, ao menos na promessa, parte das reivindicações da corporação educacional, as universidades portuguesas rasgaram a carta, esqueceram as mobilizações e voltaram para sua calada letargia, como se a pobreza e o desemprego em Portugal não fossem um problema de todos os portugueses, visto que os cortes nas aposentadorias e pensões foram mantidos pelo governo de Cavaco Silva e Passos Coelho.

Essa é uma visão parcial produzida por um discurso programado e aferido pelo Estado e pelos partidos da ordem, que não se cansam de repetir que é da educação que vem a grande revolução – ou seja, a revolução não é um processo sociocultural onde as pessoas se envolvem em um processo de luta visceral anticapitalista por um mundo melhor, mas se dá através do processo educacional, paulatinamente. Tal discurso tem a função de evitar processos candentes, na medida em que o processo educacional nunca termina e a revolução, dessa forma, nunca acontece. Por outro lado, a função da educação hoje é de formação de mão de obra especializada e precária, de inserção social fictícia, como se um diploma levasse o individuo para a classe superior, ou lhe desse imediatamente tal possibilidade. O discurso de ascensão social através dos meios de mercado, da competência e da meritocracia está por detrás dessa avaliação que faz com que professores se comportem de maneira “civilizada” e compartimentada, à parte da maioria dos movimentos sociais, principalmente os professores das Universidades, e isso se dá em todo o mundo, penso. No entanto, o movimento sindical, mesmo no ensino fundamental, tende a proliferar a posição de que sem professor não há revolução, não há progresso e acaba por condenar o governo por mandar as forças policiais reprimirem e baterem em professores, por exemplo. Imagine, bater em professores, colocar tropas de choque para conter manifestação pacífica de professores, que absurdo! Tal posição implica, de forma enviesada, admitir que outros movimentos menos qualificados possam ser castigados pela repressão. Uma lógica leva à outra.

Os professores das universidades públicas gregas e seus sindicatos repetem o coro e se comportam de forma compartimentada e “civilizada”. Talvez não tenham mesmo a intenção de lutar até as últimas consequências, mas por outro lado, podem estar infectados pelo vírus da civilidade que atingiu todo o movimento sindical e o transformou em um movimento da ordem, pela ordem e para a ordem capitalista e do Estado.

Está claro que nem todos os professores pensam assim, mas ainda é uma minoria. Denunciar essa postura elitista e corporativa é função dos anarquistas e libertários que ao mesmo tempo em que percebem a importância dos trabalhadores da educação no processo de transformação social, indicam claramente que a luta corporativa só tem um fim: a reposição capitalista do salário e a divisão das classes trabalhadoras e assim, se afastando da transformação social e se aproximando da defesa da ordem, mesmo que assim não se percebam. De forma que, ao mesmo tempo em que apoiamos todo e qualquer movimento reivindicativo, inclusive salarial, dos trabalhadores em suas lutas pela transformação social, não podemos deixar de lhes fazer a crítica quando seus movimentos se afastam do conjunto das lutas e se transformam em uma luta isolada, cujo único vencedor é o governo, o Estado e sua ideologia liberal capitalista e, no fundo, aqui na Grécia, quem sai ganhando é a União Europeia, que impõe as medidas atacadas pelo movimento.

Clayton Emanuel Rodrigues

Terça-feira, 24 de setembro de 2013, Mitilini, Ilha de Lesbos, Grécia.

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