[“An Anarchist Life” (Uma Vida Anarquista), um filme de Ivan Bormann, Fabio Toich, produzido pelo Collective Pictures. Com Ascanio Celestini, Daniele Tenze, Pino Cacucci, Simone Cristicchi. Documentário, produção Itália, 2014. Duração 71 min. Retrato pessoal que se torna público, reflexão sobre os valores da liberdade e de se pôr em dúvida qualquer certeza.]
O filme…
Conta a história de Umberto Tommasini, ferreiro anarquista, nascido em 1896 em Vivaro, Friuli, Reino da Itália. Depois que o padre Angelo deu um escândalo encontrando, em um dos dois cômodos da casa da família, uma biblioteca social, Umberto se transfere para Trieste, participa das manifestações na praça para o reencontrarmos, rapidamente, em Caporetto (lugar onde a Itália perdeu importante batalha para a Áustria, em 1917, durante a Primeira Guerra Mundial). Acaba em um campo de confinamento, onde conhece Gramsci e Bordiga, exilado, vai parar em Paris para depois deslocar-se para a Espanha e ficar ao lado do povo revoltoso contra o golpe fascista de Franco. Apesar de ter mais de setenta anos, com o reflorescer do novo movimento libertário de 68, funda junto a alguns veteranos o Grupo Anarquista Germinal.
Organizado por Claudio Venza e Clara Germani, o livro “L’anarchico triestino” (O anarquista de Trieste) é o ponto de partida desse documentário, apaixonado e vigoroso, sobre uma vida aventurosa e frequentemente épica, conduzida em estreito contato com as mais importantes lutas sociais do século XX, da Primeira Guerra até o 68. Se o livro foi construído como uma narrativa em primeira pessoa feita por Umberto a um grupo de rapazes, An Anarchist Life escolhe uma abordagem mais diferenciada, misturando pontos de vista, materiais e linguagens diferentes.
Com uma filmagem própria, os dois diretores – Ivan Bormann e Fabio Troich, este também o montador – partem da ideia de um almoço comemorativo na velha casa de Vivaro, do qual participam amigos, históricos e familiares, para depois dar vida a toda a história mediante um mix heterogêneo em que o rotoscópio (dispositivo que permite aos animadores redesenhar quadros de filmagens para ser usado em animação) se mistura às fotografias, aos filmes de época, às entrevistas. Sobre o fundo de muros nos quais aparecem escritos da movimentação proletária de cem anos atrás, Ascanio Celestini, Pino Cacucci e Simone Cristicchi leem passagens da autobiografia de Tommasini, uma solução de mise-en-scène que pelo menos se aproxima de um tipo de abordagem retórica, ausente no resto do filme.
Retrato pessoal que se torna público, reflexão sobre os valores da liberdade e sobre o colocar em dúvida qualquer tipo de certeza, o filme acerta no equilíbrio exato entre difusão ideológica e gosto por uma narrativa que não quer convencer o espectador de nada. Reside aqui sua força e o seu sucesso, também sem incorrer em uma quantidade desnecessária de cortes que teria, certamente, lhe dado um ritmo mais global, e de uma trilha sonora justamente vibrante, mas também um pouco invasiva. A voz da narrativa é de Anita Kravos, ótima escolha.
Mais informações, trailer:
Tradução > Carlo Romani
agência de notícias anarquistas-ana
cada haikai
uma nova peça
num quebra-cabeça sem fim
George Swede
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!