[Comunicado de denúncia da Iniciativa Anarcosindicalista Rocinante, escrito em razão da orgia repressiva da Polícia grega na manifestação de 17 de novembro, realizada segundo um plano premeditado e organizado.]
“Loucura pode ser abandonar nossos sonhos (…) E a maior loucura de todas, é ver a vida tal como é e não como deveria ser (…) Mudar o mundo, amigo Sancho, não é uma loucura, nem utopia, senão justiça!”
Don Quijote de Miguel de Cervantes (1605 – 1615)
O Estado grego, cumprindo com suas piores tradições, na tarde de segunda-feira, 17 de novembro, quis ter mais um morto. O ataque criminoso, assassino, injustificado e premeditado ao bloco da Iniciativa Anarcosindicalista Rocinante, recordou dias de 1980 e de 1985, e foi um logro dos manifestantes evitar o pior, só graças a sua atitude sensata, determinante e valente. O mesmo é válido para a presença noturna da Polícia na praça do bairro de Exarchia, onde com sua prática habitual, a de um exército de ocupação, ameaçava aos moradores e aos transeuntes, maltratou a uma mulher jornalista, pegou um colega seu que protestou (como resultado de tudo isso os dois foram transferidos a um hospital), e destroçou uma banca de jornal.
De nossa parte, tivemos a sorte de confirmar as intenções da Polícia desde o começo. Já desde o início da manifestação, sem nenhum motivo em absoluto, nosso bloco foi rodeado por esquadrões da chamada Polícia antidistúrbios e por vários dos seus aliados, que impediam de uma maneira provocativa e sistemática a tarefa de nossa equipe de salvaguarda, a qual era forte e organizada. Próximo do Parlamento, segundo nos informaram testemunhas oculares e de ouvido, quando o líder do esquadrão que estava naquele local, o notório neonazi da Aurora Dourada Darío Lykiardópulos, informou a seu batalhão de assalto uniformizado que ”dobra a esquina a faixa da Rocinante, põe as máscaras e preparam-se”, a pressão em ambos os lados do bloco se voltou asfixiante.
Finalmente, a denominada Polícia antidistúrbios irrompeu contra nosso bloco de uma maneira totalmente injustificada (como se evidencia neste vídeo¹), um pouco antes da embaixada dos Estados Unidos, com uma fúria inconcebível, pegando às cegas com seus porretes, sobretudo aos e as jovens, disparando uma grande quantidade de granadas de efeito moral e uma inumerável quantidade de produtos químicos. O óbvio objetivo deste ataque policial era dissolver o bloco e espalhar o pânico, com o fim de aumentar a tensão e permitir à Polícia sustentar logo que sua brutalidade tinha como intenção “a restauração da ordem”, já que nem antes nem depois da repressão se notou o mínimo movimento agressivo por parte de nosso bloco.
Esta intenção miserável da Polícia grega fracassou estrepitosamente. Os companheiros e as companheiras que formavam o bloco da Iniciativa Anarcosindicalista Rocinante se reagruparam, com uma solidariedade, valentia e ajuda mútua, que os humanoides robocops que foram soltos pelo governo às ruas não poderiam prever.
Do ataque da denominada Polícia antidistúrbios, no entanto, várias pessoas resultaram feridas. Muitos companheiros do bloco e acabaram com graves lesões, e várias mulheres tiveram problemas respiratórios. Mencionamos tão só o exemplo ilustrativo do caso de uma estudante secundarista de 17 anos com asma, sobre a qual um policial “valente” esvaziou uma bomba inteira de gás lacrimogênio. Por causa dessa brutalidade foi transferida a um hospital, onde se submeteu a uma terapia respiratória com oxigênio.
A Polícia seguiu rodeando de uma maneira provocativa nosso bloco depois de sua reagrupação, até o final da marcha, na embaixada dos Estados Unidos, e depois dela durante toda a marcha do bloco da Rocinante até seus escritórios, os quais estiveram cercados pela Polícia durante algum tempo, proibindo nossa entrada neles. Quando finalmente conseguimos entrar em nossos escritórios, desatou um novo ataque injustificado com produtos químicos, impedindo a retirada dos manifestantes e cortando todas as ruas em torno da rota da marcha.
Não é nosso trabalho confirmar ou refutar a teoria, segundo a qual uns esquadrões das chamadas forças antidistúrbios se separaram da política de sua liderança política, se tornam independentes e atacam sem receber ordens de seus superiores. Sabemos de sobra, desde logo, que o líder do esquadrão, o neonazi membro do Aurora Dourada Lykiardópulos, faz ao menos dois anos que entrou em uma vingança pessoal com a Iniciativa Anarcosindicalista Rocinante, e entendemos muito bem as razões. Também, sabemos que o ministro de Polícia Kikilias declarou que “a polícia grega atuou apropriadamente”, justificando completamente as atrocidades de seus subordinados. Vimos também a estratégia da intensidade desenfreada sendo desenvolvida pelo governo, o Estado e a Polícia nos últimos dias, fora da Faculdade de Direito e da Escola Politécnica, onde estudantes universitários foram selvagemente atacados e impedidos de entrar no espaço em que estudam.
Fazemos saber que nossas cabeças são muito duras e não têm medo de seus lamentáveis porretes. Os valentões uniformizados do Estado e do Capital não retiveram o rio da vitalidade social no período de sua repressão mais feroz (2008-2012), e tampouco o farão agora que a sociedade volta a levantar a cabeça.
A repressão nos mostrou seus dentes, mas eles estão podres. Chamamos aos trabalhadores e as trabalhadoras, a todos os segmentos oprimidos da sociedade a continuar com mais vigor a luta contra a pobreza e a repressão, inspirados no novembro de 1973.
Que ninguém tenha a menor dúvida de que ao final nós vamos ganhar!
Quem semeia pobreza colhe raiva. Voltarão a nos encontrar nas ruas.
A Iniciativa Anarcosindicalista Rocinante organizará uma entrevista aberta no Centro Social da rua Tsamadú, 15, Exarchia, na terça-feira, 18 de novembro, às 13h, em razão da orgia repressiva da Polícia na manifestação de 17 de novembro de 2014.
[1] https://www.youtube.com/watch?v=yAjzVrl1Tws
O texto em grego:
http://rocinante.gr/index.php/to-kratos-mas-edixe-ta-dontia-tou-ine-sapia/
O texto em castelhano:
http://verba-volant.info/es/el-estado-nos-mostro-sus-dientes-estan-podridos/
Tradução > Sol de Abril
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agência de notícias anarquistas-ana
É anônimo o autor
Deste esplêndido poema
Sobre a primavera.
Shiki
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!