Ante a crise econômica, social, política e moral que hoje afeta a Venezuela, deixamos registrada a opinião e proposta dos participantes do El Libertario:
1) Rechaçamos a pretensão que existe, tanto em setores do chavismo como da oposição, quanto a que os militares sejam os atores da resolução da crise, ou em confiar para isso em um líder messiânico surgido das filas castrenses. Nós anarquistas, como antimilitaristas consequentes, temos condenado e condenaremos toda quartelada, seja com o tradicional uso de tanques nas ruas e obesos uniformizados no palácio presidencial, ou com o estilo S. XXI que se dissimula através de subterfúgios constitucionais e renúncias “sem querer querendo”. É uma ficção que os quadros militares altos e médios, hoje oportunistamente “socialistas”, fiadores do contrabando de gasolina e alimentos em grande escala, beneficiários do aceso a dólares a preços preferenciais e do tráfico de minerais estratégicos e drogas, tenham alguma virtude para conduzir o país, via autogolpe, a melhor situação para a maioria. Seria como o “fujimorazo” peruano, um motim tipo Bordaberry no Uruguai ou a deposição de Isabelita e López Rega na Argentina dos anos 70, que em nada mudaria a situação do país.
2) Repudiamos o pacote econômico em marcha, promovido por Nicolás Maduro e Diosdado Cabello, o qual descarrega o custo da crise nas costas da coletividade. Enquanto há impunidade para os traficantes da boliburguesia que receberam mais de 20.000 milhões de dólares para empresas fantasmas, nós assalariados somos castigados com escassez e hiperinflação em alimentos e medicamentos, a deterioração brutal dos serviços básicos e a imposição de tributos neoliberais como o Imposto ao Valor Agregado.
3) Condenamos com energia que hoje padeçamos a criação de um Estado policial, sustentado em uma estrutura jurídica autoritária, com o pretexto da guerra econômica e midiática, mas que a curto, medio e longo prazo será usado para reprimir as lutas e protestos coletivos. Este Estado policial se expressa em: o Sistema Popular de Proteção para a Paz, uma lei que força a cidadania a converter-se em “patriotas cooperantes” (eufemismo para denominar a informantes e delatores); nas zonas de segurança onde se proíbe o direito a greve e a manifestação; nos “corpos de combatentes”; nos Batalhões Hugo Chávez; na Resolução N° 8.610 de Min-Defesa; e no uso de grupos paramilitares contra a população. A jurisprudência do Tribunal Supremo de Justiça estabeleceu que a possibilidade de manifestar publicamente, depende da autorização governamental e não se concebe como direito.
4) Reprovamos absolutamente os negócios da hierarquia “bolivariana” com o capital transnacional mediante a criação de empresas mistas e a aprovação das chamadas Zonas Econômicas Especiais, territórios colonizados para as montadoras e inversão dos imperialismos russo e chinês com todas as garantias. Assim mesmo assinalamos o processo de legitimação de capitais da boliburguesia que, ante a possibilidade de perder a hegemonia política, hoje realiza fabulosas inversões secretas, como a aquisição de meios de difusão massiva, bens de raíz e clubes esportivos, por não falar de seus esconderijos em paraísos financeiros como Suíça, Panamá e algumas ilhas do Caribe.
5) Denunciamos a existência da hegemonia das comunicações estatal após a aquisição de meios de comunicação privados por parte de testa de ferros anônimos que atuam como emissários de boliburgueses e militares no poder. Os principais afetados não são a oposição político partidária, que conta com acesso à internet e a meios internacionais, senão os setores populares em luta.
6) Qualificamos a oposição político partidária do país como falsa alternativa, herdeiros das exclusões e injustiças do passado, negociadores dos princípios que dizem defender e portadores de um projeto populista e desenvolvimentista petroleiro, que pouco se diferencia do chavo-madurismo. Basta revisar o programa petroleiro de Leopoldo López para entendê-lo como o mesmo rentismo e extrativismo. Enquanto à MUD, seu quase total silêncio sobre estes temas é eloquente, enquanto a que não pretendem nada muito diferente ao que há. Neste ano eleitoral, prometeram vilas e castelos, ante o qual insistimos em que só merecem desprezo e abstenção.
Como ativistas antiautoritári@s trabalharemos pela aprofundação da crise de representatividade dos diferentes partidos políticos, tanto o PSUV como a MUD e seus derivados, abordando as lutas de rua como via para a recuperação do espaço público, a autonomia e ação direta, impulsionando a expansão de todas as práticas de solidariedade e apoio mútuo, fora e contra o controle dos políticos. Promoveremos iniciativas de economia cooperativa e autogestão, como resposta imediata à crise, assim como experimentos para o exercício da democracia direta e assembleária. Participaremos em plataformas colaborativas de comunicação e em redes sociais onde se exerça a liberdade de opinião e informação, respaldando as lutas das pessoas contra os poderes autoritários estabelecidos.
Finalmente, chamamos a lutar contra este modelo político e econômico, enfermo em todos os seus aspectos, de corrupção, autoritarismo e militarismo.
Coletivo Editor do El Libertario – 1° de fevereiro de 2015
periodicoellibertario.blogspot.com.es
Tradução > Sol de Abril
agência de notícias anarquistas-ana
Tendo a ser, mas pouco:
resta ainda um tempo
que me espera e reclama.
Thiago de Mello
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!