Texto de Dinos Palestidis, membro da União Sindical Libertária de Atenas. O texto nos foi enviado por correio eletrônico.
Os anteriores nos usurparam até a menor parte. Os de agora nos prometem pouco. Não pedimos muito. Queremos tudo… e queremos agora.
Vários dias depois das eleições do dia 25 de janeiro de 2015 e da formação do novo governo de Alexis Tsipras, em um bairro do norte de Atenas, o diretor de um dos estabelecimentos de uma conhecida rede de vendas de eletrodomésticos chamou aos trabalhadores para conversar. Nestes dias, os recém-nomeados ministros anunciavam as medidas que o novo governo pensa em tomar no futuro imediato para satisfazer as reivindicações que nos últimos anos o movimento operário sindical tem pautado.
O diretor disse aos trabalhadores: “Ouviram falar que vão aprovar uma lei segunda a qual as lojas não mais abrirão no domingo”. E continuou: “Também ouviram falar que vão aprovar uma lei que estabelecerá o salário mínimo novamente para 751 euros. Quando isso acontecer, vocês irão assinar que receberam 751 euros, mas seguirão recebendo o que cobraram agora”. “Se te atreveres a fazer isso, iremos recorrer a Inspeção do Trabalho”, contestaram os trabalhadores. O diretor se retirou da reunião visivelmente irritado e se fechou durante horas em seu escritório.
Este acontecimento é digno de levar em consideração, especialmente se pensarmos que nos centros de trabalho nos últimos anos o que impera é o medo e a submissão. Impera o medo por causa da intimidação empresarial e as ameaças dos diretores, propiciadas pela política levada a cabo pelos governos anteriores, claramente favoráveis aos memorandum. O acontecimento também é revelador de um clima psicológico que se criou entre os trabalhadores após a vitória do Syriza. Um clima de alívio e alegria (“enfim se foram”), a esperança de que as coisas começam a mudar para melhor. Desgraçadamente, predominam o realismo e as expectativas baixas (“tomara que façam, apesar de ser só a metade do que prometeram”). Expectativas cultivadas de forma muito engenhosa pelos próprios quadros do Syriza.
O processo de debate das declarações programáticas do governo no Parlamento levou o povo inteiro a ficar em frente à televisão. Durante vários dias, as pessoas viam os discursos lançados desde a tribuna do Parlamento e os debates políticos dos grandes canais de TV. Durante dias, no trabalho, não se falava nada, além disso, entre os companheiros. Apesar de que os mandatários governamentais viajavam pela Europa e se reuniam com os representantes da União Europeia, se avivavam as discussões sobre política em todas as partes. O governo se apressava em criar um perfil de negociador duro diante dos europeus e o povo sentia que suas esperanças se veriam cumpridas.
Uma consequência deste clima psicológico são as massivas concentrações organizadas no centro de Atenas e em muitas outras cidades nos dias que se realizaram as reuniões decisivas com os europeus. Estas concentrações foram organizadas através das redes sociais. Milhares de pessoas se somaram a elas para apoiar ao governo, o primeiro governo que por fim negocia armado de valor com os estrangeiros, tal como acreditam as pessoas. Nestas concentrações participaram muitas pessoas para além dos que votam no Syriza, incluindo eleitores de direita. Não se trata somente de concentrações de apoio, mas também de uma forma de pressão. Concentrações que expressam uma exigência: que o governo não dê marcha ré quando se trata da dívida. O governo tenta chegar a um acordo com os credores. Um compromisso que banharam de ouro para que o povo aceitasse. As concentrações massivas constituem um obstáculo para eles em sua intenção.
Todos nós que acreditamos e lutamos através das ideias do sindicalismo combativo e auto-organizado temos que levar em consideração a disposição mostrada pelos trabalhadores e atuar de forma que esta disposição vá se transformando em uma atitude cada vez mais reivindicativa. É preciso manter-se distante da lógica de anulação das massas (“nada vai mudar porque votaram no Syriza”, “os estão enganado a eles próprios”, etc.). As forças combativas do movimento operário devem se esforçar para transformar a esperança que as pessoas sentem em mobilização ativa e de luta. “Vamos agora mesmo reivindicar o que é nosso para a empresa. Vamos dizer a eles que se não sabem que as coisas mudaram, precisam entender este fato imediatamente. As coisas não vão seguir como estão…”. “Vamos ao Ministério demandar uma solução para o nosso problema… Não podemos esperar, não podemos ficar de braços cruzados, os problemas são muitos e são graves”. É imprescindível encontrar-nos com as pessoas, com os trabalhadores, e não confrontar com ar de grandeza e superioridade para depois dizer: “Nós os avisamos… estavam enganando a si mesmos”. Esta é, desgraçadamente, a atitude do PAME [Frente Militante de Todos os Trabalhadores] e do KKE [Partido Comunista da Grécia], assim como parte da esquerda extraparlamentar e do movimento anarquista e antiautoritário.
Chegou o momento de lutar para que os sindicatos se convertam de novo em polos de atração. O momento de contra-atacar. Para recuperar tudo o que nos tiraram nestes últimos cinco anos (com o memorandum) e conquistar muito mais, conquistar tudo o que nos pertence.
Os ministros já começaram a temer. Nos dizem que as reivindicações dos movimentos sociais e sindicais, que eram promessas do Syriza, vão se satisfazer gradualmente. Por exemplo, o salário mínimo de 751 euros será aplicado progressivamente a partir do ano de 2016. Os altos cargos governamentais querem, com suas declarações, alegrar empresários e trabalhadores. Isso não pode ocorrer e não podemos permitir que ocorra. Na prática, isso significa satisfazer as demandas patronais nas costas das necessidades dos trabalhadores. O lema de nossas lutas “Os interesses operários antes de tudo” é mais válido do que nunca.
No 5 de abril, os trabalhadores do setor do comércio foram chamados para trabalhar, como estabelecido por lei no governo anterior. O governo Syriza já solucionou então a questão? Os trabalhadores não aceitaram ir ao trabalho outra vez no domingo. Reagiram. Responderam com greve e protesto. A Coordenadora contra a abolição do domingo como dia festivo bate a porta.
Já começaram a desenvolver-se, por parte dos sindicatos de base, coletivos de trabalhadores e assembleias de grevistas, uma campanha que reivindica um subsídio de greve para todos os e as grevistas, sem condições, e durante todo o tempo que o trabalhador estiver paralisado. De forma paralela, continuam as ações e campanhas por um transporte público e gratuito para os desempregados. O que o governo vai fazer diante disso? E quando fará? Os grevistas não podem esperar.
Em setores como hostelaria, comércio, o mundo editorial e dos livros, entre muitos outros, os sindicatos continuam com suas lutas contra as demissões, conta a falta de pagamento e contra os abusos patronais. O governo vai legislar a favor dos trabalhadores? Quando? Os mecanismos de controle do Estado se posicionaram a favor dos trabalhadores? Quando? Os ministros talvez não compreendam a gravidade dos problemas. Os trabalhadores, em troca, não podem mais esperar.
A União Sindical Libertária (ESE), os sindicatos de base e os coletivos e agrupações do sindicalismo de classe lutarão unidos nas mobilizações que surgem com as inquietudes, as esperanças e as reivindicações dos trabalhadores, esforçando-se para expressar tanto suas necessidades atuais como uma perspectiva operária de longo prazo.
Dinos Palestidis, membro do ESE Atenas
O texto em grego:
O texto em castelhano:
http://verba-volant.info/es/lo-queremos-todo-y-lo-queremos-ahora/
Tradução > Yanumaka
agência de notícias anarquistas-ana
estrada poeirenta
de verão
figueiras enfarinhadas
Rogério Martins
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!