A 30 anos do assassinato de Eduardo e Rafael
Nascemos na Democracia
Hoje completa 30 anos desde o assassinato de meus tios, Eduardo e Rafael, nas mãos dos pacos [policiais] Alex Ambler, Francisco Toledo, Jorge Marín e Marcelo Muñoz. Não temos certeza de que cumprem ou não condenação no cárcere.
Lamento não tê-los conhecido para aprender com sua sabedoria. Minha família me ensinou sobre eles e quanto eram valiosos para a gente. Seu inimigo era claro: A ditadura de Pinochet, mas antes de tudo, eram seus anseios, sonhos e aspirações o que os movia, seus corações. A comunidade cristã e a UP lhes mostraram uma possibilidade de viver em solidariedade, apoiando-se mutuamente, trabalhando todxs para e por todxs, com carinho e amizade. Mas sabiam que havia os que viam no território chileno e seus habitantes escravos e riquezas para explorar, por isso não seria fácil derrotar a tal inimigo. Era preciso armar o povo. Então se tornaram membros do partido marxista/leninista MIR, Movimento de Esquerda Revolucionária, organizando a guerrilha contra os milicos e após fazer o “Poder Popular”, e através das milícias defender-se e ganhar territórios.
Os poderosos, através de seus aparatos de inteligência, forças armadas e polícias, derrotaram os grupos guerrilheiros, sendo sua arma mais eficaz “a infiltração”, os informantes, os sapos, a tortura, a morte e os desaparecimentos; conseguindo desarticular desde dentro suas estruturas. Ganharam a guerra. Deixando a passagem livre a humanos ambiciosos, avarentos, cobiçosos, para fazer e desfazer com a terra, e sua gente; aos mesmos que transformaram o planeta em um lugar enfermo, cheio de prisões, manicômios, contaminação, desequilíbrio e materialidade.
A ditadura no fim das contas foi “o quarto 101” de Orwell; uma doutrina de dor e sofrimento para implantar à força a ideia de consumo, dependência dos bens materiais que os mesmos doutrinários nos vendem. Assim mesmo as mulheres mães na lógica do salve-se quem puder, se vêem obrigadas a recorrer aos homens, quando não há uma comunidade que disponha a criar, gerando também aí, um laço de interesse no qual o homem espera “algo” dela. Relações de poder e autoridade: empresário/trabalhador, estado/indivíduo, grupo econômico/sociedade.
Hoje buscamos romper essas relações de dependência, porque descobrimos que o inimigo destes tempos está dentro de nós; quando reconhecemos autoridades, direitos, gêneros, leis, patrões, dependências; quando nos esquecemos de nossos antepassados, e do planeta em que habitamos; quando contribuímos com a exploração das pessoas, dos animais, da terra, da água; quando ficamos de braços cruzados na comodidade da segurança que brinda o progresso; quando o ego também nos ganha e perdemos de vista “nosso norte”… TEMOS NORTE? , ou um objetivo, já seja com gente, para algum território ou de sabotagem à maquinaria que destrói a vida?; quando vemos que somos nós, xs únicxs capazes de acabar com a exploração, porque sem nós não há riqueza.
Hoje os meios de comunicação e publicidade são ferramentas que conseguiram pôr o consumo sobre a vida; os valores da solidariedade, apoio mútuo, trabalho de todxs para e por todxs, amizade, entrega estão em extinção. A massa se expande como uma praga e traga tudo o que lhe derem. Hoje nossa tarefa é erradicar as relações de poder, e viver aqui e agora a liberdade nelas. Essa é a forma, o meio e o fim. Assim e só assim se reproduz a liberdade de ser indivíduos com vontade própria, desde nós começa então o tecido do carinho e a amizade sem domínio. Assim como o recebi de minha família e amigxs.
Um abraço a todxs xs que estiveram próximos de alguma maneira. Vocês me mantêm firme.
CUIDEM-SE.
Não percamos de vista que somos gente da terra e não necessitamos mais do que ela nos dá.
Desde San Miguel, de um módulo de extrema vigilância. Os ama.
Tamara Sol – Tamara Sol Maki
Insurreto Chile.
Tradução > Sol de Abril
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