Volto da República Dominicana onde participei como observador da IFA (Internacional de Federações Anarquistas) e representante dos GALSIC (Grupos de Apoio aos Libertários e aos Sindicalistas Independentes de Cuba) no primeiro congresso para a formação da Federação Anarquista Centroamericana e do Caribe (FACC), na cidade de Santiago de los Caballeros, nos dias 21 e 22 de março. Proporcionarei algumas informações sobre o desenvolvimento do congresso.
Só um companheiro do “Taller de La Habana” pode participar no congresso. As autoridades dominicanas não proporcionaram a tempo o visto que permitiria aos outros dois companheiros participar no congresso. A dupla nacionalidade cubano-russa do companheiro de Havana que pode estar a nosso lado, lhe permitiu evitar certos obstáculos e obter o visto a tempo. Uma grande surpresa me esperava na minha chegada a Santo Domingo, a presença de Frank Fernández, velho companheiro do exílio cubano, autor do livro “El anarquismo en Cuba”, que com seus 84 anos e vindo desde Miami, esteve presente neste congresso. Foi muito emocionante ver duas gerações libertárias cubanas, a do exílio e a de hoje, encontrar-se cara a cara, quando jamais antes haviam podido se juntar.
O grupo Kiskeya Libertária estava presente com seus nove militantes (três companheiras e seis companheiros) procedentes das cidades de Santo Domingo e Santiago de los Caballeros.
Os outros participantes eram: um representante da Frente de Estudantes Libertários de El Salvador, um representante do Movimento Libertário de Porto Rico e uma militante libertária da ilha de Bonaire. Entre os observadores se encontravam: três militantes da “Black Rose Federation” dos Estados Unidos (Los Ángeles e Miami) que fazem parte da rede Anarkismo (plataformista), um militante de um grupo anarquista de Porto Rico e os simpatizantes do grupo Kiskeya Libertária.
O congresso foi celebrado na Casa das Mulheres de Santiago de los Caballeros. Esteve a ponto de não realizar-se porque uma das responsáveis da Casa (marxista autoritária) pediu à polícia e aos serviços de informação do Estado dominicano que procedessem a nossa expulsão. Ante nosso rechaço a abandonar os locais e graças à presença de um jornalista como testemunha, pudemos celebrar nosso congresso. A sala havia sido alugada adequadamente alguns dias antes. É preciso lembrar que na lei dominicana subsiste a proibição (herança do século passado) de que os anarquistas estrangeiros entrem no território dominicano.
Foram lidas numerosas mensagens de solidariedade procedentes de grupos e organizações libertárias continentais (México, Costa Rica, Venezuela, Honduras, Colômbia, Uruguai, Argentina, Chile, etc.).
Este congresso deu a nossos companheiros cubanos a possibilidade de romper seu isolamento. Sendo enormes suas dificuldades para comunicar-se com o exterior, pela censura permanente e por uma internet sob o controle do Estado, a criação de uma rede de solidariedade é muito importante para eles.
No próximo ano, acontecerá o segundo congresso da Federação. Aos companheiros da Costa Rica será pedido que organizem o evento. Foi escolhido esse lugar por razões geográficas, já que será mais fácil para os grupos e as organizações do continente deslocar-se a outro país por terra. O ônibus é menos caro que o avião. O alto preço da passagem de avião explica por que poucas delegações se deslocaram para a República Dominicana.
No conjunto, o congresso desenvolveu-se em um ambiente muito fraternal: humor, sorrisos e brincadeiras; o anarquismo tropical ajuda. A organização de nossos companheiros da Kiskeya Libertária era perfeita. Sala de congresso bem preparada com telão para projeções, material em muito bom estado, comidas com abundância de alimentos e de excelente qualidade (pratos tipicamente dominicanos), tardes de festa (bachata, merengue, hard rock, canção de protesto) permitiram que nos conhecêssemos melhor.
A petição dos participantes, dei algumas informações sobre a estrutura e o funcionamento da Federação Anarquista (francófona), sobre sua implantação, sobre a intervenção de seus militantes e sobre as realizações de nossa organização. Como representante da IFA, fui estupendamente acolhido, também por causa da minha proximidade com os cubanos. Temos muito boas perspectivas de desenvolvimento, os cubanos e os dominicanos estão muito dispostos para a IFA, na medida em que desempenham um papel de motor, creio que durante o processo de consolidação que levará ao próximo congresso é possível que a nova Federação adira à IFA.
Daniel Pinós
Fonte: Tierra y Libertad Nº 321 – Abril de 2015 – Periódico da Federação Anarquista Ibérica (FAI)
Tradução > Sol de Abril
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