Publicamos um texto do recém-fundado grupo anarquista Galean@s sobre a conjuntura atual, publicado em sua pagina web.
Depois da revolta de dezembro de 2008 alguns que tinham falsas ilusões sobre o caráter espontâneo da subversão do Estado, das estruturas de Poder e do capitalismo sem uma organização especial e através de individualidades insurgentes e grupos pequenos que atuam no vórtice dos acontecimentos de cada conjuntura, aperceberam-se de que isto não é possível. Isto é, se fez clara a incapacidade (deficiência) a nível prático da transmissão de pensamento e do alento do ideal revolucionário. Pareceu impossível que os indivíduos, os grupos e inclusive os partidos poderiam aproveitar-se do vazio de Poder, chegar a ser parte de alguma solução proposta a sociedade, comunicar e expressar uma linha comum (ao menos um componente comum), uma tática, alguns objetivos. O pluralismo e a confusão, assim como as estimativas sobre a disponibilidade e a massividade das ações, mostraram os limites do movimento (anticapitalista, antiestatal, antiautoritário, inclusive antigovernamental). Em última instância, através de uma revolta se teve a oportunidade histórica de que os sujeitos políticos que atuaram nela conseguissem conquistas para toda a sociedade, entretanto, faltou o meio para o estabelecimento (consolidação) de tais conquistas. Poucas foram as conquistas, em oposição a um contra-ataque generalizado do Estado, realizado posteriormente à revolta (contra ocupações mais velhas e novas, contra as benefícios sociais, etc.) que dotaram o regime burgues e sua ordem de um domínio ainda maior.
Cinco anos depois, sendo ainda espectadores de uma variedade de movimentos, rebeliões e levantes (derrocadas-subversões) desde o norte da África e do Oriente Médio, até à vizinha Turquia, estamos observando a derrocada (subversão) parcial ou total do Poder por massas não organizadas, compostas por pessoas díspares. Não obstante, tal como se estão realizando, não só não se criam as condições para a transformação social, pelo contrário, é dada a oportunidade a forças ainda mais totalitárias que as derrubadas de aproveitarem-se dos vazios de Poder, precisamente porque não existe nenhuma organização nem os meios para que os oprimidos estabeleçam (consolidem) em comum algumas conquistas em benefício dos de abaixo e contra a soberania dos de cima. Um exemplo vivo desta condição é a recente revolução neoliberal dos ucranianos em Kiev, principalmente os das regiões ocidentais da Ucrânia, onde a derrocada do Poder e do governo deu lugar à dominação de organizações ultradireitistas e claramente neonazis, tais quais se fizeram com o monopólio da violência do Estado (polícia, Exército, etc.) com o fim de imporem-se com raiva contra os que enfrentaram ao capitalismo neoliberal multinacional, a UE, o FMI e a OTAN.
Baseando-se somente nestas reflexões consideramos que é óbvio que a todo custo devemos criar estruturas organizativas, para que as formações de organização social, de classe e política, e da mesma ideologia possam encontrar-se regularmente e aprender a trabalhar juntos o máximo possível. Não para ser absorvidas por uma organização central, mas para poder manter suas particularidades, sua autonomia política, através da uma luta geral com objetivos comuns. E este campo de encontro e de organização não deve limitar-se nem a um nível local nem a um nível nacional, mas terá que ter a perspectiva de interconectar-se com as lutas emancipadoras dos de baixo a nível mundial.
Em outras palavras, nós que concebemos o valor e a essência da auto-organização como uma ferramenta de emancipação, devemos edificar a organização por igual, junto com todos os que buscam o mesmo que nós. Não podemos esperar as propostas que vem de cima para participar em alguma organização. O último estouro neoliberal da concessão das estruturas comuns e sociais (nas quais está incluída também a produção) demonstrou que é cada vez mais imperativa a necessidade de manter os direitos conquistados e manter o acesso aos recursos e coisas conquistadas com as lutas de classe e sociais do passado.
Para realizar isto, se deve intensificar e concentrar nossa atividade, assim como que nossa presença política constitua um componente que determine a resistência que terá de ou cedo ser expressada pela sociedade. A fome, as enfermidades, a falta de moradia, as vicissitudes e a dor do sofrimento de grandes segmentos da população, inevitavelmente vão ser expressados politicamente e vão a cobrar forças. Se isto não for feito pelos que lutam pela emancipação, então será feito pelos experts em manipulação. Neste campo não podemos jogar um papel secundário, devemos no entanto de tratar que não hajam protagonistas em uma sociedade. Quer dizer, que com as características da antihierarquia, a horizontalidade, a autonomia e a emancipação dos de baixo, devemos ajudar na criação deste tipo de estruturas que permitam a participação daqueles que desejam expressar um “já basta” ao descenso do nível de vida, mais além do alvoroço politicamente inofensivo das massas indignadas mas não organizadas. Ainda quando sejam poucos os organizados que vão atuar de uma maneira decisiva e coordenada, vão a ser uma fonte de força entre os muitos mas não organizados.
Como sujeitos políticos e seguidores da luta anarquista pela liberação social, devemos realizar a conexão da atualidade com a história do movimento libertário-revolucionário. É esta conexão a que nos ajudará a encontrar as ferramentas e avançar até a autogestão social, porque as contradições e as dificuldades com as que nos enfrentamos hoje em dia, frequentemente tem sua origem nas origens do capitalismo. Portanto, devemos processar (elaborar) e compreender as formas e os meios que nossos antepassados políticos desenvolveram no campo da luta de classes, a organização social e a organização de um movimento revolucionário anarquista, de modo que, através da crítica cheguemos a ver quais destes meios são úteis na conjuntura atual, evolui-los e inclui-los na luta pela investida ao céu.
Assim que um de nossos objetivos diretos é promover, através de nosso discurso e nossa ação, as formas de organização e ação historicamente mais eficazes, que contenham os mesmos valores e princípios que os que temos tido durante nossa formação como sujeitos políticos. Não só falar deles, mas atuar, sendo um exemplo do que sustentamos, e ao mesmo tempo com os exemplos viventes e os projetos que cremos que tem objetivos comuns com os nossos reinventar campos de encontro e colaboração, assim que o resultado seja um exemplo ativo e eficaz da emancipação da sociedade. Se a derrocada do Estado e das estruturas de Poder pudessem se realizar hoje e se o amanhã fosse de uma sociedade sem classes e sem poder e exploração, ou seja a chamada liberação social, não teríamos nenhuma objeção e participaríamos no que nos corresponde (respeita).
Mas até aquele amanhã, o único que podemos fazer é lutar metodicamente para chegar a esse ponto. Mas sem a organização necessária através de estruturas fixas e definidas, qualquer subversão e rebelião apressadas só a aspirações políticas autoritárias pode remeter. Qualquer revolução deve realizar-se com a participação da sociedade e ter como objetivo principal a emancipação, e não ser uma ação de alguns sujeitos políticos que se especializam na manipulação e tomada de Poder.
Galean@s, novembro de 2014
O texto em grego:
https://galeanas.espivblogs.net/doc1
O texto em castelhano:
http://verba-volant.info/es/galeans-nuevo-grupo-anarquista/
Tradução > Caróu
agência de notícias anarquistas-ana
as pálpebras da noite
fecham-se
sem ruído
Rogério Martins
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!