Decidimos escrever algumas palavras sobre a Marcha contra Monsanto que ocorreu em Porto Alegre (RS) no fim da tarde de 25 de maio deste 2015 para estimular algumas reflexões, individual e coletiva, com a viva intenção de fortalecer aos rebeladxs que se botam contra esta sociedade baseada na dominação, na exploração da terra e dos seres vivos. A Monsanto é uma corporação gigantesca com sede nos EUA e tentáculos por muitas regiões do mundo, sua sede é insaciável para obter o controle das sementes cultivadas. Iniciaram suas atividades ainda no século passado e tem em seu histórico uma novela de absurdos, devastando a terra e os povos; são muitas informações a respeito e que vão da guerra do Vietnã com o agente laranja, contribuição para a dizimação de biomas e biodiversidade, a propagação de um torrencial de doenças inimagináveis ao ser humano e a tudo que é vivo. São inimigos da vida em geral.
Na atualidade revestidos de bons moços que alimentam o mundo propagam sementes geneticamente modificadas (OGM’S), fabricam o herbicida mais vendido do mundo a base de glifosato, o seu famoso Roundup, e se dedicam especialmente a biotecnologia com pesquisas que promovem o alargamento de seus lucros e domínios. Não é difícil encontrar informações revelando a intimidade entre a Monsanto e o governo dos EUA, diplomatas americanos espalhados pelo mundo, agentes de segurança (leia-se mercenários), através de seus dólares; e seus agentes costuma financiar políticos e técnicos de todas regiões do mundo para desenvolverem leis que lhe abram o caminho. Afinal tudo está ligado: corporações, Estado, você. Os dois primeiros são cúmplices, agora o terceiro depende de ti.
Mesmo nós sendo inimigos este escrito não tem por intuito denunciar a atividade da Monsanto (propomos à todxs realizarem um pequeno estudo), mas sim refletir sobre a marcha em si, de qualquer forma não poderíamos deixar de fazer essa introdução.
Tem alguns anos que se espalhou a luta contra Monsanto em diversas regiões do mundo, o 23 de maio se convencionou como Dia Mundial Contra Monsanto. A região sul do território controlado pelo Estado brasileiro não poderia ficar de fora afinal é um celeiro da Monsanto, uma das regiões do mundo que se destaca no plantio de soja. Sabendo que entregar abaixo-assinado aos governantes é uma comédia onde eles riem e se divertem alguns/mas anônimxs convocaram uma Marcha Contra a Monsanto para o fim de tarde do 25 de maio em frente ao edifício comercial de elite Madison Center, onde supostamente havia um escritório da Monsanto.
A Monsanto ciente que sua atuação é inimiga da população em geral oculta seu logotipo, e evita ter uma sede as claras. Com uma pequena busca em seu site se percebe que eles se vangloriam de estarem em 12 estados do Brasil com 40 unidades, mas ao mesmo tempo não divulgam o endereço de nenhuma. Por que será?
Uma marcha nas ruas é sempre perturbadora da “paz social”, da normalidade do fluxo do sistema e já por aí traz um inconveniente aos defensores do sistema, aos acovardados e acomodados. Destacamos como importante a logística da marcha, especialmente como chegar e como sair e também seu trajeto e possibilidades variadas. Sugerimos uma reflexão neste tema e lembramos que tudo é na prática que vamos elaborando uma atuação mais afiada.
Trazemos uma pergunta: O que fazer quando percebemos dentro da marcha a presença de um estranho com atitude policialesca, ou seja, fotografando nitidamente o rosto das pessoas? Vão alguns exemplos para pensarmos melhor.
Em 1968 após o assassinato no Rio de Janeiro durante um protesto de rua do estudante Edson Luis de Lima Soto se espalharam mobilizações estudantis por distintos pontos do território controlado pelo Estado brasileiro. Em Brasília, os estudantes da UNB, em protesto, identificam e prendem Edrovando Guimarães Gutierres, policial infiltrado, que ficou conhecido como o “pera dourada”. O policial é mantido dentro do campus da UNB e trocado pelos estudantes revoltosos pela liberação de seus colegas detidos na manifestação pela polícia.
Durante os protestos de 2013 muitos P2 saíram às ruas fotografando, atacando manifestantes e inclusive a seus colegas policiais. Em um vídeo de denúncia do Rio de Janeiro dois P2 são identificados, um toma uma banda e vai ao solo de bunda no chão, imediatamente seus amigos uniformizados o acude. Ainda nestas jornadas de 2013 circula nas ruas de Porto Alegre um jornal chamado Agitação que traz um texto especialmente sobre os P2 e os manifestantes.
Na noite de 12 de fevereiro de 2014, em Porto Alegre, durante uma assembleia do Bloco de Lutas, do lado de fora do recinto um sujeito é flagrado fotografando uma criança filha de uma agitadora do bloco. O celular do homem é confiscado, as fotos da criança são apagadas. Ele diz ser um segurança particular e que está fazendo seu trabalho.
Desde os primeiros momentos da concentração em frente ao edifício Madison Center onde a morte recepcionava quem chegava, lançando grãos de pipoca Yoqui, um homem parrudo de cabelo curto, com abrigo esportivo e camiseta verde, se encontra em meio as pessoas. Com o passar do tempo e com a chegada de mais pessoas começa fotografar rostos especialmente quando se deram os bloqueios da rua. Um encapuzado o aponta e denuncia sua atitude, o homem se esquiva, uma pedra voa no seu encalço e ele passa a acompanhar de longe tentando aproximações e diálogos. Já no final da marcha o sujeito é visto no Largo do Zumbi, pega a José do Patrocínio sempre mexendo no seu celular e com o fone branco na orelha, Venâncio Aires, Protásio Alves… Em direção ao Madison Center? Para quem ele trabalha? O que estava fazendo nós já entendemos, ou não?
Trazemos estas ideias pois sabemos que situações similares irão se repetir.
Destacamos ainda uma reflexão para a tática usada pela polícia de isolar a manifestação fechando as ruas de seu entorno reconduzindo o trânsito por outras ruas. A resposta a isto sabemos, foi o movimento da marcha atordoando com o seu deslocamento.
Por último verificamos que nenhuma empresa de comunicação de massa da cidade fez a menor menção sobre o acontecimento. Seu silêncio diz muitas coisas o que contribui e muito para o silenciamento de um debate sobre terra, transgênicos, câncer, devastações, lucro, afinal sobre a própria maneira de vida capitalista. Jamais devemos depender da mídia de massa para dar luz ao que desejamos ou fizemos. São inimigos de qualquer que se ponha contra esta sociedade baseada na dominação, são elementos chave para garantia e constante manutenção deste pesadelo, são parte de nossos inimigos.
Que estas palavras sejam úteis para a expansão da revolta para que todxs tomem as rédeas de sua vida em suas mãos.
Alguns/mas inimigxs da dominação, amantes da anarquia.
agência de notícias anarquistas-ana
Sobre a folha verde,
um movimento ondulante:
taturana verde.
Maria Reginato Labruciano
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!