“Quando o viajante caminha pelo bosque em direção Este desde Meiningen, cidade de Turingia, encontra um refúgio sobre um altiplano livre: Bakuninhütte (…) um refúgio libertário”, escreve no verão de 1931, Hermann George no semanário anarcossindicalista Der Syndikalist. Bakuninhütte (refúgio de Bakunin) é um edifício, construído pelos anarquistas alemães nos anos vinte, que atravessa a história de quatro Alemanhas (República de Weimar, Terceiro Reich, República Democrática e, finalmente, a Alemanha reunificada) para chegar a nossos dias.
Como tudo começou
Meiningen é uma pequena cidade a cem quilômetros a sudoeste de Erfurt, no coração da Alemanha. Em 1919 alguns militantes, a maioria jovens, decidem fundar um grupo que adere à Freie Arbeiter Union Deutschlands (FAUD, União Livre de Trabalhadores Alemães), uma organização anarcossindicalista que em poucos meses chega a contar com quase duzentos ativistas.
Em 1920 o grupo FAUD de Meiningen projeta adquirir um terreno para cultivá-lo, com o fim de aliviar o aperto da crise econômica que atinge a Alemanha após a guerra. No mesmo ano compram, por 21.000 marcos, 6.400 metros quadrados de terra situados a três quartos de hora a pé de Meiningen, sobre o Hohe Maas, um altiplano de cerca de 500 metros de altura rodeado de bosques. Ao lado dos cultivos de batatas e verduras, o terreno é utilizado pelos anarcossindicalistas locais para os acampamentos de fim de semana com suas famílias. Dois tipos de uso que comportam um problema comum: a chuva. O grupo constrói então uma pequena cobertura provisória. Graças ao trabalho coletivo, a construção se transforma com o passar dos meses em um refúgio cada vez mais sólido, em cujo interior é possível sentar-se e cozinhar.
Em 1925, por causa da estabilização da economia, as atividades agrícolas já não são necessárias, por isso que o pequeno edifício se afirma progressivamente como lugar de encontro para os militantes anarcossindicalistas da região.
Nosso Bakunin, nossa Bakuninhütte
Em julho de 1926, por ocasião do cinquentenário de sua morte, o edifício, convertido em um verdadeiro refúgio, é dedicado a Bakunin: nasce assim a Bakuninhütte. Sobre a entrada figura a inscrição “Bakunin-Schutzhütte”, e se coloca uma lápide comemorativa dedicada ao revolucionário russo, obra dos marmoristas anarquistas locais Otto Walz e seu filho Heini.
Em pouco tempo, o refúgio é ampliado: se faz um comedor, um dormitório, uma cozinha e uma sala comum. O material para a construção, assim como a água, se transporta nos ombros; para a iluminação noturna se utilizam as lâmpadas de petróleo. Inclusive o exterior da Bakuninhütte se vai arrumando progressivamente com caminhos, jardins, bancos para sentar-se sob as árvores, cercas vivas e flores. Colocam-se outras duas lápides comemorativas, uma dedicada a Francisco Ferrer, outra a Sacco e Vanzetti. Max Baewert, ativista anarquista de Meiningen, compõe versos dedicados ao refúgio que se convertem no lema da Bakuninhütte:
“Livre terra e livre refúgio
livre espírito e livre palavra
livres homens, livre utilização
me atraem sempre até este lugar”.
O artesão Franz Dressel constrói dois balanços e um pequeno carrossel para as crianças. O taberneiro que leva a cerveja proporciona também cadeiras e mesas de jardim. Bakuninhütte está completamente autogestionada, nasce e se desenvolve graças às colaborações dos que a vivem: primeiro o grupo de Meiningen e depois segmentos cada vez mais amplos do movimento anarquista da época.
Com a mudança da situação econômica, o projeto muda definitivamente. Não se trata já de uma espécie de colônia de trabalho que pratica a agricultura para o autoabastecimento senão de um refúgio que se converte em lugar de encontro, de intercâmbio de ideias e de descanso. Bakuninhütte é uma encruzilhada política e existencial, componente em nada secundária na experiência da militância da época. O refúgio alberga tanto a jovens excursionistas de passagem como a reuniões de grupos anarquistas, tanto a homens como a mulheres, implicados no movimento libertário, que decidem passar ali as férias com a família. Há que recordar que, por causa dos contratos coletivos da legislação político-econômica da República de Weimar, nestes anos começam os primeiros experimentos de festas e são regulamentados os horários laborais e o descanso semanal.
Com o fim de dar uma cobertura legal às atividades do refúgio, se cria em 1927 a Siedlungsverein “Gegenseitige Hilfe” e. v. (Sociedade de Alojamento “Apoio mútuo” sem fins de lucro), que se converte em proprietária da Bakuninhütte, se bem a gestão permanece em mãos da FAUD de Turingia. Nos dias 27 e 28 de maio se celebra a inauguração do refúgio. O ano seguinte, em 19 e 20 de maio de 1929, se celebra um novo encontro regional. Em fevereiro de 1930, o poeta anarquista Erich Müsham passa pela Bakuninhütte, sinal inequívoco da popularidade do refúgio a nível nacional. Em junho de 1930 acontece o primeiro acampamento nacional da Syndikalistische Anarchistische Jugend Deutschland (SAJD, Juventude Sindicalista Anarquista Alemã).
O êxito da Bakuninhütte é tal que na segunda metade de 1930 é necessário empreender trabalhos para ampliar o edifício. Se lança uma campanha de autofinanciamento a nível nacional, apoiada particularmente por Der Syndicalist, através da adquisição de postais (Bakunin-Karten-Baufondskarten) a 10 pfennings. Nesse tempo, Fritz Scherer, encadernador e apaixonado das excursões, se converte no Hüttenward (guarda do refúgio). Como tal, Fritz se encarrega não só de tudo o que necessita a Bakuninhütte e seus hóspedes, senão que também leva o Hüttenbuch (livro do refúgio), uma espécie de registro dos hóspedes no qual alguns dos que visitam o refúgio consignam seus pensamentos.
No outono de 1932 começam os trabalhos de ampliação graças ao êxito da campanha de financiamento e à colaboração de diversos pedreiros procedentes das cidades vizinhas. Em 1933 Hitler alcança o poder: a associação que gestiona legalmente a Bakuninhütte é dissolvida e os anarquistas podem ter aqui sua última atividade no começo de junho.
Bakuninhütte de uma Alemanha à outra
O refúgio Bakunin é concedido primeiro às SS, depois ao Partido Nazi de Munich em 1935 e, ao final, vendido a um particular em 1938. Fritz Scherer, o último guarda, afortunadamente consegue salvar o Hüttenbuch. Após a guerra, Turingia se encontra na zona ocupada pelos soviéticos e a Bakuninhütte passa por diferentes escritórios da administração da República Democrática Alemã; em 1970 é destinada a centro de adestramento de uma seção da polícia de Meiningen.
Em 1989 é adquirida pelo escritório de patrimônio da República Federal Alemã. No começo dos anos 90 fracassam as primeiras tentativas para recuperar o refúgio. Desde 1996 é completamente abandonado. Em 2004 numerosos ativistas apresentam uma oferta de aquisição ao escritório patrimonial de Suhl e em 2005 compra-se a Bakuninhütte. No ano seguinte cria-se a associação Wanderein Bakuninhütte, mas as dificuldades, no entanto não acabaram, porque se proíbe o acesso ao edifício e sua utilização.
Durante esse tempo organizam-se algumas iniciativas em torno do Refúgio Bakunin. Em abril de 2011 cessa a proibição de acesso ao refúgio e é juridicamente possível iniciar sua recuperação. A campanha de financiamento lançada em 2012 consegue 7.000 euros, que se utilizam para arrumar o edifício, gravemente danificado no curso dos anos. Tratando-se do único testemunho anarcossindicalista na Alemanha na forma de edifício, o objetivo é fazer da Bakuninhütte não um rígido testemunho do passado senão um monumento vital e dinâmico, capaz de ajudar à compreensão da História, de albergar eventos culturais e voltar a ser um lugar de parada para os excursionistas.
Bakuninhütte parece voltar novamente à atividade: um lugar onde passear e crescer juntos, construído do nada graças ao trabalho cotidiano de ativistas de base, Bakuninhütte vive todavia e, com ela, a figura da qual toma o nome. Em outro tempo, em 1932, nas páginas de Der Syndikalist, apareceu este chamamento: “O Refúgio Bakunin deve ser e será em breve um duradouro testemunho da solidariedade e da criatividade de nosso movimento!”
David Bernardini
Fonte: Tierra y Libertad – junho de 2015.
Tradução > Sol de Abril
agência de notícias anarquistas-ana
Pétala a pétala
com delícia se desfolha
a alcachofra.
Jorge Lescano
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!
Um puta exemplo! E que se foda o Estado espanhol e do mundo todo!
artes mais que necessári(A)!
Eu queria levar minha banquinha de materiais, esse semestre tudo que tenho é com a temática Edson Passeti - tenho…