[A segunda edição da Mostra de Edições Subversivas (mes2015.tk) acontecerá nos dias 25, 26 e 27 de setembro, em Lisboa, no Grupo Excursionista e Recreativo “Os Amigos do Minho”, Rua do Benformoso, 244.]
A p r e s e n t a ç ã o
Transpor a ponte que vai das palavras aos atos nem sempre é possível para quem tenta lutar contra o presente estado de coisas. A sociedade de consumo e de entretenimento em que vivemos gera apatia e atomização. O controle policial cada vez mais sofisticado dos espaços que habitamos, aliado à virtualização de uma realidade cada vez menos palpável, tendem a travar o aparecimento de espaços concretos potencialmente perigosos para a ordem vigente. Criar esses espaços autônomos, ainda que de forma temporária, é de vital importância para as nossas lutas individuais e coletivas. E a palavra continua a ser um meio para atingirmos os nossos fins. Por isso, voltamos a criar um espaço onde nos possamos encontrar e conviver, tentando, dessa forma, potenciar as nossas vontades e afinidades para as lutas com que nos vamos confrontado diariamente. Durante três dias, de 25 a 27 de setembro, em Lisboa, haverá espaço para a troca de ideias críticas através da apresentação de livros, revistas, fanzines, da música e do teatro, alentando a conspiração para a subversão desta realidade em que vivemos.
P r o g r a m a ç ã o
• Sexta-feira, 25 de setembro
17h – Abertura
18h – Apresentação do livro “A Reprodução da Vida Quotidiana e outros escritos de Fredy Perlman” – a cargo dos editores
O escritor de origem eslava, naturalizado norte-americano, Fredy Perlman, foi uma das principais vozes da crítica antiautoritária a ecoar entre o continente americano e europeu durante a segunda metade do século XX. Especialmente prolífico entre os anos 60 e 80, década em que acabou por falecer precocemente devido a problemas cardíacos, Fredy Perlman deixou-nos um legado de diversos escritos que ainda hoje são lidos e discutidos e que refletem a sua visão heterodoxa, mordaz e desconstrutora das variegadas falácias das distintas ideologias, do capitalismo ao próprio anarquismo. Apesar de tudo, enquanto pensador livre, foi no seio de uma forma de pensamento mais radical, afeto à crítica do progresso e da industrialização, que Fredy Perlman se instalou, tendo, entre outras coisas, colaborado com a companhia de teatro Living Theatre, com a revista anarquista The Fifth Estate, sido fundador e editor da revista Black & Red que se viria a converter numa editora que publicou autores como Guy Debord, Jacques Camatte, Piotr Arshinov e os seus próprios escritos como são exemplo Against His-Story, Against Leviathan, Letters of Insurgents, The Strait ou Manual for Revolutionary Leaders . Dos seus escritos menores, destacam-se A Reprodução da Vida Quotidiana, A Contínua Atração do Nacionalismo ou O Anti-Semitismo e o Pogrom de Beirute, incluídos nesta coletânea.
Textos Subterrâneos, 2015
20h – Jantar
22h – Apresentação do livro “Para uma história da repressão do anarquismo em Portugal no século XIX de Luís Bigotte Chorão, seguido de “A Questão Anarchista” de Bernardo Lucas” – a cargo do editor
Sem que houvesse em Portugal razões de ordem pública que o justificassem, e sendo desconhecida entre nós – diferentemente do que sucedia em França e Espanha – a propaganda pelo ato, e naturalmente desconsiderando o discurso lombrosiano sobre os riscos da repressão, o ministro apresentou a 8 de fevereiro de 1896 uma proposta de lei na Câmara dos Deputados que foi justificada pela “exigência imperiosa da segurança das pessoas e da propriedade”.
A nova lei destinava-se a “prevenir gravíssimos atentados contra a ordem social” e a “reprimir qualquer tentativa de propaganda de doutrinas subversivas” que provocassem ou incitassem à execução desses atentados. A comissão de legislação criminal logo se pronunciou, para observar que de há muito se vinha revelando em Portugal a existência do mal anarquista, “se bem que por formas relativamente atenuadas”. Porém, os acontecimentos recentes reclamavam, no entender da comissão, a existência de leis “eficazmente repressivas”.
Letra Livre, 2015
• Sábado, 26 de setembro
15h – Abertura
16h – Apresentação do livro “¿Por qué no nos dejan hacer en la calle? Prácticas de control social y privatización de los espacios en la ciudad capitalista” do Grupo de Estudios Antopológicos La Corrala – a cargo dos autores
Democracia, cidadania e espaço público são conceitos que no discurso político se intersectam e que sustentam a concepção, pelos municípios, de normativas que pretendem fomentar e garantir a convivência cidadã no espaço público. Decretos municipais que trazem consigo dinâmicas que estão longe de contribuir para o objetivo que dizem perseguir, como a progressiva privatização do espaço público e o controle social da população. Dinâmicas que se integram num modelo de cidade centrado na imagem e no potencial turístico; uma cidade individualista, capitalista e segregadora; uma cidade que dificulta o encontro das pessoas que a habitam; uma cidade em que não se vive, sobrevive-se. E uma das formas de o conseguir é, precisamente, naturalizando uma vida cada vez mais regulada.
Asociación de Estudios Antropológicos La Corrala e COTALI, 2013
18h – Apresentação do livro “En ese sitio maldito donde reina la tristeza… Reflexiones sobre las cárceles de animales humanos y no humanos” da Asamblea Antiespecista de Madrid – a cargo dos autores
Um imenso edifício no meio do nada, grandes muros de betão, arame farpado. Indivíduos privados da sua liberdade, as horas contadas, a comida insípida, pequenos compartimentos em que não se podem mover. Indivíduos que sofrem, que querem escapar, que escapam e se revoltam. Gente que dedica o seu tempo e a sua energia a lutar contra a injustiça oculta por detrás desses muros. Gente que dedica a sua vida a manter esses muros, a privar os outros da sua liberdade, gente que enriquece à sua custa. E uma sociedade que olha para o lado, que o legitima, que se beneficia, que participa voluntária ou involuntariamente na sua engrenagem.
Podíamos estar a falar de qualquer prisão. Podíamos estar a falar de qualquer centro de exploração animal. Nem estes lugares são tão diferentes entre si, nem roubar a liberdade a indivíduos humanos é tão diferente de roubá-la a indivíduos de outras espécies. As vidas de uns e de outros são muito parecidas; os valores que perpetuam a sua opressão e a sua prisão são os mesmos.
E uma jaula é sempre uma jaula.
Ochodosquatro ediciones, 2014
20h – Jantar
22h – Concerto de hip-hop com:
Boss (Amadora)
Xoto (Setúbal)
Calla La Orden (Madrid)
• Domingo, 27 de setembro
15h – Abertura
16h – Apresentação da revista antidesenvolvimentista e libertária, Argelaga – a cargo do editor
Ao alcançar os seus limites internos e externos, o capitalismo ficou permanentemente em crise e continua a sua marcha através de inúmeros confrontos. Pondo de parte a geopolítica militar, responsável pelas guerras por controle de recursos, e limitando-nos às condições locais, existem dois tipos de luta capazes de questionar a natureza do sistema: as lutas urbanas e a defesa do território. Nos aglomerados urbanos existem resistências contra a exclusão e o endurecer da repressão que exige o controle das massas excluídas. São um bom exemplo as lutas contra os despejos, as privatizações, a precariedade e os abusos jurídico-policiais. No entanto, é no território não urbano onde surgem os maiores conflitos, os que agravam as condições de vida e põem em perigo a sobrevivência da população, e que, por isso mesmo, são os que podem contribuir com uma maior consciência antidesenvolvimentista. O território periurbano, expurgado de atividades agrícolas, converteu-se em cenário de grandes projetos especulativos sem nenhuma utilidade para os seus habitantes: prospecções de petróleo e gás não convencionais, construções de grandes infraestruturas, de macroprisões, de lixeiras, de centrais de incineração, de centrais energéticas, de casas de férias, etc. Por isso mesmo, a defesa do território contra o seu reordenamento explorador constitui o eixo por onde passa a luta antidesenvolvimentista, defesa que conta com a particularidade de ir além do horizonte rural: os seus defensores procedem maioritariamente dos aglomerados urbanos.
18h – Apresentação do livro “Nell’acquario di Facebook: la resistibile ascesa dell’anarco-capitalismo” do Gruppo di Ricerca Interdisciplinare Ippolita – a cargo dos autores
Neste livro, o grupo italiano de pesquisa interdisciplinar Ippolita, ativo desde 2005, percorre os bastidores do Facebook, questionando sobre as origens, os objetivos e a visão do mundo promovida por uma das estrelas do turbo-capitalismo. O anarcocapitalismo é um marco cultural que nos permite ligar a nova geração de empreendedores californianos, adeptos do capitalismo sem estado nem regras, com os novos fenômenos político-sociais como o Partido Pirata e o Wikileaks.
Como qualquer outro tipo de rede social privada, o Facebook não é na realidade gratuito. A moeda de troca somos nós próprios. Sob a ilusão do entretenimento, todos nós estamos trabalhando para a expansão de um novo tipo de negócio: o negócio das relações sociais. Se o Google distribui verdade, o Facebook gere relações. Tudo para o benefício da humanidade e da sociabilidade. Em nome da tão proclamada liberdade de informação. Uma liberdade automática garantida pela rede. A liberdade de uma sociabilidade crescentemente mecanizada.
O avanço da doutrina de transparência radical está rapidamente a levar-nos a uma distopia que, simultaneamente, remete para Huxley e Orwell. Diga tudo sobre si próprio e será livre, até dos seus desejos. Algoritmos responsabilizar-se-ão pela seleção e escolha dos bens e produtos de consumo feitos exatamente à sua medida. Estes algoritmos utilizados na publicidade online pelos novos donos do mundo digital – Facebook, Apple, Google e Amazon – são os mesmos utilizados pelos governos ditatoriais ou “democráticos” para uma repressão personalizada. O coletivo Ippolita defende que não nos podemos render à lógica da conspiração ou da paranóia, mas sim procurar desenvolver novas formas de vida autônoma na nossa sociedade em rede.
Ledizione, 2012
Outros livros deste coletivo:
Open non è Free (2005), The Dark Side of Google (2013) e La Rete è libera e democratica – FALSO (2014).
20h – Jantar
22h – Performance “Ohongo”
África, sem sinopse!
agência de notícias anarquistas-ana
A cerejeira
cor de rosa florida
ficando verde.
Sérgio Francisco Pichorim
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!