Presença anárquica em manifestações aos 42 anos do início da Ditadura no Chile
Em solidariedade com os dois detidos por porte de elementos incendiários.
1. Um pouco sobre o contexto atual no Chile.
Este ano de 2015 é marcado, entre outras coisas, pelo seguinte:
– O descobrimento de casos de “corrupção” por financiamentos ilegais de campanhas eleitorais entre empresários e políticos de todos os setores. Isto confirmou para alguns o já sabido sobre a cumplicidade entre o poder político e o poder econômico, aumentando o descrédito da elite política, mas em nenhum caso estes escândalos foram detonantes de um descontentamento social generalizado.
– Mobilizações de setores de direita, similares às ocorridas no período prévio à ditadura no Chile: visibilização do grupo neonazi Partidários de Chile (PADECHI), cacerolaços “contra a delinquência” em bairros acomodados e manifestação de latifundiários, proprietários de caminhões e alguns de seus trabalhadores contra o que chamam o “terrorismo mapuche”, esta última sob o formato de caravana desde o sul até o centro do país, que foi recebida em Santiago com aplausos por alguns cidadãos e com rechaço violento de diversos setores (mapuches, esquerdistas de diversas origens, antifascistas, etc.).
– Detenções de companheiros por lutar nas ruas e aumento de penas por porte e uso de artefatos incendiários, deixando vários companheiros em prisão preventiva.
2. Compartilhando a rua com outrxs, mas marcando uma distância de fogo com o reformismo esquerdista: presença anárquica em marcha por vítimas da Ditadura.
A noite de 11 de setembro, dia em que faz 42 anos iniciou-se uma sangrenta Ditadura, os subúrbios da cidade se enchem de barricadas e enfrentamentos com a polícia. Um carabineiro foi ferido de bala.
Posteriormente, na marcha que lembra as vítimas da Ditadura, realizada na cidade de Santiago no domingo 13 de setembro, xs anarquistas/antiautoritárixs, como em outras manifestações costumamos ocupar a rua em uma marcha que convoca principalmente a uma variedade de movimentos esquerdistas de caráter autoritário e reformista.
A manifestação deste ano estava composta por uma massa diversificada de manifestantes, cidadãos, familiares de detidxs desaparecidxs e executadxs na Ditadura, membros dos partidos de governo (Partido Comunista e Partido Socialista), membros antifascistas radicais, policiais de verde e de vermelho, bandeiras vermelhas, vermelhas e negras, siglas variadas e alguns militantes de organizações de extrema esquerda posando encapuzados para as câmaras promovendo as siglas de sua organização.
Em meio de tudo isto, um espetáculo bastante penoso foi o de grupos esquerdistas que modificavam lemas próprios do anarquismo antifascista e insurreccional para difundir as propostas de suas organizações vanguardistas e com aspiração de poder, aquelas que buscam criar novas sociedades com eles mesmos na cabeça. Assim, o grito “Guerra social, contra o Estado e o Capital” foi travestido pela “Esquerda Libertária” (neocomunistas) em “Criar poder popular, contra o Estado e o Capital”, enquanto que o histórico lema “Alerta fascista, que todo o território se torne anarquista”, foi transformada pelas “Juventudes Guevaristas” em um patético “Alerta fascista, que todo o território se torne guevarista”. Ao carecer de discurso e prática confrontacional estas organizações flertam com lemas radicais, mas tirando seu sentido original antiautoritário e insurrecional.
Por isso mesmo, é importante que nosso discurso e nossa prática radical de luta contra o poder se faça evidente e palpável para não confundir-nos com o vitimismo nem mimetizar-nos com as ideias de outrxs que se distinguem de nós por seu reformismo, verticalismo e suas aspirações de poder.
No caso da manifestação em questão, a presença anárquica, sempre minoritária – mas desta vez ainda mais minoritária – se materializou em propaganda e ação insurrecional, difundindo volantes contra a ditadura e a democracia, em memória e solidariedade com nossxs compas assassinadxs e encarceradxs pela democracia, gritando lemas de guerra, destroçando a infraestrutura capitalista presente na cidade e ateando fogo a bancos e guaritas de segurança municipal.
Cremos importante esta presença, mas junto a isto, é importante desenvolver também nossa capacidade autônoma de ação agitando com nossas ideias e gerando ataques à normalidade da ordem imposta sem necessidade de esperar as convocatórias feitas por outrxs, decidindo nós mesmxs onde e quando atacar.
3. Solidariedade com Claudio e Fabián, detidos e em prisão preventiva após os distúrbios.
Uma vintena de detidxs deixou a marcha por diversas desordens. No entanto, o companheiro Claudio Valenzuela e o estudante universitário Fabián Durán foram acusados por porte de elementos incendiários e ficaram em prisão preventiva, seguindo o estabelecido na reforma à lei de controle de armas feita pelo governo social democrata de Michel Bachelet. Tais modificações buscam castigar aos insurretxs e inibir a ação incendiária revolucionária espalhando o medo ao elevar as penas contra os que sejam detidxs portando bombas molotovs ou outros artefatos incendiários/explosivos.
A justiça do poder decretou 45 dias de prisão preventiva enquanto dure a investigação.
Que a solidariedade insurreta seja parte da agudização da luta contra o poder através da ação multiforme. Acompanhemos e apoiemos em todos os sentidos a nossxs compas em prisão, mas sem que nosso que fazer se transforme unicamente no apoio aos presxs senão que propagando a agitação anárquica, inclusive mais além do estritamente anticarcerário, pois a prisão é parte de uma ordem social autoritário que devemos atacar de maneira integral.
Solidariedade com Claudio, Fabián e todxs xs presxs pela luta nas ruas e por fazer parte ativa na luta contra a dominação!
Nem poder burguês, nem poder popular!
Nem chefes, nem siglas, nem dirigentes!
Auto-organização e ataque em autonomia e horizontalidade contra toda forma de autoridade!
Alguns encapuzadxs antiautoritárixs.
Setembro 2015.
Tradução Sol de Abril
agência de notícias anarquistas-ana
A mesma paisagem
escuta o canto e assiste
a morte das cigarras
Matsuo Bashô
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!