Uma nova organização anarquista aparece em Lima.
“É essencial e o mais urgente no momento atual da humanidade: a organização e a unidade proletária, necessária para a defesa dos interesses coletivos e direitos conquistados através dos tempos, à custa de tantos esforços, de tantos sacrifícios e do sangue fecundante dos libertários de todas as idades; essa organização e unidade que hão de ser amanhã, avalanche contra todas as tiranias e de todos os despojos pelas classes privilegiadas e, em seguida, quando o momento e as circunstâncias determinem o ponto final de uma evolução, há de se converter em majestosa ondulação da revolução social.”
Delfín Lévano, 1921.
O atual panorama sócio-político que está passando nosso país demanda um posicionamento concreto e real desde uma perspectiva viável que consiga compreender e responder aos problemas complexos que se colocam hoje sobre a classe trabalhadora, o movimento popular e setores oprimidos sob o capitalismo global que visa impor sua face neoliberal detestável sob a cumplicidade de governos do momento, da rançosa direita nacional, do imperialismo internacional e da passividade de certos setores da esquerda cegos por projetos de curto prazo ou imediatistas.
Por este motivo, acreditamos necessária a construção de um novo modelo organizacional que articule e aumente a resposta do campo popular para demandas de maior alcance. Neste contexto, nós forjamos a Corrente Libertária como política orgânica nascida após um necessário processo de discussão, formação e maturação teórica que será refletida no avanço dentro do tecido social como uma alternativa de ação e luta para superar o atual modelo econômico. Focalizamos o carácter renovador da nossa proposta que visa gerar novas possibilidades dentro do marasmo reformista e/ou obtuso que não logra propor alterações de forma e se contenta só com a maquiagem das mesmas.
Além disso, nossa organização está confinada na linha histórica do anarquismo organizado e de classe, que entende que apenas um trabalho conjunto com os outros setores do movimento popular logrará evidenciar um avanço real, e que apenas a superação de qualquer sectarismo odioso pode garantir a construção de grandes projetos sociais; mas este compromisso com a unidade da luta não deve ser confundido com práticas oportunistas ou populistas de se satisfazer com papéis cúmplices ou acríticos, porque entendemos que no avanço dialético da luta popular há erros e acertos que devem ser analisados com critério militante, para evitar caminhos oblíquos ou aventureiros.
Entretanto, hoje temos o cenário negativo de um espectro político de esquerda que manifesta haver sido “pessimamente traído” por uma gestão que se acreditava “do lado do povo”. O neoliberal governo de Ollanta Humala demonstrou sobre os fatos que as regras do jogo dentro do sistema da democracia representativa burguesa estão fixadas para que os vencedores sejam sempre os mesmos; ou seja, não importa a suposta cor da gestão do Estado, em última análise o poder econômico não perderá seus interesses ou privilégios e saberá como reorganizar-se para os novos cenários para continuar controlando a estrutura socioeconômica do país.
As esperanças que procuraram gerar sobre o povo em mudanças estruturais desde cima desaparecem rapidamente e em vez disso se impôs um modelo que aprofunda a desigualdade social e a criminalização do protesto popular, deixando em evidência mais uma vez que nenhuma mudança real passa pelo retoque no rosto do sistema opressor, e sim pelo verdadeiro empoderamento popular de baixo para cima, da verdadeira democracia direta e da independência de classe como ferramentas capazes de empurrar para trás o inimigo e gerar maiores conquistas que irão pavimentar o caminho para o objetivo final.
Para que este cenário seja utilizável como ponto de apoio na consolidação do processo de rearmamento do movimento popular, deve se ter como uma das tarefas básicas manter aberto e de maneira permanente o ciclo de lutas com a perspectiva de projetá-lo em termos intersetoriais: mais além de seu conteúdo gremial, parcial ou segmentado. É por isso que apostamos na unidade de demandas que hoje se veem pouco visibilizadas, mas que unidas seriam uma forte voz da mudança. Acreditamos que as lutas sociais e ambientais, os protestos sindicais, a luta feminista e de gênero, a resistência cultural, as mobilizações juvenis e estudantis, etc., devem transcender a uma plataforma de unidade desde a diversidade, com caráter classista, que entenda que cada ação e cada tipo de protesto são igualmente importantes na batalha para o socialismo e a liberdade.
É assim que consideramos oportuno consolidar uma corrente perante a tarefa imediata que enfrentamos tanto como no país, na região e a nível internacional. De nada servem levantar projetos enraizados no historicismo ou no mero romantismo de tempos passados, mas que não conseguem responder a questões de nossos contextos, não servem os idealismos míopes que não geram leituras da conjuntura ou não interpretam a complexidade da luta de classes em cada país. Nós também acreditamos que como socialistas libertários temos muito que aprender dos processos de libertação em que embarcaram vários povos e culturas na nossa América Morena em seu caminho contra o imperialismo, bem como em outras regiões que hoje voltam a ressurgir sob as bandeiras redentoras, como o Confederalismo Democrático do povo curdo que, da prática revolucionária em pleno século XXI, está conduzindo uma luta exemplar que merece nossa atenção e apoio.
Por tudo isso, acreditamos que é agora quando urge reforçar as nossas posições e considerar-nos como uma alternativa política e superar todos os vícios de autocomplacência que somente acarreta a marginalidade e que efetivamente nega todo o esforço de criação histórica que tem desempenhado o nosso movimento em direção ao proletariado e ao campo popular em geral. Então, é a partir do exemplo revolucionário de companheiros como M. Bakunin, E. Reclus, N. Makhno , B. Durruti, Lucy Parsons, Manuel G. Prada, Delfín Lévano Miguelina Acosta e outros, que procuramos aprofundar seus exemplos e torná-los carne nas multidões que hoje continuam a lutar pela sua libertação.
Portanto, buscamos repensar os eixos de ação e organização social da tradição rica e longa do anarquismo militante e a sua realização em diferentes processos revolucionários, desenvolvendo a capacidade de auto-organização das massas que entende que qualquer mudança no sistema não é um golpe de sorte ou tarefa de uma minoria iluminada, mas da de todas as forças coletivas de todos e todas, que se nos convencermos poderemos assistir amanhã a esperar – usando uma frase popular – não apenas as migalhas do pão, mas pedir o nosso direito de participar e autogerir toda a padaria. De nós depende que direção deve tomar nossa classe e nossos povos. É hora de se organizar e lutar.
Arriba Las y Los que Luchan!
Avancemos!
Corrente Libertária
corrientelibertaria(a)riseup.net
Tradução > Liberto
Conteúdo relacionado:
agência de notícias anarquistas-ana
Vento frio na estação
Pessoas esperam caladas
Esfregando as mãos
Adriely dos Santos Lima
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!