[Rede Antimilitarista da América Latina e do Caribe (RAMALC) expressa sua solidariedade e apoio à luta das comunidades indígenas mexicanas contra a destruição do Grande Bosque Otomí-Mexica.]
Nós, do grupo de pessoas e organizações que compõe a Rede Antimilitarista Latinoamericana e do Caribe, assim como outros grupos e pessoas afins de 11 países da região, queremos expressar nossa solidariedade com o processo de luta e resistência que as comunidades do município de Lerma, estado do México, protagonizam para defender seu habitat e seus usos e costumes tradicionais, ameaçados hoje pelo projeto de construção do projeto de autopista Toluca-Naucalpan, que atravessará o Grande Bosque Otomí-Mexica, um corredor natural milenar que representa o pulmão central da região mais densamente povoada do México.
Em uma visita realizada às comunidades de Huitzizilapan e Xochicuautla, em 21 de setembro passado, nos permitimos escutar dos líderes comunitários e membros da comunidade os testemunhos acerca das razões do rechaço da população ao projeto. No final do ano de 2007, sem realizar nenhum processo de consulta prévia com a comunidade, o governo começou a construção da estrada, que segundo o projeto afetaria grandes hectares de bosque e moradias de diferentes municípios, habitados majoritariamente pela população indígena. A decisão sem consulta gerou a reação da comunidade, por isso as autoridades tentaram legitimar a infraestrutura realizando um irregular registro de comuneiros e comuneiras que estiveram de acordo com as obras, com quem realizaram reuniões que denominaram assembleias, deixando de fora todas as organizações que questionavam o impacto social e ambiental da autopista. Xochicuautla e outros povos originários afetados organizaram em maio de 2011 a primeira “Conferência dos Povos Originários da Zona Protegida Otomí-Mexica”, para exigir o fim à destruição e as ameaças contra sua natureza e cultura, responsabilizando por estes atos o empresário Juán Armando Hinojosa Cantú do Grupo Higa (conglomerado econômico que lidera este megaprojeto) e ao presidente Enrique Peña Nieto. A resposta governamental foi persistir no projeto, enviar centenas de granadeiros para proteger os interesses da empresa privada e deter 22 pessoas da comunidade que tentaram, de maneira pacífica, impedir a entrada do maquinário nos territórios. Ademais, tentaram modificar juridicamente o uso dos solos para dar legitimidade formal ao que a comunidade qualifica como “despojo”.
Ante este cenário as comunidades indígenas mantêm um acampamento de resistência há mais de quatro meses e afirmam que após a estrada virão grandes obras de infraestrutura e edificações imobiliárias que ocasionarão seu deslocamento, rompendo com isso os tecidos sociais e culturais das comunidades. Ademais, afetarão sítios sagrados e cerimoniais, onde realizam-se diferentes festas religiosas. Por último, o chamado “Cerro Sagrado del Agua”, um dos afluentes hídricos que abastece a região, incluindo a própria Cidade do México, estaria em risco de contaminação.
A situação das comunidades de Huitzizilapan e Hoxicouautla, a construção de grandes infraestruturas que possibilitarão o aprofundamento de atividades extrativistas, acontece não só em outros locais do Estado mexicano mas em muitos países da América Latina e do Caribe. As resistências de comunidades indígenas e camponesas têm sido, nos últimos anos, tanto a principal razão de mobilizações populares, como, da parte do governo, o motivo para as campanhas de criminalização dos protestos. E nessas campanhas foram assassinados e detidos manifestantes, processando-os por delitos de terrorismo e substituindo as organizações legítimas e tradicionais indígenas por outras que possibilitam a realização de atividades extrativistas em territórios originários e lugares de biodiversidade frágil. Nenhum destes projetos seria possível sem a progressiva militarização dos territórios e dos corpos das pessoas que os habitam. A preponderância e crescimento dos exércitos e dos valores militares na América Latina e no Caribe é útil ao modelo de dominação promovido pelo capitalismo globalizado para a região: provedor de maneira segura e confiável de recursos energéticos e matérias primas, ao menor custo possível, ao mercado global, independentemente das consequências sociais e ambientais que esta particular visão de “desenvolvimento” gera.
Como ativistas antimilitaristas seguiremos expressando nossa solidariedade com as lutas populares como as realizadas em Huitzizilapan e Hoxicuautla, denunciando as agressões contra os povos e as violações aos direitos humanos contra as populações, aumentando os laços de solidariedade entre as diferentes lutas e resistências que se realizam na atualidade na América Latina.
Rede Antimilitarista da América Latina e do Caribe (RAMALC)
Outubro de 2015
Tradução > Sol de Abril
agência de notícias anarquistas-ana
Um toque macio,
como o beijo da menina
as águas do rio
Léia
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!