[Anarquista e antifascista, engajado nos anos 1930, tinha completa segurança de suas ideias. Rigor caloroso que se refletia em suas telas pontilhistas.]
Por Leon Carelli
O movimento dos rios e dos mares sempre foram grandes motivadores dos artistas. Para o pintor francês Paul Signac, cuja memória completa hoje 152 anos, a água era uma inspiração primária. Pintor-navegador e mestre das cores, Signac procurou ao longo de sua vida inspiração pelos portos e costas marítimas de Saint-Tropez, litoral sul da França. Ao lado de Pierre Seurat, criou o pontilhismo, técnica pós-impressionista até hoje lembrada nas aulas de arte de todo o mundo.
Era um homem convicto, ligado ao movimento libertário da França. Anarquista e antifascista, engajado nos anos 1930, tinha completa segurança de suas ideias. Rigor caloroso que se refletia em suas telas pontilhistas. Nutria vários elementos em seus quadros. A ideia notável de harmonia transformava-os em narrativas paradisíacas. Pintava a utopia social e a idade do ouro. Não tinha os pés na realidade, idealizava uma arte completa.
Começou a pintar na década de 1880, após concluir os estudos colegiais. Conheceu Seurat em 1884. Sua técnica pontilhista, de certa maneira anti-impressionista (surge em oposição a uma estética dominante e recorrente, mas não existiria sem ela), acompanharia Signac até o fim de sua vida, em 1935, com mais de 70 anos. Essa técnica sofreu várias mutações ao longo dos anos, refletindo os experimentos hábeis do artista.
Vários pintores famosos do final do século XIX passaram temporadas na casa de Signac em Saint-Tropez. Ele era completamente apaixonado pelo mar e explorava as costas da frança através de um pequeno iate chamado Olympia. Após passar por uma perspectiva artística mais ou menos humana nos anos 1890 (como no quadro ‘O demolidor’), passou a engajar-se nas paisagens sem personagens, recriando a natureza.
Técnica
Segundo Tancrède Hertzog, em matéria para o site francês La règle du jeu, especializado em artes e filosofia, a intenção técnica de Signac diferenciava-se da dos demais pós-impressionistas. “Ao contrário dos impressionistas, ele não estava interessado no movimento nem na apreensão do instantâneo. Ele buscava a permanência de uma visão, onde a vibração de cores cria a forma e substitui todo o movimento pela cintilância”.
Hertzog também fala da influência simbolista nos quadros de Signac. Ele utiliza como exemplo o quadro ‘Concarneau: pesca de sardinhas’, de 1891, para falar da musicalidade dos quadros do pintor. Para ele, a tela que retrata o porto de Concarneau causa uma sensação de nota musical alongada. “Suas paisagens são poemas musicais. A vibração colorida de uma grande nota prolongada”.
No paraíso ensolarado de Saint-Tropez, Signac elaborou uma maneira mais livre de pintura, baseada em uma divisão menos rigorosa dos tons, com pontos mais largos e menos minuciosos. Essa técnica tornava mais livre a cor de seus quadros. Tal evolução pode ser observada na tela ‘O porto (noite)’, de 1906. Em uma explosão de cores, Signac encarrega-se de trazer ao mundo uma visão reluzente da noite, diferente de tudo que já havia sido feito antes.
A mutação estilística de Paul Signac ganha cada vez mais força no decorrer do século XX. Apesar das diversas novidades em suas telas, continuava a explorar o pontilhismo como base principal das pinturas, mesmo após a morte de Pierre Seurat, co-criador do estilo. A visão de Signac de Constantinopla (1907) trás a predominância do dourado e do rosa, através da luz, do mar e dos altos mirantes das mesquitas.
Simbolismo
Uma corrente literária surgida na França, no fim do século XIX, fez-se bastante influente nas telas de Signac. O simbolismo literário fez parte da vida do pintor principalmente durante sua passagem pela Bélgica. Possui uma tendência sinestésica bastante ampla, ou seja, relaciona diferentes planos sensoriais em definições surrealistas, como ‘cheiro doce’ (olfato x paladar), ou ‘grito vermelho (audição x visão)’. O simbolismo teve inicio com Charles Baudelaire, através da obra ‘As flores do mau’, de 1857.
O movimento sustenta-se principalmente em três pilares: o subjetivismo (os simbolistas tem maior interesse pelo particular e individual do que pela visão geral), a musicalidade (recursos como aliteração e ressonância para acentuar musicalidade nas palavras) e transcendentalismo (sugerir através das palavras, sem nomear objetivamente os elementos da realidade). O desapego da objetividade e a musicalidade das são marcas registradas dos quadros de Signac.
Na análise de Tancrède Hertzog, a água foi o principal impulso do impressionismo e das artes em meio ao século XIX. “Se um motivo da natureza inspirou os pintores da modernidade na França, durante a segunda metade do século XIX, seguramente foi a água”. A água também seria a responsável pela vida da pintura impressionista. “Com o impressionismo a água derramou das telas. Tudo nos quadros tornou-se incerto, movimentado, fugitivo, a cidade igual ao céu, os campos iguais às árvores”.
Fonte: http://www.dm.com.br/cultura/2015/11/aguas-reluzentes.html
agência de notícias anarquistas-ana
Água de cristal
Forma nuvens coloridas
No meu céu de sol.
Claudia Chermikoski
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!