No sábado, 7 de novembro de 2015, um grupo de refugiados ocupou o edifício abandonado da antiga Casa do Obreiro, em Mitilene, capital da ilha de Lesbos. Nos últimos tempos o edifício, que pertence ao Instituto de Emprego e sequer tinha rede elétrica, foi indevidamente utilizado pelo partido “Comunista” (KKE) para armazenar objetos sem valor e acessórios utilizados em suas atividades públicas.
Após a ocupação do edifício, a iniciativa dos refugiados e dos imigrantes que haviam procedido a ela fez contato com vários solidários, que foram até lá para ajudá-los. Um pouco mais tarde, um grupo de quatro membros do autodenominado partido “Comunista” também foi para o edifício e começou a insultar aos solidários e aos refugiados, procurando “um grego para conversar”… Eles perguntaram por que os refugiados procederam à ocupação do edifício e não pediram para eles, insinuando que os refugiados tinham que pedir a permissão para o partido, apesar de que o partido está fazendo uso indevido do edifício. Eles disseram também… “tínhamos pensado” em abrir o edifício para alojamento dos refugiados que chegam diariamente em ondas para a ilha. Eles, então, saíram do edifício, carregando os acessórios de som e deixando o pouco de comida que tinham armazenado.
Meia hora depois, irrompeu no edifício uma pessoa que estava bêbada. Ela atacou um refugiado e exigiu a saída dos demais. Na sequência ele foi repelido pelos outros refugiados e pelos solidários, que naquele momento estavam dentro do edifício ocupado. Quando, nos dias seguintes, alguns dos solidários perguntaram a membros do partido “Comunista” se tal sujeito era um membro de seu partido, e eles disseram que não o conheciam.
Nesta mesma noite alguns membros deste partido chegaram ao edifício ocupado e deixaram uma caixa com curativos para os imigrantes, por outro lado, na manhã seguinte retornaram e levaram todos os alimentos que não tinham sido consumidos pelos refugiados, junto com cadeiras, fogões, acessórios de cozinha e tudo o mais que encontraram em seu caminho e arrasaram tudo. No mesmo dia apareceu no edifício uma pessoa idosa, que se identificou como aposentado e membro da Casa do Obreiro local. Ele iniciou uma conversa com alguns refugiados e solidários, fazendo perguntas do tipo “Quem são vocês?” e “O que vocês estão fazendo aqui?”. Um pouco mais tarde, entrou no edifício um grupo de quatro membros do chamado partido “Comunista”, e, em seguida, outro grupo de cerca de dez pessoas, membros do mesmo partido, eles usavam capacetes e tinham paus nas mãos. No início, eles bloquearam a entrada e a saída do edifício, e na continuação tiraram a faixa que os membros da iniciativa dos refugiados e dos imigrantes haviam desfraldado na fachada da ocupação.
No entanto, os valentões deste partido não se limitaram a esta agressão. Abusando do direito da entrada aberta que a assembleia da ocupação tinha dado a todos (exceto membros de ONGs), ingressaram no edifício e retiram violentamente três refugiados, entre eles o único que falava grego. E ainda deixaram claro a este refugiado que “a partir de agora nós nos encarregamos da (gestão do edifício)”, agindo de forma autoritária, coerente com a história e as práticas do seu partido e, sobretudo, com suas lideranças. Um dos sujeitos que participou desta agressão fascista foi justamente o bêbado que poucos dias antes os outros membros do partido “Comunista” juraram que não o conheciam…
Os refugiados e os imigrantes começaram a abandonar a ocupa, pois não se sentiam nada seguros estando sob a tutela desses “patrões” que acabavam de tomar em suas mãos a gestão do edifício. Um pouco mais tarde, vários solidários com os refugiados foram para a cercania do edifício ocupado pelas marionetes e demais lacaios do partido “Comunista”. Os solidários começaram a discutir com estes sujeitos que tinham bloqueado a entrada do edifício, gritando várias palavras de ordem contra o papel nefasto deste partido e jogaram ovos e lixo contra eles.
No vídeo abaixo você pode ouvir algumas palavras de ordem gritadas, como “KKE, o partido de covardes” e “Povo à frente, resistência e luta, eles vão te trair novamente em Várkiza”, e reiteradas perguntas dos solidários aos membros deste partido, como por exemplo, onde eles estavam quando os fascistas aprontavam das suas na ilha.
A atitude do partido “Comunista” em Mitilene não nos surpreende em nada. É coerente com a prática deste partido e partidos afins, que não deixa sem reprimir ou dissolver qualquer luta que não pode controlar ou manipular. Este partido luta com fúria contra qualquer projeto horizontal e auto-organizado desde baixo, agindo como um patrão, ao mesmo tempo que abusa do termo comunismo em seu discurso. Com este episódio de Mitilene os imigrantes e os refugiados que fizeram a ocupação do edifício abandonado da antiga Casa do Obreiro tiveram uma boa ideia de como este partido concebe a solidariedade na prática.
Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=vgZby7kOB3Q
O texto em castelhano:
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agência de notícias anarquistas-ana
nuvem que passa,
o sol dorme um pouco –
a sombra descansa
Carlos Seabra
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!