Com entusiasmo e alegria se começa a reconhecer as caras daquelxs que foram a um encontro de fogos, os olhos delataram as presenças de quem ainda sem haver compartilhado espaços anteriormente, interiormente já o faziam, no justo anseio de destruir a autoridade. Desta vez o encontro iconoclasta aconteceu [14 e 15 de novembro] na cidade-monstro de Medellin, na Terceira Feira Anarquista do Livro e do Fanzine.
Desde cedo começaram a chegar de algumas latitudes do território dominado pelo Estado colombiano coletivos e individualidades, transportando-se simultaneamente por diversos lugares para apontar para um mesmo desejo, o de encontrar-se com quem compartilhar e criar antiautoritariamente.
Por alguns dias um espaço foi liberado. Entre livros sediciosos, palavras entrelaçadas, olhares cúmplices, palestras, vídeos, música, esforços compartilhados e reconfortantes, geraram-se reflexões entorno a aprendizagens antiautoritárias em contraposição à domesticação educativa, seja tradicional ou seja das alternativas que não confrontam as lógicas do sistema, senão que mudam sua camuflagem e lhe dá cores mais chamativas mas que não deixam de encobrir o mesmo, uma formação que tem como fim a adaptação a modelos hegemônicos encarregados de reproduzir e justificar relações de dominação.
Também traços e riscos de um teatro irreverente, anárquico e com suspiros para a nada budista, houve rumores de contos selvagens de griots [contadores de histórias] promulgando emancipação, e denúncias esparsas dos cárceres e centros de extermínio, especialmente o da seção feminina do cárcere de Pedregal, onde sob a implantação das novas infraestruturas penitenciárias, se segrega da vida as internas em todos os sentidos, impossibilitando até a entrada do sol, impedindo qualquer contato humano e vivo, introduzindo as grades às mentes dxs presxs interiorizando o controle e a vigilância. Assim são os modelos de cárceres que na atualidade se constroem e empregam a serviço de interesses econômicos, religiosos e sociais, coisificando e consequentemente tentando erradicar até no pensamento qualquer tentativa de dignidade.
Assim continua a Feira, há os que elaboram bonecxs quitapesares¹ e há quem canta seus pesares conspirando gritos libertários, expondo experiências de vida, de música e resistência, seguidamente se debate sobre a autogestão, projetos de autossuficiência e cooperativismo, a socialização de iniciativas editoriais que desde diversos lugares se apoiam na palavra escrita, a memória negra, e o artefato de tinta instigadora, querendo materializar espaços onde a ideia ácrata se revitalize, se retroalimente, se alente e se critique; na intenção de abrirmos sulcos mentais às lutas, posições, e imaginários que sustentam o inventário do passado, presente e futuro anárquico.
Assim como América Scarfó desejamos para nós o que desejamos para todos e todas, a liberdade de atuar, de amar, de pensar, quer dizer, a anarquia na natureza, animais e humanxs, com ela a queda de todos os muros que pretendem em vão apaziguar a chama ácrata.
Enviamos com amor em guerra um abraço fraterno a Freddy Fuentevilla Saa, Marcelo Villarroel Sepulveda e Juan Aliste Veja.
Companheirxs sequestrados pelo Estado chileno que ainda estando na prisão física fizeram voar suas palavras até este encontro expressando-nos seu apoio e luta.
Que as letras ultrapassem fronteiras e as ações ultrapassem barreiras.
Pela liberdade de todxs elxs, presxs na rua!
Companheirxs da Feir(a)
[1] NdT: Bonecos pequenos, segundo o folclore se uma pessoa está com problemas, ela conta aos bonecos antes de dormir, e eles resolvem os problemas.
Tradução > Sol de Abril
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