Face aos acontecimentos de Paris e da guerra permanente do Capital, as organizações sociais, antimilitaristas e pacifistas abaixo assinados declaram:
Os atentados de Paris são parte da guerra que o chamado Estado Islâmico (EI, ISIS ou Dahes) mantém com os estados que compõe junto com os EUA a coalizão armada que intervém militarmente no Oriente Médio. Coalizão que consideram a principal causa dos males que sofrem.
Nós sentimos como próprias todas as mortes desta e de todas as guerras, e condenamos todos os protagonistas, ocidentais e orientais, que antepõe a sua ambição militar ou econômica a defesa da vida, colocando em óbvio risco os civis inocentes de ambos os lados do mundo. A guerra é um crime contra a humanidade e toda a vida humana vale o mesmo, seja de onde seja.
As potências ocidentais ao lado de outras globais e regionais (Israel, Turquia, as monarquias do Golfo, Irã, Rússia…), inimigos de qualquer processo de transformação, tem se dedicado a combater a influência do nacionalismo árabe secular, transformando as revoltas árabes em guerras civis de difícil saída. Os Estados Unidos, Grã-Bretanha e França, principalmente, deixaram o conflito na Síria apodrecer para justificar uma intervenção militar direta que lhes permitiria avançar posições. A Síria tem um volume significativo de reservas de petróleo que aspiram controlar assim como as próprias conduções energéticas que podem transitar através do seu território. Algo semelhante acontece com o transporte ilegal de petróleo através do território turco, até agora aceito pela OTAN e por vários serviços secretos, e que tem vindo a financiar o EI.
Os estados “ocidentais” são diretamente responsáveis, entre outros, pelas guerras e ocupações no Afeganistão, Iraque e Líbia, e também detonou as da Síria e Iêmen, territórios que bombardearam e que armaram grupos como o que agora atenta na Europa, para que atuassem de acordo com seus interesses, causando sofrimento e ódio que inevitavelmente se volta agora contra todos nós.
Nós não confiamos nas “soluções” de quem criou o problema. A guerra que produz mais guerra como uma solução, apenas oculta sua ambição capitalista. Seu objetivo é o controle dos recursos energéticos e matérias-primas de uma geografia, historicamente disputada, que buscam repartir. Além disso, incrementam os benefícios de sua indústria de armas amiga, cuja cotação na bolsa subiu novamente ao ouvir os “tambores de guerra” aliados.
NÃO A GUERRA
Enquanto que para os de sempre, “os de cima”, a guerra produz dividendos, para o povo “de baixo” só nos faz mais perder liberdades, mais destruição, mais pobreza, mais dor e medo, enfrentando-se perigosamente sociedades e culturas que precisam coexistir e apoiar uns aos outros. A intensificação da guerra não vai acabar com os atentados, gerará mais sede de vingança, mais tragédia.
Nós não queremos permanecer vassalos, ou vítimas de políticas criminosas dos estados que nos fazem de objetivo militar. O que podemos esperar daqueles que representam a raiz do problema e estão entrincheirados na retórica de guerra nos arrastando para mais violência e, consequentemente, a mais sofrimento?
É essencial e urgente a mobilização dos cidadãos, uma revolução democrática e não violenta que consiga um autogoverno necessário para romper com as políticas adotadas pelo “nossos” estados muçulmanos em todo o mundo árabe, tanto no Norte da África e no Oriente Médio, cuja única intenção é redesenhar suas fronteiras para o benefício dos lobbies da indústria militar e de energia.
Existem alternativas para esta (des)ordem mundial interessada e violenta: embargo de armas, a proibição de sua venda, da compra de petróleo de contrabando e financiamento de todas as partes em conflito, exigir um cessar-fogo e desmilitarização do território; promoção da deserção e apoio para aqueles que desertam, cujo número vai crescer a medida que cesse o pagamento de salários aos lutadores para o estrangulamento financeiro (tenta-se ocultar que nas linhas do EI também se nutrem uma boa parte dos soldados de guerras anteriores e forçados a lutar sob ameaça de morte, ou, em outros casos, atraídos por esta “vida nova”, financeiramente remunerada e não necessariamente ideologizada ao extremo); destacamento de pessoal mediador para ajudar em um processo de diálogo e reconciliação; apoio à população e setores sociais partidários de soluções pacíficas na Síria, organizações civis, feministas, pacifistas, humanitárias, de auxílio às vítimas, etc, da Síria; acolhimento de todos os refugiados e pessoas deslocadas e apoio à reconstrução (não especulativa) do país para promover o regresso a condições de vida dignas; julgamento de criminosos de guerra…
O mesmo sistema que corta aqui os nossos direitos sociais básicos, que converte em mercadoria a nossa vida é o que chama para a guerra. Defendamos uma cultura de paz para lutar contra a violência estrutural de um sistema baseado na exploração e desigualdade, mantido através do controle social e dos exércitos.
A guerra começa aqui e também pode parar por aqui, lutando contra o nosso próprio militarismo: a permanência na OTAN, as bases militares, os gastos militares, a indústria de armas, a (in)cultura da violência, as relações políticas externas com base no engano, dominação e pilhagem para manter, entre outras coisas, a dependência energética suicida de recursos não renováveis…
Frente a ganância sangrenta dos “mercados” chamamos para a não-cooperação com a guerra, a cooperação internacional para a desobediência civil contra o terrorismo dos estados que ameaçam a segurança do planeta; chamamos a luta social para satisfazer as necessidades sociais, humanas e ecológicas.
Façamos com que as nossas vidas, e não as nossas mortes, acabem com esta guerra nova-velha.
Mambrú (Alternativa Antimilitarista. MOC)
Zaragoza, planeta Terra, 23 de novembro de 2015.
É nossa intenção de fazer público os apoios a este texto no próximo dia 1º de dezembro, Dia Internacional dos Prisioneiros pela Paz.
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Tradução > Liberto
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