Oscar Castelnovo (APL Agencia Para la Libertad)
A militante anarquista Noelia Cotelo, reclusa em Topas, Salamanca, leva mais de 8 anos na prisão. Foi presa para cumprir apenas 1 ANO e MEIO DE PRISÃO. O tempo restante corresponde a causas internas por não ter mostrado submissão perante as brutais violações de direitos que apresenta, copiosamente, o fascismo espanhol em todas instituições de reclusão. A sua rebeldia e atitude frente aos torturadores geram um vendaval de solidariedade em diversos sítios do mundo. Recentemente, os carcereiros proibiram-na de receber o volume “Vivendo a minha vida”, de Emma Goldman, nascida na Lituânia e que foi uma mulher adiantada para a sua época. Desde a sua chegada a Nova York como costureira, aos 20 anos de idade, procedente da Rússia czarista até à sua passagem pelos enclaves socialistas de Lower East Side de Manhattan, dedicou a sua vida aos ativismos a à agitação pública. Teve uma presença influente em acontecimentos políticos distantes, tal como a Revolução Russa e a Guerra Civil espanhola. “Vivendo a minha vida” é uma das grandes biografias do século e um fascinante relato de uma época de turbulências políticas e ideológicas. Os seus escritos e conferências abarcaram uma ampla variedade de temas, incluindo as prisões, o ateísmo, a liberdade de expressão, o militarismo, o capitalismo, o matrimônio, o amor livre, o controle da natalidade e a homossexualidade, desenvolvendo assim novas maneiras de incorporar a política de gênero no feminismo e no anarquismo.
A dispersão conhecida como “calesita”, na Argentina, levou Noelia a estar detida em várias cadeias do estado espanhol. Entre elas, Teixeiro, na Galícia; Brieva, em Ávila; Picasent, em Valência; Albolote em Granada; Soto Real, em Madrid; Mansilla de las Mulas, em León e Topas, em Salamanca. Numa delas, no centro penitenciário de Brieva, um carcereiro partiu-lhe o pulso, em 2013. Com o pulso partido, medicada com psicofármacos e algemada à cama, durante a madrugada, outro carcereiro chamado Jesus – que tinha participado na agressão anterior – tentou abusar sexualmente dela. Noelia denunciou estes acontecimentos mas este ao ver-se surpreendido pela revolta das outras internas, fez uma contra-denúncia em que assegurava que foi esta que tentou agredi-lo. A denúncia desta violação, não só conseguiu que se agravara a sua situação na prisão, submetendo-a a um isolamento mais restrito, como levou a que repartissem pelas demais internas a sua roupa e cobertores. Foi então que Noelia, pela sua denúncia de violações e torturas foi transferida para a cadeia de Albolote (Granada), a mais de 1000 km da sua terra, na Galícia. Começou, em seguida, outra greve de fome, como forma de luta ante os ataques que estava a sofrer em Albolote, estes relacionados com o tratamento desrespeitoso de uma guarda, problemas com o correio e sanções sem sentido.
Perante os ataques seguidos à vida de Noelia através de golpes, da medicação forçada com metadona, descuido médico e submetendo-a ao “Ficheiro de Internos de Seguimento Especial” (FIES), tortura intensa e isolamento estrito, o coletivo Mujeres Libres da CNT Zaragoza, exigiu:
• que se investiguem os abusos sexuais sofridos por Noelia na cadeia de Brieva, assim como as lesões e torturas a que foi submetida e que se apurem responsabilidades.
• que não haja carcereiros homens nos módulos e cadeias de mulheres para que não se volte a repetir nunca nenhum episódio de violência machista, de humilhação, ou qualquer tipo de ataque sexual.
• que se termine com a impunidade e cumplicidades médicxs, de juízxs, psicólogxs, assistentes sociais e demais funcionárixs acólitos destas práticas.
• que se termine, de uma vez por todas, com os maus tratos e torturas como instrumento sistemático e quotidiano usado pelos carcereiros para fazerem funcionar a maquinaria penitenciária.
• que se termina com a dispersão como forma de chantagem da política fascista do Estado Espanhol.
• que desapareçam as cadeias e o sistema penal que o sustenta como castigo punitivo do Estado ao serviço do regime de dominação e exploração capitalista.
• a imediata libertação da companheira Noelia Cotelo.
O fascismo continua vivo na Espanha!
Sobre a proibição do livro, a mãe de Noelia, Lola Riveiro Lois, afirmou: “Não entendo como num estado democrático, como dizem ser a Espanha, proíbem aos/às presxs ter livros para ler. Hoje devolveram-me o livro, no qual está escrito “por razões de segurança”. Estão a anular totalmente os direitos dxs presxs e eu pergunto-me: isto é democracia, ou é mais tortura? Quero agradecer a todxs que com grande esforço me fizeram chegar esses livros. Xs carcereirxs estão a querer ser justiceirxs. São a justiça e fazem o que lhes apetece. Eu não entendo porque não se pode ler livros, ainda mais livros que fazem parte do depósito legal”.
As proibições de aparência absurda; as leis repressivas; a perseguição feita a lutadorxs, sindicalistas, jornalistas e as cruéis cadeias espanholas, mostram que o fascismo continua robusto e a exercer toda a crueldade com o povo vulnerável. A Noelia é castigada pela luta incessante contra o regime monárquico-capitalista, onde os reis, políticos e juízxs conformam uma classe parasitária e opressora. Assassinam elefantes e devastam seres humanos. Por isto lhes é perigoso o livro de Emma Goldman nas mãos de uma lutadora como Noelia. Porque foi Emma que disse: “uma mudança social real nunca foi levada a cabo sem uma revolução…
Revolução não é senão o pensamento levado à ação”. Liberdade para Noelia!
Tradução > Ophelia
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