Em 10 de setembro de 2016 será inaugurada em Tessalônica mais uma Feira Internacional. Mais uma feira que terá o pacote inteiro: Pavilhões-monumentos de consumismo, concertos com cantores endinheirados, supostamente populares, e, claro, com o primeiro ministro do país inaugurando a feira com declarações sobre “o futuro da economia”.
Desde 2012, ano em que o país entrou no Fundo Monetário Internacional, até hoje, todos os primeiros ministros que “se encarregaram de resgatar (salvar) o país” anunciam (nesta feira) as novas medidas, os novos cortes, sempre prometendo o cobiçado “desenvolvimento”.
Para nossa classe este ano foi um ano mais de retrocesso. A ofensiva que recebeu não a fez regressar a “séculos anteriores” ou a “medievais”, senão que marcou a imagem de seu futuro. Trata-se do futuro da ofensiva por todos os lados do Estado e do Capital ao trabalho, a seguridade social, as liberdades sociais, o meio ambiente e os bens sociais. Depois dos cortes nos salários, nas pensões e em todas as prestações, a subida dos preços nos artigos de primeira necessidade, veio a mudança da legislação sobre a seguridade social (ou seja, a eliminação da seguridade social) e os leilões de casas que s&atild e;o primeiras residências para os que as habitam.
Ao mesmo tempo, as declarações humanitárias do Syriza sobre a questão migratória logo se transformaram para estar em plena concordância com as ordens da União Europeia sobre este tema. Surgiram por todos os lados “assentamentos de hospitalidade” para congestionar em seu interior os imigrantes que o Estado grego não pôde atirar ao mar, entrou em vigor o pacto da vergonha (inclusive para os padrões da democracia burguesa) entre a União Europeia e Turquia, começaram as prisões dos solidários que durante meses ofereciam seus serviços nos centros de reclusão, o centro de reclusão de Idomeni foi evac uado pelas chamadas forças antidistúrbios, e os campos de concentração para imigrantes e refugiados (que nunca fecharam totalmente) já estão se enchendo. Os e as imigrantes, a parte mais subestimada de nossa classe, foram amontoados em armazéns, barracas de campanha e cárceres (tal como é devido, segundo a Soberania), aguardando converter-se no potencial humano dócil da Europa civilizada. Trata-se de um potencial humano cujas alternativas serão inexistentes, cujas resistências serão esmagadas, e o valor de cuja vida será inexistente.
Neste contexto, cada Poder que tem respeito a si mesmo faz o mesmo: Por um lado priva (tira) liberdades e “direitos” que no passado serviam a sua perpetuação, e por outro lado agudiza a repressão. Em uma só noite desaloja três okupas de teto para nativos e imigrantes, e faz vista grossa sempre que seus guardas uniformizados pisoteiam os “direitos democráticos”. São os mesmos guardas que até ontem chamava a desarmar-se e a “democratizar-se”. Que acontece se um preso albanês foi encontrado morto (3 de agosto de 2016), ou se dois presos políticos foram torturados depois de sua de tenção (5 de agosto de 2016)? Nem sequer se fez menção a uma investigação administrativa (a qual, obviamente, seria cômica). Neste entorno desértico as ruas permanecem vazias (sem encher). A “raiva popular”, que alguns esperávamos, segue sem expresar-se. Os últimos anos foram relativamente tranquilos para as classes sociais dominantes, sem agitações e sem resistências significativas. A responsabilidade de nossa parte (ou seja, dos que pensamos na ruptura revolucionária com o existente) são importantes. Nossas debilidades organizativas e políticas nos conduziram à deficiência de transmitir de forma suficientemente convincente a mensagem da ruptura, e de revelar a estafa reformista. Em poucos meses foi revelada a discordância entre a ilusão falsa expressada pelo programa do Syriza (e cada programa social democrata semelhante, que promove a continuação da barbárie capitalista “com rosto humano”) e a realidade do capitalismo moderno. O fracasso (de levar a cabo este programa) conforma a única verdade que pode surgir dos dados reais: Na crise capitalista global há dois caminhos: A aceitação das condições do totalitarismo moderno, e a revolução social. Não há outro caminho.
Depois de dois anos de diálogo, foi criada a Federação Anarquista em novembro de 2015. Para todos e todas os e as que participamos nela, foi uma tentativa de melhorar a organização que considerávamos que necessitava o âmbito anarquista. É um coletivo de coordenação, deliberação e coexistência, a qual pode ter um campo (espaço) de ação maior que ele que poderia ter cada um de nós individualmente. Nunca acreditamos que a Federação pudesse constituir em si um coletivo suficiente para a edificação do movimento revolucionário. Tentamos, e seguimos tentando, atuar em comu m com companheiros e companheiras que tem uns pontos de vista parecidos, não necessariamente comuns.
Hoje um novo polo revolucionário deve enfrentar-se à investida do totalitarismo do mercado e às políticas desorientativas das social democracias de todo tipo (parlamentar e extraparlamentar). (Será) um amplo movimento que se centrará na meta de uma saída do Estado, sobre a base do comunismo libertário, do comunalismo e do trabalho humano emancipado. Nosso trabalho é esforçar-nos ao máximo por criar uma frente social e de classe, para desatar um ataque constante junto com a classe trabalhadora e todos os oprimidos, edificando uma ampla comunidade de solidariedade e de ajuda mútua, a qual será o precursor de uma nova sociedade.
Para nós, a tentativa da formação de uma federação anarquista, de uma instituição política e de conexão organizativa horizontal, para materializar um programa libertário e anarquista, é um passo decisivo. A melhora política e organizativa da corrente anarquista constitui um marco fundamental na trajetória (processo) da criação das condições da subversão.
Somos conscientes que só os próprios oprimidos podem romper suas correntes. Nenhuma organização política, qualquer que seja seu título político, não pode encarregar-se desta tarefa em seu nome. O objetivo de nosso projeto (tentativa) organizativo não é tomar o Poder, senão destruir os cimentos de todas as edificações de Poder, montando barricadas aos planos de todos os gestores do Estado.
Tentamos, e seguimos tentando diariamente, formar um coletivo político que agudize e reforce a resistência, que contribua à conexão das lutas, e que as junte, dirigindo-as ao caminho da revolução social. Deixamos claro que estamos presentes na guerra de classe que está em curso, unidos contra o estatismo e o reformismo, aprendendo com as lições do passado e do legado do anarquismo histórico, desejando contribuir todo o possível com a materialização do programa anarquista-comunista. Frente à fragmentação, propomos a organização e a luta, para poder sair do ventre do monstro, e para poder contemplar a luz da emancipação social.
Porque o totalitarismo moderno morrerá atravessado pelas lanças dos escravos…
Coletivização, unidade, ataque.
Marcha na Feira Internacional de Tessalônica de 2016: Sábado, 10 de setembro, às 17h, em Kamara.
Federação Anarquista
O texto em grego:
https://athens.indymedia.org/post/1562575/
O texto em castelhano:
Tradução > Sol de Abril
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Rogério Martins
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!