Aula Teatro: Emma Goldman, uma vida libertária, por Cibele Troyano. Dia: 05 de outubro de 2016. Horário: 18 horas. Local: Anfiteatro da Universidade Federal de São Paulo, Estrada do Caminho Velho, 333 – Pimentas, Guarulhos-SP.
Há cerca de dois anos me surgiu a ideia de formar uma Companhia de Teatro Libertário. Eis que essa ideia está tomando formas, proporções e está prestes de se tornar uma realidade concreta onde através do teatro, do apoio mútuo e da autogestão, com o cerne da arte como força motriz, iremos propagar o ideal libertário, e principalmente, de forma visceral dissipar todas as nossas inquietações na atuação, como seres potencialmente criadores, tal qual somos. Quem conhece a força que o Teatro Libertário teve no Brasil nos anos de 1920 e amiúdes nas décadas posteriores sabe da imensidão que vamos criar!!!
O Estado tem uma única raison d’etre: quer extinguir nossa sensibilidade, quer massacrar todo nosso potencial criativo, nossos pensamentos, nossas vontades, nossa liberdade como seres humanos. Mas a nossa razão de ser é potencialmente mais forte, resistiremos mesmo em tempos de mordaças.
Teatro é ferramenta revolucionária, todo ser humano é potencialmente um artista e com o Teatro Libertário iremos potencializar essa criatividade inerente que existe em todos nós, usando-a, como diz Oscar Wilde, para conscientização política, social, existencial, usando-a para nos libertamos de todo tipo de clichê, escravidão, costume, tirania dos hábitos e o rebaixamento do homem ao nível de máquina.
Aos Jovens, por Piotr Kropotkin
É aos jovens que quero falar hoje. Que os velhos — os velhos de coração e de espírito, bem entendido — ponham o livro de lado para não fatigarem inutilmente seus olhos com uma leitura que nada lhes dirá. (…)
Uma primeira questão, sei disso, se apresenta. “O que eu me tornarei?” Você se perguntou muitas vezes. Com efeito, quando se é jovem, compreende-se que, após ter estudado uma profissão ou uma Ciência durante vários anos — à custa da sociedade, observe bem —, não é para fazer dela um instrumento de exploração, e seria preciso ser bem depravado, bem carcomido pelo vício, para nunca ter sonhado, um dia, aplicar sua inteligência, sua capacidade, seu saber, para ajudar a libertação daqueles que pululam hoje na miséria e na ignorância.
Você é daqueles que sonharam, não é verdade? Bem, o que fará para que seu sonho se torne uma realidade? (…)
Não sei em que condições você nasceu. Talvez, favorecido pela sorte, concluiu os estudos científicos; será médico, advogado, homem de Letras ou de Ciência; um amplo campo de ação abre-se a sua frente; entrará na vida com vastos conhecimentos, as aptidões desenvolvidas; ou, então, será um honesto artesão, cujos conhecimentos científicos limitam-se ao pouco que aprendeu na escola, mas que teve a vantagem de conhecer de perto o que é a vida de rude labuta do trabalhador de nossos dias. (…)
E nesta luta sem fim, quantas vezes o trabalhador, sucumbindo sob o peso dos obstáculos, não se perguntou em vão: “Onde estão, pois, esses jovens, que estudaram à nossa custa? Esses jovens que alimentamos e vestimos enquanto eles estudavam? Para quem, com o dorso curvo sob o fardo, e o ventre vazio, construímos essas casas, essas academias, esses museus? Para que, com o rosto pálido, imprimimos esses belos livros que não podemos sequer ler? Onde estão esses professores, que dizem possuir a Ciência humanitária e para quem a Humanidade não vale uma espécie rara de lagartas? Esses homens, que falam de liberdade e nunca defendem a nossa, pisoteada todos os dias? Esses escritores, esses poetas, esses pintores, tod o esse bando de hipócritas que, em uma palavra, com lágrimas nos olhos, falam do povo, e que nunca se encontraram ao nosso lado para nos ajudar em nossos trabalhos?”
Vocês, poetas, pintores, escultores, músicos, se compreendem sua verdadeira missão e os próprios interesses da Arte, venham, então, colocar sua caneta, seu pincel, seu buril em favor da revolução. Conte-nos em seu estilo figurado ou em seus quadros surpreendentes as lutas titânicas dos povos contra seus opressores; inflamem os jovens corações com esse belo sopro revolucionário, que inspirava nossos ancestrais; diga à mulher o que a atividade de seu marido tem de belo se ele dá sua vida à grande causa da emancipação social. Mostre ao povo o que a vida atual tem de feio e faça-nos tocar nas causas desta feiura; diga-nos o que uma vida racional teria sido, se ela não se chocasse a cad a passo contra as inépcias e as ignomínias da ordem social atual.
Enfim, vocês todos, que possuem conhecimentos, talentos, se têm coração, venham, pois, vocês e seus companheiros, colocá-los a serviço daqueles que mais precisam. E saibam que, se vierem, não como senhores, mas como camaradas de luta; não para governar, mas para se inspirar em um novo meio; menos para ensinar do que para conceber as aspirações das massas, adivinhá-las e formulá-las, e depois trabalhar, sem descanso, continuamente, com todo o ímpeto da juventude, a fazê-los entrar na vida — saiba que, então, mas só então, você viverá uma vida completa, uma vida racional. Verá que cada um de seus esforços feitos neste sentido produz amplamente seus frut os — e este sentimento de acordo, estabelecido entre seus atos e mandamentos de sua consciência, lhe dará forças que você não suspeitava existir em você mesmo.
Todos vocês, jovens sinceros, homens e mulheres, camponeses, operários, empregados e soldados, compreendam seus direitos e venham conosco; venham trabalhar com seus irmãos para preparar a revolução que, abolindo toda escravidão, quebrando todas as correntes, rompendo com as velhas tradições e abrindo a toda Humanidade novos horizontes, virá enfim estabelecer nas sociedades humanas a verdadeira Igualdade, a verdadeira Liberdade, o trabalho para todos, e também para todos o pleno gozo dos frutos de seu trabalho, o pleno gozo de todas suas faculdades; a vida racional, humanitária e feliz!
Que não venham nos dizer que somos um pequeno punhado, muito fraco para alcançar o objetivo grandioso que visamos. Nós venceremos, ainda que séculos de luta nos esperem.
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