Um fio de anarquismo

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Por Iza Salles, autora de “Um Cadáver ao Sol”

O que é feito do anarquismo? Eis a pergunta que faço na última página de “Um cadáver ao Sol”, meu livro de 2005 relançado agora em eBook. A pergunta tem razão de ser, já que o anarquismo é parte substancial do livro destacando-se desde o século XIX como a teoria mais popular nas lutas sociais, depois como principal adversário do marxismo, Bakunin à frente; em seguida na revolução russa de 1917; antes disso, lá estava ele na organização dos trabalhadores do Brasil e até na fundação do Partido Comunista Brasileiro – dos nove fundadores do PCB, sete eram anarquistas.

Parei nos anos 30 porque ali termina a história de Antonio Bernardo Canellas, que conto no livro. Mas depois, o que aconteceu com o anarquismo? Bem, sabemos que ele ressurge com força na revolução espanhola e… desaparece. Seu principal adversário, o comunismo, tomou conta de tudo, até 1989 quando um certo muro cai revelando a farsa. Vemos, a partir de então, o comunismo cambaleante, atordoado, sem rumo.

Novamente me faço a pergunta no final, depois do capítulo “O fim de todos” quando falo da morte dos heróis do meu livro. E o anarquismo?

A melhor resposta foi a do historiador George Woodcock em “História das Ideias e Movimentos Anarquistas”. O anarquismo não morre nunca, diz ele:

Não é um curso d’água cada vez mais forte, correndo em direção a seu destino, imagem mais adequada ao marxismo. É um fio de água filtrando-se através do solo poroso, formando aqui uma corrente subterrânea, ali um poço turbulento, escorrendo pelas fendas, desaparecendo das vistas para surgir onde as rachaduras da estrutura social possam lhe oferecer uma oportunidade de fluir. Como doutrina, muda constantemente. Como movimen to, cresce e se desintegra em permanente flutuação, mas nunca se acaba”.

Com tudo isso Woodcock quis dizer apenas que o anarquismo permanece vivo em todos os movimentos libertários que se rebelam contra a opressão, na luta dos negros, das mulheres, dos homossexuais, em todas as lutas que estão por vir. Portanto, viva o anarquismo, mais do que nunca, vivo.

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João de Deus Souto Filho