Recentemente vimos se dirigir à opinião pública com seu agasalho do Che e fazendo alarde de uma moralidade cristã no manejo dos temas fronteiriços com o Chile. Se antes o governo chileno atuou sob o estreitíssimo apego à sua institucionalidade burguesa, colonialista e racista, hoje Evo pretende não fazê-lo ao mandar aos carabineiros [polícia militar] chilenos direto a suas casas, livres de cargo algum e sem um arranhão. Bem por Evo e seu joguinho diplomático. O problema está em que esse desperdício de empatia, bondade, superioridade moral ou como queiram chamar os progressistas que o aplaudem, não foi precisamente o que colocou em sua política interna ao enfrentar a mobilização de mulheres que aconteceu na sexta-feira, 7 de julho, em Cochabamba.
A “Marcha de Mulheres pela Vida, o Corpo, o Território e a Dignidade” aconteceu no marco do “Aquelarre Subversiva”, um encontro feminista anual que teve o êxito de convocar mulheres de diversos países. Foi um esforço do movimento feminista autônomo boliviano para consolidar laços internacionalistas e a ele acudiram mulheres desde Espanha, Argentina, Equador e Chile, entre outros países. É que a luta em defesa do corpo feminino e do território é uma razão mobilizadora capaz de burlar as fronteiras impostas pelos Estados depredadores. Isso o sabem todos os governos e por isso temem que rompemos a raiz da violência machista que hoje nos mantém acumulando cifras de feminicídio e nomeamos o saque imposto pela IIRSA [Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana] para desvendar todos os “projetos” com os quais ameaçam despojar-nos da água, da terra e da vida.
Companheiras feministas foram detidas no marco de uma forte repressão policial contra esta mobilização. Contra elas se fizeram acusações que não se quiseram fazer contra os pacos [policiais] fronteiriços. A elas, se lhes golpeou e maltratou como não fizeram contra os carabineiros chilenos. Com elas não houve diplomacia nem moral cristã capaz de conter a fúria repressiva. Assim, a companheira vinda da Espanha, a que havia viajado desde Argentina, a que havia cruzado desde Chile e outra nascida na Bolívia, se viram atrás das grades da Unidade Tática de Operações Policiais (UTOP) e posteriormente foram transferidas à sede da FELCC, a Força Especial de Luta contra o Crime. Do lado de fora desta jaula, o movimento autônomo feminista apostou em uma vigília, exigindo a liberação destas companheiras cujo maior crime foi pichar as paredes com suas demandas e denúncias. Às advogadas que tentaram estabelecer comunicação com as detidas, foi negado o acesso sob o pretexto de uma suposta “cumplicidade”. E em um sobejo de misoginia, a justiça macho do Estado boliviano asseverou que somente permitiria o acesso de um advogado homem.
As mulheres detidas foram liberadas após quase seis horas. Para garantir sua liberação carcerária, as companheiras se viram forçadas a assinar uma ata de compromisso para emendar os supostos danos provocados a fachadas e comparecer no dia 10 de julho na promotoria.
Desde a Revista Arpillera nos solidarizamos com as companheiras repreendidas e condenamos a violência com que as instituições do Estado boliviano é capaz de fazer frente a mobilização de mulheres que buscam precisamente pôr um fim aos mau-tratos que colocam em risco a vida das mulheres e seus territórios.
Solidariedade Internacionalista e Apoio Mútuo Feminista!
Contribuições Solidárias desde outras regiões, coordenar através de:
aquelarresubversiva@riseup.net
Arpillera, revista de estudos feministas e anarquistas
Fonte: http://revistaarpillera.blogspot.com.br/2017/07/evo-contra-el-internacionalismo.html?spref=fb
Tradução > KaliMar
agência de notícias anarquistas-ana
A abelha tristonha
— fauna e flora devastadas —
produz mel amargo.
Leila Míccolis
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!