Em defesa da okupação rural e do território!
Okupação rural?
A okupação rural é uma prática menos conhecida que a okupação urbana. Contudo, existe e é forte em muitos lugares do mundo. As características diferem de acordo às circunstâncias que levam à okupação rural. Tem as que se realizam para defender um lugar contra a construção de grandes infraestruturas (a ZAD em Nantes [França], Anti-TAV no Valle de Susa [Itália], a Anti-MAT em Girona [Espanha]), as que tratam de salvar bosques frente empresas energéticas (Hambach em Colônia [Alemanha]) ou as que recuperam povoados abandonados pelo esquecimento. Este último é bastante difundido no Estado espanhol e sobretudo no Pré-Pirineus são mais comuns, como por exemplo a defesa do território e o experimentar novas formas de vida, ao mesmo tempo que se buscam fórmulas de emancipação individual e coletiva.
Durante os últimos 20 anos, desde o desalojamento de Sasé, uns dos povoados abandonados que se encontra em La Solana (Huesca), a okupação de povoados rurais e do território se incrementou e vivemos um momento em que a ameaça à okupação rural é mais evidente. Os companheiros de Fraguas (Castilla-La-Mancha) se enfrentam a um julgamento no qual lhes pedem 4 anos e meio de cárcere a cada um dos acusados e 26.000 euros para pagar a demolição das casas que eles mesmos construíram. Em Urniza (Navarra) também tem que fazer frente a pressão por parte dos florestais, além de terem recebido uma carta de desalojo e estão à espera de uma resposta por parte da administração florestal. Em vários povoados de Huesca estão recebendo diferentes pressões, seja através de multas, ameaças, tentativas de negociação enganosa, etc. Para acabar, os companheiros de Casa Selba (Huesca) foram os primeiros que sofreram esta repressão em suas casas. Em 25 de maio de 2017 se enfrentaram a um julgamento, por usurpação, do qual foram absolvidos, todavia correm perigo de serem desalojados, à espera de quais passos vão dar os que destroem o território, para expulsá-los do espaço que com tanto trabalho recuperaram.
Por tudo isso, queremos realizar uma chamada internacional à solidariedade e ao apoio mútuo, para poder resistir a um possível desalojo e nos unir porque sabemos que apesar da repressão, a okupação rural continuará viva e firme. É por isso que vamos realizar uma Jornada de Okupação e Resistência Rural em Casa Selba, de 8 a 7 de setembro de 2017, iremos informando à medida que forem surgindo novidades. Apenas queremos convidar a todas aquelas pessoas que desejam defender o território de sua destruição, compartilhar e aprender, pelo que pedimos que reservem estas datas e os ponha em contato conosco para poder organizar estas jornadas da melhor forma possível.
Onde?
A Selba é uma pardina [terreno em que se desenvolve uma atividade agropecuária] situada nos confins do Sobrarbe (Huesca, Estado espanhol), propriedade da Confederação Hidrográfica do Ebro (CHE) desde 1963, em que foi expropriada a seus antigos habitantes, assim como outros povoados circundantes para a construção da barragem do Grabo, obrigando a seus habitantes a abandonar suas vidas e ficando um vasto território abandonado e inundado. Em 2010 se okuparam estas casas e os terrenos ao redor, muito deteriorado pelos longos anos de abandono. No último 25 de maio houve um julgamento por usurpação no juizado de Boltaña, do qual foram absolvidas todas as pessoas.
No dia do julgamento, em Boltaña, se concentram umas 230 pessoas. Por isso, e também pela massiva resposta às chamadas à solidariedade e ao apoio mútuo recebida nas Jornadas Rurais Antirepressivas que aconteceram em Selba em 26 de maio. Entendemos que para defender a Selba podemos contar apenas com a solidariedade e a força coletiva de todas as pessoas que nos apoiam.
Sabemos que a Casa Selba e os outros povoados em perigo de serem desalojados não estão só. Por isso queremos animar também a todos aqueles que lutam pelo território a ir a estas jornadas, já que o inimigo é comum. A CHE só responde aos interesses do capital, igual que todas as demais agressões contra o território se produzem em nome desses mesmos interesses.
O que é a CHE e porque é uma corporação criminal?
A CHE é oficialmente um ente público, dependendo do Governo do Estado Espanhol. Ademais, é responsável da construção e gestão das grandes infraestruturas, represas, canais, etc) que destroem grande parte da Bacia do Ebro. De acordo com seus próprios dados em toda Cuenca do Ebro foram deslocadas 13.000 pessoas pela construção de barragens. Apenas no Pirineus de Huesca esta cifra aumenta para 7.000 pessoas, além de 65 povoados desabitados forçosamente.
Atualmente a CHE planeja construir uma barragem em Biscarrués, condenando à morte a um vale ao lado do curso do rio Gállego, e inundando o povoado de Erés. Está ampliando a barragem de Yesa e tem planos para ampliar e construir outras 2 barragens.
Assim que podemos afirmar sem medo a nos equivocar que: A CHE MATA O TERRITÓRIO!
Porquê okupamos no monte?
Escolhemos a okupação rural como modo de vida porque pertencemos a uma geração de pessoas “expulsas” das cidades devido à falta de expectativas que estas podem oferecer. O capitalismo nos mostra um rosto cada vez mais cruel e as cidades se converteram em uma fuga onde o único que se pode fazer é comprar e vender. Não há lugar para quem não pode ou não quer participar desta dinâmica. Cada vez somos mais os que sentimos a necessidade de deixar de alimentar a máquina de crescimento infinito, gerando por nós mesmos nosso meio de vida. O entorno rural reúne as condições para tentar viver de um modo mais autônomo, reduzindo ao mínimo as necessidades monetárias.
Por outro lado, no Estado Espanhol há imensos territórios que são propriedades do Estado, fruto de políticas desenvolvimentistas que por um lado buscavam o benefício privado através da construção de mega infraestruturas, e por outro indubitavelmente buscavam mão de obra barata para trabalhar nas fábricas que estas infraestruturas possibilitavam.
É por isso que nos parece totalmente legítimo reapropriarmos coletivamente destes territórios, tentando viver de um modo mais coerente conosco mesmo e com nosso entorno. Assim, ademais de colaborarmos a manter vivos uns territórios absolutamente abandonados e a memória daqueles que foram expulsos. Queremos animar a mais pessoas a se juntar, especialmente aqueles que compartilham os motivos que nos empurraram a nos lançar ao monte. Atualmente, em Aragão há dezenas de povoados abandonados, propriedade da CHE e do Estado.
Enquanto isso, os animamos a contactar conosco através de selba-coord [at] riseup [dot] net e nos mostrar seus apoio além de convidá-los de novo às Jornadas de Okupação e Resistência Rural. Também queremos convidá-los a participar na organização destas Jornadas, que como já sabem são totalmente autogeridas, e sempre vai bem contar com pessoas que nos ajude na organização.
Se há pessoas interessadas em vir antes das jornadas para ajudar aos povoadores da Casa Selba, que se ponham em contato através de vivalaselba [at] riseup [dot] net
FRAGUAS, URNIZA Y SELBA NO REBLAN!
Colectivos Rurales: https://colectivosrurales.wordpress.com/2017/07/04/jornadas-de-resistencia-y-okupacion-rural/
Casa Selba: https://vivalaselba.wordpress.com/
Fraguas Revive: https://fraguasrevive.blogspot.com/
Urniza: urnizacoletivo [at] gmail [dot] com
Tradução > KaliMar
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!