Texto da União Sindical Libertária de Tessalônica, publicado em sua página web.
Em um verão muito quente na Grécia da crise, algumas pessoas passam muitos meses em uma ilha, não de férias mas sim tentando sobreviver. Parece que neste âmbito (entorno) de plena dissolução, com o desemprego dos jovens chegando já a 50%, o setor turístico pode absorver uma pequena parte do potencial operário, sobretudo aos jovens. Os especialistas levam anos dizendo que o futuro da Grécia passa obrigatoriamente pelo turismo.
Mas, o quê se esconde por detrás desta vitrine que nós vemos como “clientes”? O quanto sincero é este sorriso com o qual nos dão a boa-vinda os trabalhadores no negócio turístico em que trabalham? E por último, quanto custa para os patrões a dignidade e a necessidade de sobreviver dos trabalhadores?
Muitos trabalhadores, sobretudo os jovens, no verão não tem férias. Tratam de economizar dinheiro para poder sobreviver no inverno. Trabalham e sofrem a violação de seus direitos por parte dos patrões. Estes últimos costumam explorar ao máximo aos trabalhadores que vão (aos lugares turísticos) a trabalhar na temporada, pensando que os trabalhadores que trabalham para eles são parte de sua propriedade e não tem direito a ter vida privada.
O fenômeno de exploração mais frequente em várias zonas turísticas é que o patrão tenha declarado aos trabalhadores como trabalhador por tempo completo, ou seja oito horas diárias, cinco dias por semana, que o trabalhador se veja forçado a trabalhar nove ou dez horas ao dia, sete dias por semana, e que (obviamente) não cobre nunca estas horas extraordinárias.
Também, os patrões costumam atrasar muito em pagar aos trabalhadores (isso se chegam a pagar todos os salários no fim da temporada). Isto significa que o trabalhador tem que sobreviver por conta própria durante o tempo em que fica na ilha. É fato também que o dinheiro recebido é quase sempre “negro”, enquanto que a jornada laboral vai mudando constantemente segundo a necessidade do patrão, sem que seja consultado o trabalhador ou a trabalhadora.
Frequentemente as exigências dos patrões são exorbitantes (exasperantes), já que muitos deles proíbem aos trabalhadores até de se sentarem e fazer algum descanso durante a jornada. Alguns querem controlar a vestimenta ou a forma de se vestir dos trabalhadores, já que lhes exigem ao pessoal não ter unhas pintadas, não usar brincos, não ter tatuagens e outros acessórios que podem fazer perder sua clientela valiosa.
Alguns patrões chegam ainda a pontos mais extremos. Querendo ter o controle absoluto sobre a vida dos trabalhadores, eles fiam com a chave do lavabo do negócio, uma vez que argumentam que com o pretexto de sua necessidade fisiológica os trabalhadores se abstém do trabalho mais tempo do que o devido. Por último, em alguns casos os patrões não duvidam em cortar o salário dos trabalhadores, seja por exemplificação ou com o pretexto de incumprimento das “normas” do negócio por exemplo, argumentando que os trabalhadores levavam muito tempo conversando, ou que eles estavam sentados, se isto está proibido, etc.)
A única vantagem que costumam ter os que vão a um lugar turístico para trabalhar durante a temporada é que o patrão lhes facilita alojamento e comida. Não obstante, isto não é do todo positivo, dado que o alojamento dos trabalhadores é de baixa qualidade e não tem nem sequer as comodidades básicas. Frequentemente se denunciam casos nos quais as habitações não tem nem sequer janelas, são muito pequenas e podem ser usadas exclusivamente para dormir.
Para poder contestar a estas arbitrariedades da patronal, nós, os trabalhadores independentemente de idade, sexo e nacionalidade, devemos nos organizar de maneira combativa em nossos sindicatos, aguçar o antagonismo de classe e reclamar nossos direitos, até recuperar o que nos pertence, sendo conscientes de que as sociedades que são conduzidas à indigência tendem a se rebelar.
União Sindical Libertária de Tessalônica
O texto em grego:
http://ese-thessalonikis.gr/2008-11-14-17-35-37/2008-12-22-14-16-34/235-2017-09-03-08-59-31.html
O texto em castelhano:
http://verba-volant.info/es/las-temporadas-turisticas-del-terror/
Tradução > KaliMar
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Não posso deixar de pensar que aqui, no Brasil, não é muito diferente. Variam uns ou outros aspectos, mas a exploração também é brutal. Nunca trabalhei em hotelaria, mas já viajei muito, morei em hotel muitas estrelas quando trabalhei em Brasília durante alguns meses e pude observar e perceber as condições em que trabalham os companheiros de hotelaria e restaurantes. Condições essas agravadas pela cumplicidade de clientes, muitos deles também trabalhadores assalariados, que os tratam como se fossem seres inferiores cujo destino é servi-los e não prestar-lhes serviço. Esta é uma luta pela dignidade de todos os trabalhadores. Solidariedade com os trabalhadores gregos! Por organizações libertárias, combativas, dos empregados em hotelaria no Brasil! Pela dignidade da Classe Trabalhadora!