“(…) O que é uma opinião? É uma ideia tratada, uma ideia que foi uniformizada de modo a se tornar aceitável para o maior número de pessoas. As opiniões são ideias massificadas. É importante para o Poder que essas opiniões se mantenham, pois é através da opinião e de seu controle que se consegue determinados resultados (…) O que significa então se opor à fabricação de opiniões? Significa adquirir mais informação? Opor contrainformação à informação? Não, isso não é possível, pois não interessa como olhamos para ela. Não é possível se opor a enorme quantidade de informação com a qual somos bombardeados diariamente com contrainformação capaz de desmascarar, através de um processo de investigação de causas escondidas, a realidade que foi coberta por todo aquele palavreado informativo. Não, nós não podemos operar nessa direção. Quando tentamos fazê-lo, detectamos que isso não tem sentido, de que nós não queremos nem somos capazes de convencer as pessoas (…). Esse não é o tipo de trabalho que precisamos fazer, e em qualquer caso não contém elementos de contrainformação, ou se os contém é puramente acidental. Esse trabalho tem que ser essencialmente o objetivo, ou deveria ter, de construir uma ideia ou um certo número de ideias-chave, um certo número de ideias fortes”. – A.M. Bonano.
No ano de 2008 uns grupos de individualidades anarquistas de distintos pontos da Galícia, ligadas por anteriores projetos, relações de afinidade e por uma coordenação informal, sentiram a necessidade de nos dotar também de um órgão de expressão e ao mesmo tempo gerar um espaço de referência para a comunicação no que as diferentes sensibilidades antiautoritárias pudessem construir, desenvolver seu discurso e confrontar ideias, além de facilitar sua coordenação mediante um trabalho informativo e viabilizar a nível internacional tanto as lutas antagonistas que se desenvolvem na Galícia como dar a conhecer nessas latitudes as realidades distintas e os contextos de lutas contra a dominação em outros territórios do mundo. Desse modo realizamos a criação de uma revista em papel, complementada por um blog de caráter mais dinâmico e periódico, que ajudasse a preencher esse espaço. À essas ferramentas acrescentamos no ano de 2015 um boletim mensal em distintos centros de estudo e trabalho e obviamente em diferentes espaços libertários. Esse boletim publicou sua última edição em maio de 2017, depois de 19 números.
Hoje, depois de 9 anos de comunicação virtual e impressa ininterrupta, com seus acertos e erros, tomamos a decisão de virar o nosso timão para outros horizontes, fazendo-nos mais ambiciosos, e desde logo mais enriquecedores para as pessoas que fazem parte do Abordaxe!. É assim que tomamos a decisão de salientar nossa faceta editorial (que já vínhamos exercendo desde a publicação da compilação de textos “Arredismo e Anarquia” e a primeira edição em galego de “Memórias da Liberdade”) e suspender os trabalhos contrainformativos do blog e do boletim. Nesse ponto, em um clima de mudanças e debates internos no seio do coletivo, sentimos a necessidade de nos deter e reformular o projeto como editorial, mantendo também a nossa revista como pedra angular na que, como já dissemos em outras oportunidades, é onde melhor e com mais vontade destripamos o cadáver desta sociedade autoritária e onde mais alegremente podemos expor os princípios que a sustenta.
O certo é que este giro responde a novos desafios. A vontade de continuar aprendendo e fornecendo ferramentas teórico-práticas que ajudem a colocar em evidências as diferentes operações especiais dos sistemas autoritários, a necessidade de confrontar e gerar ideias e debates-chaves em uma realidade em que somos presas da democraticidade e do mercado de opiniões, e também a intenção de investigar e recuperar a memória a respeito da luta contra a dominação e dos tecidos comunitários e autogestionários que ligaram este e outros territórios durante longo tempo assegurando a sua sobrevivência. E isso porque a Ordem da dominação tem uma história que consideramos importante examinar com o fito de obter maior compreensão de como afrontá-la, da mesma forma que a luta contra ela tem uma trajetória que representa um arsenal do que não estamos dispostos a renunciar e que consideramos muito útil no contexto da guerra social aqui e agora.
Somos conscientes e estamos seguras das virtudes e dificuldades de todo esse apaixonante objetivo que pretendemos levar a cabo através de nosso trabalho editorial e das ferramentas que este pode fornecer. Também somos conscientes e valoramos o vazio que pode gerar a falta de uma ferramenta informativa especificamente anarquista em nível galego, especialmente no aspecto de coordenação e difusão das ações, comunicados e convocatórias. Mas também é certo que os tempos que vivemos não são os mesmos de quando o Abordaxe! nasceu para preencher esse vazio. Temos claro que hoje em dia já existem mais pessoas e mais vontade de realizar esse tipo de trabalho que começamos, e intuímos que a curto ou médio prazo haverá companheiras com a intenção e disposição de enfrentar essa tarefa. Ademais, sendo honestas, consideramos que a deriva das “redes sociais” e a lógica de determinados comportamentos próprios da sociedade do espetáculo, invadem os coletivos anticapitalistas e parte dos libertários, e isso não facilita muito a tarefa de desenvolver um projeto de comunicação desde a nossa perspectiva, e essa batalha, nesses momentos, não queremos livrá-la desde uma barricada “contrainformativa”, além do necessário, da validade e respeitabilidade que nos possa parecer tal formulação, que é a que nos trouxe aqui depois de quase uma década de existência.
Em datas futuras o nosso blog mudará o seu aspecto e apresentação para facilitar uma experiência de navegação mais ajeitada às características de sua nova função. Aproveitamos também para anunciar que já estamos preparando novas edições e o número 7 de nossa revista, assim como diferentes atividades para financiá-las, e que estamos abertas a toda ajuda econômica solidária, tendo em conta que partimos do zero euros em nosso caixa. Começamos uma nova etapa embarcando nessa travessia com a convicção de transitar em uma estrada que nos permita viver contra ventos e marés, assaltando os navios poderosos, e convidamos todos os espíritos aventureiros, rebeldes e subversivos para navegar conosco.
Nos vemos nos mares revoltos!
Abordaxe!
Contato conosco: abordaxe@bastardi.net
Tradução > Liberto
agência de notícias anarquistas-ana
O brilho do salto
do peixe na cascata,
lâmina de prata.
Luiz Bacellar
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!