por Nkululeko Khubisa (CAAT)
Publicado em “Tokologo: Boletim do Coletivo Anarquista Africano de Tokologo”, números 7/8, novembro de 2017
A África do Sul está em desordem. Isso está bem claro, mais de 20 anos após o fim do apartheid. Nós conquistamos muitas coisas. Foi nossa luta que derrubou as leis do apartheid e o antigo governo. Mas ainda não somos livres. A corrupção, a pobreza, o desemprego, o ódio, a violência, o legado do apartheid fazem todos parte dessa desordem.
Qual é a solução para a África do Sul? É a luta das massas da população por uma sociedade melhor.
E o que é necessário para que isso aconteça?
Educar!
A solução é a união e a solidariedade, mas isso significa que precisamos de conhecimento. É preciso mobilizar as pessoas e ensiná-las sobre política – uma política verdadeira, não o sistema partidário – e esse processo precisa acontecer em todas as camadas.
Se a classe trabalhadora e os pobres fossem informados, alertados e tomassem conhecimento sobre o que realmente está acontecendo ao seu redor – e o porquê e como consertar isso –, eles iriam fazer algo a respeito. E sua ação seria direcionada aos lugares certos, não seria desperdiçada, nem reprimida pelos políticos e patrões.
As pessoas precisam conhecer os conceitos mais importantes, entre eles o “capitalismo”, o “Estado”, a “classe dominante”, o “imperialismo” e a importância da “luta de classes”. Entender sobre esses assuntos nos permitirá identificar o verdadeiro inimigo. Conhecimento é uma ferramenta para ser usada contra o opressor. Precisamos entender qual a melhor forma de reagir.
O inimigo
O capitalismo é um sistema que se baseia no uso de dinheiro, pagando um salário aos trabalhadores para a produção (como comida, roupas) ou para a realização de serviços (como limpeza), que são vendidos pelos empregadores (patrões) para gerar mais dinheiro: em outras palavras, lucro. O lucro acontece pois os trabalhadores trabalham mais do que são pagos.
O capitalismo coloca o lucro na frente das necessidades, um sistema instável e extravagante. É por isso que nos encontramos em uma crise, com escassez de empregos. Instituições capitalistas incluem empresas privadas, como a Lonmin (mineração), e empresas estatais, como a ESKOM (eletricidade), administradas por gestores privados ou públicos.
O Estado – o governo – também faz parte do corrompimento do capitalismo. No topo do Estado estão os políticos, parlamentares, funcionários de alto escalão do governo, chefes de departamento, prefeitos, secretários municipais, diretores, generais, gestores públicos, entre outros. Essas pessoas (gestores estatais e gestores públicos) têm poder, privilégios e controlam grande parte da produção, administração, impostos e armamentos. Os meios de produção (fábricas, equipamentos, matéria-prima) controlados ou influenciados pelo Estado não são mantidos diretamente pelo governo (como ferrovias ou a ESKOM). Também se incluem aqui os meios de produção além do governo, influenciados por grandes participações em empresas privadas (participações governamentais na Lonmin), parcerias (TELKOM), contratação (construção de casas pelo RDP – Programa de Reconstrução e Desenvolvimento) e legislações.
O Estado apoia o capitalismo, já que este o beneficia e ambos trabalham juntos. O Estado aparenta ser neutro, mas não é. Governos não trazem a libertação, eles oprimem a classe trabalhadora e os pobres. Patrões e gestores estatais formam a classe dominante de um país.
O imperialismo é um sistema no qual a classe dominante se expande para controlar outras áreas e países diretamente (através de invasões e violência) ou de maneira mais velada (através de práticas comerciais ilegais, acordos, ameaças, entre outros meios). Classes dominantes locais podem colaborar – ou resistir – ao imperialismo, mas também serão sempre opressoras.
Classe dominante x Classe trabalhadora
A classe trabalhadora é aquela contra a classe dominante, contra a exploração, a pobreza, o autoritarismo, a escassez, os preços elevados e a segregação e o ódio entre as massas.
A luta da classe trabalhadora é a única maneira de derrubar o capitalismo e o Estado. Nessa classe estão todos aqueles que NÃO detêm ou controlam os meios de produção ou o poder administrativo e os meios violentos do Estado. Engloba os pobres e desempregados, e é mundial.
Nós somos dominados, porque não temos informação. A verdade está encoberta pelo sistema. Também precisamos ter conhecimento de que parte crucial do capitalismo é que o Estado nos divida e nos reprima – a classe trabalhadora que é maioria. Isso é feito através de xenofobia, partidos políticos, desemprego, insegurança no trabalho, racismo, sexismo, a maneira como os locais de trabalho funcionam, etc.
Mas se lutarmos contra esses fatores e nos tornarmos unidos e determinados, podemos derrotar o sistema opressivo e nos libertar de suas amarras. Então conseguiremos construir um novo mundo.
Mobilização, autogestão
Nossa solução está no anarquismo. Temos que construir organizações com características de capacitação das comunidades de classes trabalhadoras, de cooperação e mobilização, de autogestão e independência das classes – e devemos ter uma estratégia (plano de ação). Esse é o anarquismo de massas. Essa estratégia foca na organização da classe trabalhadora como via para a revolução e uma nova sociedade. Isso significa desenvolver conhecimento desde os níveis mais básicos, levando ideias anarquistas às massas, usando democracia direta, conselhos, representantes. Também precisamos unir anarquistas dentro de organizações políticas “específicas” para trabalharem entre as massas.
Devemos acabar com as discussões hierárquicas e as decisões tomadas por nós, as regras das elites, o sistema que oprime e explora. Vamos substituí-los pelo poder de pessoas reais. Para isso precisamos de união e solidariedade.
O caminho é o anarquismo!
Fonte: https://zabalaza.net/2017/10/21/the-way-forward-for-south-africa-class-struggle-and-anarchism/
Tradução > Tradução > Amanda Laet (linkedin.com/in/amanda-laet-8733ba114)
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!