Na noite de 21 de dezembro de 1919, junto com outros duzentos e quarenta e oito prisioneiros políticos, Emma Goldman foi expulsa dos Estados Unidos, país ao qual havia chegado com 16 anos de idade, vindo de sua Lituânia natal. A bordo do navio Buford chegou à Finlândia, e de lá, em veículos fechados, para a Rússia. A deportação se realizava depois de muitos anos de ativismo dentro do movimento libertário americano. Companheira do também anarquista Alexander Berkman (condenado por tentar assassinar o empresário Henry Clay Frick quando seus trabalhadores se encontravam em greve), Goldman havia sido encarcerada em Chicago como agitadora e detida em três ocasiões: em 1901 por supostamente participar em um complô para assassinar o presidente McKinley, em 1916 por distribuir material junto a Berkman e em 1917 por conspiração militar. Foi precisamente nesses anos (entre 1906 e 1917) quando escreveu, editou e publicou a revista anarquista Mother Earth (Mãe Terra).
Em 1919 foi por fim expulsa dos EUA e deportada para a Rússia bolchevique. Na audiência na qual se tratava de sua expulsão, o jovem J. Edgar Hoover, então presidente do Departamento de Justiça e futuro chefe do FBI, a qualificou como “uma das mulheres mais perigosas da América”. Com a expulsão começava uma etapa que a levaria a mover-se durante dois anos com absoluta liberdade pela Rússia revolucionária e a submergir no meio bolchevique. Chegou encantada, mas foi desenganando-se paulatinamente, a medida que vivia os acontecimentos, chegando à conclusão de que a essência da Revolução estava sendo traída. Comprovou que o projeto que via não coincidia com sua ideia do que deve ser um processo revolucionário. A repressão política, a burocracia e os trabalhos forçados nos anos posteriores ao triunfo da Revolução russa contribuíram em grande medida para mudar as ideias de Goldman sobre a maneira de utilizar a violência.
A marginalização e perseguição dos anarquistas foram elementos determinantes de sua decepção. Durante esses dois anos que passou na Rússia (1920-1922) conviveu com dirigentes bolcheviques e atuou especialmente com anarquistas como Piotr Kropotkin, a cujo enterro participou em 1921. A gota d’água foi quando participou na sublevação anarquista de Kronstadt, um fato que supôs a ruptura do último laço que a unia aos bolcheviques.
Inconformada com o que via como um forte autoritarismo soviético, se instalou definitivamente no Canadá. Em 1936 colaborou com o Governo Espanhol Republicano em Londres e Madrid durante a Guerra Civil Espanhola (experiência recolhida por David Porter em Visão em chamas. Emma Goldman sobre a Revolução espanhola, um percurso por suas três viagens a Espanha entre 1936 e 1938). Morreu em Toronto em 1940 e está enterrada em Chicago.
Dentre seus numerosos escritos cabe destacar Anarquismo e outros ensaios (1910) e sua autobiografia Vivendo minha vida (1931). Agora chega Minha desilusão na Rússia, um texto do qual se haviam vertido fragmentos ao castelhano, mas que nunca antes havia sido traduzido por completo.
Mi desilusión en Rusia
Emma Goldman
El Viejo Topo, Colección Ensayo. Barcelona 2018
302 págs. Rústica 23×15,3 cm
ISBN 9788416995592
24.00€
http://www.elviejotopo.com/libro/mi-desilusion-en-rusia/
Tradução > Sol de Abril
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Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!