Muitas vezes algum dos nossos argumenta: “Levemos à prática nossas ideias, aqui e agora”, “Vale mais construir redes que fazer manifestações”. Ou inclusive: “A Revolução é coisa do passado, é preciso mudar o cotidiano; esta é a única pequena, mas verdadeira revolução”. E assim sucessivamente.
Como ocorre muitas vezes, tanto teórica como, sobretudo, na prática, se chega assim a contrapor teses e maneiras de atuar que, pelo contrário, deveriam ser complementares em minha opinião: praticar a autogestão aqui e agora não deveria excluir a contínua busca da construção de forças tendentes à revolução.
Seguramente, algum destes companheiros impulsionado a escolher uma atividade ao invés de outra, resultam só pequenas diferenças de opinião ou temperamento: há quem prefere levar à prática e experimentar tentando demonstrar que “a anarquia é possível”, e quem, pelo contrário, estando mais imerso em práticas de conflito social, sindical ou de luta em geral, prefere tentar influir nelas.
Atribuir muita importância à conduta pessoal, aos usos e costumes, é imprescindível para qualquer anarquista. Considerando que é impossível viver anarquicamente até o fundo, já que crescemos no seio de uma sociedade baseada na competição e na exploração, cada um de nós deseja viver o mais coerentemente possível com a própria sensibilidade, e muitos de nós – por não ver a possibilidade de uma mudança radical, por estar cansado da simples difusão de ideias, ou do sindicalismo, ou das manifestações, desiludidos de tudo isto – vemos na galáxia das “redes autogestionadas” ou em geral na “produção e consumo críticos” um percurso interessante para alcançar nossos fins de igualdade e liberdade: por fim se “faz” algo concreto, se passa “das palavras aos fatos”. E provavelmente seja verdade. Seguramente é mais satisfatório criar, trocar, cultivar, produzir juntos e jantar juntos que, digamos, deixar-se explorar pelo patrão: também assim se demonstra que outro modo de trabalhar é possível.
Não esqueçamos, no entanto, que o cooperativismo e a autogestão foram muitas vezes recuperados pelo capitalismo “verde” ou “social”, e para poder sobreviver se curvaram a compromissos que fizeram esquecer os belos propósitos iniciais dos sócios fundadores.
E recordemos também que, se se pretende a extensão das experiências autogestionadas, convencidos de nossas visão anticapitalista e anti-hierárquica, estas terão que enfrentar primeiro os obstáculos burocráticos e, depois, se verdadeiramente queremos conseguir que territórios inteiros sejam autogestionados, seguramente não poderemos esperar que patrões e Governo nos deixem fazer tranquilamente: estas experiências, antes ou depois, se não querem ser esmagadas ou desnaturalizadas, se verão constrangidas a opor força à força, ou chamemos como queiramos. Volta a estar sobre o tapete a questão da revolução, que havia ficado esquecida em um baú do sótão.
Creio que o cooperativismo e a autogestão são parte integrante da história dos oprimidos que querem se liberar conquistando e difundindo a ideia da prática da propriedade em comum dos meios de produção, na igualdade e na justiça. Esta prática não poderá realizar-se plenamente se não é junto à vontade de uma mudança radical – a revolução social – que deve animar os sujeitos que experimentem a autogestão e a auto-organização, tendo como fim uma sociedade libertária. Por estes motivos, a atividade cotidiana autogestionária e a busca de mudança na organização social através de uma prática revolucionária devem ser complementares, e ambas de importância primordial.
Davide Bianco
Fonte: https://www.nodo50.org/tierraylibertad/354articulo8.html
Tradução > Sol de Abril
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