[Sobre o ocorrido na quinta-feira, 15 de março, em Madrid, onde Mame Mbaye, imigrante senegalês de 35 anos, que vivia há 13 na capital da Espanha, trabalhando como vendedor ambulante, morreu vítima de um ataque cardíaco durante uma operação policial no bairro de Lavapiés. Após o sucedido, o bairro tornou-se palco de diversas manifestações contra a violência e a repressão.]
A discriminação racial e a ideologia que a sustenta faz tempo que está caduca. Está demonstrado cientificamente desde o século XX que o ser humano não está dividido em raças, mais que tudo, independentemente de nossa procedência e nossa etnia, somos a mesma espécie de homínidio.
Mas parece que aos poderes econômicos e políticos não lhes interessa avançar como espécie, mas sim deixar-nos ancorados na visão do ser humano que tinham os europeus no século XIX. Uma visão na qual só nossos parâmetros culturais são os autênticos. No entanto, esta visão tendenciosa só se tem com os pobres, nunca com os ricos. Um dos pilares ideológicos da economia capitalista é o neodarwinismo, quer dizer, a adaptação do mais forte sobre o mais fraco. Ou o que é o mesmo, os ricos contra os trabalhadores, que somos aqueles que geramos a riqueza. Desde os poderes econômicos e políticos nos ditam que a competitividade e esmagar o próximo é algo natural e intrínseco ao ser humano. Vivemos numa sociedade hipócrita, da lei do mais forte, onde competimos diariamente contra nossos semelhantes. E necessitamos culpabilizar e demonizar outras pessoas para aceitar nossa parte, e assim sentir-nos protegidos em nossa bolha de consumo e bem-estar. O Estado e o poder econômico se encarregam de educar-nos no medo aos pobres deste país ou de outras procedências ou etnias. O resultado do medo não é outro que a violência e outras atitudes racistas que não deveriam caber nesse marco democrático de que tanto presumem.
Tristemente no bairro madrilenho de Lavapiés se normalizou a violência institucional contra as pessoas migrantes. Não é estranho topar-se com a perseguição por parte da polícia a pessoas que buscam a vida honradamente, parando e revistando as pessoas só por sua cor de pele, ou que se reprima qualquer ato solidário com estas pessoas sob pena de fortes multas ou prisão.
O Estado e o conselho municipal poderiam buscar soluções, mas não lhes interessa gastar nem um cêntimo. Ao poder econômico só lhe interessa formar guetos, introduzir droga, estigmatizar pessoas de outras etnias através dos meios de comunicação, enfrentar e dividir os moradores, fomentar o medo, instalar câmeras de vigilância e aumentar a presença policial, que os moradores se vão, e que empresários sem escrúpulos possam especular com a propriedade e gentrificar os bairros até convertê-los em centros comerciais ao ar livre para o desfrute de outras pessoas com maior poder aquisitivo.
O ser humano tem sido, até a invenção dos modernos Estados nação, uma espécie nômade que ocupou e se adaptou à maior parte do globo, e suas muito diversas condições naturais e climáticas.
Na Espanha concretamente, a sociedade deste país sofreu o racismo e o desprezo na França, Alemanha ou Suíça etc., obrigados a imigrar por medo de morrer assassinados nas mãos do fascismo em 1939, sendo o mais baixo da escala social e que ocupavam os postos de trabalho mais penosos. Não se pode esquecer tampouco a imigração interior que se viveu a partir de 1960 por parte de andaluzes e extremenhos majoritariamente, confinados em guetos marginais de Madrid ou Barcelona, sem os equipamentos necessários, e cujo estigma e desprezo por parte das elites políticas e econômicas seguem vigentes até hoje.
Ninguém deveria morrer nem ser perseguido por ganhar a vida, nem por fugir da guerra ou da miséria a que são submetidos pelas grandes potências imperialistas e seus Estados subordinados.
Somente lutar contra o racismo não é suficiente, é necessário também lutar contra o poder político e econômico que o fomentam e a ideologia imperante que o sustenta.
Grupo Tierra
Tradução > Sol de Abril
agência de notícias anarquistas-ana
a noite sorri
lua crescente
nos olhos do guri
Alonso Alvarez
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!