por Isbel Díaz Torres
Sem sala abarrotada, sem áudio nem microfones, sem promoções em redes sociais nem em listas de e-mails. Chegou quem quis e pôde, e foi o suficiente.
Mais de trinta pessoas estiveram presentes neste 5 de Maio de 2018 em Lawton para fundar entre todos a ABRA – Centro Social e Biblioteca Libertária.
Depois de quase três anos de campanha internacional para conseguir os fundos necessários, sem recorrer a governos, partidos políticos, nem ONG’s de nenhuma parte (muito menos a instituições estatais cubanas), conseguimos realizar um sonho surgido em 2015.
E já vínhamos das experiências prévias da Cátedra de Haydeé Santamaría, da Rede Observatório Crítico e de Guardabosques, as que demonstraram a necessidade imperiosa de possuir uma sede física fixa para que o trabalho pudesse ser mantido no tempo.
Alguns de nós pudemos ver na Europa e na América coletivos de esquerda, sindicalistas, anarquistas, socialistas, altermundistas, que tem seus próprios espaços. Alguns ocupam, outros alugam, e ali deixam voar sua criatividade, conduzem suas energias beligerantes para tentar transformar um mundo cada vez mais xenófobo, racista, consumista, injusto e explorador.
Nossas próprias lutas podem ser estas, ou outras diferentes, mas está claro que nada poderá substituir o contato direto, com o olhar transparente entre as pessoas que querem realizar algo juntas. Sobretudo em Cuba, onde o controle estatal dos meios de comunicação é tão férreo e a internet segue sendo tão cara e lenta.
Isso as pessoas que deram seus aportes entenderam, para que nossa ideia frutificasse e a cada uma delas faço chegar a profunda gratidão, minha e de meus compas da Oficina Libertária Alfredo López e do Observatório Crítico Cubano.
Sabemos que não lhes sobra dinheiro. Sabemos que muitos são trabalhadoras ou estudantes e que cada centavo pesa em suas carteiras.
É por isso que somente podemos arrancar nessa nova etapa com muita humildade e com o compromisso que fizemos a nós mesmas de abrir nosso Centro a cada pessoa que toque a porta com um sonho, uma ideia de autonomia e trabalho coletivo, e assim construir um novo sentido para as nossas vidas.
É por isso que, além de compartilhar nossa própria história com quem nos visitou neste fim de semana, também demos espaço para que compartilhassem seus próprios projetos, ou nos entregassem sua arte.
Assim aproveitamos a oportunidade para que os velhos projetos amigos como o lúdico-educativo-comunitário “O Trenzinho”, o boletim antirracista “Desde a Ceiba”, ou o grupo “Kaweiro” se apresentassem ante os novos ouvintes na voz de seus coordenadores Yadira Rubio, Tato Quiñones e Carlos Díaz e Meibol, respectivamente.
Desfrutamos da arte da trova que nos entregaram os estudantes da Universidade de Havana, e algum outro trovadorzinho informal, assim como algo de poesia escrita.
Soubemos de outras experiências artísticas como as de nosso compa Ernesto, que além de elaborar desinteressadamente os murais que dão as boas-vindas ao nosso centro, compartilhou uma nova série de belíssimas fotografias suas sob o título de ABRA.
Os promotores do Centro Loyola nos informaram dos novos espaços de debate “Fórum Loyola” que agora funcionam ali; e, ademais, soubemos detalhes do projeto de Artes Visuais “Você eu mais você” de Jorge Mata, assim como a vindoura “Fábrica de Improduzíveis” do Laboratório Cênico de Experimentação Social, apresentado por Yohayna Hernández.
Enfim, que desde nosso primeiro passo intentamos fazer honras a nosso nome e “abrimos” a porta ao outro que chega para tentar algo emancipador e belo.
Que tipo de coisas? Bom, sempre é possível tirar inspiração de qualquer parte, inclusive de algo tão simples como um dicionário:
ABRA:
1. Baia muito extensa (enseada).
2. Espaço aberto entre montanhas (garganta).
3. Abertura produzida no terreno por um sismo (greta).
4. Espaço entre duas filas de garrafas em um bar.
5. Campo aberto e amplo situado entre bosques ou caminho aberto através das ervas daninhas.
6. Folha de uma janela ou porta.
7. Distância entre a vela e o mastro.
> Mais fotos: https://guardabosquescuba.org/2018/05/07/abra-un-nuevo-empeno-autoemancipatorio-en-cuba/
Tradução > Liberto
Conteúdo relacionado:
agência de notícias anarquistas-ana
Nuvens,
sem raízes
até que chova.
Werner Lambersy
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!