Apresentação
Durante os dias 25, 26 e 27 de maio acontecerá o “II Encontro anarquista contra o sistema tecno-industrial e seu mundo“. Um lugar onde encontrar-nos, conhecer-nos, debater, difundir e afiar nossas ideias contra a organização industrial do mundo. Durante a duração das jornadas haverá um espaço para distribuidoras e comedores 100% vegetarianos.
Pretendemos que o encontro seja mais uma ferramenta para combater o sistema tecno-científico-industrial, porque pensamos que o terreno do enfrentamento deve se concentrar no campo do progresso tecnológico, posto que é e será o que define as presentes e futuras dinâmicas da dominação sobre todos e cada um dos aspectos de nossa vida: sociais, políticos, econômicos e ambientais. Já que ao contrário do que defendem muitos esquerdistas, um sistema técnico nunca poderá ser neutro já que é indissociável de um sistema econômico, político, ambiental e social.
Faz já mais de dois séculos do projeto tecno totalitário. Um projeto que está dando as últimas estocadas ao que fica no mundo de imprevisível, surpreendente e digno, um ataque a tudo o que se opõe à organização técnica do mundo, um ataque à autonomia, à liberdade e à biodiversidade.
Por isso devemos rechaçar a ideologia do progresso, aquela que rechaça tudo aquilo que não seja mensurável, que tem uma visão mecanicista dos seres vivos e da natureza, que louva o determinismo científico e mercantiliza tudo o que é vivo.
Cada um dos avanços do sistema tecno-científico-industrial, que converteu o mundo em um imenso laboratório no qual tudo e todos somos suas cobaias, lhe aproxima cada vez mais à colonização de nossos corpos, que são fragmentados em próteses intercambiáveis, e de nossas mentes convertidas em máquinas programáveis algorítmicas. O avanço das chamadas tecnologias convergentes NBIC (Nanotecnologia, Biotecnologia, informação e comunicação, ciência cognitiva, robótica e inteligência artificial), um projeto do poder nascido da tecnocasta americana que buscam o controle dos elementos (sendo capazes de modificar suas características naturais) e dos processos materiais da vida em todas as suas manifestações: animais (humanos e não humanos) e ambientais, está conseguindo o controle absoluto do vivo.
Destacar neste processo a reprodução biotecnológica do ser humano, após o que se esconde uma eugenia, onde seguindo a lógica da organização industrial se converte a procriação em uma parte mais da mesma. Falemos da produção industrial de bebês onde o laboratório se converte ao mesmo tempo em uma fábrica (onde o operário-biólogo-técnico converte ao bebê em um produto estandarizado, manipulado e personalizado na base dos padrões da ordem existente) e em um supermercado onde os pais escolhem o seu desejado e programado artigo… perdão, bebê! São numerosas as técnicas para isso, desde a PMA (Procriação Assistida Medicamente), a FIV (Fecundação In Vitro) ou mediante o diagnóstico prévio do embrião. Este negócio já move milhares de milhões por todo o mundo, e Espanha não fica atrás.
Este, junto com todos os contínuos avanços tecnológicos, cumpre o grande sonho científico de destruir todo o vivo, o imperfeito, o não mensurável, o incontrolável, o desordenado, tudo aquilo que escape de sua lógica mecanicista. A criação do humano-máquina, do mundo máquina, cada dia está mais próximo se é que já não está aqui.
Todo desenvolvimento do sistema tecno-científico-industrial está acompanhado de grande quantidade de nocividades, ao destruir o meio ambiente e as condições de vida de forma brutal durante os dois últimos séculos. O sistema submete a todo o vivo a uma dose de intoxicação contínua em muitas diversas formas, desde os produtos químicos (causadores de grande parte das enfermidades modernas), as ondas eletromagnéticas, a radiação nuclear, até um longo etc. que parece não ter fim em um mundo artificializado e programado, e é o próprio sistema o que impõe os remédios tecnológicos para compensar seu próprio dano, tudo isso sob o estúpido aplauso da esquerda progressista que pensa que é possível acabar com esta devastação apoiando ao Estado ou outras medidas reformistas.
Cremos que há duas formas de atuar ante a devastação: podemos suplicar às autoridades que nos forneçam tabletes de iodo para limitar os efeitos nocivos de um acidente nuclear ou lutar pelo fechamento das centrais nucleares, podemos apoiar a pesquisa sobre implantes neurológicos para reduzir os efeitos do Parkinson ou lutar para destruir os pesticidas químicos que são a principal causa desta enfermidade, podemos apoiar a reprodução artificial do ser humano ou lutar contra as indústrias químicas que esterilizam a população. A velha dicotomia: reforma ou revolução, cremos que não é uma opção. Não há nada que reformar no mundo máquina. Nem a mudança climática pode solucionar-se com um Estado forte, nem a biotecnologia acabará com a fome do mundo. Os problemas criados pelo progresso não podem solucionar-se com novos avanços tecnológicos, estes só nos aproximam um passo mais do abismo. Unicamente a luta pela autonomia que nos faça recuperar nossas vidas e a liberdade acabará com a devastação. Nenhum Deus nos salvará, nem religioso, nem científico. Não podemos deixar de observar, ainda que seja brevemente, outra das características deste sistema que é o controle social, para que todo o vivo seja manipulado, estandarizado e programado segundo os padrões do capitalismo, o controle absoluto. Neste controle absoluto jogam um grande papel os novos avanços tecnológicos: as Smart cities, as redes sociais, a biometria, as provas de DNA, ou seja, poderíamos dizer que graças ao Big Data e a Internet das coisas, o movimento ou a atividade de qualquer ser vivo ou objeto estão totalmente controlados.
Por último, acrescentar que não queremos contribuir ao catastrofismo (o qual consideramos uma ferramenta utilizada sobretudo por grupos da esquerda desde parlamentares até alguns anarquistas) para perpetuar a alienação. Ante uma vida cada vez mais artificializada e superficial só nos resta a luta, um caminho longo até a liberdade e a autonomia na qual não há lugar ao diálogo ou a negociação com quem declarou a guerra ao vivo e a cada ser explorado e despossuído.
Anarquistas Contra Toda Nocividade
As Palestras-debate que se darão durante as jornadas serão as seguintes:
1. “A reprodução biotecnológica do ser humano”, por companheiras da “Resistenza al Nanomundo”.
2. “As lutas contra o desenvolvimento tecnológico na Itália (Tav, Tap, EFSA…), por uma companheira do coletivo ecologista “Le Ortiche”.
3. “Por que não devemos salvar a pesquisa científica”, por um companheiro do “Cul de Sac”.
4. “A produção de ignorância no mundo nuclear: Ignorância organizada e produzida de maneira sistemática pelas instituições estatais”, por um companheiro da “Therry Ribault”.
5. “A luta antitecnológica dos ludditas”, por um companheiro do coletivo “Moai”.
6. “As Smart cities”, por um companheiro da “Negreiverd”. Também haverá duas oficinas: uma de medicina natural e outra sobre DNA.
Tradução > Sol de Abril
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