Memória: População santista aprova candidato NINGUÉM

#Eleições2018Nãovote!

>> Memória. Há 16 anos, a “ANA” divulgava…

Nem todo voto nulo é sinônimo de alienação. Isso é o que mostrou o coletivo anarquista Rede Libertária da Baixada Santista para a população de Santos (SP) nessas eleições. O grupo fez um ato em frente a igreja da Pompéia, perto da faculdade Unisantos (local de votação). Todos estavam com nariz de palhaço e camisa do suposto candidato a presidência do PN (Partido Nenhum), o famoso Ninguém. Eles explicaram para a população que por ali passava porquê votam nulo e como fazer o mesmo. Tudo com uma urna eletrônica falsa, feita de isopor, e muito bom humor.

A população foi bem receptiva e muitos se identificaram com as propostas. “Tem que ampliar esse movimento do voto nulo. Ninguém serve, nenhum presta. Democracia é só aqui para nós, lá é só “esquema”, afirma Isaias Augusto de 51 anos.

Mesmo trabalhando como cabo eleitoral, Madalena Dias, de 25 anos, simpatizou com o movimento: “Vou votar nulo porque não dá para acreditar em nenhum político. Eles falam, falam e o Brasil continua do jeito que está, sem emprego. Só estou trabalhando para esse partido para ganhar dinheiro, estou desempregada”.

Os manifestantes cantaram a musiquinha “Lula-lá” da campanha do candidato do PT trocando-a por “Anula-lá“. Outros gritos de guerra, um pouco sem rima, animaram o público: “O povo unido, É gente pra caramba”; “1, 2, 3, o meu forte é a rima”. Cartazes de políticos foram virados e pichados: “Vote nulo ou anule-se”; “Vote: 00 Confirma”; “Vendo fusca branco 85”; entre outras frases sem nexo satirizando as propagandas eleitorais.

O estudante de jornalismo Kadu Abecassis avaliou o evento como “uma grande oportunidade para trocar idéias com a população, explicar como votar nulo, como fazer para se abster, falar de anarquismo…”.

Por quê votar nulo?

Se 50% da população mais uma pessoa votar nulo, a eleição é anulada, mas não é esse o grande objetivo dos anarquistas: “Assim como não acreditamos que a eleição vai transformar a sociedade, não acreditamos que o voto nulo o fará. O que acreditamos para a transformação da sociedade é uma forma de pedagogia, uma educação libertária, permanente. Onde 365 dias por ano você se insere na sociedade, se organiza, edita materiais, faz reuniões, organiza um movimento, luta junto com o povo”, explica Jonas Nunes, pesquisador anarquista e um dos organizadores do protesto.

Votamos nulo como forma de protesto contra os partidos, seja de direita ou de esquerda, que querem fazer o povo crer que só se faz política uma vez a cada dois anos, só temos o direito/dever de opinar nas eleições”, explica Denise Hilena, vocalista de uma banda punk e membro da Rede Libertária. Para Safitri Janafa “ou se vota com os de cima, ou se luta com os de baixo”.

Nunes explica que “os anarquistas não votam nulo por um dogma. Preferimos anular um dia, na eleição, mas não se anular durante o resto do ano. Os partidos políticos pregam o oposto, a participação do povo somente em um dia”.

Nunes concorda que os partidos políticos tem projetos políticos diferenciados, mas para ele todos se equivalem no final, pois nenhum deles cria realmente uma ruptura ao sistema vigente, como o pensamento libertário propõe: “O máximo que podemos esperar é a possibilidade de reformas dentro da sociedade. Talvez um consiga dar um salário um pouco melhor do que o outro, mas sempre serão remendos, reformas dentro do sistema. Nada vai ser alcançado através do “menos pior”. Por isso as eleições servem somente para os que almejam apenas reformas na sociedade”.

Não dou meu voto a ninguém, pois ninguém é superior a mim”, explica agitador cultural José Ricardo, mais conhecido como Mano Shabba, que lembra ainda que “os anarquistas não querem tomar o poder. Queremos diluí-lo para todas as pessoas”.

Criada em 1997, a Rede Libertária estará promovendo para o segundo turno uma série de debates e exibição de vídeos sobre a questão do voto na Cinemateca de Santos, durante os dias 23, 24, 25 e 26 de outubro. Mais informações pelo site festivalresistir.hpg.com.br ou pelo e-mail festivalresistir@ieg.com.br.

Ninguém para presidente

Vote em Ninguém. Porque só Ninguém se importa com a sua segurança! Ninguém fará bom uso do dinheiro público! Ninguém está preocupado com a saúde e a educação! Ninguém cumprirá suas promessas! Não dê seu voto à toa! Para Governador: Cabeça de Leitoa”. Essas são algumas frases encontradas nas camisetas dos manifestantes.

A campanha do Ninguém é um sucesso, até o Lula disse no debate: ‘Ninguém esta mais preparada do que eu para ser o presidente do Brasil'”, brinca Eduardo Interlichia.

Moésio Rebouças explica que nesse ano o PN (Partido Nenhum) fez aliança com o PCA (Partido dos Cães Anarquistas) que tem como candidatos Au Au Au, Rin Tin Tin, Pluto, Scooby Doo e Lassie. Aline Borges disse que não votou nos candidatos do PCA em protesto pelo fato de não terem incluído o Bandite, segundo ela o cão mais famoso dos desenhos animados.

Para saber mais sobre o PN: partidonenhum.hpg.com.br.

Campanha pelo Brasil

Mesmo sem muita articulação entre os grupos e contando com poucos recursos, a campanha pelo voto nulo avançou em várias cidades do Brasil.

Em Pelotas (RS), militantes libertários percorreram locais de votação carregando um caixão (verdadeiro) que simbolizava a morte daqueles que, segundo eles, “entregaram o voto nas mãos dos políticos”.

Fortaleza (CE), também foi palco de um enterro simbólico do capitalismo. Essa é a segunda vez que os anarquistas da cidade o enterram. Na primeira, o slogan era: “Morte ao capital. Fora a Alca”; dessa vez foi: “Nem guerra nem eleição salvam o capitalismo”.

Em Ribeirão Preto (SP), um grupo de ativistas foi detido pela Polícia Militar, por estar pichando um outdoor de propaganda política. Por serem menores de idade, só passaram algumas horas na delegacia.

Em Curitiba (PR), a Frente Anarquista Local (FAL) montou nos sábados antes das eleições uma “Banquinha do Voto Nulo” ao lado das bancas da esquerda partidária.

Em Tatuí (SP), Salvador (BA), Porto Alegre (RS), São Paulo (SP), entre inúmeras outras cidades, as campanhas antes das eleições também foram “fortes” com a distribuição de panfletos, organização de palestras, debates e eventos.

agência de notícias anarquistas-ana

na cerca de arame
as flores brancas se enrolam
e ganham espinhos

Antônio Gonçalves Hudson