Convite para o 7º Encontro do Livro e da Propaganda Anarquista – Santiago, 13 e 14 de outubro de 2018
Transitamos um longo caminho desde as primeiras bandeiras negras que reapareceram ao final da ditadura, em meio de barricadas e o posterior acomodamento de uma sociedade cidadanista que se deixou arrastar por falsas promessas da alegria democrática, enquanto os aparatos repressivos aniquilavam a resistência continuando fiéis a trajetória sangrenta do Estado; tomamos como ferramentas parte desse arrojo, mais artesanal, e o mesclamos com a contracultura punk e apostamos pela atitude rebelde, o faça você mesmo e nos expandimos em uma série de experiências e logo as balas chegaram a nós, mataram a Claudia e ainda que ela não fosse anarquista, isso importa?
Porque o ponto é que iniciamos nosso novo sentido da rebeldia, do revolucionário. Nos livramos da tristeza e voltamos a nos compor e seguimos expandindo e as okupas se abriram, e as ações se multiplicaram, de todo tipo, em fanzines, em imprensa, em manifestações e solidariamente, pela liberdade dos presxs políticxs que a democracia confina(va). Depois uma geração inteira foi marcada a fogo com as marchas contra a APEC no ano de 2004 e a aparição do black block nos protestos. Saímos do punk e do estilo contracultural e tivemos uns anos ardentes, o que poderia chamar-se anos de bombardeios e fogo, e ainda que várixs compas foram presxs pelo Estado, não diminuímos a marcha, mas o garrote do Estado se fechou sobre outro irmão, vimos como foi assassinado por torturas o Jonhy, e no ano seguinte morre o Maury em um ataque e no ano seguinte o poder fechou as jaulas sobre 14 de nossos irmãos e lutamos por elxs, por recuperá-lxs, pelxs presxs na rua, e saíram depois de um ano de manifestações, de greves de fome, de desvelos e encomendas. Mas o poder entendeu que não poderia usar os mesmos recursos que até o momento havia utilizado, se assessorou com a polícia italiana, com o FBI e tantos mais, e tecnificaram sua repressão, investindo milhões em carros blindados, drones e câmeras (que certamente valem um quarto do que dizem pagar), e modificaram suas leis, mas o estalo do ano de 2011 a todxs nos pegou de surpresa, e demos de tudo arrojados no combate, tomando Santiago dia e noite, outra geração seria marcada por este ano, também foi esse ano que “se pensou e se fez a primeira feira do livro anarquista”, que com os anos mudou de nome para “encontro do livro e da propaganda anarquista” pois não queremos só ficar apenas no marco das relações comerciais, mas educar-nos, instruir-nos, inteirarmos-nos do que acontece e sirva para tomar o controle de nossas vidas e destruir o Estado e o capital, e assim a história soma e segue, os conflitos continuam se sucedendo e ainda que aquelxs presxs saíram à rua outrxs presxs esperam o dia que as grades das celas se tornem de açúcar ou se curvem de piedade.
Apostamos por uma constelação de ideias e práticas que possuam uma ampla história de luta e resistência, antagonistas a qualquer sistema de dominação e fiéis a seus princípios antiautoritários de autonomia, horizontalidade e autogestão. Neste sentido os meios tem que ser de acordo com os fins, não se pode buscar a liberdade por meio do exercício de autoridade, do engano e da manipulação, o longo caminho contra o poder se constrói na ação contrária a qualquer tipo de instituição, siglas ou dirigentes com a verdade pela frente. Não vemos a anarquia como a chegada do paraíso terrenal ou uma realização concreta, tampouco cremos que seja uma verdade absoluta ou um dogma ou nem sequer cremos que seja o único método para acabar com a dominação, mas sim é um corpo político, ético e prático do qual podemos nos nutrir, é a tensão e o enfrentamento constante contra todas as formas de autoridade, também as nossas. Vemos o indivíduo no centro da ideia anárquica, este não está sobre o coletivo nem se sobrepõe a ele.
Seríamos soberbos se disséssemos que não erramos, pois muitas foram as arestas de nosso caótico devir, onde a mesma soberba, os egos, os dogmas, o machismo, a fervorosa defesa de pontos de vista estreitos esculpiram nossas ideias à cara, depois de mastigar com sarcasmo as letras do libertário e do antiautoritário. Por isso nos reunimos, pois sem pensamento, aprendizagem, análises, criatividade, retroalimentação e reciprocidade navegaremos como um veleiro sobre um imenso oceano de barro sem vento. Isto faz parte do necessário questionamento permanente tanto a nível individual como coletivo que permite nos fortalecermos e nos qualificarmos. Esta instância se constrói com todxs que abraçamos as ideias de liberdade e tentamos construir um mundo distinto destruindo o atual.
Este convite para o 7º Encontro do Livro e da Propaganda Anarquista o dedicamos a todxs que não foram nomeados e jamais o serão, e a nosso inimigo, que jamais nos verá de joelhos.
A 20 anos do assassinato de Claudia López, seguimos organizando e propagando ideias de rebeldia e liberdade.
>> Inscrições abertas: encuentro.anarquista@riseup.net
Grupo Coordenador 7º Encontro do Livro e da Propaganda Anarquista de Stgo.
Tradução > Sol de Abril
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!