Papéis militares inéditos revelam décadas de espionagem na Espanha franquista

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por Miguel González | 21/10/2018

Outubro de 1968. Passaram-se cinco meses do maio francês, e a universidade espanhola está em ebulição. O Serviço de Inteligência Militar da Marinha da Espanha informa que “começou a ser montado o Serviço de Escuta na Universidade, o qual consta de aproximadamente seis trios distribuídos entre as diferentes faculdades. Graças a esse serviço, começa a auscultar-se bem mais de perto a realidade universitária de Barcelona”. A comunicação dos espiões militares prenuncia iminentes “algazarras de caráter revolucionário”.

Esta nota está incluída em uma das 1.022 caixas com documentos da Segunda Seção (Inteligência) do Estado Maior Central do Exército espanhol, guardados no Arquivo Geral Militar de Ávila (107 quilômetros a noroeste de Madri). Em 20 de setembro, a ministra espanhola da Defesa, Margarita Robles, autorizou, embora com muitas limitações, o acesso aos relatórios secretos anteriores a 1968, quando entrou em vigor a atual Lei de Segredos Oficiais daquele país, que abarcam parte do período da ditadura de Francisco Franco (1939-1975). Durante quase três semanas, o EL PAÍS mergulhou numa documentação que ainda não foi informatizada, catalogada nem descrita, e cuja consulta está restrita a pesquisadores.

A nota que informa sobre a instalação de sistemas de escuta na Universidade de Barcelona não é um caso isolado. Outro relatório, de dezembro de 1961, relata as queixas contra o aumento de preços no refeitório da Faculdade de Filosofia e Letras de Madri. Os líderes do protesto eram três estudantes: Fernando Sánchez Dragó, Luis Gómez Llorente e Alberto Míguez, “todos pró-comunistas e socialistas”. Recuperada a democracia, o primeiro deles ganharia o Prêmio Nacional de Ensaio, o segundo chegaria a vice-presidente do Congresso dos Deputados pelo PSOE, e o terceiro se tornaria jornalista do diário La Vanguardia.

Que fazia o Exército franquista fuçando na universidade? O capitão-geral (chefe da guarnição militar) de Burgos escreve em agosto de 1959 a um amigo seu, chefe do Estado-Maior Central, reclamando que seus subordinados precisam se dedicar à “vigilância de elementos civis suspeitos, estabelecimento de estrangeiros em populações costeiras, entrada e saída de navios” e outras tarefas que “os distraem da sua missão principal, que considero ser a informação interna dos corpos”.

O chefe do serviço de informação se vê obrigado a justificar sua tarefa. “Este serviço ausculta todas ou quase todas as atividades da Nação. [O combate a] conflitos sociais, greves, paralisações operárias e atividades extremistas está ligado ao vital interesse nacional, tanto ou mais que o puramente militar”, escreve.

>> Para ler o texto na íntegra, clique aqui:

https://brasil.elpais.com/brasil/2018/10/19/internacional/1539960952_516966.html

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