por CP RECC/FOB-MS | 03/11/2018
Frente a continuação do cenário de aprofundamento do terrorismo de Estado, considerando o avanço do fascismo e dos discursos de ódio contra os povos indígenas, negros e quilombolas, população LGBT, mulheres e todo povo pobre, vemos a necessidade de expandir a construção de redes de apoio e unidades de proteção popular para defender a todos e todas que se levantam em resistência. A militarização das periferias urbanas e rurais avança a passos largos, a partir de um Estado Penal-Policial que provoca o acirramento da criminalização contra os que lutam. No Mato Grosso do Sul, os Guarani e Kaiowá combatem o Estado, a colonização e o capitalismo a 518 anos, e formam verdadeiras escolas de luta e autonomia nas trincheiras das retomadas de suas terras tradicionais. Esses territórios, onde nascem novos mundos, precisam ser defendidos pela solidariedade e apoio mútuo de todos aqueles que insurgem, do campo a cidade.
Sabemos que não é de hoje que os povos indígenas, e especificamente os Guarani e Kaiowá, sofrem com as formas de contra-insurgência assumidas pelo Estado, em seus diferentes contextos históricos. Sabemos também, que não haverá nenhuma solução pela farsa eleitoral. Nas palavras dos Guarani e Kaiowá, em carta publicada pela Aty Guasu (Grande Assembleia), Kunhangue Aty Guasu (Grande Assembleia das Mulheres) e Retomada Aty Jovem (Assembleia dos jovens):
“Hoje os novos bandeirantes, o latifúndio, além de ocuparem as nossas terras, lucram muito em cima de nossos Tekoha. A ferida que causou a Companhia Matte Laranjeira e a Ditadura militar ainda sangra em nosso peito. O estado de Mato Grosso do Sul foi criado em cima de cadáveres indígenas que foram assassinados lutando para proteger os nossos Tekoha. E independente do novo presidente eleito, nós povos indígenas continuaremos sendo resistência ao projeto de extermínio pelos governantes deste país. Jair Bolsonaro, que prometeu não demarcar um centímetro de terra para os povos indígenas, é uma ameaça ao que nos resta. Somos contra um governo que planta o ódio aos povos nativos deste país.”
O agronegócio, durante os governos PT-MDB, muito lucrou com sangue indígena, a exemplo da expansão das monoculturas de cana, soja e milho ao longo da última década. Entretanto, o atual governo eleito do fascista Jair Bolsonaro, promete aumentar a barbárie, ao discursar contra toda e qualquer demarcação de terra indígena e quilombola, e promover o armamento dos latifundiários pela via legal, produzindo um verdadeiro cenário de guerra e genocídio. Logo após o término das eleições, somente no Mato Grosso do Sul, foram 3 ataques do agrobanditismo: o primeiro, contra área da aldeia Bororo, em Dourados, ferindo 10 pessoas e queimando casas; o segundo, intimidação de 40 camionetes contra retomadas de terra em Caarapó; e o terceiro, contra a aldeia indígena Passarinho, da etnia Terena, na Terra Indígena Pilad Rebua, em Miranda, no norte do estado. Em outros locais, ocorreram ataques contra a escola indígena e posto de saúde de atendimento ao povo indígena Pankararu, em Pernambuco, na aldeia Bem Querer de Baixo, e o assassinato brutal de Davi Gavião da aldeia Rubiácea, Terra Indígena Governador, no Maranhão, dia 13 de outubro, como prenúncio do que está por vir.
Frente a isso, fazemos o chamado para a construção de Comitês de Solidariedade aos Povos Indígenas, que podem ser integrados aos Comitês de Defesa Popular como uma frente de atuação. Os Comitês devem seguir os princípios e métodos que regem nossa organização: autonomia, independência de classe, autogestão, ação direta, classismo, internacionalismo, antifascismo, antirracismo, luta da mulher, combatividade e solidariedade. É preciso atuar lado a lado com os povos, respeitando sua autodeterminação, em processos conjuntos de formação de base, onde reconhecemos que devemos aprender juntos: propor, e não impor. O trabalho de propaganda, através de materiais audiovisuais também é fundamental, para dar visibilidade aos processos de resistência. Ouvir as demandas, e construir caminhos de luta para enfrenta-las coletivamente. Estabelecer alianças entre os movimentos da cidade junto às aldeias, expandindo os fronts de solidariedade e combate em cada barricada onde estejam nossas/os camaradas da RECC e FOB, assim como cada local onde se organizam todos os lutadores e lutadoras do povo. Nenhum passo atrás! Erguer barricadas para construir novos caminhos!
AVANÇAR AS RETOMADAS! DESTRUIR O LATIFÚNDIO!
MÃO ESTENDIDA A(O) COMPANHEIRA/O, PUNHO CERRADO AO INIMIGO!
DAVI GAVIÃO: PRESENTE NA LUTA!
CLODIODI DE SOUZA: PRESENTE NA LUTA!
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Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!